WUTHERING HEIGHTS ( O MORRO DOS VENTOS UIVANTES )





" Se ele te amasse com todas as forças de sua alma por uma vida inteira, ainda assim ele não te amaria tanto quanto eu te amo num único dia." 
 - O Morro dos Ventos Uivantes -




Adriana Helena


Algumas pessoas precisam apenas de uma única inspiração na vida para se tornarem eternas. Um único clarão, um único momento de conflito esclarecedor, um único dia de amor, ou de ódio... Assim foi com Emily Brontë e a sua inspiração máxima: “O Morro dos Ventos Uivantes”. O clássico da literatura britânica, e porque não dizer universal, brindou o mundo com uma história de amor tão complexa e intrigante que até para um leitor experiente tentar defini-lo seria como caminhar na corda bamba a uma altura acima das nuvens: perigoso demais. Venha comigo conhecer essa história tão forte que arrebata leitores e os deixa tão apaixonados quanto eu. 

Sobre a Autora e a Obra

A maioria de vocês, amantes das letras, pode nunca ter tido um contato mais íntimo com a obra prima de uma das irmãs Brontë; a Emily Brontë – que por medo de não ser aceita entre os escritores britânicos do século XIX, na esmagadora maioria, homens numa sociedade machista, se escondia por detrás do pseudônimo masculino de Ellis Bell –, mas com certeza, se realmente gostam e praticam a arte da leitura, no mínimo já ouviram falar em “O Morro dos Ventos Uivantes”. Nascida em Howarth, lugarejo isolado de Yorkshire, Inglaterra, escreveu um magnífico romance, demonstrando maturidade intelectual impressionante para pessoa de menos de trinta anos de idade. 


Emily Brontë 


A obra foi lançada em 1847, em pleno século XIX, recebendo, logo de seu lançamento, incisivas críticas pelo teor “nebuloso” e “pesado” demais para ser um enredo de amor. Ora, mas é claro que só poderia sair uma obra densa e pesada, pois a escritora viveu momentos tenebrosos em sua vida real. Acompanhe-me abaixo: 

A vida real e sofrida da autora, foi a grande inspiração para a sua obra-prima 

A família Brontë mudou-se para Haworth, no condado de Yorkshire, onde o pai assumiu como pároco a igreja local. Emily e suas irmãs Anne e Charlote tornaram-se escritoras, sendo Charlotte a mais famosa delas, autora de “Jane Eyre” e “O Professor”. A região era um tanto isolada na época e a família tinha sérios problemas com Patrick, o irmão alcoólatra, que morreu precocemente vítima de uma vida de excessos e de tuberculose. Muito do ambiente sombrio e tenso retratado em “O Morro dos Ventos Uivantes” é fruto das constantes discussões de Patrick com seu pai. 

De personalidade reclusa e muito tímida, Emily seguiu a irmã até a Bélgica, voltando em seguida para Haworth, onde gostava de caminhar e ler. Morreu de tuberculose aos 30 anos, sem conhecer o sucesso de seu livro. Anne morreu também vítima de tuberculose em 1849 e Charlotte, vítima da mesma doença faleceu em 1855. Especula-se que a água consumida na residência estivesse contaminada pela proximidade com o cemitério, já que os irmãos morreram da mesma doença. Denota-se que a vida real da autora desta obra grandiosa foi a maior inspiração dela. Abaixo as ruínas da casa que inspiraram Emily, local isolado localizado em Haworth, West Yorkshire, na Inglaterra. Bastante sombrio, por sinal, não acham?



Haworth, West Yorkshire, Inglaterra (Ruínas da casa que inspirou o Morro dos Ventos Uivantes)


A concepção do amor de Heathcliff & Catherine (Os Protagonistas)


No século XIX, em especial no Reino Unido, a concepção de “amor” destoava quase que completamente daquilo que estava sendo retratado entre o misterioso Heathcliff (emissor do sentimento) e a mimada e insegura Catherine (receptora do sentimento). Talvez aquilo não fosse amor, talvez fosse, na verdade, algo completamente distinto do amor, mas que ainda não tivesse sido definido de maneira a povoar a mente das pessoas. Pode o amor superar todos os obstáculos, inclusive a morte? Duas pessoas podem dividir a mesma alma? Perguntas intrigantes que fazem de “O Morro dos Ventos Uivantes”, único romance de sua escritora Emily Brontë, um dos livros mais populares do mundo. 

