Luciano Cazz
Não importa onde você está nem com quem. O que torna um momento agradável é a energia que nos cerca e principalmente aquela que carregamos dentro da gente. Por isso, jantar em um restaurante caro e chique pode ser desgastante se for com pessoas que vivem de aparência, que competem o tempo todo para ver qual é a mais poderosa, a mais rica, a mais jovem. Pessoas amargas que contam vantagens, enquanto falam mal dos outros com desprezo e preconceito quase sem expressão por tanto botox. Você olha e se sente mal por estar ali em meio a tantas perfeições forjadas, tantos sorrisos falsos, egos ansiosos por reconhecimento, com a certeza de que quando você sair – que seja o quanto antes – também falarão mal de você mesmo que tenha sufocado aquele arroto por educação.
ENTÃO, VOCÊ ESTÁ E NÃO ESTÁ, A COMIDA NEM DESCE BEM, E O MOMENTO É ARRUINADO PELA FALTA DE AMOR DE QUEM LHE CERCA, UM VERDADEIRO DESPERDÍCIO DE VIDA.
Por outro lado, um macarrão instantâneo e um vinho barato com seus verdadeiros melhores amigos, sentado no chão da sala pode ser maravilhoso. Aqueles amigos que assumem suas falhas e ainda riem dos próprios erros, para depois fazerem você rir com suas piadas infames. Então, você responde com mais uma bobagem e, entre risos e confissões, alguém arrota alto e todos gritam: “Eiiaaaa!!!” “Agora imita o coelhinho porque o porquinho ficou sensacional.” Todos caem na gargalhada e a conversa segue sem medo de ser mal falado. Vocês relembram as melhores coisas que já viveram juntos. Os galhos quebrados. Às vezes, o assunto pesa com a dor de alguém. Também tem o momento papo cabeça onde a gente se acha um Platão e até Freud baixa quando analisamos nossos amigos com a precisão genuína de quem os conhece há muitos anos.
E vocês se aconselham, xingam-se e segue o baile, ou melhor, a sobremesa que alguém está preparando na cozinha e, por isso, responde aos gritos para não parar de mexer o brigadeiro. Falam das melhores aventuras com os exs. Das experiências no trabalho. Do chefe. Comem o brigadeiro de colher. E de repente alguém olha no relógio e diz: “Nossa, já são 5 da manhã”. E todos se espantam porque o tempo passou e ninguém notou, porque a energia daquele macarrão instantâneo com sardinha no chão daquela sala é a melhor do mundo e poderia ser eterna.
E não importa onde. Se em um rodízio de pizza ou em um palacete. Não importa se eles são médicos, empresários renomados ou anônimos batalhadores, garçons de fim de semana ou vendedores de loja de dezembro. Não importa se depois você vai pegar carona em um carro importado, em um fusquinha 77 ou até de bicicleta. O que importa é a AMOR DO MOMENTO. Simplesmente porque a paz de estar em meio a pessoas que lhe querem bem de verdade torna todo o resto supérfluo, a VIBRAÇÃO DO AMOR vale mais do que qualquer preço. Em qualquer lugar, em qualquer momento, em qualquer idade.
COM A BOCHECHA DOENDO DE TANTO DAR RISADA, VOCÊS SE OLHAM TENTANDO ESCONDER A DECEPÇÃO PORQUE ENTENDEM QUE JÁ É HORA DE PARTIR.
Passadas as revelações inesperadas e os planos do futuro, fica a certeza do desejo de que aquele não seja o último encontro. Então, a gente se despede, com o bafo de sardinha, chateado porque queria congelar aquele momento para sempre. Faz promessas de repetir, as quais você sabe que serão cumpridas, de alguma forma, talvez em outro lugar, com outras pessoas. Porque energia boa é assim, enche nossos corações de alegria, e a gente vicia.
E, então, você chega em casa com o sol nascendo deita na cama exausto, mas sorri porque, finalmente, é capaz de entender o que realmente vale a pena nessa vida.