Jogadores e atrizes, uni-vos!
Marco Antonio Araújo
Já houve um tempo em que atrizes famosas teriam vergonha de assumir um relacionamento com jogadores de futebol. Hoje em dia, esse parece ser o, digamos, casamento ideal entre esses tipos de celebridades.
A intimidade deles com a língua portuguesa melhorou um pouco, mas não o suficiente: continuam sendo exemplo de um repertório cultural mínimo, a não ser que pagode e funk mereçam algum respeito intelectual. É nóis.
Portanto, uma rápida inspeção histórica nos permite, com facilidade, identificar o que mudou nesse período: os salários dos atletas se tornaram astronômicos.
Em contrapartida, ser artista deixou de se sinônimo de "antena da raça" ou qualquer outra metáfora digna de admiração.
A coisa está feia. Abrir um livro, visitar um museu ou assistir a um concerto é coisa de velho, tipo Walmor Chagas. Atualmente, as pessoas se matam por outras coisas.
Não deixa de ser um retorno aos hábitos mais antigos e aristocráticos: assim como os nobres de antigamente, o que importa é juntar fortunas, fama e poder, enquanto não chega o próximo aventureiro para destronar reis e rainhas, inclusive as de bateria de escola de samba.
Em compensação, esses casamentos e namoros são tão efêmeros e fúteis quanto os motivos que unem boleiros e marias-chuteiras. Não está fácil pra ninguém. Mas para alguns, pelos menos, está mais divertido. Bola pra frente.
Não é o caso de citar nomes. Cometeria alguma injustiça, tantos são os acasalamentos em voga. É o que temos para hoje. E talvez para o século XXI.
Postado no blog O Provocador em 14/02/2013
O tempo do tempo
Não atropele o tempo do tempo.
Se você já semeou, agora é esperar as sementes germinarem.
Se já teve o primeiro encontro, é aguardar as emoções aflorarem.
Se já saiu na chuva, se descobriu o calor e passou pelo frio,
é tempo de observar da janela da vida o tempo passar,
como ás águas do rio...
Não coma as palavras, respire.
Não fale o que vier na telha, pense.
Não se atrapalhe com mil pensamentos, medite.
Não se envolva com energias negativas, ore.
Não perturbe o seu coração, confie.
Não se orgulhe de nada, nem do bem e nem do mau.
Apenas dirija o seu barco, seja o capitão da sua nau.
Observe as pessoas correndo, vão apressadas para o nada.
Não entre nessa fila, tenha uma direção, não vá com a manada.
Saia mais cedo e contemple o dia.
A noite enluarada, cheia de estrelas, é a vida.
Vida que pede tempo para se apresentar e te mostrar.
Que você é o próprio tempo que se refaz a cada segundo em que se amar.
É tempo de deixar o tempo agir, ser, estar e prosseguir,
com a certeza de que o tempo não age contra ninguém,
é aliado amigo de quem sabe como seguir bem.
Paulo Roberto Gaefke
Postado no blog Só Palavras
Único livro que presta sobre o Mensalão
Por Paulo Nogueira no blog Diário do Centro do Mundo
Três livros sobre o Mensalão chegam às bancas. Dois não merecem ser lidos, o de Merval e o de Villa. O terceiro, sim. O jornalista Paulo Moreira Leite produziu, ao longo do julgamento, excelentes artigos - ainda mais admiráveis por terem sido publicado no solo hostil e árido das Organizações Globo. PML, agora na IstoÉ, tinha um blog na Época nos dias do Mensalão. Seu livro se apoia exatamente em seus textos no blog.
PML fez um livro superior aos outros dois por duas razões: primeiro, pensa melhor que Merval e Villa. Depois, escreve melhor.
O Mensalão é um mau momento na histórica política e jurídica nacional.
Danton, no tribunal em que foi condenado à guilhotina, disse que se tratava de um “julgamento político”, e portanto com escasso interesse por coisas como provas.
O julgamento do Mensalão teve exatamente este pecado: foi muito mais político que técnico. A rigor, você nem precisaria de tanto tempo de discussões no STF. Cada juiz já parecia desde antes saber exatamente como seria seu voto.
Houve, desde o início, uma intenção de dar ao caso uma dimensão espetacularmente inflada. Lula, de certa forma, provou o próprio veneno. Ele, que tantas vezes usara a expressão “nunca antes na história deste país”, viu-a ser empregada repetidamente pelos juízes, e depois pelos suspeitos de sempre nas colunas de jornais e revistas.
A opinião pública, expressa nas urnas, não concordou com a gravidade que se quis dar ao caso. O mais notório exemplo disso foi a vitória de Haddad em São Paulo, tirado do nada por Lula em pleno julgamento. É como se o eleitor tivesse dito o seguinte: “Houve erro no PT no episódio? Sim. Mas não deste jeito. Estão transformando um riacho num oceano. Por quê? Alguma vantagem eles estão extraindo disso.”
Do ponto de vista anedótico, outra prova do pouco caso popular com o julgamento veio no Carnaval: onde, afinal, as máscaras de Joaquim Barbosa que estariam sendo vendidas em grande quantidade?
As pretensões presidenciais de JB faleceram com o fracasso espetacular de sua máscara carnavalesca.
Paradoxalmente, o Brasil aprendeu com o julgamento – e pode se tornar melhor, se corrigir absurdos que ficaram expostos.
Todos soubemos como se chega ao STF, a mais importante corte do Brasil. O ministro Luiz Fux descreveu, à jornalista Mônica Bérgamo, sua louca cavalgada. Foi atrás de Zé Dirceu, na busca de apoio para seu nome, mesmo sabendo que teria que julgá-lo depois.
Como uma criança, rezou e se agoniou enquanto esperava a confirmação de seu nome para uma vaga no STF. E então chorou. “As lágrimas dos fracos secam as minhas”, escreveu Sêneca. Lembrei imediatamente dessa grande frase ao ler sobre o choro de Fux.
Os brasileiros souberam também como Joaquim Barbosa chegou ao Supremo: porque Lula queria um ministro negro. Não foi por talento, não foi por notório saber. Foi por uma ação de Lula que pode ter sido demagógica, simplesmente, ou nobre. E foi também porque Barbosa teve a cara suficientemente dura para se apresentar a Frei Betto quando o acaso os reuniu numa loja da Varig em Brasília.
Por tudo isso, o STF é um problema, e não uma solução. Se havia dúvidas sobre a precariedade do judiciário, elas desapareceram.
Para o Brasil progredir, o judiciário terá que ser reformado. Isso ficou patente quando o STF ficou sob os holofotes nestes últimos meses, e eis um benefício para o país. Você pode debelar um incêndio apenas se tiver ciência dele, e o fato é que o Supremo arde.
Em dois dos três livros sobre o Mensalão o leitor será induzido a uma fantasia na qual JB é um gigante. No de PML, você poderá constatar a realidade - não é.
Postado no Blog do Miro em 15/02/2013
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