Análise e Resenha da Obra

Essa é a minha ideia da Casa do Morro dos Ventos Uivantes (Sinistro) 


O personagem Sr. Earnshaw precisou deixar por uns dias sua propriedade em Wuthering Heights (“morros uivantes”) para fazer uma pequena viagem à cidade de Liverpool. Voltou de lá três dias depois trazendo consigo “um menino sujo, roto, de cabelos pretos” que, ao ser posto de pé, “limitou-se a olhar em torno, engrolando palavras de uma algaravia que ninguém conseguia entender”.


Os filhos do Sr. Earnshaw – Hindley e Catherine – receberam mal o menino, tão física e socialmente diferente deles. A mesma antipatia foi demonstrada pela Srª. Earnshaw e até pela criada Ellen (ou Nelly) Dean. 


O rapaz foi defendido pelo Sr. Earnshaw, cujo desejo de amparar o pequeno “cigano” acabou não conseguindo se sobrepor às convenções sociais britânicas, entranhadas também em Wuthering Heights. Isso apesar de a sociedade hierárquica conceber o patriarca Earnshaw como líder no universo privado da propriedade dos morros uivantes. 

Pois ocorre que o poder do chefe de família não era absoluto: estava submetido a fatos sociais – a regras explícitas ou implicitamente estabelecidas, oriundas de estratificações econômicas, étnicas e culturais vigentes. O rapaz que ele trouxera das ruas de Liverpool seria sempre um estranho naquele meio burguês, como se evidencia no fato de que recebera novo nome (desprezando a validade da sua história pregressa), mas permanecendo sem sobrenome, como um ser sem família na verdade, apesar de aparentemente “adotado” pelos Earnshaw. Diferente de todas as pessoas com quem viria a conviver, seu nome completo seria apenas: Heathcliff. 


Heathcliff


Aos poucos a pequena Srtª. Earnshaw foi se afeiçoando ao garoto agregado à família. E ele, também, começou a se alegrar com a companhia dessa menina a quem chamava pelo primeiro nome, Catherine, ou mesmo pelo apelido de Cathy, sem a menor cerimônia. Em suas brincadeiras, correndo pelo campo, sujos e arranhados, era como se tivessem criado um mundo só para si. Era um universo sem preconceitos étnicos, classes sociais, hierarquias ou conveniências de salão – um mundo de sonho, liberto das amarras da economia, da política ou de convenções familiares e comportamentais.

Catherine


Mas o monstro da realidade começou cedo a se esgueirar pelos caminhos ingenuamente trilhados pelas duas crianças. Hindley, irmão de Cathy, maltrata Heathcliff. A governanta Neally Dean, apesar de se contrapor aos maus tratos, também reclama da “vida selvagem” que Catherine vinha levando junto ao irmão adotivo. Com a morte do Sr. Earnshaw, Heathcliff é rebaixado, por Hindley, a simples empregado de estábulo. As barreiras de classe vão se tornando cada vez mais sólidas: de um lado, o universo rústico, iletrado, selvagem, pobre; de outro, o meio chique, bem comportado, aristocrático, elitista. A alternativa que se apresenta para Catherine é a escolha entre: o óbvio, já socialmente esperado, casamento dentro de sua classe; ou uma fantástica, talvez impossível, união a Heathcliff.

Esse dilema da diferença econômica entre apaixonados é usual dentro das tramas do Romantismo, escola literária a que o romance de Emily Brontë se filia. 


O romance O Morro dos Ventos Uivantes escapa dos cacoetes comuns do Romantismo. Pois nesse livro magnífico não se personifica o adversário do casal apaixonado: não há, por exemplo, um pai malvado a proibir a união de Catherine e Heathcliff. O adversário está dissolvido no ar como um fantasma: são convenções sociais difusas, dificuldades econômicas, preconceitos e segregações mal confessadas. Vê-se que não há proibição explícita ao casamento dos dois enamorados: é o mundo prático que se coloca como barreira entre eles. De que viveriam? Onde arranjariam trabalho? Como e em que meio criariam seus filhos, sem dispor de empregados ou de todo o aparato doméstico a que Cathy se acostumara desde a primeira infância? Como suportar os preconceitos de que seriam vítimas no dia a dia? O olhar pela janela tornava-se cada vez mais esmaecido e nebuloso ao casal apaixonado... 


