Já deu, Pandemia ! Traz minha a vida de volta ? !
Simone Guerra
Entrando na quarta semana da quarentena e com um ranço de ficar em casa. Uma tristeza me abraçou, me senti triste por estar tão longe da minha família e do meu filho. Tento driblar os dias com o computador conectado na empresa e uma xícara de chá quente a cada meia hora. A tv fica ligada ao acaso juntamente com o rádio. Tudo para me dar aquela sensação de que há vida no mundo.
O pior dessa quarentena não é ficar em casa, mas sim nos isolarmos de tudo que gostamos. Estou cansada de tantas notícias ruins, de tantas realidades assombradas e de tantos desesperos. Eu sei que existe uma luz no fim do túnel, mas quando conseguirei avistá-la? Também estou consciente que não estou nesse barco sozinha, e que tem pessoas sofrendo com as mesmas ansiedades que eu.
Já fiz de tudo: faxinei a casa várias vezes, arrumei as gavetas, tirei o lodo que estava no chão da varanda, separei algumas roupas que não uso para doação, verifiquei todas as datas dos remédios e dos alimentos, minhas panelas estão impecáveis e mesmo assim parece que tudo isso é uma eternidade.
TUDO PARECE UM PESADELO.
Há males que vem para o bem. O Covid-19 veio para nos aproximarmos mais das pessoas, para deixar claro que sem união não existe nação e que sem estender as mãos não existe sentido nenhum nessa vida.
De uma hora para outra as pessoas começaram a se colocarem prontas para comprarem alimentos e remédios para pessoas idosas ou do grupo de risco. Profissionais deixaram suas clínicas e consultórios para darem assistência online gratuita com a intenção de ajudar pessoas ansiosas como eu, com problemas de depressão, síndrome do pânico e outros. Apareceram vários vídeos maravilhosos falando de esperança, amor e paz. Artistas famosos começaram a fazer lives para distrair os outros. O mundo começou a entender o sentido das palavras doação e gratidão.
De uma hora para outra começamos a entender a importância da educação primária e passamos a valorizar os professores. Vimos com exatidão que o trabalho em sala de aula não é tão fácil assim e, que os educadores, deveriam ter um salário mais digno por conseguirem ensinar crianças que não sabem o que é ter limite e disciplina.
De uma hora para a outra começamos a apreciar mais as mensagens recebidas pelo Whatsapp e também passamos a gostar de conversar sem pressa alguma com familiares e amigos pelo telefone ou pela câmera. De uma hora para outra a vida começou a desacelerar e o confinamento trouxe para nós medo, insegurança e desequilíbrio emocional, mas ao mesmo tempo começamos a orar mais e conversar com Deus se tornou rotina.
De uma hora para outra percebemos que é difícil se trancar diante da beleza que é a vida, que precisamos uns dos outros, que não nascemos para sermos suficientemente sozinhos, que nada acontece ou tem graça se não há liberdade, que fingir que tudo está tranquilo só serve para nos deixarmos mais doentes ainda. De uma hora para outra paramos para aplaudir os profissionais da saúde que muitas vezes passam despercebidos no nosso dia a dia. Apareceram cientistas e médicos no mundo todo em prol de encontrar uma cura para a humanidade que nunca ouvimos falar antes.
De uma hora para outra a igreja veio através da internet para encher nossas casas de benção e paz. Os padres saíram do aconchego das comunidades para trazerem para nós o sacramento da eucaristia através dos nossos celulares ou computadores. De uma hora para outra começamos a trocar nossas vaidades por roupas confortáveis. Deixamos a maquiagem para ficarmos de cara lavada em casa. Percebemos que podemos sobreviver com muito pouco, e não precisamos de tantos eventos para encher a vida.
De uma hora para outra paramos para pensar na vida. E temos tanto tempo para pensarmos que nos perdemos. Ficou claro que não sabemos lidar com nossos vazios e o barulho incessante dos nossos pensamentos.
