A prática regular de uma atividade física previne contra o câncer. E, mesmo em caso de recidiva da doença, ela reduz os riscos de mortalidade.
Aude Rambaud – Le Figaro Santé
A atividade física é útil antes de um câncer, durante um câncer, e depois de um câncer. Praticada em dosagem suficiente, ela reduz notavelmente o risco de desenvolver a doença. Ela é inclusive um dos fatores modificáveis de prevenção, da mesma forma que a abstinência do álcool, do tabaco e a boa alimentação. Numerosos estudos provam seu efeito protetor contra vários tipos de câncer, notadamente o de mama e o do cólon, que estão entre os mais frequentes. Os cânceres do endométrio, dos pulmões, do reto, da próstata, dos ovários, da tireoide e do pâncreas também têm relação direta com a falta de atividade física. As comprovações da realidade da relação câncer/ausência de atividade física são numerosas e importantes.
O efeito protetor da atividade física já pode inclusive ser avaliado em números concretos graças a esses estudos: o risco de desenvolver um câncer de cólon diminui de 17% em caso de atividade física regular em relação a um estado sedentário, e o de câncer de mama diminui de cerca 20%. “Tais cifras podem parecer moderadas, mas quando se leva em conta a incidência desses cânceres, o benefício é muito importante na escala populacional”, explica Raphaëlle Ancellin, do departamento de prevenção do Instituto Nacional do Câncer, na França. “Além disso, existe um ‘efeito dosagem’, o que significa que mais a atividade física é intensa e regular, mais o efeito protetor é importante”, esclarece Ancellin. Assim sendo, para cada período de trinta minutos diários de atividade física suplementar, o risco de câncer de cólon decresce de cerca 12%.
O benefício da atividade física é, além disso, verificável em todas as idades da vida. “Um estudo feito com três grupos de idades (indivíduos com menos de 25 anos, com idade entre 25 e 50 anos, e com mais de 50 anos) mostrou que a atividade física permite reduzir notavelmente o risco de câncer de mama. Isso significa que não existe idade para que uma pessoa comece a mover-se; nunca é demasiado tarde”, insiste Raphaëlle Ancellin.
Todo esforço físico é benéfico, até mesmo os mais breves e de menor intensidade. Tais propriedade protetoras se explicam através de vários mecanismos: um melhor controle do peso corporal, cujo aumento está associado a vários cânceres (esôfago, endométrio, rins, cólon e reto, pâncreas, e também os de mama após a menopausa), bem como a redução da taxa de certos hormônios e fatores de crescimento (insulina,IDF-1, etc), que favorecem a proliferação celular.
Reduzir o estresse oxidante
Outros mecanismos são, por outro lado, ainda mais específicos. Para o câncer do cólon, a aceleração do trânsito intestinal provocada pelo esforço físico reduz o tempo de exposição da mucosa digestiva aos cancerígenos de origem alimentar. Para o câncer de mama, o esporte diminui a taxa de estrógenos em circulação e melhora a imunologia. Para o câncer do pulmão, o aumento da função respiratória reduz a concentração de agentes cancerígenos nesse órgão, bem como o estresse oxidante causado pelo cigarro e o tabaco em geral.
“O importante, se essas recomendações são difíceis de serem aplicadas, é que a pessoa se mova muito ao longo da sua jornada”, diz o professor Daniel Rivière, chefe de medicina do esporte no Hospital Larrey, na cidade de Toulouse.
As recomendações de atividade física para a prevenção do câncer são idênticas àquelas preconizadas outras doenças tais como a obesidade ou as patologias cardiovasculares. A saber: pelo menos trinta minutos de atividade física de intensidade moderada por pelo menos cinco dias por semana para os adultos, e pelo menos uma hora por dia para as crianças. “Mas é bom lembrar que que estas são médias globais, e que todo e qualquer esforço físico é benéfico, mesmos os menos longos e de menor intensidade”, lembra Raphaëlle Ancellin.
“O importante, se essas recomendações são difíceis de serem respeitadas, é que a pessoa se mova durante todo o decurso da sua jornada”, aconselha o professor Daniel Rivière. Caminhar quando se fala ao telefone, subir e descer escadas, ir ao trabalho a pé ou em bicicleta também são providências eficazes, talvez até melhores do que se forçar a s levantar da poltrona para ir praticar uma atividade física durante meia hora.
Por fim, mesmo quando a pessoa tem um câncer, a prática da atividade física é recomendável, levando-se em conta as possibilidades do paciente. Muitos estudos demonstraram cabalmente que uma atividade adaptada de intensidade fraca a moderada, durante o tratamento quimioterápico ou radiológico, melhora a qualidade de vida e acarreta muitos benefícios contra a fadiga, a ansiedade, a depressão, o sono, a imagem do corpo e o bem-estar geral.
Sobretudo, a atividade física está associada a uma redução do risco de morte de cerca 40% em média – para o câncer de mama e do cólon – desde que ela seja praticada regularmente após o diagnóstico. Trata-se de uma cifra muito variável segundo a natureza e a severidade do câncer, mas que deve incitar o paciente a não se desencorajar diante do esforço físico.