Eduardo Hughes Galeano é um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. Nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940.
Uma reflexão psicológica da animação Frozen
Frozen: uma lição de vida
Frozen: uma lição de vida
Viviane Lajter Segal
As histórias infantis são repletas de mensagens interessantes sobre a vida, as relações afetivas e familiares. Por esse motivo costumam ser tão encantadoras não somente para as crianças, mas também para os adultos. O filme Frozen é um bom exemplo disso. Possui inúmeras situações e dilemas pessoais e familiares que valem a pena ser analisados mais profundamente.
O filme conta a história de duas irmãs Elsa e Ana que vivem em um castelo com seus pais. Elas são muito amigas quando crianças. Elsa, a mais velha, tem o poder de transformar tudo o que toca em gelo e produzir neve. Isso era motivo para muitas brincadeiras entre elas. Até que um dia ocorre um acidente e Elsa quase mata Ana. Apartir daí seus pais resolvem isolar Elsa até que ela consiga controlar seus poderes e fecham os portões do castelo, para que ninguém saiba dos poderes da filha. Apagam a memória de Ana sobre os poderes da irmã e não explicam para Ana o motivo do isolamento. Para complicar ainda mais seus pais morrem em um passeio de barco e as irmãs ficam sozinhas e isoladas dentro do castelo.
Um primeiro ponto a ser analisado no filme é a relação familiar. Os pais, movidos pelo medo de Ana se machucar, decidem separar as irmãs sem conversar com elas e explicar seus motivos e intenções. Isso é muito comum nas famílias, os pais tomarem decisões importantes sobre os filhos e não compartilharem com eles. As crianças são bastante sensíveis aos acontecimentos e ao clima do ambiente em que vivem. Apesar de não terem um entendimento completo e profundo como o dos adultos, conseguem entender o suficiente para elas. Por isso, precisam que seus pais expliquem o que está ocorrendo em suas vidas. É uma forma de aproximar as relações, de incluir a criança na família e, principalmente, dessa criança não se sentir desamparada ou esquecida pelos pais.
O que foi exatamente que acabou ocorrendo com Ana. Cresceu solitária, conversando com os personagens dos quadros e gerando uma necessidade enorme por contato com o outro, o que a leva a procurar um romance com o primeiro “príncipe” que surge na história.
“Encobrir, não sentir, nunca saberão”
Outro ponto muito interessante do filme é o de pensarmos de que forma lidamos com as diferenças. É mais fácil esconder e isolar o diferente do que aprender a lidar com ele e aceitá-lo do jeito que ele é? A primeira reação, e a mais fácil, é sempre negar o problema. O pai da Elsa a orienta a encobrir e a não sentir, pois assim nunca saberão da sua diferença. Mas, como isso poderia dar certo? Quando temos alguma característica diferente precisamos primeiramente nos aceitar como somos, entender essa diferença e aprender a conviver com ela. Esconder não vai fazer com que deixemos de ser como somos e, pelo contrário, só vai gerar mais sofrimento. Não é uma tarefa fácil e requer muito autoconhecimento e, muitas vezes, ajuda profissional. Como Elsa não teve nenhuma dessas opções quando pequena cresceu sentindo-se cada vez mais assustada com ela mesma e, consequentemente, tendo os seus poderes mais descontrolados.
Em um determinado momento do filme todos descobrem o poder de Elsa. Ela, apesar de amedrontada, sente-se liberta! Apesar de sozinha, percebe que não precisará mais se esconder. É nesse momento, já adulta, que ela começa a testar os seus limites e a se descobrir.
“Um ato de amor verdadeiro”
Outra parte interessante dessa história é que Ana só conseguiria sobreviver ao congelamento do seu coração através de “um ato de amor verdadeiro” que todos pensam ser um beijo do príncipe como geralmente encontramos nos contos de fadas.
Mas, na verdade Ana é a responsável por sua própria salvação ao ter um ato de amor verdadeiro pela sua irmã e tentar salvá-la da morte. É bastante comum verificarmos esse tipo de atitude quando nos deparamos com algum dilema ou decisão importante a ser tomada. Temos a tendência de esperar que outra pessoa nos salve ou nos mostre o caminho certo para resolução dos nossos problemas. Esperamos ou até mesmo pedimos que alguém decida e a resolva por nós! Mas, será que essa é uma boa tática?
