Hábitos que estão acabando com o seu bem estar




Stephanie Gomes

Cuidado com seus pensamentos, eles se transformam em suas palavras. Cuidado com suas palavras, elas se transformam em suas ações. Cuidado com suas ações, elas se transformam em seus hábitos. Cuidado com seus hábitos, eles moldam o seu caráter. Cuidado com seu caráter, ele controla o seu destino.

Hábitos bons trazem consequências boas e hábitos ruins trazem consequências ruins. Isso todo mundo sabe. 


Comer bem proporciona saúde e fumar acaba com seu pulmão. Exercícios físicos trazem vitalidade e sedentarismo acaba com suas energias aos poucos. Ser pontual causa boa impressão e estar sempre atrasado pode te custar seu emprego (e outras coisas).


Estes são alguns exemplos de hábitos comuns que muita gente vive tentando mudar. Mas há muitas outras coisas não tão óbvias que também fazem parte das ações diárias de muita gente, mas que poucos observam e percebem que deveriam mudar para terem mais bem-estar no dia a dia.

Escolhi alguns dos que mais observo (em mim e nos outros) para criar uma lista de hábitos que vale a pena analisar. Veja se você se identifica:




Viver no piloto automático

Sabe quando você já está na rua e tem que voltar porque não lembra se trancou a porta? É um ótimo exemplo de situação em que você agiu no piloto automático, sem perceber o que estava fazendo. Por estar tão acostumado a fazer não presta mais atenção. É claro que tudo bem algumas tarefas serem feitas assim, mas fazer disso um hábito não é bom.

Viver no piloto automático te faz perder as pequenas coisas boas que passam por você todos os dias. Você mal percebe as coisas bonitas que passam pela sua visão, não escuta sons agradáveis, não sente gratidão por ter recebido um elogio, não aprecia o sabor da comida… Aí quando alguém te diz que coisas boas acontecem para todo mundo todos os dias você não acredita! Sinal de que está vivendo no piloto automático.

Que tal aguçar os sentidos e prestar mais atenção a você mesmo e ao que há à sua volta?




Dormir com pensamentos negativos

Muita gente tem o costume de usar os minutinhos antes de pegar no sono para refletir. Isso pode ser bom, se você conseguir usar este momento para pensar em coisas úteis ou que façam você se sentir bem (como agradecer, rezar, pensar no que aconteceu de bom em seu dia…).

Mas também pode ser péssimo, se você costuma levar para o travesseiro pensamentos negativos, como o que aconteceu de ruim no dia, a mágoa que tal pessoa deixou em você, seus problemas e questões mal resolvidas etc. O resultado desse hábito é péssimo: você dorme mal (ou não dorme), fica tenso e não relaxa – consequentemente não descansa – e acorda de mau humor no dia seguinte. 

Os pensamentos e emoções que você leva para a cama precisam ser melhor escolhidos, porque eles criam a energia que vai te acompanhar nas horas em que estiver dormindo, o que não é pouco tempo. 

Se você costuma ir dormir com pensamentos negativos, talvez isso esteja prejudicando muito o seu bem estar no dia a dia. Teste uma nova atitude nesse horário e veja se não melhora.




Pressa

A pressa é inimiga da paz interior. Ninguém consegue ter bem estar enquanto faz coisas desesperadamente, preocupado com o tempo, sob pressão. E muitas vezes não há necessidade de ser assim, você é apressado apenas por força do hábito. Já reparou nisso? A boa notícia é que esse é um hábito fácil de mudar. Comece agora mesmo a agir com mais tranquilidade.

Termine de ler esse texto com atenção e sem pressa. Quando mudar de atividade, faça apenas uma coisa por vez. Esqueça o relógio. Se sua mesa ou o navegador do computador estiver muito bagunçado, organize-se. Faça tudo com calma, não corra. Se perceber que acelerou demais o ritmo, respire fundo e ajuste a sua velocidade. 

Vá se observando e mudando pequenas atitudes no dia a dia para viver longe do desespero e manter sempre o bem estar.




Pensar demais

Você está sempre com a cabeça lotada de pensamentos? O único momento em que para de pensar é quando dorme? Você faz uma tarefa já pensando no que tem que fazer depois? Não consegue manter o foco no presente por muito tempo? 

Se respondeu “sim” a alguma das perguntas, você está sofrendo de overthinking, expressão em inglês que quer dizer “pensar demais”.

Viver com a cabeça a mil o tempo todo é um hábito que enlouquece qualquer um. Estar em um lugar de corpo e em outro em pensamento impede o sentimento de contentamento e a apreciação do presente, o que faz com que você perca várias sensações boas que poderiam estar sendo aproveitadas se você não estivesse preso dentro da loucura da sua mente. Pensar é muito bom, mas sobrecarregar o pensamento não faz bem a ninguém.




Insistir em assuntos negativos desnecessários

Brigas de trânsito, discussões que não precisariam nem ter começado, implicância com coisas bobas, provocaçõezinhas, mania de viver contando histórias ruins… há tantas formas melhores de usarmos as palavras, mas insistimos no hábito de falar sobre coisas que não nos trazem nem transmitem bem algum. 

Para mudar esse hábito, é preciso aprender também a viver de forma mais leve e positiva. 

Começar a relevar e deixar algumas coisas pra lá, resistir ao impulso de fazer certos comentários, falar mais sobre coisas boas e ser menos pessimista. Aos poucos essa mania de carregar e transmitir negatividade vai se diluindo.




Contrair partes do corpo

Faça agora mesmo: relaxe os olhos, a bochecha e a testa; destrave a mandíbula e solte os dentes; abra a garganta e relaxe as mãos.

Percebeu que alguma(s) destas partes do seu corpo estava contraída? Se sentiu melhor quando a relaxou?

Eu só fui perceber o quanto vivia com várias partes do corpo contraídas quando entrei na yoga e ouvi falar sobre relaxar cada parte do corpo. Acabei descobrindo que o hábito de contrair a mandíbula estava me causando dores de cabeça constantes. Por isso afirmo que é um hábito importante de ser observado. 

Se você perceber que tem esse costume, atente-se mais a isso e procure relaxar sempre que perceber, até perder essa péssima mania.




Reclamar, reclamar e reclamar mais um pouco

De acordar cedo, do trânsito, do chefe, das obrigações, das atitudes das outras pessoas, da chuva, do calor, do frio, do vento… 

Quem tem o hábito de reclamar reclama de tudo. E essa é uma mania que só muda se você quiser e se esforçar pra isso. Mas saiba que reclamar é uma atitude que não resolve nada e só te traz energias e sentimentos negativos. 

