Luiz Carlos Azenha
A Maria Frô indicou o vídeo acima dizendo tratar-se de uma paródia à tentativa da Globo de pasteurizar a fala do brasileiro.
Não sei se é.
Mas, nos idos de 1980, como repórter iniciante da TV Bauru, afiliada da Globo, testemunhei o trabalho de Glorinha Beutenmüller, que nos ensinou a falar na TV. Na minha geração de repórteres fomos quase todos “alunos” da Glorinha.
Um trabalho competente o dela, que ia muito além do sotaque. Porém, era impensável falar o tradicional “porrrrrta” do interior paulista.
Havia, sim, uma padronização. Curiosamente, a norma não era o carioquês, mas o jeito de falar exibido ainda hoje no Jornal Nacional pelo William Bonner. Uma espécie de paulistanês.
Interpreto isso como extensão do papel que a Globo assumiu durante a ditadura militar, o de fazer a “integração nacional” através das antenas da Embratel e, posteriormente, via satélite.
Os militares, afinal, morriam de medo de perder a Amazônia para estrangeiros. Criar um mercado nacional de consumo para as multinacionais que se instalavam no Brasil no período, em parceria com empresários brasileiros, foi outro dos objetivos aos quais o “padrão global” supostamente serviu.
O sucesso da TV Diário, no Ceará, é demonstração de que o Brasil está pronto para romper com isso.
Infelizmente, temos um mercado publicitário ainda muito concentrado, mas é possível prever um futuro em que as emissoras afiliadas busquem mais e mais independência em relação às redes, para atender à demanda por programação local.
Quando isso acontecer, o padrão global do sotaque único tende a ruir, comido pelas bordas.
Postado no blog Contraponto Pig e no blog Viomundo em 28/11/2013