Diário, a minha esperança é Deus. Quer dizer, Deus, não. Um poder acima dele: os pastores. Só os malafaias, macedos, santiagos, sônias e maltas é que podem me salvar de não perder no primeiro turno.
Tem uns evangélicos progressistas que não dão a menor bola pra mim. Mas os que seguem esses megapastores são mais fáceis de convencer. Com um discurso do bispo na orelha e umas feiquenius no celular, o cara cai na minha conversa fácil, fácil.
É esse eleitor que tá me salvando. Ele não se importa muito que mais de 30 milhões tão passando fome, que morreram quase 700 mil de covid, que a inflação passou de 10%, que o mercado de trabalho está precário do que nunca, etc... Ele quer é um governo que seja contra gays, demônios e comunistas.
Por isso, enquanto o Outro fala de livro, eu falo da Bíblia. Enquanto o Outro fala de trabalho, eu falo de Deus. Enquanto o Outro fala de saúde, eu falo de milagre.
Eu sei que o governo não tem nada a ver com Bíblia, Deus e milagre, mas e daí? É o que temos pra hoje, pô!
E vou te contar, Diário: não sou só eu que estou atrás do voto das ovelhas. Nessa eleição, 902 candidatos que colocaram as palavras “pastor”, “irmão” ou “bispo” na frente do nome. Tem mais santo na urna eletrônica que na Capela Cistite.
Por isso, toda noite eu rezo uma oração chamada Pastor Nosso. Eu que inventei. Ela é assim:
Pastor nosso que estais no púlpito,
santificada seja vossa conta bancária
e venha a nós o vosso eleitor
assim no primeiro como no segundo turno.
O voto para esta eleição nos dai hoje
que nós lhe entregaremos o MEC
assim como perdoaremos
os seus impostos e taxas.
E não nos deixeis ficar sem imunidade parlamentar,
Há muitos estudos nos quais se tentou estabelecer qual é o traço comum aos grandes homens e mulheres que inspiraram a humanidade. Tudo parece indicar que a virtude mais decisiva é a perseverança. Muitas das grandes conquistas são uma lição inspiradora de tenacidade e luta contra a adversidade.
A perseverança é uma virtude complexa, quase um dom. Quando é autêntica, alimenta a tenacidade e a vontade diante das dificuldades e dos obstáculos. Para manter essa vontade de ferro diante da adversidade, é preciso saber o que você quer, para onde quer ir e por quê. Normalmente, isso é resultado de um processo de reflexão e formação de caráter.
” A arte de superar grandes dificuldades é estudada e adquirida com o hábito de enfrentar as pequenas “.
Engana-se quem pensa que grandes feitos tomam forma desde o início. Em geral, tudo começa com uma pequena semente que é regada, se espalha e chega a um ponto em que toma seu próprio caminho de crescimento. Precisamente a lenda do menino e da estrela do mar explica, de forma simples, do que se trata tudo isso.
Uma lenda inspiradora e realista
Era uma vez um homem que morava perto da praia. Todos os dias ele acordava e a primeira coisa que fazia era dar um passeio na areia. Um dia ele ficou muito surpreso com o que encontrou em seu passeio matinal. Havia centenas de estrelas do mar espalhadas por toda a costa. Foi muito estranho. Talvez o mau tempo ou os ventos de novembro tenham sido os responsáveis por esse fenômeno.
O homem lamentou a situação. Ele sabia que a estrela do mar não podia viver mais de cinco minutos fora da água. Todas estas criaturas logo estariam mortas, ou estavam já mortas quando ele passou por lá. “Que triste !”, pensou. No entanto, nenhuma ideia inspiradora veio à sua mente.
Avançando um pouco, ele viu um menino correndo de um lado para o outro na areia. Ele parecia abalado e suado. “O que você está fazendo?” o homem perguntou. “ Estou devolvendo as estrelas ao mar ”, respondeu o menino, que parecia cansado.
O homem pensou por um momento. O que o menino estava fazendo parecia absurdo para ele. Ele não resistiu à vontade de dizer o que pensava. “ O que você faz é inútil. Eu andei um longo caminho e há milhares de estrelas. Não faz sentido o que você faz ”, ressaltou. O menino, que tinha uma estrela do mar nas mãos, respondeu: “Ah, com certeza faz sentido para esta aqui!”
Pequenas ações, grandes feitos
A inspiradora lenda do menino e da estrela do mar nos mostra o valor das pequenas ações. Às vezes deixamos de ver o valor de atos modestos. Isso acontece porque não estamos orientando nosso comportamento para valores, mas para resultados. É como se víssemos o mundo em termos de quantidade e tamanho, mas não em termos de significado e essência.
Todo grande feito começa com pequenos atos. De fato, os começos costumam ser difíceis, assim que quem não aprende a dar sentido a uma flor dificilmente encontrará sentido à natureza.
Da mesma forma, quem ignora o valor de um pequeno sacrifício dificilmente construirá um senso de esforço. O caráter geralmente é fortalecido a partir de pequenas restrições, de disciplinas discretas. O primeiro grande obstáculo aos grandes sonhos são os pequenos cepticismos dos que o rodeiam. Dar sentido ao pequeno é uma maneira inspiradora de viver.