Se tudo te incomoda, será que o problema não está em você? Gosto muito de uma frase que diz “aceite o que não pode mudar e mude o que não pode aceitar”. É isso. Aprenda a aceitar ou faça algo para mudar.




Ser neurótico com seus planejamentos

Às vezes as coisas não saem como planejamos, nossa rotina é alterada e os planos precisam ser adaptados.

O que você precisa entender é que isso não é o fim do mundo! É ótimo ser organizado, mas nem sempre as coisas sairão como estão no seu roteiro, então é bom aprender a ser mais maleável com as mudanças inesperadas, ao invés de achar que porque algo precisou ser adaptado tudo dará errado.

Se sair da rotina te deixa tenso, aconselho que aprenda a ser mais aberto e positivo em relação ao inesperado. Lembre-se que a vida traz surpresas boas quando menos esperamos.


Postado no blog Desassossegada em 20/02/2015


Lições de Dalai Lama





Frase com imagem O maior juiz de seus atos deve ser você mesmo
















Frases do Dalai Lama


Frase com imagem Viva uma vida boa e honrada















Frase com imagem Minha ignorância, meus apegos




Frase para Facebook A compaixão tem pouco valor


Frase com imagem Ganância, desejo e ambição


Frase com imagem Devemos nos alegrar com o sucesso dos outros







E na maior cidade do Brasil... Boicote ao futuro na contramão de países desenvolvidos !




Londres : projeto de ciclovia para o futuro


Empresa cria projeto que prevê ciclovias por cima das linhas de trem em Londres


Esqueça o hoverboard e os carros voadores: as bicicletas já estão entre as mais cotadas no quesito meio de transporte do futuro. Ecológicas e econômicas, elas facilitam o transporte individual sem gerar danos ao meio ambiente. Mas ainda há muito o que melhorar quando se trata das condições de trânsito oferecidas aos ciclistas.


Foi pensando nessa questão que a empresa Foster + Partners criou a ideia de uma ciclovia que passasse por cima das linhas de trem em Londres. Chamado de SkyCycle, o projeto supõe a construção de 220 quilômetros de ciclovias na cidade, projetadas sobre o caminho das linhas de trem suburbanas. Para facilitar o acesso, a ciclovia teria mais de 200 entradas, em diferentes pontos.



O projeto poderia beneficiar as quase 6 milhões de pessoas que vivem na região. Cada uma das rotas previstas teria capacidade para acomodar até 12 mil ciclistas por hora, fornecendo uma alternativa segura de transporte para estas pessoas. Por enquanto, a Foster + Partners ainda está apresentando a ideia para empresas e investidores interessados. Mas fica a ideia, que poderia (e deveria!) ser replicada em muitas outras cidades do mundo:



Enquanto isto no Brasil : boicote à ciclovia em São Paulo


A gafe da Globo ao demonizar a "tinta vermelha" da ciclovia na Av. Paulista


A "tinta" da ciclovia da Avenida Paulista escorreu para o asfalto? Matéria veiculada na Rede Globo recheada de inverdades e desinformações faz escândalo em torno da questão. Resta saber se a repórter estava despreparada ou se houve proposital má intenção na abordagem.


tinta ciclovia repórter globo


Willian Cruz, originalmente publicado em Vá de Bike

Uma matéria do jornal SP TV da Rede Globo, no sábado 28 de fevereiro, afirmou que o asfalto da Av. Paulista, em São Paulo, teria sido manchado pela tinta da ciclovia que está sendo construída no local. “A tinta deveria pintar a ciclovia que está sendo feita no canteiro central”, afirma o âncora ao abrir a matéria.


A reportagem mostra então um motorista dizendo ser ridícula a situação e outra moça preocupada com o carro que ficaria manchado de vermelho. A repórter entra explicando que “a tinta é para demarcar a ciclovia que vai funcionar no canteiro central da Avenida Paulista” e afirma que na parte da tarde havia funcionários pintando o trecho mostrado na imagem. “Com a chuva, a tinta escorreu, deixando tudo vermelho”. Mais gente entrevistada dizendo que foi um desperdício de dinheiro, que foi um problema estratégico, que não houve “nenhum tipo de planejamento”. A matéria ainda usa novamente o termo tinta.



O âncora encerra dizendo que a situação é “inacreditável” e esclarece que a CET iria enviar um caminhão pipa com água de reuso para limpar a avenida que a “a pintura vai ser refeita”. E encerra falando sobre o desperdício de tinta.

Mas a moça que se preocupou em estragar o carro pode ficar tranquila: aquela coisa vermelha que pode ter aderido à lataria sai com água sem deixar rastro. Na verdade, sai até com a mão depois de seco. Isso porque…



Não era tinta


A ciclovia da Av. Paulista não está sendo pintada. Nem um pingo de tinta foi aplicado até o momento.



O pavimento está sendo feito com concreto pigmentado, ou concreto tingido. Ou seja, ele já vem na cor certa, não há aplicação de tinta. O pigmento vermelho é aplicado ainda na betoneira, que ao ser misturado ao concreto lhe confere a coloração adequada. O mesmo processo foi utilizado nas ciclovias da Av. Faria Lima e da Av. Eliseu de Almeida.

Na foto que abre essa matéria (registrada um dia antes da reportagem da TV) é possível perceber que o que é vermelho é o próprio concreto. Perceba ainda, ao fundo, parte dele coberta com um plástico, justamente para evitar que a chuva o estragasse. Provavelmente, no dia seguinte o concreto já estivesse em processo de “cura”, não necessitando mais do plástico. Mas como sempre sobra material em forma de pó na superfície ou nas laterais, fora da área da laje, a chuva (que não foi pouca) dispersou esse pó.

O que escorreu para a avenida foi, portanto, pó do concreto vermelho. Não foi tinta. A tinta só será usada em um estágio final da ciclovia, na etapa de sinalização, e nas cores branca e amarela. Esse pó que apareceu sobre o asfalto sai com água, até mesmo com a água da próxima chuva.

E por que então tanto escândalo foi feito em cima disso? Foi um vacilo da repórter, que não soube apurar corretamente a situação no local e acabou fazendo a redação dar essa “barrigada”? Ou a abordagem foi intencional, com a ciência de que não havia tinta alguma ali, com o objetivo de gerar críticas à ciclovia da Avenida Paulista? Você decide. Se quiser assistir ao vídeo, clique aqui.


