Dia da Mulher não é dia de flores e bombons. Não é dia de parabéns.
Porque o Dia da Mulher é dia de luta até no nome: Dia Internacional de Luta das Mulheres, principal data da agenda feminista mundial.
Com mulheres no plural, porque o feminismo não se realiza se não for para todas as mulheres, médica, juíza, empresária, faxineira, balconista. E o feminismo tem que dar as mãos principalmente para as mulheres que estão na base da sociedade, pretas e periféricas.
Não queremos bombom. Queremos o fim da divisão sexual do trabalho, a exploração não remunerada do nosso tempo de trabalho dedicado aos serviços domésticos, administração da casa, organização do lar.
Queremos o fim da exploração do nosso tempo de trabalho para criação e educação dos filhos e filhas.
Educar exige tempo, além de amor e dedicação. E esse tempo precisa ser dividido de modo justo e equânime entre mães e pais.
Não é natural que homens cumpram menos atividades relativas aos filhos e filhas porque estão fazendo inglês, ou pós-graduação, ou viajando a trabalho, ou trabalhando para concluir um relatório, enquanto a mulher não pode fazer uma pós-graduação, aprender outra língua, viajar a trabalho e receber uma promoção porque tem boa parte do seu tempo dedicado a cumprir, sozinha, as tarefas que deveriam ser divididas equanimemente entre os dois.
Não é natural.
Então não nos mande flores.
Porque as flores nós temos usado para velar as mulheres que foram assassinadas pelos companheiros ou ex-companheiros, cujos corpos servem de estatística para o Brasil ser o quinto país no ranking mundial do feminicídio.
A cada uma hora e meia uma mulher é vítima de violência doméstica. E não temos estatísticas sobre a violência moral.
O homem que dá o bombom é o mesmo que diz que a mulher está gorda, feia, velha, que olha para outras mulheres como forma de acinte, para que sua companheira se sinta diminuída e tenho seu ego destruído a cada golpe de palavra.
E enquanto você está lendo esse texto, mais uma mulher foi estuprada, nesse relógio doentio que registra um estupro a cada onze minutos.
Não nos mande flores.
Se você acha que a esquerda tem que se unir em torno de figuras machistas e racistas, insensíveis ao feminismo antirracista, e que a "esquerda identitária" (sic) é o novo fascismo (sic). Se você não entende que nada une mais a direita e a esquerda do que o racismo e o machismo, não nos mande flores.
A gente não quer essas flores, nem estar nesse tipo de ex-querda que aceita nos ver mortas, estupradas, exploradas e submissas.
Não nos mande flores.
Nos ouça mais, não nos interrompa, não se aproprie de nossas ideias, respeite que não é não, entenda que não ser desejado por uma mulher faz parte da vida, divida com justiça o tempo de educação dos filhos e da casa, não minimize a importância da nossa luta política e venha fazer parte desta luta, respeitando nosso protagonismo.
Estamos nas ruas, marchando por transformação. E as flores que cabem nessa marcha somos nós, que somos a própria primavera feminista.
Liana Cirne Lins Professora da Faculdade de Direito da UFPE
Elas nunca fraquejaram
Fernando Brito
Um sujeito que se refere à filha mais nova como resultado de “uma fraquejada” não precisa e mais nada para sublinhar sua misoginia.
Mais que ninguém, porém, as mulheres provaram o quanto são fortes, sendo sempre a maior resistência àquele que pregava o ódio e a intolerância.
É bom lembrar que as últimas pesquisas de 2018, mesmo com toda a “onda” bolsonarista, indicavam que as mulheres rejeitavam mais que aprovavam o candidato.
Portanto, se ele está lá, a culpa é nossa, os homens, entre os quais a maioria tolerou – quando não apoiou – um homem que odeia as mulheres.
A luta feminina pela igualdade de direitos – na educação, no trabalho, na vida social, na liberdade, na escolha política (o voto feminino nem 100 anos tem aqui) – e por ser soberana sobre seu próprio corpo vem de longe e não terminará tão cedo.
Até mesmo no direito à vida, porque há dois anos tergiversam sobre quem matou e manou matar uma delas, Marielle Franco.
Mas hoje são as mulheres que precisam que os homens que de uma delas vieram não deem nenhuma fraquejada – sem aspas – e se somem à resistência contra o assédio indevido, a opressão e a agressão às mulheres, patrocinadas por esta gente que assaltou o poder em nosso país.