" Dói demais ver as crianças morrendo sem poder ver os pais " afirma pediatra de UTI




A BBC publicou nesta última semana uma emocionante entrevista com a pediatra intensivista Cinara Carneiro. Ela trabalha na UTI de covid-19 do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará e contou à BBC a sua rotina e as suas dores como intensivista.

Na grande maioria dos hospitais, as visitas nas UTIs estão suspensas em virtude da covid-19. Assim, distante dos pais, cabe aos profissionais de saúde acolherem as crianças ali internadas, o que, segundo a médica, torna-se um tanto mais difícil em razão da máscara facial criar obstáculo por não possibilitar que vejam o seu sorriso. Assim, o acolhimento se dá pela fala, pelo toque e, certamente acima de tudo, pelo olhar.

Segundo a pediatra: “A interação com a criança estando de máscara e paramentada é algo que gera sofrimento na gente. Na nossa unidade, a gente não tem permitido a presença dos familiares, como se permitia antes, pelo risco de contaminação, porque a gente não tem EPI (equipamento de proteção individual) suficiente para disponibilizar para os pais“.

Ela revela a sua tristeza com relação a muitos crianças que chegam conscientes à UTI, mas pioram, são intubados e acabam morrendo sem que os pais possam acompanhar de perto os seus momentos finais.

“Dói ver uma criança morrendo sem ver os pais. Fica muita coisa não trabalhada no luto desses familiares, de não ter visto, de não ter acompanhado de perto fisicamente a piora. Por mais que a gente tente explicar por telefone, muita coisa não está sendo vista e vivida”, afirma a pediatra.

Segundo a médica, um dos momentos mais sensíveis da internação de um paciente de covid é a intubação. Ela relatou à BBC um diálogo com um adolescente de 14 anos, momentos antes de ele ser sedado. Ela conta que enquanto o nível de saturação caia, ele não parava de repetir: “Não quero que minha mãe sofra, não quero que minha mãe sofra“.

“Eu falei: ‘você está precisando de ajuda para respirar. Eu vou tentar te ajudar nesse momento, mas você vai receber medicação para dormir, para não sentir dor. E a gente vai estar aqui conversando quando você acordar’”, relata a pediatra.

Mas o menino, que não tinha nenhuma comorbidade quando se infectou pelo coronavírus, nunca mais acordou.

Infelizmente, histórias como a relatada pela pediatra se repetem a cada dia e cada vez mais em nosso país. Faz-se necessária, com urgência, uma ampla vacinação, mas, até lá, sigamos cumprindo as normas de sanitárias.

SE PUDER, fique em casa  !

Para ler a matéria completa, acesse BBC





Diante da proibição de visitas na UTI infantis de covid-19, médicos e enfermeiros do Hospital Albert Sabin, em Fortaleza, fizeram vaquinha e compraram tablets para fazer chamadas em vídeo entre pais e crianças.

Jessica Lira diz que o momento mais desgastante é o de dar notícias sobre a gravidade dos pacientes por telefone, num contexto em que os pais não podem ver os filhos pessoalmente.


" Dói demais ver as crianças morrendo sem poder ver os pais " afirma pediatra de UTI




A BBC publicou nesta última semana uma emocionante entrevista com a pediatra intensivista Cinara Carneiro. Ela trabalha na UTI de covid-19 do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, no Ceará e contou à BBC a sua rotina e as suas dores como intensivista.

Na grande maioria dos hospitais, as visitas nas UTIs estão suspensas em virtude da covid-19. Assim, distante dos pais, cabe aos profissionais de saúde acolherem as crianças ali internadas, o que, segundo a médica, torna-se um tanto mais difícil em razão da máscara facial criar obstáculo por não possibilitar que vejam o seu sorriso. Assim, o acolhimento se dá pela fala, pelo toque e, certamente acima de tudo, pelo olhar.

Estou todo dolorido. Essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso




Diário, estou todo dolorido. Não sei se foi pesadelo, encosto ou assombração, mas essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso. Foi assim: eu estava dormindo no sofá da sala, porque fiquei jogando “Plague” até tarde (nesse jogo a gente tem que espalhar um vírus e destruir toda a humanidade). Lá pelas tantas, levo um tapão na cabeça e acordo. Pensei que era a Michelle, mas não. Era um cara com cabelo branco e bigode preto.

Não perdi tempo e já fui atirando nele.

– Não adianta disparar com o controle do videogame. Olhe bem pra mim. Não está me reconhecendo?

– Peraí… Já sei! É o cara da nota de cinquenta cruzados! Não fala, não fala, vou lembrar seu nome. É Einstein? Samaritano?

– É Cruz! Oswaldo Cruz!

– Arrá!, eu sabia que era o nome de um hospital. O que você veio fazer aqui?

– Vim tentar enfiar na sua cabeça que você precisa vacinar todo mundo.

– E vou comprar vacina onde? Só se for na casa da sua mãe!