Vale lembrar que o projeto, disponível na internet há meses e ao qual a emissora também tem acesso, cita que o pavimento é feito de concreto pigmentado.



tinta ciclovia são paulo

Concreto pigmentado também foi utilizado na Ciclovia Pirajussara, na Av. Eliseu de Almeida. 

Foto: Willian Cruz





Ciclovia em São Paulo












O que se esconde atrás do ódio ao PT?




Leonardo Boff

Certos grupos prolongam as velhas elites que da Colônia até hoje continuaram antinacionais, reacionárias e achando que o povo não têm direitos.

Há um fato espantoso mas analiticamente explicável: o aumento do ódio e da raiva contra o PT. Esse fato vem revelar o outro lado da “cordialidade” do brasileiro, proposta por Sérgio Buarque de Holanda: do mesmo coração que nasce a acolhida calorosa, vem também a rejeição mais violenta. Ambas são “cordiais”: as duas caras passionais do brasileiro.

Esse ódio é induzido pela mídia conservadora e por aqueles que na eleição não respeitaram rito democrático: ou se ganha ou se perde. Quem perde reconhece elegantemente a derrota e quem ganha mostra magnanimidade face ao derrotado. 

Mas não foi esse comportamento civilizado que triunfou. Ao contrário: os derrotados procuram por todos os modos deslegitimar a vitória e garantir uma reviravolta política que atenda a seu projeto, rejeitado pela maioria dos eleitores.

Para entender, nada melhor que visitar o notório historiador, José Honório Rodrigues que em seu clássico Conciliação e Reforma no Brasil (1965) diz com palavras que parecem atuais:
”Os liberais no império, derrotados nas urnas e afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes; construíram uma concepção conspiratória da história que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias” (p. 11).
Esses grupos prolongam as velhas elites que da Colônia até hoje nunca mudaram seu ethos. Nas palavras do referido autor:
“a maioria foi sempre alienada, antinacional e não contemporânea; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”(p.14 e 15). 
Hoje as elites econômicas abominam o povo. Só o aceitam fantasiado no carnaval.

Lamentavelmente, não lhes passa pela cabeça que:
“as maiores construções são fruto popular: a mestiçagem racial, que criava um tipo adaptado ao país; a mestiçável cultural que criava uma síntese nova; a tolerância racial que evitou o descaminho dos caminhos; a tolerância religiosa que impossibilitou ou dificultou as perseguições da Inquisição; a expansão territorial, obra de mamelucos, pois o próprio Domingos Jorge Velho, devassador e incorporador do Piaui, não falava português; a integração psico-social pelo desrespeito aos preconceitos e pela criação do sentimento de solidariedade nacional; a integridade territorial; a unidade de língua e finalmente a opulência e a riqueza do Brasil que são fruto do trabalho do povo. E o que fez a liderança colonial (e posterior)? Não deu ao povo sequer os benefícios da saúde e da educação”(p. 31-32).
A que vêm estas citações? Elas reforçam um fato histórico inegável: com o PT, esses que eram considerados carvão no processo produtivo (Darcy Ribeiro), o rebutalho social, conseguiram, numa penosa trajetória, se organizar como poder social que se transformou em poder político no PT e conquistar o Estado com seus aparelhos.

Apearam do poder as classes dominantes; não ocorreu simplesmente uma alternância de poder mas uma troca de classe social, base para um outro tipo de política. Tal saga equivale a uma autêntica revolução social.

Isso é intolerável pelas classes poderosas que se acostumaram a fazer do Estado o seu lugar natural e de se apropriar privadamente dos bens públicos pelo famoso patrimonialismo, denunciado por Raymundo Faoro.

Por todos os modos e artimanhas querem ainda hoje voltar a ocupar esse lugar que julgam de direito seu. Seguramente, começam a dar-se conta de que, talvez, nunca mais terão condições históricas de refazer seu projeto de dominação/conciliação. 

Outro tipo de história política dará, finalmente, um destino diferente ao Brasil. 

Para eles, o caminho das urnas se tornou inseguro pelo nível crítico alcançado por amplos estratos do povo que rejeitou seu projeto político de alinhamento neoliberal ao processo de globalização, como sócios dependentes e agregados. 

O caminho militar será hoje impossível dado o quadro mundial mudado. Cogitam com a esdrúxula possibilidade da judicialização da política, contando com aliados na Corte Suprema que nutrem semelhante ódio ao PT e sentem o mesmo desdém pelo povo.

Através deste expediente, poderiam lograr um impeachment da primeira mandatária da nação. É um caminho conflituoso pois a articulação nacional dos movimentos sociais tornaria arriscado este intento e talvez até inviabilizável. 

O ódio contra o PT é menos contra PT do que contra o povo pobre que por causa do PT e de suas políticas sociais de inclusão, foi tirado do inferno da pobreza e da fome e está ocupando os lugares antes reservados às elites abastadas. Estas pensam em apenas fazer caridade, doar coisas, mas nunca fazer justiça social.

Antecipo-me aos críticos e aos moralistas: mas o PT não se corrompeu? Veja o mensalão? Veja a Petrobrás? Não defendo corruptos. Reconheço, lamento e rejeito os malfeitos cometidos por um punhado de dirigentes.

Traíram mais de um milhão de filiados e principalmente botaram a perder os ideais de ética e de transparência. Mas nas bases e nos municípios - posso testemunhá-lo - vive-se um outro modo de fazer política, com participação popular, mostrando que um sonho tão generoso não se mata assim tão facilmente: o de um Brasil menos malvado. 

As classes dirigentes, por 500 anos, no dizer rude de Capistrano de Abreu, “castraram e recastraram, caparam e recaparam” o povo brasileiro. Há maior corrupção histórica do que esta? 


Postado no blog Contraponto em 06/03/2015

 

Pessoas são vistas por trás de uma tela : quando saem, deixam clara a essência do amor!





A maioria de nós se considera sem preconceitos, mas mesmo que não intencionalmente, é muito comum que façamos julgamentos precipitados sobre as pessoas com base no que vemos, seja por causa de sua raça, idade, sexo, religião, sexualidade ou mesmo deficiência.

Esses pré julgamentos realizados pela sociedade em geral afetam a capacidade de uma pessoa de encontrar um emprego, garantir um empréstimo, alugar um apartamento, ou chegar a um julgamento justo, perpetuando as disparidades sociais.