Essa é uma estratégia de fuga, já que o medo nos paralisa e não permite que tomemos uma decisão. Com isso, é mais fácil responsabilizar o outro por algo que não deu certo do que a nós mesmos. O problema é que essa atitude reforça a insegurança que já existia dentro de nós, além de gerar muita frustração, pois quando o medo acaba conseguimos perceber a nossa fraqueza. Portanto, como o filme nos mostra, somos nós que temos a chave para a solução dos nossos problemas.
Esse filme, apesar de infantil, é muito intenso e repleto de lições de vida. Recomendo àqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assisti-lo que o façam pelo menos uma vez. É um belo filme. Vale a pena!
Viviane Lajter Segal
Psicóloga Clínica e Especialista em Terapia de Família e Casal pela PUC-RIO. CRP 05/41087. Consultório particular na Barra da Tijuca e em Copacabana, RJ.
Contato: viviane@lajter.net
Postado no blog Conti Outra em 22/01/2015
Pena de morte, a barbárie estatal
A Indonésia executou um brasileiro por tráfico de drogas. Outros homens também foram fuzilados. A pena de morte é um resquício da barbárie em pretensas civilizações.
É a lei de Talião.
Matar um homem imobilizado é o supremo ato de covardia. Bandidos fazem isso. O Estado não pode fazê-lo.
Ainda mais para punir um crime sem sangue. Não foi assassinato. Não foi latrocínio. Não foi estupro.
A mesma Indonésia não condena à morte terroristas.
Interessante é que liberais, defensores da não intervenção estatal em economia, costumam defender o máximo de intervenção estatal em comportamento. Se um adulto quer se drogar ou se matar, o que Estado tem a ver com isso? Deveria o Estado fazer campanhas educativas. Mais do que isso é intervir na esfera privada.
Os liberais em economia adoram um ditadura política e comportamental. Liberais brasileiros tiveram no ditador Pinochet um ídolo. Liberais brasileiros bancaram nossa ditadura de 1964 a 1989. São liberais em economia que buscam na intervenção estatal máxima a realização dos seus delírios de não intervenção do Estado em economia.
Em bom português, aproveitadores que adoram subsídios estatais, sonegação de impostos e tetas.
A única lei que reconhecem é: tudo é bom para ganhar mais dinheiro.
O Estado deles deve existir para forçar a mão de obra a se reproduzir e aceitar as regras do jogo.
Todo consumo de drogas que provocam dependência é lamentável. A proibição, porém, não resolve. Gera tráfico, violência e corrupção. É guerra perdida porque adultos querem consumir e não se pode prender metade da população de um país.
Os liberais em economia, defensores até da pena de morte para traficantes de drogas, não pedem a proibição do álcool, a droga que mais mata, nem do cigarro, a droga que mata lentamente sem provocar alucinações e outros baratos ou caros que modificam a percepção dos consumidores. Aí pode.
O cigarro é a pior das drogas. Mata sem fazer alarde e ainda afeta quem estiver por perto e nem for fumante.
Um liberal coerente deve pedir a liberação de todas as drogas. Ou, se tiver argumentos, a proibição de todas.
Fico pensando, por outro lado, nos carrascos, os seres humanos que aceitam executar um homem a mando do Estado. Que pessoas repugnantes! Que destinos infelizes! O que pode levar alguém a aceitar esse ofício?
Quase tão triste quanto isso é o aplauso de “pessoas de bem” a uma execução com base nas falácias do
“que serva de exemplo”, “lei é lei” ou “ele sabia que lá tráfico da pena de morte”. Muitas dessas pessoas são as mesmas que cometem infrações de trânsito e não querem pagar a multa. Nesse caso, lei não é lei.
O argumento do livre arbítrio – ele escolheu seu destino – favorece a tese da liberação das drogas: adultos devem poder decidir o que querem fazer com seus corpos sem que o Estado lhes imponha limites.
O Estado deve existir para me proteger de outros, não de mim mesmo e de minhas decisões.
Cabe ao Estado, como faz com o álcool, proteger menores.
