Médicos que receitaram o impeachment estão reclamando de que agora?
Mauro Donato
Generalizar significa ofender as exceções. Mas as classes de médicos apoiaram em peso o impeachment de Dilma Rousseff. Centenas de Conselhos regionais e o próprio Conselho Federal de Medicina patrocinaram o golpe.
O Sindicato dos Médicos do Ceará espalhou outdoors por toda a cidade de Fortaleza convocando os panelaços. A Associação Médica Brasileira pagou para publicar anúncios em jornais espinafrando o governo petista e convocou ‘pacientes e amigos’ para irem à av Paulista. E não ficou restrito apenas aos profissionais. Foram muitas as faculdades de medicina que fizeram campanha pró Aécio com os formandos. Portanto exceções confirmam a regra.
Por que agora estão tão revoltados com o ministro da Saúde de Michel Temer? Se o ministro Ricardo Barros é especialista em disparar frases recheadas de sandices e preconceitos (como a mais recente que tem causado a fúria na categoria: “Os médicos precisam parar de fingir que trabalham”), por outro lado, ele atende aos anseios de todos aqueles que queriam ver Dilma pegar o boné e deixar o Palácio.
A pauta não era de um estado mínimo? Pois bem, tão logo tomou posse da pasta, Ricardo Barros já havia dito que o SUS precisaria ser revisto porque ‘infelizmente o governo não tem capacidade financeira para suprir todas essas garantias que tem o cidadão.’ Ali o caldo azedou entre médicos e o ministro. E de lá pra cá, tudo piorou, como a chuva de ovos no casamento de sua filha não deixa mentir.
Ricardo Barros está como ministro de Michel Temer há mais de um ano e já cometeu gafes (para não dizer outra coisa) inacreditáveis. Barros é engenheiro de formação, portanto seu conhecimento sobre saúde associado a seu perfil ‘Temer’ que aprecia as ‘recatadas do lar’, propicia que solte pérolas como responsabilizar a ausência das mulheres em casa como causa da obesidade infantil (mesclou machismo com ‘achismo’).
Para comprovar que não se tratou de um deslize misógino, em outra oportunidade disse que os homens procuravam menos o atendimento de saúde porque ‘trabalham mais do que as mulheres’.
O ministro também já declarou – do alto de seu conhecimento acadêmico – que a população não colabora, exagera, que procura atendimento apenas por ‘imaginar estar doente’.
“A maioria das pessoas chega ao posto de saúde com efeitos psicossomáticos”, afirmou durante um evento na sede da Associação Médica Brasileira (aquela que pagou os anúncios exigindo ‘Fora Dilma’), quando aproveitou para passar um pito nos médicos, aconselhando-os a não pedirem tantos exames laboratoriais nem ficar prescrevendo remédios à toa.
“Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários apenas para satisfazer as pessoas”. Em tempo: o SUS, ao invés de ‘satisfazer’, tem deixado muita gente agonizando por não entregar remédios, e o ministério de Barros ainda reclama de uma ‘judicialização’ nos pedidos não atendidos.
Enfim, defender Ricardo Barros é impossível, mas os médicos pediram por isso.
A classe médica satanizou o Mais Médicos. Um programa que levou mais de 18 mil médicos a mais de 4 mil municípios (quando muitos deles não contavam com nem um único médico sequer) e que, de tão ‘ruim’, obteve nota média 9 (em uma escala de satisfação de 0 a 10), segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizado com mais de 14 mil pessoas em 700 municípios.
Infelizmente a medicina (de novo, salvo exceções) parece ter desvirtuado sua motivação primeira de salvar vidas e tornou-se uma atividade calculista.
Não queriam um engenheiro?
Postado em DCM em 17/07/2017
Um arco-íris . . .
A vida fica mais bonita quando aprendemos a apreciar os detalhes,
até os mais simples
até os mais simples
Mísia Morais
Tomei um susto, esses dias, quando percebi que nunca tinha parado para apreciar, de fato, a beleza de um arco-íris. Isso me inquietou. Óbvio, já vi vários arco-íris, mas, em nenhum desses momentos, eu estava ciente da raridade, beleza e simbologia de tal fenômeno.
Sabe aquela impressão que temos, às vezes, de que não éramos maduros os suficiente para dar valor a certas pessoas, eventos e privilégios do passado? De que não soubemos aproveitar certas épocas, de que não tínhamos noção da grandeza de alguns detalhes, de que não tínhamos atentando para a beleza de lugares em que estivemos? É isso que sinto com relação aos arco-íris.
Como pude, eu, deixar passar em branco um arco colorido – meio transparente – abraçando a cidade, perpassando a estrada, presenteando a vista da praia? Como pude não me maravilhar com aquele caminho curvado (multicolorido) que atravessa o céu depois da chuva? O pote de ouro que fica na ponta do arco-íris deve estar entristecido. Ninguém mais o procura, nem sonha com ele. Alguns nem mesmo sabem de sua existência. A gente se deixa esquecer os arco-íris da vida. Esquece-se do pote de ouro que fica em seu fim. Um absurdo, não é? Um pecado sem precedentes.
Isso soará meio louco, mas tenho andado na rua, literalmente, com a cabeça nas nuvens. Não tiro os olhos do céu, na esperança de dar de cara com um arco-íris e tirar esse peso de minhas costas. Poderia chamar essa obsessão de um desespero filopoético, talvez, mas penso que toda essa situação é um lembrete do quanto deixamos passar diante de nossos olhos tanta beleza, sem que prestemos atenção. É preciso se policiar, aguçar os sentidos, entende?
A vida fica mais bonita quando aprendemos a apreciar os detalhes (até os mais simples), os fenômenos, os lugares, as situações cotidianas, as pessoas. Pergunto-me o quanto perdi da vida enquanto estava distraída demais. Ou seria me concentrado demais naquilo que não importa verdadeiramente?
A gente se distrai, concentra-se demais e perde os arco-íris da vida. Mal sabemos nós que um dos potinhos de ouro da existência é a habilidade de saber apreciar o que está ao nosso alcance. De saber valorizar o que temos por perto, de se encantar com as cores que estão em nosso campo de visão, de ver a beleza que está oculta pelo costume e pela rotina.
Enfim, o que importa é que, a partir de agora, eu me esforçarei mais para não deixar passar em branco os próximos arco-íris que comigo cruzarem, sejam eles o que forem. E te desafio a fazer o mesmo.
Postado em Conti Outra
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