A janela em o fantasma de Cathy implorava seu ingresso à Heathcliff, na casa do Morro dos Ventos Uivantes 


Catherine acaba se casando com Edgar Linton, um homem convencional, bem educado e rico. Mas não se pense que ela seja mostrada de maneira simplória como uma interesseira. Cathy sofreu muito, dilacerada entre o amor selvagem e sem futuro pelo antigo amigo Heathcliff e a afeição que sentia por seu promissor pretendente Edgar. Este, por sua vez, não é o vilão que costuma aparecer em romances românticos usuais colocando-se entre o casal protagonista.





Após longa ausência ruminando seus ressentimentos, o ultrarromântico Heathcliff retorna para se vingar. Os alvos são: Hindley Earnshaw (o “irmão de criação” que o espezinhou na infância e o humilhou na idade adulta) e Edgar Linton, que conquistara o amor de Catherine. Esta, no entanto, também não deixa de se tornar odiosa aos olhos do contraditório Heathcliff, que – ao mesmo tempo – a ama com loucura, a ponto de profanar o seu túmulo e com ela lá se aninhar após a morte de Caty...

Eterno rancoroso, Heathcliff põe em curso uma revanche sem fim. Casa-se sem amor com Isabela (irmã de Hindley) apenas para infligir sofrimento à família Linton, na qual sua amada Cathy ingressara pelo casamento. A mesma tortura se estende depois a Hareton (filho de Hindley), de quem se torna um tutor perverso e embrutecedor após diversos estratagemas. Maltrata também o próprio filho, por seu parentesco com os Linton. Pela mesma razão, hostiliza a pequena Cathy, filha de sua adorada Catherine Earnshaw.


Heathcliff é, então, o vilão da trama? Em determinados momentos ele se parece mais com um herói romântico, noutros é quase um demônio. Os personagens são multifacetados, tal qual na vida real, apesar do exagero na dramaticidade dos conflitos que se dão entre eles.

Emily Brontë nos guia pelos mais profundos vales da psicologia humana, levando em conta com mestria os aspectos sociais que nos conduzem a eles. E no final, o casal descansa em seus túmulos, unidos na vida e na morte... 




Conclusão

O livro é muito denso, com passagens tocantes e diálogos profundos, tendo causado certo escândalo na época de sua publicação. Mas certamente narra uma história tão forte, com personagens tão complexos e apaixonantes que muitas pessoas o tem como livro preferido e o guardam pela vida como eu. Ao terminar a leitura, tem-se a impressão que você estava naquele lugar e foi testemunha de todas as histórias contadas por Elen "Nelly"Dean, ao pé da lareira. Claro que o drama é geral, a dor é intensa e parece que tudo é só sofrimento, mas só posso dizer que vale a pena no final. Recomendo a todos um passeio à cavalo pelas charnecas e uma visitinha ao sítio do Morro dos Ventos Uivantes. Tenho certeza que vai gostar! 




O vídeo com a canção de Kate Bush que editei, narrando essa história magnífica


Kate Bush 


♪♫ Wuthering Heights é uma canção escrita por Kate Bush e lançada em 1978. Ela é considerada a 32ª melhor canção de todos os tempos por sua beleza lírica. Kate Bush escreveu a letra da música quando tinha apenas 18 anos, baseando-se no icônico livro de Emily Brontë. 

Bush leu o livro Ö Morro dos Ventos Uivantes" e descobriu que havia nascido no mesmo dia que Brontë, a escritora. A música, a última escrita e última a ser gravada para seu álbum de estreia, foi criada no piano em algumas horas numa madrugada. Um verdadeiro clássico!! 


