Ainda não está claro para mim por que os seres humanos tendem a construir ideias catastróficas e negativas sobre os outros e sobre si mesmos, em vez de optar por pensamentos mais positivos. Hoje falaremos sobre como erradicar os pensamentos negativos.
É contraditório que, ao invés de apoiar o nosso lado mais valioso, aquele formado por nossas características positivas, potencialidades e atributos de valor, enfatizemos o flanco das nossas fragilidades, desvalorizações ou daquelas características que não possuímos. Momento em que somos agredidos por uma série de sensações e sentimentos autodesqualificantes.
A seguir, vou refletir sobre isso e explicar uma técnica para realizar o inverso, como uma possível estratégia para erradicar os pensamentos negativos.
Essa fauna cognitiva chamada de pensamentos
Alguns dos comportamentos que se desenvolvem em torno dessas sensações, que os psicólogos cognitivos chamam de “distorções cognitivas“, estão relacionados entre si apesar de apresentarem diferenças sutis. No entanto, o que é importante em tudo isso é o grau de negatividade e desvalorização que prevalece nas cognições, emoções e ações.
Muitas dessas ideias surpreendem e se proliferam como germes que invadem nossa mente e acabam criando dentro dela.
Por exemplo, pensamentos que nos corroem e que estão associados à impotência como “não vou conseguir”, “não sou capaz” ou “isso não é para mim, é demais”.
Crenças sobre o que os outros pensam, como se você pudesse ler a mente deles: “eles estão olhando muito para mim… tenho certeza de que estou mal vestido”, “eles estão falando de mim”.
Há também aqueles que, devido a um evento negativo mínimo, destroem tudo de positivo que foi feito.
O “eu deveria” ou “eu poderia ter feito” que sempre marcam o que deveria ter sido feito e o que não foi.
Pensamentos que predizem um futuro negativo ou catastrófico.
Em suma, são muitas as crenças que sustentam uma forte autodesvalorização e que nos levam a ver nos outros e em nós mesmos aspectos opacos e infelizes.
A questão é que essa fauna cognitiva catastrófica não permanece ancorada no pensamento, mas se move rápida e inexoravelmente para a ação, com as emoções consequentes. E a partir daí, uma bela e lamentável profecia é construída e se autorrealiza.
Mas … mas …
Esses ruminadores negativos são desconfiados e, em alguns casos, tornam-se paranoicos, pois não é possível passar a vida pensando no que os outros pensam de você ou imaginando que o mundo está contra você.
Eles são grandes aliados do “mas”, uma fórmula linguística que aplicam à maioria de suas verbalizações de várias maneiras: “mas”, “uma pena que… ” ou “apesar…”. Todos essas interjeições que cancelam as declarações que fazem. Uma verdadeira armadilha.
O “mas” é um ponto de inflexão que quebra uma frase quando ela é positiva.
Vejamos com exemplos: “ela é uma pessoa muito boa e em geral ela faz as coisas bem, mas… quando ela fica brava é terrível ”; “nos divertimos muito no fim de semana, não discutimos em nenhum momento… mas ele tem um carácter duvidoso e é um pouco mal-educado”.
O “mas” atrapalha os aspectos positivos gerados desde o início.
Em geral, as pessoas negativas e catastróficas raramente têm um discurso positivo no qual valorizam os outros ou a si mesmas; mesmo quando o fazem, elas acabam descarrilando e o invalidam com aquele “mas” que introduz uma descrição desvalorizadora, substituindo a primeira oração de valor.
É importante notar, embora já o tenhamos dito antes, que o “mas” também pode ser dirigido a si mesmo. Por exemplo: “a verdade é que foi bom fazer o dever de casa rápido, mas sempre faço no último minuto” ou “sou muito estudioso, pena que não sei falar com fluidez”.
Romper essa sistematização do uso do “mas” é bastante difícil, pois ele sempre gira a roda para o lado negativo. Trata-se de uma maquinaria inercial que faz com que tudo se repita e perpetue o ponto de vista negativo. Portanto, é difícil reduzir o mecanismo da negatividade em um giro de 180º ou passar do negativo para o positivo, mas não é impossível.
A técnica do ‘mas’ inverso para erradicar os pensamentos negativos
Um dos resultados mais eficazes é seguir passo a passo e usar a técnica do ‘mas’ inverso. Ela consiste em não evitar o fluxo de pensamentos negativos, muito pelo contrário: devemos deixá-los fluir, soltá-los e dizê-los. E, uma vez que eles forem expressos, o “mas” é usado para direcionar o discurso para o lado positivo.
Como mecanismo, esta técnica é semelhante ao que é sistematizado rotineiramente, mas transforma o negativo em positivo. Os exemplos a seguir ajudam a entender a estratégia:
“A bronquite me matou, perdi muitos dias de trabalho, MAS consegui descansar. Foram as miniférias que eu estava merecendo”.
“Eu deveria ter percebido que se tratava de uma pessoa ruim. No final, ela acabou me enganando, perdi um pouco de dinheiro, MAS ainda bem que não arrisquei mais. Isso me ensinou a ser mais cuidadoso nas minhas relações…“
“Eles estão olhando para mim porque estou com essa camisa florida, vão dizer que é ridícula, MAS como é bom poder me vestir como eu quero e ser livre. Eles estão me encarando? Eu não me importo, eu tenho que me concentrar mais em mim e me preocupar menos com os outros.”
O ‘mas’ inverso ou positivo consiste em extrair o aprendizado de uma situação. É algo parecido com perguntar a si mesmo o seguinte: “o que essa ideia me ensina?”; “que mensagem de aprendizado essa situação me transmite?”; “o que essa situação me ensina?”.
Essa técnica simples inicia uma espécie de negociação entre a desvalorização pessoal e o valor próprio. Devido à dificuldade de desativar o automatismo desqualificante de uma só vez, esta é uma etapa intermediária que nos permite perceber que nem tudo é uma catástrofe e que não existe uma situação inteiramente negativa; trata-se apenas de uma percepção pessoal desqualificadora.
Agora, leitor… termine este artigo com três “mas” positivos e comece a praticar !