Ainda não há cifras exatas a respeito, mas há estudos que podem servir para desenharmos um esboço da nova realidade: há mais solteiros do que nunca, ao menos nas sociedades ocidentais. Segundo as projeções, a partir de pesquisas independentes, 1 de cada 4 adultos maiores de 50 anos nunca se casou. Há alguns locais onde as cifras são ainda mais radicais. Em Nova York, por exemplo, um de cada dois adultos mora sozinho.
Por que isto está acontecendo? Não é fácil saber. O fenômeno é tão inédito que ainda não há conclusões que possam ser consideradas definitivas. Ao contrário, diferentes hipóteses são levantadas para explicar este fato. Há também muitos relatos cotidianos de pessoas que falam das uniões permanentes ou do casamento como algo indesejável, como um fardo que não desejam carregar.
“ Não quero alguém que me diga que tudo sempre ficará bem. Prefiro alguém que me olhe nos olhos e me diga: ‘Está tudo ferrado, mas eu vou ficar aqui ”. Yoha Navarrete
Ao mesmo tempo, o mal-estar emocional e sentimental cresce no mundo, juntamente com os casos de depressão e os transtornos de diversos tipos. Para os enfoques não biologicistas, ou seja, aqueles que não responsabilizam os genes por tudo, o que está acontecendo no mundo está estreitamente associado com vínculos afetivos frágeis ou disfuncionais. Talvez o fato de que existam mais solteiros do que nunca seja outra peça dessa mesma lógica.
Os solteiros e os solitários
Há muitos solteiros que vivem bem e felizes. São os casos onde a solteirice não implica a solidão, ou aqueles em que a solidão não implica isolamento. Geralmente, são pessoas que escolheram conscientemente não formar um casal. É comum também que tenham outros interesses que preencham suas vidas.
A decisão de permanecer solteiro quase sempre é motivada pelo desejo de concentrar todas as energias em um ou vários projetos, como o trabalho, por exemplo. Estas pessoas têm trabalhos que adoram e não querem passar pelo dilema de dedicar menos tempo à carreira para corresponder adequadamente às expectativas de uma família. Ainda assim, costumam ter um parceiro e uma boa rede de amizades e familiares.
Os solitários, ao contrário, não têm muita certeza quanto à razão pela qual não têm um parceiro estável para conviver. Uma resposta frequente é a de que não encontraram a pessoa certa. Entretanto, também não se sentem totalmente confortáveis vivendo sozinhos. Costumam viver numa rotina constante. É comum que predominem sentimentos de apatia ou tristeza.
Também há outros tipos de solitários. São aquelas pessoas que pulam de uma relação para a outra, sem passar muito tempo em nenhuma. Vivem o “aqui e agora”, numa espécie de adolescência eterna na qual não existe futuro.
Por que hoje há mais solteiros do que nunca?
Os sociólogos têm diversas hipóteses para explicar essa presença significativa de solteiros. Alguns apontam para a existência de um entorno que promove o egocentrismo como nunca aconteceu antes. O indivíduo se tornou o centro de tudo. A preocupação central de muitas pessoas é consigo mesmas. Nesse esquema, não há lugar para mais ninguém. Portanto, prestar atenção aos sentimentos e necessidades de outra pessoa é algo que não lhes interessa.
Além disso, foi levantada a ideia de que estamos passando pelo chamado “paradoxo da escolha”. Consiste no seguinte: antes, o número potencial de pessoas que podíamos conhecer era limitado. A internet tornou possível que esse potencial de vínculos seja virtualmente infinito. Da mesma forma, a quantidade potencial de parceiros é incontável. O que acontece então é que o número excessivo de opções paralisa a capacidade de decidir.
Igualmente, quando uma pessoa se decide por algo, sempre sente que saiu perdendo. E sente isto porque sempre terá outras opções com as quais comparar “sua aquisição”. Há uma tendência humana de lamentar o que não se tem, ao invés de apreciar aquilo que se tem.
A solidão e o casal
Parece que atualmente muitas pessoas esqueceram que um casal é uma construção. Não se forma um casal apenas por sair junto ou por fazer sexo. As conversas, os acordos, os conflitos e as experiências são o que vão tornando um casal aquilo que é.
Portanto, formar um casal demanda esforço. Também exige tolerância, generosidade e paciência. Além disso, evidentemente, renúncias. Isto é exatamente aquilo que alguns solteiros não querem: se esforçar ou acomodar outras necessidades que não sejam as suas em seu mundo emocional.
A solidão não escolhida nunca é uma boa opção. Há estudos que indicam que ela chega inclusive a causar dores físicas. Neste caso, seria necessário pensar se realmente não se encontrou a pessoa certa ou se na verdade a pessoa não se adaptou a formar um casal com outra. Realmente vale a pena se perguntar isso.