♪♫A letra é feita do ponto de vista de Catherine, que implora na janela de Heathcliff que ele a deixe entrar. Esta cena romântica tem um lado sinistro considerando-se os eventos do livro, já que Catherine pode ser um fantasma chamando o amado para juntar-se a ela na morte.


Amigos, para editar o vídeo, em razão da força da história, usei de quatro particularidades nas imagens. Iniciei com as paisagens da casa do Morro e depois intercalei com cenas dos filmes do Morro dos Ventos Uivantes de 1992, com os atores Ralph Fiennes & Juliette Binoche, tendo um estilo mais gótico, inserindo também trechos de cenas da série -O Morro dos Ventos Uivantes de 2009 - este com Tom Hardy (Heathcliff) e Charlotte Riley (Catherine), cujo trabalho foi dividido em dois capítulos e que traz o Heathcliff mais atraente e perigoso de todos. Termino o vídeo com imagens reais do local da casa do Morro em West Yorkshire, Inglaterra, que inspiraram Emily a criar uma dos maiores obras de todos os tempos. Tomara que aprecie! Recomendo imensamente!!







Biografia inspiradora:


https://homoliteratus.com/fantasma-o-morro-dos-ventos-uivantes/
https://cinemaclassico.com/listas/o-morro-dos-ventos-uivantes-telas/
Imagens do Google imagens e Tumblr, Gif criado por Adriana Helena
Vídeo do Canal de Adriana Helena no YouTube




Postado em Vivendo Bem Feliz









O litoral do Brasil é lindo ! Que tal uma praia ?


Fernando de Noronha

Fernando de Noronha

Fernando de Noronha

Praia do Calhau (Maranhão)

Praia de São Marco (Maranhão)

Barra de Punaú. Foto por:lucianafujii
Praia de Punaú (Rio Grande do Norte)

foto: Pousada Peixe Galo/Divulgação
Galinhos (Rio Grande do Norte)

Porto de Galinhas (em Ipojuca, Pernambuco)

Canoa Quebrada (em Aracati, Ceará)

Jericoacoara (Ceará)

Praia do Gunga (em Barra de São Miguel, Alagoas)

Praia do Francês (em Marechal Deodoro, Alagoas)

Carneiros (em Tamandaré, Pernambuco)

Trancoso (Bahia)

Espelho (em Curuípe, Bahia)

Praia do Forte (em Mata de São João, Bahia)

Taipus de Fora (em Barra Grande, Bahia)

Itacaré (Bahia)

Porto Seguro (Bahia)

Praia do Saco (Sergipe)

Resultado de imagem para Guarapari (Espírito Santo)
Guarapari (Espírito Santo)

Imagem relacionada
Copacabana (em Rio de Janeiro, Rio de Janeiro)






Búzios (Rio de Janeiro)

Praia do Farol (Arraial do Cabo - Rio de Janeiro)

Angra dos Reis (Rio de Janeiro)

Maresias (São Paulo)

Ilha do Mel (Paraná)

Garopaba (Santa Catarina)

Joaquina (Santa Catarina)

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Bombinhas (Santa Catarina)

Torres (Rio Grande do Sul)

Torres (Rio Grande do Sul)



11 perguntas comuns após a morte de uma pessoa querida








A morte de uma pessoa querida nos provoca grande pesar e nos faz entrar em um estado de letargia do qual parece que nunca mais vamos sair. Esse é um estado natural após uma perda, é o luto que aparece de maneira única em cada pessoa.

Porque quando alguém se vai, alguma coisa se quebra dentro de nós. É um sentimento difícil de explicar que envolve milhares de pensamentos e perguntas para as quais às vezes não temos resposta.

Para cuidar desses sentimentos e nos ajudar, devemos nos permitir explorar e trazer à luz aquelas perguntas que nos atormentam e que conduzem nossa mente. Falar e não calar é essencial. As repostas para isso são bastante variadas, podendo ir desde o choro e a ansiedade até a tristeza e o medo.

É fundamental darmos tempo a nós mesmos para reagir e nos preparar, assim como permitir que as pessoas que quiserem nos acompanhar nos acompanhem. O silêncio, o olhar, o tato e a presença sem demonstrações de pressa ou desconforto têm mais valor que as palavras nesses momentos.