A campanha “O amor não tem rótulos” desafia-nos a abrir os olhos para os nossos preconceitos (mesmo aqueles que achamos que não temos) e trabalhemos para barrar esse ciclo em nós mesmos. 

Para isso, nada melhor do que pessoas felizes e dançando através de uma grande “radiografia”. Apresento também para vocês a essência do amor! 




Postado no site Conti Outra 

Uma Tipuana e 40 anos de história


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Carlos DayrellMarcos Saraçol e Teresa Jardim. Porto alegre em 26/02/1975

O método foi tão simples quanto eficiente: ao subir na árvore, estudantes a salvaram do corte, enfrentaram a ditadura e marcaram luta ambientalista no Brasil


Elenita Malta Pereira

Há 40 anos, em meio à ditadura militar, jovens subiram numa árvore em Porto Alegre para impedir seu corte pela Prefeitura Municipal. O episódio, protagonizado pelos estudantes universitários Carlos Dayrell, Marcos Saraçol e Teresa Jardim transformou-se em ato de protesto, sendo atualmente lembrado como um dos marcos nas lutas do movimento ambientalista brasileiro, nos anos 1970.

Tudo começou por volta das 10:30 da manhã, no dia 25 de fevereiro de 1975. O mineiro Carlos Alberto Dayrell, de 21 anos, estudante de Engenharia Elétrica na UFRGS e sócio da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), estava a caminho para realizar sua matrícula, quando, ao passar pela Faculdade de Direito, na Avenida João Pessoa, viu funcionários da Secretaria Municipal de Obras e Viação de Porto Alegre cortando árvores que estariam atrapalhando a construção do Viaduto Imperatriz Leopoldina.

A reação de Dayrell foi aproveitar um descuido dos trabalhadores para protestar contra os cortes. Subiu na próxima árvore a ser abatida, uma Tipuana (Tipuana tipa), para impedir o trabalho das motosserras. O estudante se instalou no alto, no meio dos galhos, e lá ficou, enquanto um grupo de pessoas começou a se formar em torno da árvore, dando apoio moral. Solidários, mais dois estudantes, Marcos Saraçol, de 19 anos, acadêmico de Matemática, e Teresa Jardim, de 27 anos, que cursava Biblioteconomia, subiram na Tipuana.

Dayrell seguia a orientação do presidente da Agapan à época, José Lutzenberger. Em uma das reuniões da associação, questionado pelo público sobre o que fazer contra a derrubada de árvores que acontecia na cidade, Lutz teria dito: “Nós já fizemos bastante coisa, mas não fomos ouvidos, façam vocês, subam nas árvores!”.

Ao tomar conhecimento do ato dos estudantes, o secretário da Agapan, Augusto Carneiro, pôs-se a convocar os sócios da entidade a apoiar o protesto. Por volta das duas da tarde, havia cerca de quinhentas pessoas no local. Elas alçavam alimentos e água aos estudantes, que não aceitavam descer enquanto não houvesse garantias de que a árvore não seria derrubada.

A imprensa esteve presente: as rádios locais mobilizavam a cidade, descrevendo passo a passo o surpreendente protesto. Houve cobertura de jornais porto-alegrenses, mas também o Estado de São Paulo, a revista Veja e até o The New York Times noticiaram o episódio, tornando-o conhecido além das fronteiras do estado. A Brigada Militar, comandada pelo capitão Joaquim Luís dos Santos Monks, apenas observava a manifestação, de forma pacífica.

Por volta das 15h30, o diretor da Faculdade de Engenharia da UFRGS, Adamastor Uriartti, pediu que os estudantes descessem para conversar. Teresa o convidou a subir e ele aceitou, sob aplausos do público. O professor levava uma proposta para resolver o conflito: Teresa e Saraçol continuariam na árvore enquanto Dayrell desceria para negociar com as autoridades.

Em seguida, Dayrell aceitou descer e ir com Uriartti, Lutzenberger e Carneiro ao gabinete do Secretário de Obras. Marcos e Teresa resistiram no local até as 17 horas, quando chegou a notícia de que a árvore seria preservada. Ambos desceram da Tipuana, mas foram imediatamente presos e levados de camburão para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). O comandante da brigada fora substituído, e o novo policial decidiu acabar com o protesto, de forma violenta. Houve tumulto, agressões a ambientalistas e repórteres que acompanhavam o protesto.

No DOPS, Marcos e Teresa foram interrogados, fotografados, identificados e fichados. Não houve agressões físicas, mas muita intimidação. Para sorte dos estudantes, membros da Agapan, jornalistas e pessoas simpatizantes ao protesto deslocaram-se para o DOPS, pressionando para que fossem libertados. Somente por volta das 23 horas ocorreu o desfecho, com a soltura dos estudantes e repórteres.

“Ninguém mexia um dedo pela árvore”

Dias depois, Dayrell explicou porque resolveu iniciar o protesto. Ao passar pela Faculdade de Direito da UFRGS, reparou na derrubada das árvores. Viu também que na esquina em frente uma pequena multidão de curiosos assistia à demolição de um prédio. Em declaração ao jornal Folha da Manhã, disse: 
“O edifício caia e todo mundo olhava. Mas ninguém mexia um dedo pela árvore. Eu fiquei impressionado. Então resolvi subir na próxima que seria cortada. Mas pensei que os operários iam me derrubar lá de cima. Ficaram ameaçando uma meia hora, depois desistiram – pensavam que eu ia cansar e descer sozinho”.
O que nem os funcionários nem as autoridades esperavam é que Dayrell ficasse horas em cima da Tipuana, disposto a permanecer ali o tempo que fosse necessário para garantir sua não derrubada. Só desceu depois de muita negociação e, mesmo assim, Marcos e Teresa continuaram lá em cima.

Os estudantes não sabiam, mas estavam protagonizando um ato político que teria grande repercussão naquele contexto de ditadura. O país vivia ainda sob o Ato Institucional Nº 5, estava proibido qualquer tipo de manifestação pública. Durante o episódio, “espiões” circularam no local e tiraram muitas fotos, talvez 
para pressionar os jovens a desistirem. 

Numa época em que arbítrios como tortura e desaparecimentos eram comuns, os estudantes resistiram bravamente, mesmo temendo possíveis represálias.