Qual a diferença entre álcool e cocaína? Ambos matam, destroem famílias, comprometem destinos. O álcool, por ser liberado, não carrega as mortes do tráfico e da corrupção. Bastam-lhe as do trânsito e das brigas de bar.
O cigarro é o assassino silencioso. Paga impostos, gera empregos. Pode. É fato consumado.
Em qualquer situação, o Estado matar um homem imobilizado é a negação da civilização.
Os aplausos revelam o pior da humanidade em cada um: ressentimento, gosto de sangue e simplismo.
Juremir Machado da Silva é escritor gaúcho, jornalista e professor universitário.
Postado no Blog Juremir Machado da Silva em 18/01/2015
Look do dia !
Macaquinho, renda e gladiadora
Juliana Goes
Sou dessas que passa o réveillon de colorido e se veste de branco o ano todo! O branco é uma das minhas cores preferidas, especialmente no verão e hoje temos uma inspiração que reúne renda, branco, macaquinho e gladiadora.
As rendas invadiram as coleções e se tornaram presentes no dia a dia, seja em produções casuais ou até mesmo em looks mais sofisticados. Em especial, a renda guipir veio e conquistou nossos corações, se estendendo por coleções e coleções!
De uns anos para cá, reparei que o chapéu vem ganhando mais espaço aqui no Brasil. É comum ver na Europa, na Ásia é quase tradição e felizmente em território canarinho, tenho sentido mais aceitação desse acessório. Eu amo e não abro mão, isso vai além da questão do estilo em si e tem um viés na saúde também, já que o sol não está para brincadeira.
Nos pés o poder da gladiadora está no comando e cada vez com mais ousadia. Relutei um pouco, pois é um modelo que favorece mais a quem tem pernas longas e esguias, mas como sempre digo para vocês, tem vontade de usar e se gostou assim, regras não existem, o que deve prevalecer sempre é sua personalidade e sua auto estima!
LOOK COMPLETO
Macaquinho Blessed para House
Chapéu Renner
Óculos Forever21
Acessórios da amiga Carol Gaia
Gladiadora Encanto dos Pés
Postado no blog Juliana Goes em 20/01/2015
Tirinha resume os motivos pelos quais todos nós deveríamos ser feministas
Se a mulher não quer sair com um cara, ela é difícil. Se convida pra sair, é desesperada. Se ela não está dentro dos padrões de beleza estabelecidos, é relaxada. Se está, é neurótica.
O machismo não coloca apenas a mente e o corpo das mulheres em risco, mas também o próprio homem.
Afinal, o machismo também prega que é feio ser virgem, que você não pode ir a uma festa e não “pegar” ninguém, que chorar é coisa de mulher e que ser “viado” é xingamento.
O machismo exige que você prove o tempo todo que é homem, que é forte e que é alpha.
O machismo acaba com a sua sensibilidade, tripudia sobre os homossexuais e desrespeita as mulheres.
Em uma sequência de tirinhas, o ilustrador japonês conhecido como Rasenth resumiu alguns motivos simples para que todos nós – homens, mulheres, trans, homossexuais, bissexuais ou heterossexuais – sejamos feministas. Porque onde há machismo, a mulher não é a única a ser oprimida.
Veja, reflita e compartilhe:
Postado no site Hypeness
Você conhece a diferença entre ser simples e ser simplista?
Josie Conti
“A simplicidade é o último grau de sofisticação.” Leonardo da Vinci
Não é incomum que se confunda um conteúdo que visa simplicidade com um conteúdo simplista.
Quanto mais simples a linguagem, maior o poder de comunicação. É possível transmitir conteúdos complexos de maneira simples assim como é possível tornar complicado algo simples.
Veja o exemplo de um dos poetas brasileiros reconhecido pela simplicidade de sua escrita:
“Sou livre para o silêncio das formas e das cores.” Manoel de Barros
Quantas profundas e até mesmo complexas explanações e interpretações são possíveis a partir de um único verso dotado da mais pura simplicidade na escrita?
O que Manoel de Barros fez incorporando em seus textos um vocabulário coloquial-rural e uma sintaxe que remete diretamente à oralidade, isso sem falar nos neologismos, é o que que Leonardo da Vinci certamente chamaria de “último grau de sofisticação” através da simplicidade.
