Diário, eu te pergunto: alguma vez eu disse que não ia comprar vacina da China?
Tá, eu disse.
Mas alguma vez eu falei que não ia me vacinar?
Tá, eu também falei.
Mas você me ouviu dizendo que a vacina da China não era segura?
Tá, tá…, eu sei…
Mas o que importa é que agora eu tô dizendo que não disse o que eu disse. E que ninguém venha com disse me disse que eu redigo que não disse!
Diário, eu mudei por dois motivos. O primeiro foi a surra que eu tomei do Oswaldo Cruz. O segundo foi por causa do Lula, que tá por aí bancando o estadista bonzinho que pensa no povo.
Por conta deles, ontem eu assinei uma lei que facilita a compra da vacina, falei bem de loquidaum e até usei máscara! Fazia 36 eventos que eu não botava a focinheira.
Vou te contar: eu faço qualquer coisa pra me reeleger. Se precisar, nos próximos dias boto uma saia e digo que sou a favor das causas LGBTs, falo que sou contra a tortura, boto um pôster do Miguel Nicolelis na sala, digo que tenho uma queda pela Margareth Dalcolmo, começo a seguir o Instagram do Átila Iamarino e visto a fantasia de Zé Gotinha.
Até já mandei o Carluxo tuitar que eu sempre fui a favor da vacina. Mas perceberam que era mentira e zoaram o garoto, que virou trending topic no Twitter.
O Flavinho tentou ajudar: botou uma foto minha dizendo “Nossa arma é a vacina” e tuitou “Vamos viralizar”. Mas o garoto é uma besta mesmo! Como é que vai falar em vírus numa hora dessa? Tinha que ter escrito “Vamos vacinalizar”.
E o Dudu não conseguiu se segurar. Fez um vídeo em que mandou as pessoas enfiarem a máscara no rabo.
Os três são o meu resumo: um mente na cara dura, outro não é muito esperto e o terceiro é violento por qualquer coisa. Esses aí não precisam nem de exame de DNA. São eu cuspidos e escarrados.
Diário, com os 270 mil que morreram, eu não mudei nada. Só que, com a surra do Oswaldo e com o discurso do Lula, não teve jeito.
Mas fica tranquilo que eu só tô fingindo por um tempo. Depois eu volto normal. Até lá, eu sou um negacionista do negacionismo. Um nenegacionista!