Seis dias depois do protesto, Dayrell também prestou depoimento e foi fichado criminalmente no DOPS. Até Lutzenberger foi convocado a depor, porém não foi fichado. Os policiais queriam saber a posição da Agapan diante do protesto dos jovens; mais do que isso, queriam saber o que era e o que fazia a Agapan. Mesmo atuante desde 1971, foi somente com o episódio de 25/02/1975 que o regime notou a existência da entidade ecológica, ou seja, a ecologia não era considerada “subversiva”. 

No entanto, após o ato dos estudantes, mais e mais pessoas começaram a interessar-se pelo tema, que ganhou cores revolucionárias nos anos 1970.


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Marcos Saraçol e Carlos Dayrell 




Árvore na Av. João Pessoa. O protesto foi vitorioso, pois a Tipuana continua no mesmo local até hoje.


Para Dayrell e Saraçol, aquele foi um dia marcante em suas vidas, que tomaram rumos bem diferentes. Marcos se formou e trabalhou como professor de Matemática durante 39 anos, recentemente aposentou-se.

Já Dayrell desistiu da Engenharia Elétrica e passou no vestibular para Agronomia. Voltou para seu estado natal, onde ajudou a fundar o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, fez um Mestrado em Agroecologia na Espanha e atua na área até hoje. Infelizmente, não temos dados sobre Teresa Jardim.

Em 1998, Dayrell recebeu o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre, concedido pela Câmara de Vereadores e, na ocasião, foi colocada uma placa de bronze do lado de dentro dos muros da Faculdade de Direito da UFRGS para lembrar o episódio.

Nenhuma outra árvore foi derrubada para construir o viaduto. Atualmente, se por um lado, com a atuação do movimento ambientalista, houve uma ampliação da conscientização ecológica e, por isso, as árvores são mais valorizadas, por outro, seguem ocorrendo cortes urbanos mal planejados, desmatamento das matas ciliares, queimadas de florestas e ocupação equivocada de encostas de morros.

O ato dos estudantes, bastante corajoso para o contexto da época, merece ser sempre lembrado, porque chamou a atenção para o descaso com o ambiente urbano e também para a possibilidade de construir sem destruir: na verdade, as árvores não atrapalhavam a construção do viaduto, o projeto é que devia ser adequado a elas.

Ainda é preciso resistir: os cortes de 2013

O gesto dos estudantes em 1975 segue inspirando as novas gerações. Em fevereiro de 2013, Porto Alegre vivenciou novamente a subida de jovens nas árvores para impedir seu corte. Dessa vez, o palco foi a Praça Júlio Mesquita, em frente à Usina do Gasômetro. Mesmo com a resistência popular, as árvores foram cortadas , sob o pretexto de melhorar a mobilidade urbana para a realização dos jogos da Copa do Mundo na cidade.

No entanto, o argumento se revelou inválido, já que a área ficou fechada no horário dos jogos e as pessoas se deslocaram até o estádio Beira Rio principalmente a pé, utilizando as ruas próximas ao Parque Marinha do Brasil.

A questão central que motivou os jovens de 1975 e os de 2013 permanece sem solução: o conflito entre desenvolvimento e proteção ambiental. Em ambos os contextos, estavam em jogo a ampliação dos espaços para automóveis. Em 1975, as árvores tombaram para dar lugar a um viaduto que facilitaria o trânsito no local; em 2013, os cortes também deram maior espaço para o tráfego e estacionamento de carros.

Certamente, algumas obras são necessárias, no entanto, o que é questionável é a forma como elas são planejadas e construídas, muitas vezes sem possibilitar a participação da sociedade nos processos decisórios. Como já alertava Lutzenberger nos anos 1970, esse tipo de questão requer decisões de cunho político, não apenas técnico. 

A substituição do verde pelo concreto deveria ocorrer somente em casos extremos, quando esgotadas outras possibilidades.


João Marcos Coimbra e Júlia Ludwig. Porto Alegre em 2013




A rua mais bela do mundo

Mas nem tudo está perdido, ainda há esperança para as árvores em Porto Alegre. É na cidade que se encontra “a rua mais bonita do mundo” – a Gonçalo de Carvalho. Emoldurada por um túnel verde de Tipuanas, foi a primeira rua declarada Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Porto Alegre, em 2006. Mas isso foi fruto da luta de seus moradores contra a construção de obras e edifício-estacionamento que exigiriam o corte de árvores e ampliariam o trânsito no local.

Em 2014, o movimento Amigos da rua Gonçalo de Carvalho homenageou Dayrell e Saraçol pelo gesto de 1975, que os inspirou a lutar pela preservação do túnel verde da rua.

Passados 40 anos, o episódio da João Pessoa merece ser sempre lembrado, como inspiração para novas lutas contra o corte indiscriminado das árvores em Porto Alegre e onde quer que seja. 

Aquela vitória garantiu a vida de apenas uma Tipuana, porém, ao longo do tempo, tem incentivado a luta pela permanência de muitas outras. Continua entusiasmando os novos jovens a resistir à devastação de um jeito bem “natural”: como nossos parentes primatas, precisamos subir mais nas árvores.


Postado no site Outras Palavras em 25/02/2015



Receita de Felicidade




Pegue uns pedacinhos de afeto e de ilusão;

Misture com um pouquinho de amizade;

Junte com carinho uma pontinha de paixão

E uma pitadinha de saudade.


Pegue o dom divino maternal de uma mulher

E um sorriso limpo de criança;

Junte a ingenuidade de um primeiro amor qualquer

Com o eterno brilho da esperança.


Peça emprestada a ternura de um casal

E a luz da estrada dos que amam pra valer;

Tenha sempre muito amor,

Que o amor nunca faz mal.

Pinte a vida com o arco-íris do prazer;

Sonhe, pois sonhar ainda é fundamental

E um sonho sempre pode acontecer.

Toquinho





A boçalidade do mal


Guido Mantega e a autorização para deletar a diferença


Eliane Brum

Em 19 de fevereiro, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos de Lula e de Dilma Rousseff, estava na lanchonete do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, quando foi hostilizado por uma mulher, com o apoio de outras pessoas ao redor. Os gritos: “Vá pro SUS!”. Entre eles, “safado” e “fdp”. Mantega era acompanhado por sua esposa, Eliane Berger, psicanalista. Ela faz um longo tratamento contra o câncer no hospital, mas o casal estava ali para visitar um amigo. O episódio se tornou público na semana passada, quando um vídeo mostrando a cena foi divulgado no YouTube.