" Olho para o céu e tento ver você entre tantas estrelas, busco entre as sombras a sua imagem perdida.
Eu desenho seu rosto nas nuvens que vejo passar, viajando sem rumo fixo e me guiando pela Lua, pergunto:
Onde está você?
E, em seguida, meu peito se agita me dando a resposta com uma lágrima derramada que me faz compreender de novo: Você não está aqui, mas continua no meu coração."    - Autor desconhecido -



11 perguntas e 11 respostas após a morte de uma pessoa querida

Embora cada pessoa sinta a morte de uma pessoa querida de maneira diferente, há algumas perguntas que são comuns durante o luto. Não podemos ignorar essa realidade, pois acrescenta muitas preocupações e incertezas ao nosso estado emocional. Vamos analisar as mais frequentes (Martínez González, 2010):

1. Eu vou me esquecer da sua voz, da sua risada, do seu rosto?

Quando uma pessoa próxima falece, nós empregamos todo o nosso empenho na atitude de mantê-la presente no nosso cotidiano. Nós sentimos que não lembrar da risada, do olhar, do rosto e da forma de caminhar seria trair a pessoa. No entanto, o tempo faz com que a lembrança se torne menos nítida e com que as dúvidas nos invadam, gerando a possibilidade de esquecer aquilo que fisicamente a definia.

Nessa situação devemos saber que, embora a pessoa querida não esteja mais conosco e não possamos mais tocá-la ou escutá-la, ela permanece no nosso coração. O afeto e os momentos vividos permanecem no nosso coração e nada nem ninguém poderá tirar isso de nós, nem mesmo o tempo.

2. Estou ficando louco? Será que vou conseguir suportar?

A morte de uma pessoa querida provoca um estado de choque, de bloqueio, que é extremamente difícil e alienante. Tantas emoções juntas geram a sensação de que perdemos o controle sobre nós mesmos. Pode-se afirmar que quase sempre isso se constitui como uma fase transitória necessária para absorver o acontecimento, é como um mecanismo de defesa que aliena nossa grande força interior para reunir as energias de que precisamos para sair dessa situação e continuar com a nossa vida.




3. Quanto tempo isso dura?

A resposta a essa pergunta é extremamente variável, pois o tempo depende das circunstâncias, das características pessoais, da relação que nos unia, do modo como aconteceu essa perda, etc. No entanto, o primeiro ano é muito difícil, pois tudo nos lembra a pessoa falecida na medida em que as datas marcantes do calendário vão passando. O primeiro Natal, os primeiros aniversários, as primeiras férias, etc.

O primeiro sofrimento por não poder compartilhar os acontecimentos, as conquistas e os sentimentos com essa pessoa nos fazem reviver a tragédia de maneira constante. Contudo, podemos dizer que esse tempo interno não é um tempo passivo, pois nos ajuda a aceitar a morte e a conviver com ela lentamente.

4. Eu vou voltar a ser como antes?

A resposta é NÃO. Evidentemente a morte de uma pessoa querida nos marca e parte nosso coração, o que nos muda inevitavelmente. Nós perdemos partes de nós mesmos, partes que se vão com essa pessoa. Amadurecemos em alguns aspectos, restabelecemos nosso sistema de valores, damos importância a coisas diferentes, pensamos de maneira diferente. Tudo isso constitui um aprendizado que frequentemente se transforma em um compromisso maior com a vida.

5. Por que aconteceu isso comigo? Por que você foi embora? Por que agora?

Em uma tentativa desesperada de compreender o incompreensível e o injusto, nos fazemos esse tipo de pergunta. Elas têm a função de nos ajudar a repassar, a analisar e a compreender a realidade de maneira racional, pois sentimos a necessidade de controlar e conduzir a situação para combater a angústia.

A morte de uma pessoa querida sempre é inoportuna e indesejável. Na ausência de respostas acabaremos nos perguntando um “para quê”, o que será muito mais adaptativo para reestruturar a nossa experiência e o nosso luto.