Abaixo uma definição bastante esclarecedora:
SIMPLES não é o oposto de complexo, mas o oposto de COMPLICADO.
A simplicidade é a ausência de extravagâncias, de exageros que são como armadilhas que te impedem de atingir os seus objetivos.
Nunca confunda uma pessoa simples com uma pessoa simplista.
O SIMPLISTA deixa de lado aspectos fundamentais dos objetivos.
Já quem enfatiza o SIMPLES tem a capacidade de filtrar aquilo que realmente importa daquilo que não acrescenta valor. A energia é concentrada naquilo que é necessário para cumprir seus objetivos.
Seja inteligente, simplifique!
Postado no blog Conti Outra em 19/01/2015
Não matarás ! Uma lembrança de Dostoievsky sobre a pena de morte
Marco Aurélio Weissheimer
O brasileiro Marco Acher foi executado, por fuzilamento, sábado, na Indonésia. Ele foi condenado à morte por tráfico de drogas. Há outro brasileiro, Rodrigo Goularte, que também está no corredor da morte na Indonésia, pelo mesmo crime. Arrisquei mencionar o ocorrido para um taxista aqui em Porto Alegre na tarde deste sábado. Já imaginava qual seria a reação e minha expectativa não foi frustrada.
O taxista defendeu a execução, a introdução da pena de morte no Brasil e sua aplicação a milhares de “bandidos e políticos”. “Vai ter uma fila quilométrica para as execuções”, emendou. Essa seria, para ele, a imagem de um Brasil decente: um país com filas de condenados aguardando para serem executados. Além disso, criticou a presidente Dilma Rousseff por ter pedido clemência ao presidente da Indonésia. Fiquei calado, ouvindo e pensando como é doloroso e difícil enfrentar esse debate.
Em um ensaio sobre a pena de morte, Norberto Bobbio faz uma retrospectiva histórica sobre o debate em torno da pena de morte, elencando argumentos favoráveis e contrários à prática. Não se trata de uma mera lista. Bobbio tem posição a respeito, que fica explicitada logo no título do ensaio, “Contra a pena de morte” (publicado no Brasil no livro “A Era dos Direitos”, Editora Campus).
Logo no início ele adverte que o debate sobre a abolição da pena de morte, de uma perspectiva histórica, mal começou.
“Durante séculos, o problema de se era ou não lícito (ou justo) condenar um culpado à morte sequer foi colocado. Jamais se pôs em dúvida que, entre as penas a infligir a quem violou as leis da tribo, ou da cidade, ou do povo, ou do Estado, estivesse também a pena de morte (…)”, escreve Bobbio.
Será apenas no século XVIII que encontraremos pela primeira vez um debate aprofundado sobre a licitude ou conveniência da pena de morte, com a obra de Beccaria, “Dos Delitos e das Penas” (1764). “Trata-se da primeira obra”, assinala Bobbio, “que enfrenta seriamente o problema e oferece alguns argumentos racionais para dar-lhe uma solução que contrasta com uma tradição secular”. O debate sobre a pena de morte e, em particular, contra a pena de morte, tem, portanto, cerca de 250 anos de vida, um período muito pequeno diante de uma história de milhares de anos de mortes, crimes, punições e execuções.
Em seu ensaio, Bobbio resume algumas das principais teses utilitaristas, retributivistas e abolicionistas, a favor e contra a pena de morte. Para quem quiser conhece-las, o link para a íntegra do artigo está disponível no início desse texto.
Como defensor da extinção da pena de morte, gostaria apenas de destacar a passagem final do artigo de Bobbio onde ele lembra uma passagem de Dostoievski e aponta o que considera ser o postulado ético central que embasa a posição contra a pena de morte. Ele identifica esse princípio a partir de uma limitação da tese utilitarista contra a pena de morte: “o limite da tese está numa pura e simples presunção, a de que a pena de morte não serve para fazer diminuir os crimes de sangue. Mas se se conseguisse demonstrar que ela previne tais crimes?” – indaga.