– Mais respeito, vagabundo! – e aí ele me deu uma baita bofetada. Se eu fosse um desenho, minha cabeça tinha dado um monte de voltas. – Deixa de ser mentiroso! Você não comprou mais vacina porque não quis. A Pfizer te ofereceu 70 milhões de vacinas em agosto e você fez de conta que não escutou. Depois o consórcio da OMS ofereceu vacinas pra cobrir 50% da população. Mas você quis o mínimo: 10%.

– E daí? Mesmo assim o Brasil é o país que mais vacina, pô!

– Outra mentira! Estamos em 6º lugar. E, na média por habitante, em 47º. Mas esse número ia ser bem pior se dependesse de você, porque três em cada quatro vacinas são da Coronavac.

– Calma, pressa pra quê?

– Pra não morrer gente, seu chupador de lata de leite condensado!

– Olha, eu não matei ninguém! Numa pandemia cada um tem que cuidar de si mesmo.

– É exatamente o contrário. Numa pandemia todo mundo é responsável por todo mundo!

– Você é comunista?

– Não. Sanitarista! E em 1904 eu enfrentei um problema parecido. Boa parte do povo se revoltou contra a vacina.

– Por que o povo não quis tomar a vacina? – eu perguntei.

– Espalharam o boato de que quem fosse vacinado ficava com cara de vaca.

– Kkk! Ótima feiquenius! Mas prefiro a do jacaré.

– O quebra-quebra durou uma semana. Bondes foram queimados, mais de 700 lampiões a gás foram quebrados, barricadas foram levantadas, houve assaltos, saques e tiroteios.

– Dessa balbúrdia eu gosto!

– O senador Lauro Sodré, que era capitão do exército e antivacina, tentou até dar um golpe. Ele convenceu os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha a marcharem até o palácio do governo para depor o presidente Rodrigues Alves. Mas uma tropa legalista apareceu no meio do caminho. Os dois grupos trocaram tiros na rua da Passagem, que estava às escuras por causa dos lampiões quebrados. O Lauro Sodré fugiu e as duas turmas debandaram.

– Se os cadetes, o exército e a milícia estivessem do mesmo lado, tinha dado certo, pô!

– Se um golpe dá certo é porque o país deu errado. No final das contas, 945 pessoas foram presas, 30 morreram, houve 110 feridos e 461 deportados para o estado do Acre.

– E o Lauro?

– Foi anistiado. É sempre assim…

– Suspenderam a vacinagem?

– Sim. Mas em 1908 houve uma grande epidemia de varíola e o povo correu pra se vacinar. O pior é que já se passaram mais de cem anos e ainda tem gente contra a vacinação.

– Eu sou um desses. Não me vacinar é meu direito, talkei?

– Seu direito é levar uma surra, seu ridículo! – ele disse, jogando uma lata de leite condensado na minha cabeça.

Passei a mão na testa para limpar um pouco. Depois, enquanto chupava os dedos, falei: – Posso ser ridículo, mas não sou mariquinha. Tem que enfrentar o vírus, pô!

– Enfrentar o vírus é ficar em casa e usar máscara, mequetrefe!

– Não vou tolerar ser xingado por uma nota de cinquenta cruzados. Você não vale nada!

Aí o Oswaldo me deu um joelhaço no meio das pernas e eu caí no chão. Quase desmaiei. Mas deu pra ver ele desaparecendo e falando assim:

– Onde está, afinal, a civilização? Será que ela se restringia a uma delgada camada, revestindo precariamente a lava incandescente da barbárie?


PS: Pô, Diário, tapa na cara mesmo foi a volta do Lula. Ainda nem sei o que pensar. Será que é bom, porque aí polariza a coisa de vez? Será que é ruim, porque o Moro pode escapar de ser considerado imparcial e virar vice de alguém, tipo o Mandetta ou o Huck, e aí vai ter uma chapa antiLula e antieu? Será que é bom, porque aí o pessoal para de falar nas mortes da covid? Será que é ruim, porque segundo uma pesquisa aí, o Lula é o único cara que pode me vencer? Ah, Diário, o que será que será…?

PPS: Ilustra de Ivo Minkovicius.




Estou todo dolorido. Essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso




Diário, estou todo dolorido. Não sei se foi pesadelo, encosto ou assombração, mas essa noite eu levei uma surra de um ser misterioso. Foi assim: eu estava dormindo no sofá da sala, porque fiquei jogando “Plague” até tarde (nesse jogo a gente tem que espalhar um vírus e destruir toda a humanidade). Lá pelas tantas, levo um tapão na cabeça e acordo. Pensei que era a Michelle, mas não. Era um cara com cabelo branco e bigode preto.

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– Peraí… Já sei! É o cara da nota de cinquenta cruzados! Não fala, não fala, vou lembrar seu nome. É Einstein? Samaritano?

– É Cruz! Oswaldo Cruz!

Dia Internacional da Mulher. Em 8 de Março de 2021, dia de lutas e de quase nenhum motivo para comemoração !

 










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