6. Estou doente?

Não. A angústia e os sentimentos dolorosos após a morte de uma pessoa querida não constituem uma doença, e sim um processo natural do qual devemos cuidar.Isso não quer dizer que não devemos dar especial atenção a essa situação, sempre devemos refletir adequadamente sobre esse momento. Vamos precisar de um tempo determinado para nos recuperar e restabelecer um equilíbrio psicológico que nos permita lidar com as nossas emoções e os nossos pensamentos.

7. Eu preciso de ajuda psicológica?

É saudável não se sentir bem durante o período do luto. Nos primeiros momentos, a pessoa que está de luto precisa expressar, falar e relembrar a pessoa ausente de maneira constante muitas e muitas vezes. Algumas pessoas precisam de um profissional que marque os limites do mal-estar, assim como que os escute, os acompanhe e os compreenda incondicionalmente.

A terapia oferece isso, mas, sem dúvidas, nem todo mundo precisa de ajuda terapêutica para percorrer esse caminho. Portanto, isso vai depender das condições pessoais de cada um.

8. O que faço com as coisas da pessoa?

As reações costumam ser extremas. Algumas pessoas se desfazem de tudo com base na ideia de que esse ato vai diminuir a dor da lembrança, enquanto outras guardam tudo da mesma maneira que o falecido as deixou. Ambas as reações nos indicam que não há aceitação da perda, por isso é aconselhável ajudar essa pessoa a assimilar a ausência.

Não há uma maneira mais saudável de reagir, mas o que não se pode é ter uma reação extrema. O mais saudável é ir se desfazendo ou distribuindo as coisas pouco a pouco, conforme vamos tendo forças e assimilando a perda. No entanto, precisamos ter em mente que guardar aquelas coisas de maior valor sentimental nos ajudará a nos lembrar com carinho e afeto dentro do significado que dermos.

9. O tempo cura tudo?

O tempo não cura tudo, mas, sem dúvidas, nos oferece uma nova perspectiva. Ao acrescentar experiências e tempo no caminho, colocamos distância entre o doloroso acontecimento e o presente. Isso nos faz escolher tomar uma ou outra atitude em relação à vida: podemos ter uma atitude derrotista ou podemos ter uma atitude de superação. O tempo nos ajuda a repensar sobre tudo.




10. Quando o luto acaba?

O luto acaba quando voltamos a mostrar interesse pela vida e pelos vivos.Quando as energias são empregadas nas relações, em nós mesmos, nos nossos projetos e em nos sentirmos melhores, é quando começamos a renovar nossa esperança na vida.

Ele acaba no momento em que já conseguimos nos lembrar da pessoa com carinho, com afeto e com nostalgia, mas a lembrança não nos traz uma dor profunda, um estado emocional eterno.

11. O que posso fazer com tudo isso que eu sinto?

Após o turbilhão de emoções e sensações que nos prenderam, nos encontramos com a perspectiva da utilidade. Cada uma dessas manifestações tem um significado íntimo que precisamos trabalhar, explorar e decifrar para nos reconstruirmos. Escrever pode nos ajudar, ouvir música pode nos levar a processar as emoções ou também realizar alguma atividade significativa para nós mesmos.

Isso nos ajudará a agradecer e a lembrar com carinho da pessoa falecida, a qual nunca vai nos abandonar porque permanecerá para sempre em nós, em forma de lembranças e aprendizados. Nós seremos sua essência, uma essência que nunca vai desaparecer.


Ilustração principal de Mayra Arvizo

Referências bibliográficas:

Martínez González, R.M. (2010). Cicatrices en el corazón tras una pérdida significativa. Bilbao: Desclée de Brouwer.










Expressar amor por aqueles que não estão mais presentes





Quando alguém amado falece, se instala um paradoxo em nossas vidas: morre a pessoa, mas não o amor que sentimos por ela. De algum modo, nós ficamos abarrotados de um sentimento que parece não ter dono. O próximo passo é passar pelo luto. No entanto, nesse processo também é válido e necessário expressar o amor pelos que já não estão presentes.

Sabe-se que existe um processo de dor pessoal, mas também existe um social. Ele está relacionado com os enterros, os pêsames, as visitas de cortesia, etc. Atualmente, essa fase é incrivelmente curta. Assume-se que, em poucos dias, você deve estar pronto para voltar à sua vida “normal”, e que a sua tarefa é fazer o que estiver em suas mãos para esquecer. Colocar de lado essa difícil experiência vivida. As dores extensas, ou muito intensas, incomodam as outras pessoas.

