Marcel Camargo
Tem dias em que a gente acorda e nem queria. Parece que tudo o que se engoliu e se acumulou de decepções e de angústias, de ofensas e frustrações, explode e nos implode por dentro. Nada nos faz sorrir e vamos arrastando as tarefas com ânimo zerado. Em dias assim, conversar com certas pessoas nos salva. Ah, como é bom contar com elas.
E nem precisa ser alguém com quem estamos sempre juntos, não. Muitas vezes, a gente tem aquela pessoa de quem se distancia por conta dos caminhos a que a vida nos leva, mas que fica para sempre conosco, seja por meio de mensagens, do telefonema no aniversário, não importa, trata-se de alguém que ficou em nós e nunca sairá. Alguém que, mesmo sem nos ver por tempos, quando nos encontra, é capaz de perceber do que precisamos, só de nos olhar.
Carinho, afeto e amor não têm muito a ver com horas e horas por perto, mas sim com a verdade, a intensidade e a disponibilidade do outro em relação a nós. Bastam alguns momentos junto com alguém para nos alegrar, assim como podemos ficar por dias ao lado de alguém, sem sentir prazer algum. As pessoas que conseguem enxergar além de si, das próprias dores, das próprias tristezas, sempre será alguém que estenderá as mãos a quem precisa.
A gente se depara com tantas pessoas ruins, maldosas, fofoqueiras. A gente sofre tanto com o descaso, com o abuso, com a agressividade de quem não enxerga um palmo à frente do próprio umbigo. A gente luta, a gente se dedica, faz planos, constrói sonhos. A gente quer dar certo, quer ser feliz, fazer o outro feliz. E, não raro, o mundo vem na contramão disso tudo, feito um trator. Como é difícil quando isso acontece e não temos alguém em quem confiamos o bastante para nos expor em toda nossa vulnerabilidade e fraqueza.
Daí a importância dos ouvidos que nos escutam, dos olhos que nos enxergam, dos abraços que nos acolhem. Pessoas que nos recarregam, que nos reiniciam são tesouros que não podemos deixar escapar, nem por um segundo. Mesmo distantes, elas sempre serão essenciais em nossas vidas, porque, com elas, teremos as conversas que salvarão os nossos dias traiçoeiros. Manter os elos de luz é o que nos resgata de nós mesmos, da dor a que ninguém foge. Nem eu, nem você.