A supergenitalização das relações sexuais
Devido a muitas influências sociais e religiosas, há uma valorização da genitalização das relações sexuais. Isso significa que a penetração é mais importante, e muitos outros comportamentos igualmente prazerosos são evitados.
Se perguntássemos a muitas pessoas o que o sexo significa para elas, a maioria responderia da mesma forma. Atualmente há uma supergenitalização das relações sexuais, que consistem basicamente em penetração. Mais especificamente, implicitamente, na penetração vaginal.
Se fizéssemos esta pergunta em praticamente qualquer país do mundo, certamente a resposta seria a mesma. Por quê? O que faz a maioria das pessoas associar as palavras “relação sexual” a uma prática tão específica quanto a penetração vaginal?
Relações sexuais, relações eróticas ou relações genitais?
Recordando a origem da palavra sexo, ela se refere à nossa condição de seres sexuados. Ou seja, o sexo tem mais a ver com a nossa identidade sexual do que com qualquer outro significado.
Partindo desse ponto de vista, falar sobre relações sexuais abrangeria uma série de comportamentos muito ampla. Tanto que, se nos prendermos ao sentido literal de “relações sexuais”, estaríamos falando de todos os tipos de relacionamentos que consistem em duas pessoas interagindo, pois são seres sexuados (apertando as mãos, tendo uma conversa, um abraço, um beijo…).
No entanto, se repensarmos esse termo e o transformarmos em “relações eróticas”, tudo se tornará muito mais significativo. Etimologicamente, o “sexual” não se refere (apenas) ao que é feito em privacidade, mas como já dissemos, se refere à noção de identidade sexual.
Aquele “Eros” presente como um prefixo em “erótico” traz um componente de intimidade, vontade e desejo nas relações. Não se esqueça de que Eros, aquele deus da mitologia grega, era responsável pela atração sexual, e o seu equivalente romano é Cupido.
Agora, mesmo reformulando o conceito, continuamos a associá-lo a um tipo de interação íntima: a penetração. As relações baseadas na penetração não são o ápice ou objetivo de qualquer interação íntima.
Se fossem, talvez fosse mais lógico chamá-las de relações genitais e não relações sexuais ou relações eróticas. Mas a verdade é que, se não as chamamos assim, é porque não procede, obviamente.
Os relacionamentos eróticos têm tantas possibilidades que parece quase ridículo que apenas uma delas seja levado em conta.
A supergenitalização das relações sexuais e as expectativas pouco realistas
As ideias sobre relacionamentos íntimos podem estar contaminadas por muitas influências sociais. O cinema e a TV nos ensinaram que os órgãos genitais são a única maneira de se relacionar para obter prazer real.
A pornografia também acentuou essa supergenitalização dos relacionamentos eróticos. Ela mostra determinadas dinâmicas, tempos, formas, tamanhos e atitudes que não são, de forma alguma, representativas do que acontece na realidade.
Se nos deixarmos levar por essas influências e não as questionarmos, provavelmente viveremos os nossos relacionamentos íntimos com frustração.
Quando os genitais “falham”, tudo falha
É isso mesmo, os genitais masculinos e femininos podem falhar. Isso acontece de muitas maneiras, devido a muitas causas, mas eles podem falhar.
O que acontece se eles falharem? O relacionamento erótico acabou? As nossas relações eróticas são tão frágeis que dependem exclusivamente dos nossos genitais?
Não, claro que não, mas a supergenitalização das relações sexuais, juntamente com a crença popular, indicam que sim e isso produz vários tipos de mal-entendidos e dificuldades.
Infelizmente, a situação do homem que perde totalmente ou parcialmente a ereção antes ou durante uma relação erótica é comum. O problema é que o seu parceiro atribui essa perda de ereção à falta de desejo erótico em relação a ele ou ela.
Isso nos diz muito sobre a supervalorização da resposta genital; atribuímos mais validade ao comportamento genital do que ao próprio testemunho da pessoa sobre o desejo ou a excitação que está sentindo.
Estamos perdendo inúmeras experiências prazerosas
O preço que pagamos por essa superestimação das relações sexuais é muito caro. Quando nos concentramos em uma única prática erótica, desprezamos o restante.
Ao fazê-lo, estamos nos fechando a experimentar sensações desconhecidas que podem nos proporcionar prazeres iguais ou mais intensos do que a penetração.
O fato de nos abrirmos para a diversidade de comportamentos eróticos contribui para melhorar o nosso autoconhecimento e nos empoderar eroticamente.
Além disso, não é verdade que homens e mulheres sempre querem ter esse tipo de relacionamento. De fato, não é verdade que sempre desejemos ou tenhamos a necessidade de atingir o orgasmo.
Às vezes, podemos ter a necessidade de obter prazer em diferentes contextos através de diferentes interações. O ideal seria que obtivéssemos o nível de autoconhecimento adequado para desfrutarmos de todos os prazeres nos relacionamentos eróticos.
Não importa quão intensos eles sejam, se duram muito tempo, ou o que quer que sejam. Uma educação sexual adequada deve promover esse autoconhecimento, para que as pessoas sejam mais independentes e livres.
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