“ Quando minha voz se calar com a morte, meu coração vai continuar falando."    – Rabindranath Tagore –

Às vezes, você consegue se adaptar a essas normas sociais e, em pouco tempo, voltar à sua rotina, cada vez com mais convicção. Pode ser que você sinta vontade de chorar ao ver uma linda tarde, mas se contenha. Também pode acontecer que algo em você resista a dizer adeus, e comece a ser difícil conviver consigo mesmo e com as outras pessoas. É possível que, em ambos os casos, necessitemos expressar o amor por aqueles que já não estão presentes.

Honrar aqueles que não estão mais presentes

No sentido estrito, nenhuma das pessoas que amamos morre dentro de nós. Algo delas sempre fica, inclusive sem que nós percebamos isso. Existe uma parte de cada um de nós que está habitada por essas presenças, apesar delas serem percebidas como ausências. Os afetos também não morrem. Eles empalidecem, ou reestruturam as suas expectativas, mas continuam aí.


Por isso, em todas as culturas sempre existiu um conjunto de tradições para honrar as pessoas que já não estão presentes. No Ocidente é comum visitar os túmulos, levar flores e talvez rezar. Este tipo de hábito foi sendo perdido. Os cemitérios não são mais lugares onde a gente queira estar. Na verdade, nós ficamos sem meios para expressar o amor por aqueles que não estão mais aqui.

As ações destinadas a honrar as pessoas que já se foram não são um simples convencionalismo. Elas têm um sentido que é, em princípio, a possibilidade de expressar o nosso amor. Talvez fosse mais exato dizer que se tratam de rituais que nos ajudam a colocar paz nessas ausências que moram dentro de nós. Reencontrar-nos com elas, elaborar o luto e olhá-las nos olhos.

Expressar amor por aqueles que se foram

Persistir na dor das perdas é tão nocivo quanto desviar o olhar para outro lugar e simular que o que aconteceu ficou para trás. As pessoas que se foram, aquelas que amávamos profundamente ou que tiveram um papel decisivo em nossas vidas, seguem aí, falando conosco.

Eles voltam nos momentos de solidão, nos lutos posteriores. Vivem aqui e voltam em forma de uma ansiedade passageira, de uma tristeza que não acaba de ir embora, ou de um sentimento de desamparo que se transforma em vertigem, em dor de cabeça, em um sentimento de confusão.

Por isso, todas as culturas ancestrais honravam quem já não estivesse presente. Eles sabiam que era muito importante expressar o seu amor por eles.

Apesar de dizerem que nós, seres humanos, somos fundamentalmente parte do presente, talvez seja mais exato indicar que somos, especialmente, parte do passado. Nós somos uma história que continua sendo contada, dia após dia. Daí a importância de não perder a perspectiva de tudo que nos precede.

Formas de expressar o nosso amor

Uma das tradições mais bonitas do mundo é a do Dia dos Mortos, no México. É uma celebração bem parecida com um ritual e o Carnaval. No dia 1 de novembro as pessoas amadas que já faleceram são recordadas. Eles exibem as suas fotografias, suas recordações, e aqueles que se foram voltam a ser protagonistas no mundo dos vivos.

Os mexicanos escrevem cartas, improvisam altares, rezam. Também estão presentes nos cemitérios e fazem serenatas, cantam, declamam para os seus entes queridos. Resumindo, eles dão visibilidade a esses fantasmas, lhes dão forma e falam com eles. Declaram que o esquecimento é impossível e se reencontram com os seus ausentes.


Seria saudável que cada um de nós pudesse fazer o seu próprio ritual para invocar aqueles que já se foram. Para expressar amor por aqueles que não estão mais entre nós. Reencontrar-nos com a sua lembrança, com a marca que eles deixaram.

É preciso reconhecer que existe um vínculo afetivo que nem a morte pode romper. Assumir que nós avançamos pela vida com nossas perdas e apesar delas. Compreender que o único destino possível não é o vazio, nem o esquecimento.