A perseverança é, acima de tudo, descendente de valores. É preciso muita convicção para resistir às dificuldades e contratempos que estão sempre presentes quando você estabelece uma meta digna. O pior é que muitas vezes nos deixamos invadir por um pensamento totalitário. É aquele que lhe diz que se não há “tudo”, então não há “nada”. Por sua vez, esse esquema mental é um veneno para a motivação.
Se você vincular seus grandes sonhos e aspirações aos valores humanos, será muito mais fácil encontrar a força necessária para seguir em frente. Em vez disso, se você se concentrar apenas nos resultados imediatos, é provável que a frustração assuma o controle. As grandes catedrais são construídas pedra por pedra. A inspiradora lenda do menino e da estrela do mar nos diz que o pequeno faz sentido, e certamente vale a pena aprender a ver as coisas dessa maneira.
Os fascistas votam, certamente. Eles são a base política do governo. Pensam como ele e nunca se sentiram tão à vontade no governo como agora. Desde os tempos dos Integralistas na era Vargas. Mas como eles não gostam de eleições fica a dúvida se podemos considera-los suporte do voto bolsonarista. Mas também lembro agora que são mentirosos, falsos, fazem de tudo para conseguir o que querem, sem moral, sem pudor.
Depois deles vêm os preconceituosos, os racistas, os elitistas, os espertalhões, os violentos, muitos do agronegócio, outros tantos do mercado financeiro, alguns banqueiros, outros industriais, algumas mulheres, alguns evangélicos, muitos eu diria e um bando de gente que não gosta do próximo, não quer pensar nem viver num país para muitos. O sonho deles é um país onde a maioria se mate de trabalhar e eles fiquem no bem bom ainda fazendo proselitismo de progressista.
Essa gente certamente prefere o Bolsonaro. Também preferem aqueles que não querem pensar muito, que não se metem em política, que olham para o próprio nariz achando que ali se abre um enorme horizonte. Entre os que votam coloco também muitos militares, no bom e no mau sentido, se é que existe algum bom sentido em votar no Bolsonaro. Mas talvez um certo espírito de corporação, ainda um medo do progresso, das transformações e da desmistificação da farda. O problema não é a farada e sim o mau uso dela.
Tenho até uma certa dúvida se os conservadores, monarquistas, reacionários, todos fecham com o Bolsonaro. Ele não preza pela inteligência e alguns desses que citei têm veleidades intelectuais. Também não votam no Lula. Ficam ali entre a Simone Tebet e o sonho eterno do Fernando Henrique. Mas FHC não está mais no páreo e a época da política “per bene” acabou. O povo está na rua passando fome, pedindo transformações. Não dá para resolver a questão nas salas de aula da Sorbonne. Até podemos usar o que aprendemos lá, mas na prática temos que ser realistas e ter coragem política para votar bem e ajudar a mudar este país.
Essa é a escolha de quem vota à esquerda. Sem medo de ser feliz. Tratar o país como um ser em eterna transformação e não estagnado para favorecer que vive desta paralisia progressiva.
Chega disso. O país não saiu do lugar. Pelo contrário, retrocedeu a ponto de aumentar a violência, os assassinatos, a roubalheira, a falsidade, o cinismo, a politicagem, a grilagem, e tudo aquilo que o desenvolvimento havia abolido.
É fácil identificar olhando em volta hoje quem tem pinta de votar no Bolsonaro. Faça uma experiência sem colocar sua vida em riso, é claro. Certamente você vai encontrar o grupo mais complicado desses eleitores do homem. Aqueles que votaram em branco ou nulo. Essa é a fatia importante. E nesses eleitores que colocamos nossa esperança de transformação. Não há voto em branco que não possa escolher alguém, nem voto nulo que não possa ser útil.
Diário, tem uma carta aí contra mim. O nome da bagaça é “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”.
É coisa da Faculdade de Direito da USP. Tem que mudar o nome dela pra Faculdade de Direita da USP. Aí, sim!
O treco foi lançado terça-feira. Na mesma noite já tinha 30 mil assinaturas. Ontem à tarde chegou a 70 mil e agora de manhã já eram 165 mil.
Agora me diz, Diário, como vai caber tanta assinatura numa carta? Só se ela for escrita num rolo papel higiênico, pô!
Eu não li o negócio, porque é cheio de letra amontoada, mas me mandaram um pedaço pelo twitter que diz assim: “Estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.”
E tão mesmo! Mas é só todo mundo votar em mim que isso passa.
Diário, tem uma carta aí contra mim. O nome da bagaça é “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”.
É coisa da Faculdade de Direito da USP. Tem que mudar o nome dela pra Faculdade de Direita da USP. Aí, sim!
O treco foi lançado terça-feira. Na mesma noite já tinha 30 mil assinaturas. Ontem à tarde chegou a 70 mil e agora de manhã já eram 165 mil.
Agora me diz, Diário, como vai caber tanta assinatura numa carta? Só se ela for escrita num rolo papel higiênico, pô!
Eu não li o negócio, porque é cheio de letra amontoada, mas me mandaram um pedaço pelo twitter que diz assim: “Estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.”
E tão mesmo! Mas é só todo mundo votar em mim que isso passa.