O motorista que “salvou” 15 estudantes do ENEM no país da empatia perdida





Nathalí Macedo

No país que mais parece um circo dos horrores, reza a lenda, ainda acontecem coisas boas, e ainda há pessoas capazes de bons atos, embora seja de fato a cada dia mais difícil de acreditar. 

Geraldo Casalli, um motorista de ônibus de São Carlos – SP, levava no ônibus, em um dia ordinário de expediente, quinze estudantes atrasados para o ENEM – que virariam meme, no máximo, e teriam que tentar de novo no ano que vem, enfrentando a sensação de desperdício de tempo, muito mais horrorosa quando se é jovem (e, consequentemente, imediatista). 

Ele poderia seguir o trajeto – e as regras da empresa para a qual trabalha, e a essência coletiva do tipo de transporte que conduz – mas optou, humanamente, por mudar o trajeto e evitar que os estudantes se atrasassem. 

Regras são feitas para seres humanos, de modo que, num sofismo barato, o ato de Geraldo não foi heroico, tampouco anti-heróico, foi humano.

Gosto de pensar que há dois tipos de motoristas de ônibus: aqueles que são muito mal humorados – não respondem ao seu “bom dia” – e aqueles que são gente finíssima, gente que finge que acredita em quem diz que foi assaltado porque não tem dinheiro para a passagem, gente que para fora do ponto para que mulheres saltem em ruas menos desertas, gente que pega a sensibilidade debaixo do travesseiro e leva pro trabalho. 

Geraldo, é claro, está no segundo grupo. 

Diz que pensou nas filhas quando mudou o trajeto – esse sentimento, esse lindo sentimento que alguns chamam de empatia – pode se manifestar em qualquer um, em qualquer lugar e em qualquer trajeto, gosto de crer. 

Lembrei de uma coisa de ouvi de um filósofo que nunca terminou o segundo grau, o meu pai: “A gente não tem medo de nada, até ter filhos. Depois que você tem filhos, você treme só de pensar que alguma coisa pode acontecer com eles.”

Penso que talvez Geraldo tivesse visto a imagem das filhas nos estudantes que ajudou, e penso no quão bonito o amor paterno pode ser, quando floresce. Talvez tenha tremido só de pensar que suas filhas sofreriam a angústia de terem se preparado o ano inteiro para um exame que não aconteceria por uma questão de minutos, e talvez tenha sido levado por esse sentimento sublime a arriscar o próprio emprego para ajudar quinze desconhecidos. 

Ou talvez seja só um motorista de ônibus gente finíssima. 

A essa altura, qualquer das opções é desejável. 



Postado em Diário do Centro do Mundo em 08/11/2017



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Juliana Goes : Amanhã pode ser tarde demais



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Escreva que quer torturar, assassinar, solte os monstros. STF liberou geral o ENEM




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Fernando Brito

Pensa que uma das funções da pedagogia é humanizar, ensinar a conviver, a respeitar, a encarar cada ser humano como essencialmente igual a você?

Esqueça.

A Ministra Cármem Lúcia acaba de atender o Escola Sem Partido e proibir que se “zere” redações do Enem que começa amanhã que em que se vilipendiem os direitos humanos propondo, entre outras coisas, “defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de “justiça com as próprias mãos”.

Os nossos juízes acham que redação é uma mera “técnica”, dissociada do que contem. Como devem achar que Direito é uma técnica, dissociada do que produz para a sociedade e para o indivíduo.

E, como é só uma técnica, não há nenhuma importância em que alguém expresse por ela ódio, desumanidade, racismo, sadismo, nazismo.

E, se pode na redação do Enem, por que não poderia no Facebook, no Instagram, no Twitter?

E por que não pode na rua, no metrô, no ônibus?

É inacreditável que essa senhora que preside, do alto de sua pequenez mental, o Supremo Tribunal Federal, tenha esquecido que a principal e saudável função da lei é estabelecer parâmetros mínimos de convívio social e a expressão em textos – a redação – é uma destas formas de relacionamento, porque algo está sendo escrito para ser lido e não se trata de um onanismo gráfico.

Se o que se expressa é uma monstruosidade, a ministra colabora para que um monstro, possivelmente à custa do dinheiro da sociedade, sinta-se à vontade para cursar uma universidade para aprimorar sua monstruosidade.

O Doutor Menguele bem que poderia dizer que o que fazia era “ um procedimento técnico ” na Medicina.

Vai ser muito curioso o dia em que alguém desta tal “ Escola Sem Partido ” for perguntado que nota teria uma redação fazendo a apologia da pedofilia que, agora, para eles, parece ser o maior mal do Brasil e do mundo?

Eu poderia usar as idéias que a Dra. Cármem “ liberou geral ” para me referir a ela e ao Judiciário.

Quem sabe eu mereceria um dez pela boa redação?



Postado em Tijolaço em 04/11/2017




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A família Bolsonaro comemora uma pauta que conseguiu concretizar sem nem mesmo ter começado oficialmente a corrida eleitoral de 2018: o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou redações que ferem os direitos humanos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que começa neste domingo (5).

Para se ter uma ideia de quanto a ministra Cármen Lúcia atende aos interesses ultraconservadores de Bolsonaro e cia, um dos filhos do deputado federal já ironizava com o tema pouco antes do Supremo negar o pedido da procuradoria-geral da República para que as redações que afrontassem os direitos humanos fosse zeradas.

“DICA PARA A REDAÇÃO DO ENEM QUANDO BOLSONARO FOR ELEITO PRESIDENTE EM 2018 – direitos humanos: esterco da vagabundagem.”, tuitou o vereador Carlos Bolsonaro.

A possibilidade de afrontar os direitos humanos sob o guarda chuva da “liberdade de expressão” sem ser punido e, mais do que isso, a demonização do conceito de direitos humanos sempre associado à “vagabundagem” é uma velha pauta dessa ultradireita que encabeça projetos lunáticos e retrógados como o “escola sem partido”.

Para se ter uma ideia, a decisão da ministra Cármen Lúcia nega um pedido da PGR para suspender a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que determinou recentemente a revogação da regra prevista no edital do exame. A decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por sua vez, atendeu a um pedido da Associação “Escola Sem Partido”, que alegou que a regra atentava contra a liberdade de expressão.

Bolsonaro é o mais popular defensor do “escola sem partido”, proposta que vem sendo discutida em inúmeras assembleias estaduais e que visa limitar a liberdade pedagógica dos docentes com base na falácia de que eles estariam “doutrinando” os alunos com ideologias de esquerda. A ideia já foi rechaçada e criticada pela maior parte dos conselhos e entidades educacionais mais respeitadas do país.



DICA PARA A REDAÇÃO DO ENEM QUANDO BOLSONARO FOR ELEITO PRESIDENTE EM 2018 - direitos humanos: esterco da vagabundagem.