Entre as várias questões importantes sobre o momento atual do Brasil – mas não só do Brasil – que o episódio suscita, esta me parece particularmente interessante:

“Que passo é esse que se dá entre a discordância com relação à política econômica e a impossibilidade de sustentar o lugar do outro no espaço público?”.

A pergunta consta de uma carta escrita pelo Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP), que encontrou na cena vivida por Guido e Eliane ecos do período que antecedeu a Segunda Guerra, na Alemanha nazista, quando se iniciou a construção de um clima de intolerância contra judeus, assim como contra ciganos, homossexuais e pessoas com deficiências mentais e/ou físicas. O desfecho todos conhecem. Em apoio a Guido e Eliane, mas também pela valorização do Sistema Único de Saúde (SUS), que atende milhões de brasileiros, o MPASP lançou a hashtag #VamosTodosProSUS.

Pode-se aqui fazer a ressalva de que a discordância vai muito além da política econômica e que o ex-ministro petista encarnaria na lanchonete de um dos hospitais privados mais caros do país algo bem mais complexo. Mas a pergunta olha para um ponto preciso do cotidiano atual do Brasil: em que momento a opinião ou a ação ou as escolhas do outro, da qual divergimos, se transforma numa impossibilidade de suportar que o outro exista? E, assim, é preciso eliminá-lo, seja expulsando-o do lugar, como no caso de Guido e Eliane, seja eliminando sua própria existência – simbólica, como em alguns projetos de lei que tramitam no Congresso, visando suprimir direitos fundamentais dos povos indígenas ou de outras minorias; física, como nos crimes de assassinato por homofobia ou preconceito racial.

O que significa, afinal, esse passo a mais, o limite ultrapassado, que tem sido chamado de “espiral de ódio” ou “espiral de intolerância”, num país supostamente dividido (e o supostamente aqui não é um penduricalho)? De que matéria é feita essa fronteira rompida?
"A descoberta de que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades no elevador defende o linchamento de homossexuais tem um impacto profundo"
A resposta admite muitos ângulos. Na minha hipótese, entre tantas possíveis, peço uma espécie de licença poética à filósofa Hannah Arendt, para brincar com o conceito complexo que ela tão brilhantemente criou e chamar esse passo a mais de “a boçalidade do mal”. Não banalidade, mas boçalidade mesmo. Arendt, para quem não lembra, alcançou “a banalidade do mal” ao testemunhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, e perceber que ele não era um monstro com um cérebro deformado, nem demonstrava um ódio pessoal e profundo pelos judeus, nem tampouco se dilacerava em questões de bem e de mal. Eichmann era um homem decepcionantemente comezinho que acreditava apenas ter seguido as regras do Estado e obedecido à lei vigente ao desempenhar seu papel no assassinato de milhões de seres humanos. Eichmann seria só mais um burocrata cumprindo ordens que não lhe ocorreu questionar. A banalidade do mal se instala na ausência do pensamento.

A boçalidade do mal, uma das explicações possíveis para o atual momento, é um fenômeno gerado pela experiência da internet. Ou pelo menos ligado a ela. Desde que as redes sociais abriram a possibilidade de que cada um expressasse livremente, digamos, o seu “eu mais profundo”, a sua “verdade mais intrínseca”, descobrimos a extensão da cloaca humana. Quebrou-se ali um pilar fundamental da convivência, um que Nelson Rodrigues alertava em uma de suas frases mais agudas: “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”. O que se passou foi que descobrimos não apenas o que cada um faz entre quatro paredes, mas também o que acontece entre as duas orelhas de cada um. Descobrimos o que cada um de fato pensa sem nenhuma mediação ou freio. E descobrimos que a barbárie íntima e cotidiana sempre esteve lá, aqui, para além do que poderíamos supor, em dimensões da realidade que só a ficção tinha dado conta até então.

Descobrimos, por exemplo, que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades bem educadas no elevador defende o linchamento de homossexuais. E que mesmo os mais comedidos são capazes de exercer sua crueldade e travesti-la de liberdade de expressão. Nas postagens e comentários das redes sociais, seus autores deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência reivindicam uma condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença.

Foi como um encanto às avessas – ou um desencanto. A imagem devolvida por esse espelho é obscena para além da imaginação. Ao libertar o indivíduo de suas amarras sociais, o que apareceu era muito pior do que a mais pessimista investigação da alma humana. Como qualquer um que acompanha comentários em sites e postagens nas redes sociais sabe bem, é aterrador o que as pessoas são capazes de dizer para um outro, e, ao fazê-lo, é ainda mais aterrador o que dizem de si. Como o Eichmann de Hannah Arendt, nenhum desses tantos é um tipo de monstro, o que facilitaria tudo, mas apenas ordinariamente humano.
"Ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras, a internet arrancou da humanidade a ilusão sobre si mesma"
Ainda temos muito a investigar sobre como a internet, uma das poucas coisas que de fato merecem ser chamadas de revolucionárias, transformaram a nossa vida e o nosso modo de pensar e a forma como nos enxergamos. Mas acho que é subestimado o efeito daquilo que a internet arrancou da humanidade ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras: a ilusão sobre si mesma. Essa ilusão era cara, e cumpria uma função – ou muitas – tanto na expressão individual quanto na coletiva. Acho que aí se escavou um buraco bem fundo, ainda por ser melhor desvendado.

Como aprendi na experiência de escrever na internet que não custa repetir o óbvio, de forma nenhuma estou dizendo que a internet, um sonho tão estupendo que jamais fomos capazes de sonhá-lo, é algo nocivo em si. A mesma possibilidade de se mostrar, que nos revelou o ódio, gerou também experiências maravilhosas, inclusive de negação do ódio. Assim como permitiu que pessoas pudessem descobrir na rede que suas fantasias sexuais não eram perversas nem condenadas ao exílio, mas passíveis de serem compartilhadas com outros adultos que também as têm. Do mesmo modo, a internet ampliou a denúncia de atrocidades e a transformação de realidades injustas, tanto quanto tornou o embate no campo da política muito mais democrático.