Estou com tantas saudades de ir até ali, na padaria, e sentar para tomar um cafezinho fresco com uma fatia de bolo. Que saudades do cinema (já cansei de Netflix no sofá). Sinto falta de pegar o trem para ir trabalhar. Quero encontrar meus colegas de trabalho para conversarmos sobre família e filhos. Não vejo a hora de comer pizza quentinha ao lado da estação do trem. Estou com fome da minha rotina e de me bater perna por aí nos fins de semanas. Já deu, Pandemia! Traz a minha vida de volta?
DE UMA HORA PARA A OUTRA IREMOS VOLTAR PARA AS NOSSAS VIDAS DE ANTES, MAS TUDO SERÁ DIFERENTE PORQUE MUDAMOS DURANTE ESSE PERÍODO DE CLAUSURA IMPOSTA.
Seremos melhores, certamente. Fique em casa! Fique em casa para se proteger e proteger os outros.
20 horas de silêncio por dia
Fabrício Carpinejar
Não é hora de brincar. Não é hora de ser irônico. Não é hora de fazer piada. Não é hora de ostentar. Não é hora de fingir normalidade. Não é hora de ser egoísta. Não é hora de chamar atenção. Não é hora de querer destaque. Não é hora de festa. Não é hora de receber visitas. Não é hora de comícios e passeatas. Não é hora de praças lotadas. Não é hora de preparar churrasco para os amigos. Não é hora de beber e abraçar, de gritar “foda-se” pela janelas físicas e digitais, de soltar fogos de artifício, de não deixar os vizinhos dormirem pelo barulho. Não é hora de balada. Não é hora de virar as costas. Não é hora para perder a seriedade fúnebre. Não é hora de vídeos engraçadinhos sobre a pandemia no WhatsApp.
É grave debochar dos falecidos no epicentro da crise da saúde, é grave dançar com caixões, é grave rir de velórios e covas, é grave transferir o contexto de uma cultura africana de homenagem à memória do ente querido para escarnecer a esperança, é grave colocar coroas de flores sobre a cabeça como recepção de Honolulu.
Se cada morto diário no país pelo coronavírus merecesse um minuto de silêncio, passaríamos o dia inteiro calados. Estamos próximos de preencher os 1 440 minutos de um dia – já são 1179 vítimas. Sobra para dizer alguma coisa apenas quatro das nossas 24 horas.
A morte é um lugar sagrado dentro da educação e da decência.
Nem é por temer o que os familiares enlutados possam sentir. Devemos lembrar que os mortos ainda escutam. Tudo o que vai volta. E eles não perdoarão a sua omissão.
Clique abaixo :
20 horas de silêncio por dia
Fabrício Carpinejar
Não é hora de brincar. Não é hora de ser irônico. Não é hora de fazer piada. Não é hora de ostentar. Não é hora de fingir normalidade. Não é hora de ser egoísta. Não é hora de chamar atenção. Não é hora de querer destaque. Não é hora de festa. Não é hora de receber visitas. Não é hora de comícios e passeatas. Não é hora de praças lotadas. Não é hora de preparar churrasco para os amigos. Não é hora de beber e abraçar, de gritar “foda-se” pela janelas físicas e digitais, de soltar fogos de artifício, de não deixar os vizinhos dormirem pelo barulho. Não é hora de balada. Não é hora de virar as costas. Não é hora para perder a seriedade fúnebre. Não é hora de vídeos engraçadinhos sobre a pandemia no WhatsApp.
É grave debochar dos falecidos no epicentro da crise da saúde, é grave dançar com caixões, é grave rir de velórios e covas, é grave transferir o contexto de uma cultura africana de homenagem à memória do ente querido para escarnecer a esperança, é grave colocar coroas de flores sobre a cabeça como recepção de Honolulu.
Se cada morto diário no país pelo coronavírus merecesse um minuto de silêncio, passaríamos o dia inteiro calados. Estamos próximos de preencher os 1 440 minutos de um dia – já são 1179 vítimas. Sobra para dizer alguma coisa apenas quatro das nossas 24 horas.
A morte é um lugar sagrado dentro da educação e da decência.
Nem é por temer o que os familiares enlutados possam sentir. Devemos lembrar que os mortos ainda escutam. Tudo o que vai volta. E eles não perdoarão a sua omissão.
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