Neste caso, observa, teríamos de recorrer a outra instância de caráter moral, a um princípio posto como absolutamente indiscutível. E esse argumento, defende, só pode ser derivado do imperativo moral “não matarás”, que deve ser acolhido como um princípio de valor absoluto.
Bobbio antecipa uma objeção a essa posição:
“Mas como? Poder-se-ia retrucar: o indivíduo tem o direito de matar em legítima defesa, enquanto a coletividade não o tem?”
Não, a coletividade não tem esse direito, responde Bobbio:
“A coletividade não tem esse direito porque a legítima defesa nasce e se justifica somente como resposta imediata numa situação na qual seja impossível agir de outro modo; a resposta da coletividade é mediada através de um processo, por vezes até mesmo longo, no qual se conflitam argumentos pró e contra. Em outras palavras, a condenação à morte depois de um processo não é mais um homicídio em legítima defesa, mas um homicídio legal, legalizado, perpetrado a sangue frio, premeditado. Um homicídio que requer executores, ou seja, pessoas autorizadas a matar. Não é por acaso que o executor da pena de morte, embora autorizado a matar, tenha sido sempre considerado como um personagem infame (…)”.
E acrescenta:
“O Estado não pode colocar-se no mesmo plano do indivíduo singular. O indivíduo age por raiva, por paixão, por interesse, em defesa própria. O Estado responde de modo mediato, reflexivo, racional. Também ele tem o dever de se defender. Mas é muito mais forte do que o indivíduo singular e, por isso, não tem necessidade de tirar a vida desse indivíduo para se defender. O Estado tem o privilégio e o benefício do monopólio da força. Deve sentir toda a responsabilidade desse privilégio e desse beneficio”.
Bobbio admite que esse raciocínio pode ser tachado de “moralismo ingênuo, de pregação inútil.” Mas onde reside, então, a razão da nossa repugnância frente à pena de morte? – questiona. Ele responde:
“A razão é uma só: o mandamento de não matar. Não vejo outra. Fora dessa razão última, todos os demais argumentos valem pouco ou nada; podem ser contraditos por argumentos que têm, mais ou menos, a mesma força persuasória. Dostoiévski o disse magnificamente, quando pôs na boca do Príncipe Michkin as seguintes palavras: “Foi dito: ‘Não matarás.’ E, então, se alguém matou, por que se tem de matá-lo também? Matar quem matou é um castigo incomparavelmente maior do que o próprio crime. O assassinato legal é incomparavelmente mais horrendo do que o assassinato criminoso.”
Na mesma direção, Bobbio cita duas passagens do escritor francês Victor Hugo (outro defensor da extinção da pena capital), em “Os Miseráveis”:
“O patíbulo, quando está lá, erguido para o céu, tem algo de alucinante. Alguém pode ser indiferente quanto à pena de morte e não se pronunciar, não dizer nem sim nem não; mas isso só enquanto não viu uma guilhotina. Quando vê uma, o abalo é violento: ele é obrigado a tomar partido a favor ou contra.”
A segunda passagem narra uma experiência de Victor Hugo, quando tinha dezesseis anos e viu uma ladra que um carrasco marcava com ferro em brasa:
“Ainda conservo no ouvido, quarenta anos depois, e sempre conservarei na alma, o espantoso grito da mulher. Era uma ladra; mas, a partir daquele momento, tornou-se para mim uma mártir.”
A distância que existe entre essas palavras e o desejo de filas de execuções manifestado pelo taxista dá bem uma ideia da distância que ainda precisa ser percorrida para que o “Não matarás!” deixe de ser um princípio contra intuitivo e estranho à nossa vida cotidiana.
Postado no blog RSUrgente em 18/01/2015
Ideologia das trevas virou moda
Bepe Damasco, em seu blog
Tomando por base o que lemos na internet e ouvimos na filas do banco, nos supermercados, ônibus, metrôs, trens, nos restaurantes e nos botecos, cada vez mais brasileiros perderam o pudor de defender as teses mais obscurantistas, xenófobas, racistas e preconceituosas, na direção oposta de várias conquistas humanistas e civilizatórias.
Por isso, o apoio maciço à bárbara execução do brasileiro Marco Archer pela Indonésia, nas redes sociais, não surpreende. É apenas mais uma entre as incontáveis manifestações insanas que inundam os comentários dos sites noticiosos do PIG, o facebook e o twitter. Ser reacionário e fascista está virando moda no Brasil, essa é a verdade.