Meu objetivo aqui é chamar a atenção para um aspecto que me parece muito profundo e definidor de nossas relações atuais. A sociedade brasileira, assim como outras, mas da sua forma particular, sempre foi atravessada pela violência. Fundada na eliminação do outro, primeiro dos povos indígenas, depois dos negros escravizados, sua base foi o esvaziamento do diferente como pessoa, e seus ecos continuam fortes. A internet trouxe um novo elemento a esse contexto. Quero entender como indivíduos se apropriaram de suas possibilidades para exercer seu ódio – e como essa experiência alterou nosso cotidiano para muito além da rede.
"Finalmente era possível “dizer tudo”, e isso passou a ser confundido com autenticidade e liberdade"
É difícil saber qual foi a primeira baixa. Mas talvez tenha sido a do pudor. Primeiro, porque cada um que passou a expressar em público ideias que até então eram confinadas dentro de casa ou mesmo dentro de si, descobriu, para seu júbilo, que havia vários outros que pensavam do mesmo jeito. Mesmo que esse pensamento fosse incitação ao crime, discriminação racial, homofobia, defesa do linchamento. Que chamar uma mulher de “vagabunda” ou um negro de “macaco”, defender o “assassinato em massa de gays”, “exterminar esse bando de índios que só atrapalham” ou “acabar com a raça desses nordestinos safados” não só era possível, como rendia público e aplausos. Pensamentos que antes rastejavam pelas sombras passaram a ganhar o palco e a amealhar seguidores. E aqueles que antes não ousavam proclamar seu ódio cara a cara, sentiram-se fortalecidos ao descobrirem-se legião. Finalmente era possível “dizer tudo”. E dizer tudo passou a ser confundido com autenticidade e com liberdade.

Para muitos, havia e há a expectativa de que o conhecimento transmitido pela oralidade, caso de vários povos tradicionais e de várias camadas da população brasileira com riquíssima produção oral, tenha o mesmo reconhecimento na construção da memória que os documentos escritos. Na experiência da internet, aconteceu um fenômeno inverso: a escrita, que até então era uma expressão na qual se pesava mais cada palavra, por acreditar-se mais permanente, ganhou uma ligeireza que historicamente esteve ligada à palavra falada nas camadas letradas da população. As implicações são muitas, algumas bem interessantes, como a apropriação da escrita por segmentos que antes não se sentiam à vontade com ela. Outras mostram as distorções apontadas aqui, assim como a inconsciência de que cada um está construindo a sua memória: na internet, a possibilidade de apagar os posts é uma ilusão, já que quase sempre eles já foram copiados e replicados por outros, levando à impossibilidade do esquecimento

O fenômeno ajuda a explicar, entre tantos episódios, a resposta de Washington Quaquá, prefeito de Maricá e presidente do PT fluminense, uma figura com responsabilidade pública, além de pessoal, às agressões contra Guido Mantega. Em seu perfil no Facebook, ele sentiu-se livre para expressar sua indignação contra o que aconteceu na lanchonete do Einstein nos seguintes termos: “Contra o fascismo a porrada. Não podemos engolir esses fascistas burguesinhos de merda! (...) Vamos pagar com a mesma moeda: agrediu, devolvemos dando porrada!”.
"O outro, se não for um clone, só existe como inimigo"
O ódio, e também a ignorância, ao serem compartilhados no espaço público das redes, deixaram de ser algo a ser reprimido e trabalhado, no primeiro caso, e ocultado e superado, no segundo, para ser ostentado. E quando me refiro à ignorância, me refiro também a declarações de não saber e de não querer saber e de achar que não precisa saber. Me arrisco a dizer que havia mais chances quando as pessoas tinham pudor, em vez de orgulho, de declarar que acham museus uma chatice ou que não leram o texto que acabaram de desancar, porque pelo menos poderia haver uma possibilidade de se arriscar a uma obra de arte que as tocasse ou a descobrir num texto algo que provocasse nelas um pensamento novo.

Sempre se culpa o anonimato permitido pela rede pelas brutalidades ali cometidas. É verdade que o anonimato é uma realidade, que há os “fakes” (perfis falsos) e há toda uma manipulação para falsificar reações negativas a determinados textos e opiniões, seja por grupos organizados, seja como tarefa de equipes de gerenciamento de crise de clientes públicos e privados. Tanto quanto há campanhas de desqualificação fabricadas como “espontâneas”, nas quais mentiras ou boatos são disseminados como verdades comprovadas, causando enormes estragos em vidas e causas.

Mas suspeito que, no que se refere ao indivíduo, a notícia – boa ou má – é que o anonimato foi em grande medida um primeiro estágio superado. Uma espécie de ensaio para ver o que acontece, antes de se arriscar com o próprio RG. Não tenho pesquisa, só observação cotidiana. Testemunho dia a dia o quanto gente com nome e sobrenome reais é capaz de difundir ódio, ofensas, boatos, preconceitos, discriminação e incitação ao crime sem nenhum pudor ou cuidado com o efeito de suas palavras na destruição da reputação e da vida de pessoas também reais. A preocupação de magoar ou entristecer alguém, então, essa nem é levada em conta. Ao contrário, o cuidado que aparece é o de garantir que a pessoa atacada leia o que se escreveu sobre ela, o cuidado que se toma é o da certeza de ferir o outro. O outro, se não for um clone, só existe como inimigo.
"Na eleição de 2014, descobriu-se que os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização"
O problema, quando se aponta os “bárbaros”, e aqui me incluo, é justamente que os bárbaros são sempre os outros. Neste sentido, a eleição de 2014, da qual derivou a tese, para mim bastante questionável, do “Brasil partido”, bagunçou um bocado essa crença. Não foi à toa que amizades antigas se desfizeram, parentes brigaram e até amores foram abalados, que até hoje há gente que se gostava que não voltou a se falar. As redes sociais, a internet, viraram um campo de guerra, num nível maior do que em qualquer outra eleição ou momento histórico. Só que, desta vez, os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização.

Descobriu-se então que pessoas com quem se compartilhou sonhos ou pessoas que se considerava éticas – pessoas do “lado certo” – eram capazes de lançar argumentos desonestos – e que sabiam ser desonestos – e até mentiras descaradas, assim como de torturar números e manipular conceitos. Eram capazes de fazer tudo o que sempre condenaram, em nome do objetivo supostamente maior de ganhar a eleição. Os bárbaros não eram mais os outros, os de longe. Desta vez, eram os de perto, bem de perto, que queriam não apenas vencer, mas destruir o diferente ou o divergente, eu ou você. O bárbaro era um igual, o que torna tudo mais complicado.