Aos cientistas políticos, antropólogos, psicólogos e quadros políticos deixo uma sugestão para análise e estudo: por que será que o ódio e a intolerância como instrumentos de luta política cresceram de forma tão exponencial depois das jornadas de junho de 2013 ?
Já virou rotina ler descerebrados pregando na internet barbaridades como o assassinato de Lula, Dilma e de todos os petistas. O ódio a nordestinos, elevado à enésima potência depois que o Nordeste passou a votar em peso nos candidatos a presidente do PT, também faz sucesso entre muitos moradores dos bairros chiques dos grandes capitais do Sudeste e do Sul.
Chegam a propor a céu aberto a cassação do direito a voto dos beneficiários do bolsa família e, óbvio, são contra a política de cotas raciais e sociais para ingresso nas universidades e no serviço público, torcem o nariz para a valorização do salário mínimo e esbravejam quando o assunto é a lei que estende direitos trabalhistas para as empregadas domésticas.
Um traço marcante entre os adeptos desta ideologia das trevas é a extrema superficialidade e a pobreza de argumentos de suas opiniões, fruto de um analfabetismo político crônico e incurável.
Para eles, foi o PT que inventou a corrupção no Brasil e as notícias de Veja e do Jornal Nacional são verdades absolutas. No cipoal de bobagens que vivem a trombetear e multiplicar, destacam-se a compra da Friboi pelo filho de Lula e o enriquecimento da filha da presidenta Dilma.
Dispensa comentários a influência do monopólio midiático na formação do conjunto de valores desses brasileiros imbecilizados.
"Especialistas" em política externa, condenam o alinhamento do Brasil a "ditaduras" como Venezuela, Bolívia e Equador. Nem de longe lhes ocorre que em todos esses países os governantes são eleitos em pleitos livres e democráticos. Mas o que importa é alardear que o PT quer implantar um regime "bolivariano" no Brasil. Aposto que uma pesquisa feita no universo reaça brasileiro mostraria que mais de 90% dos consultados desconhecem quem foi Simon Bolívar, o grande libertador da América espanhola.
Por tudo isso, seria lhes pedir demais que levassem em consideração algumas informações, dados e constatações importantes sobre a questão da pena de morte e do tráfico de drogas no mundo.
Mais de dois terços dos países não têm a pena de morte nas suas legislações penais. Noutros, embora suas leis prevejam essa punição, ela foi abolida na prática. Mesmo nos EUA, país conhecido por adotar a pena capital, a grande maioria dos estados já não a pratica. O Texas é responsável por mais da metade das execuções ocorridas nos EUA.
Sobre a repressão ao tráfico de drogas, é sabido que o mundo só tem acumulado derrotas nesta guerra. A política mundial de repressão, comandada pelos EUA, se revelou através dos anos um retumbante fracasso, seja em relação ao objetivo de desmantelar as quadrilhas de narcotraficantes ou à tentativa de desestimular as pessoas ao consumo. Centenas de milhares de vidas foram perdidas e uma soma incalculável de recursos públicos foram consumidas nessa guerra.
Hoje, há o reconhecimento crescente de que algum nível de liberalização e descriminalização terá de ser adotado em escala mundial, a exemplo do que já fazem vários países europeus e, mais recentemente, o Uruguai, do bravo estadista Mujica.
Também é uma questão de tempo a mudança na abordagem central da questão das drogas, substituindo o foco exclusivo na repressão pela ênfase na saúde pública.
Para os "justiceiros" das redes sociais, a Indonésia fez muito bem em fuzilar um traficante. Simples assim.
Não importa a grande desproporcionalidade entre o crime cometido e os castigo imposto. Não importa que Marco Archer tenha cumprido 11 anos de cadeia na Indonésia. Não importa que ele tenha reconhecido seu erro e pedido clemência.
Infelizmente, se alastra como rastilho de pólvora em nosso país uma ideologia que despe o ser humano de noções básicas de solidariedade, justiça e compaixão. Uma tristeza.
Postado no Blog do Miro em 19/01/2015
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