Não se sai imune desse confronto com a realidade do outro, a parte mais fácil. Não se sai impune desse confronto com a realidade de si, este um enfrentamento só levado adiante pelos que têm coragem. Como sabemos, enquanto for possível e talvez mesmo quando não seja mais, cada um fará de tudo para não se enxergar como bárbaro, mesmo que para isso precise mentir para si mesmo. É duro reconhecer os próprios crimes, assim como as traições, mesmo as bem pequenas, e as vilanias. Mas, no fundo, cada um sabe o que fez e os limites que ultrapassou. O que aconteceu na eleição de 2014 é que os bons e os limpinhos descobriram algumas nuances a mais de sua condição humana, e descobriram o pior: também eles (nós?) não são capazes de respeitar a opinião e a escolha diferente da sua. Também eles (nós?) não quiseram debater, mas destruir. De repente, só havia “haters” (odiadores). De novo: desse confronto não se sai impune. A boçalidade do mal ganhou dimensões imprevistas.
"A experiência poderosa de se mostrar sem recalques transcendeu e influenciou a vida para além das redes"
Seria improvável que a experiência vivida na internet, na qual o que aconteceu nas eleições foi apenas o momento de maior desvendamento, não mudasse o comportamento quando se está cara a cara com o outro, quando se está em carne e osso e ódio diante do outro, nos espaços concretos do cotidiano. Seria no mínimo estranho que a experiência poderosa de se manifestar sem freios, de se mostrar “por inteiro”, de eliminar qualquer recalque individual ou trava social e de “dizer tudo” – e assim ser “autêntico”, “livre” e “verdadeiro” – não influenciasse a vida para além da rede. Seria impossível que, sob determinadas condições e circunstâncias, os comportamentos não se misturassem. Seria inevitável que essa “autorização” para “dizer tudo” não alterasse os que dela se apropriaram e se expandisse para outras realidades da vida. E a legitimidade ganhada lá não se transferisse para outros campos. Seria pouco lógico acreditar que a facilidade do “deletar” e do “bloquear” da internet, um dedo leve e só aparentemente indolor sobre uma tecla, não transcendesse de alguma forma. Não se trata, afinal, de dois mundos, mas do mesmo mundo – e do mesmo indivíduo.

A mulher que se sentiu “no direito” de xingar Guido Mantega e por extensão Eliane Berger, e tornar sua presença na lanchonete do hospital insuportável, assim como as pessoas que se sentiram “no direito” de aumentar o coro de xingamentos, possivelmente acreditem que estavam apenas exercendo a liberdade de expressão como “cidadãos de bem indignados com o PT”, uma frase corriqueira nos dias de hoje, quase uma bandeira. Ao mandar Guido e Eliane para outro lugar – e não para qualquer lugar, mas “pro SUS” – devem acreditar que o Sistema Único de Saúde é a versão contemporânea do inferno, para a qual só devem ir os proscritos do mundo. Possivelmente acreditem também que o espaço do Hospital Israelita Albert Einstein deve continuar reservado para uma gente “diferenciada”. Em nenhum momento parecem ter enxergado Guido e Eliane como pessoas, nem se lembrado de que quem está num hospital, seja por si mesmo, seja por alguém que ama, está numa situação de fragilidade semelhante a deles. O direito ao ódio e à eliminação do outro mostrou-se soberano: aquele que é diferente de mim, eu mato. Ou deleto. Simbolicamente, no geral; fisicamente, com frequência assustadora.

Mas, claro, nada disso é importante. Nem é importante a greve dos caminhoneiros ou a falta de água na casa dos mais pobres. Tampouco a destruição de estátuas milenares pelo Estado Islâmico. Essencial mesmo é o grande debate da semana que passou: descobrir se o vestido era branco e dourado – ou preto e azul. Até mesmo sobre tal irrelevância, a selvageria do bate-boca nas redes mostrou que não é possível ter opinião diferente.

Já demos um passo além da banalidade. Nosso tempo é o da boçalidade.


Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com 


Postado no El País em 02/03/2015


Nota

Sobre o texto acima o Jornalista Fernando Brito postou em seu blog Tijolaço em 03/03/2015 :



Recebo de uma amiga, via Facebook, um texto muito interessante – e preocupante - da escritora, repórter e documentarista Eliane Brum, que muitos devem conhecer por seus livros, participação em programas de rádio e colunas na revista Época.

É longo, bem escrito, lúcido e toca em uma das coisas que mais me aflige, hoje.

A brutalidade que vem marcando o nosso comportamento.

Estamos caminhando (ou sendo conduzidos) pelo caminho terrível da quebra dos sentimentos (e também das convenções, entendidas como sistema de regras de convívio) coletivos.

Um processo que se inicia lá atrás, há 30 anos, com o secessionismo de nações, de etnias, de grupos culturais, até o que andou se chamando por aqui de “tribalismo”.

Os partidos políticos, os sindicatos, as associações, tudo aquilo que nos unia foi sendo reduzido a “comunidades”.

Quase seitas, nós que gostamos tanto de menosprezar os islâmicos.

Qualquer semelhança com um filme do processo civilizatório humano passado ao contrário não é mera coincidência.

Passamos a amar as prisões, as condenações, os “bandidos bons, os bandidos mortos”, os negrinhos amarrados no poste.

Ah, sim, também desprezamos os nordestinos, os gays, os pretos, os pobres, os “bolsa-família” vagabundos e, ia esquecendo, o voto da população.

E tem do lado de cá, também, porque nos apressamos a apontar como “politicamente incorreto” e em rejeitar como “coxinha” quem embarca nesta maré que não são, absolutamente, eles que constroem, mas gente muito bem articulada.

Alguns diriam que estamos nos tornando “bárbaros”.

Não, não, estamos nos tornando “romanos”.

Ou absorvendo a expressão grega de que “quem não é um grego é um bárbaro”.

Os que não são iguais a nós, automaticamente, é que são os “bárbaros”. Como diz a Eliane, “o problema, quando se aponta os “bárbaros”, e aqui me incluo, é justamente que os bárbaros são sempre os outros”.

E os bárbaros devem ser eliminados.

Nestes tempos virtuais, “deletados”.

Por isso, achei tão legal o texto da gaúcha Eliane – os gaúchos, de tantas pelejas brutas, têm uma frase que afirma que “a luta não quita a fidalguia” – e dele reproduzo um pequeno trecho, recomendando a leitura integral.
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Nota

Não reproduzi o trecho citado por Fernando Brito, pois acima reproduzo o texto integral postado no El País.