Carta para quando eu conseguir





Paulinho Rahs

Peço a todas as minhas versões intermediárias que colocarem as mãos nesta carta, que não leiam ela até o fim. Vocês sabem que estou escrevendo diretamente a uma única pessoa que vai estar a léguas de distância de todos nós: ela só pode ser aberta pela ‘nossa’ versão que conseguir atingir todos os objetivos pelos quais estamos propostos. Espero que vocês respeitem isso; nós vamos conseguir !

PARA: EU MESMO, NO FUTURO

Saudações !  Tudo bem contigo ?

Se tu sorriu e teus olhos brilharam na hora de responder, saiba que numa outra dimensão estou mega orgulhoso de saber disso. Se tua resposta foi honesta e tudo está realmente bem por aí, isso só pode significar uma coisa: a gente conseguiu !  É, meu velho… Que alegria ! 

Hoje, mais maduro que está, tu tem plena consciência de que não somos mais a mesma pessoa. Por isso não vou te tratar como se eu estivesse falando comigo mesmo; tu és muito mais forte e tem muito mais responsabilidade que eu. Agora é tua vez de traçar novos objetivos, muito mais difíceis, e escrever uma carta como essa para uma outra versão nossa que vai vir lá no futuro. Mas isso é responsabilidade tua, falemos do que eu fiz.

Primeiro de tudo: preciso que tu nunca esqueça, mesmo que seja tentador jogar tudo pro alto e apenas desfrutar do sucesso, de que tudo que passei aqui atrás foi em nome das coisas que eu sabia que te fariam feliz aí na frente. 

Me privei de prazeres, recusei convites de amigos, faltei em ocasiões familiares. Deixei de marcar encontros, dormi menos que deveria, envelheci no dia-a-dia mais que o resto das pessoas que a gente conhece. Tá sendo sofrido, cara. Apenas recordar as coisas quando a gente não está vivendo elas não dá a noção real, mas queria te lembrar que tem horas que dá vontade de desistir. Eu não vou !  E por isso eu sei que você está aí, aliviado, pois valeu a pena.

Não te deslumbra com as facilidades que estão aparecendo, não te deixa levar pelos tapinhas nas costas. Isso é ilusão. Vai ficar cada vez mais apertado o cerco de energias ruins te rondando. Eu já sofro com isso agora. Porém, pode ter certeza: manter a cabeça baixa para trabalhar e erguida para enfrentar é o melhor remédio. Manter a cabeça ocupada é o maior segredo; se em algum momento tu deixar tua cabeça sem nenhuma preocupação, as portas estarão abertas para te confundirem.

Por isso fiz essa carta. Por isso nós conseguimos.

Por isso criei, com muito orgulho e trabalho, essa tua versão de hoje. Por isso tu vai me prometer que vai fazer o mesmo que eu: traçar vários objetivos difíceis, mas que podem ser alcançados; escrever uma carta para tua versão futura e trabalhar todos os dias em prol das coisas que mais te deixam motivado.

Vão surgir um zilhão de imprevistos e ‘coisinhas’ pra te desviar. Sempre, em todas as decisões que tu tomar, desde o momento em que abrires os olhos pela manhã ao momento em que deitares na cama ao fim do dia, escolha o que vai beneficiar teus objetivos principais.

Eu sei, estou repetindo coisas que tu – obviamente – sabe há mais tempo que eu. Contudo vou te lembrar de uma outra coisinha – será que tu segue sendo esquecido como eu ?  Vamos trabalhar pra mudar né !  – que eu não levei em consideração: o diabo está nos detalhes. Eu, tu e todas as nossas versões que já existiram, tem em comum o fato de serem sonhadores natos. 

Só que eu, aqui no passado, já deveria ser tu. Sofremos um atraso, perdemos muito tempo. Perdemos tempo por não levar em consideração que sonhos movem o mundo, sim. Contudo de nada adianta sonhar sem um plano. É caminhar pelo desconhecido sem ao menos ter um mapa.

Li uma vez uma ideia genial que dizia assim: “ Nós somos hoje o resultado daquilo que pensamos e executamos no passado." Por isso eu tô genuinamente orgulhoso de quem tu é aí na frente, pessoa que abriu essa carta. Todavia não ando muito satisfeito com quem sou hoje. Não culpo nosso passado, tu sabe, a gente mal sabia como era a vida; a gente só sonhava !  Que bom que tenha sido assim, pois agora não preciso aprender a sonhar, só preciso aprender a executar no dia-a-dia. Pelo visto funcionou, né ?

Meu velho, já consigo ver teu olhar quando me olho no espelho. Ao mesmo tempo em que fico inquieto para o tempo passar logo e tu finalmente tomar as rédeas da nossa vida, vou dia após dia me despedindo calmamente de quem somos hoje. 

Existe um outro conceito muito importante, esse tá complicado de eu assimilar por aqui. Espero que tu tire de letra enquanto planeja nosso futuro. É que preciso ser menos ansioso para entender que é fundamental dar um passo adiante todos os dias, por menor que esse passo seja. Me parece que a ideia mais concreta para entender isso é imaginar a vida como uma escada e todos os dias antes de dormir ter a certeza de que um passo acima foi dado. Faz sentido aí pra ti? 

De qualquer forma, não quero nunca mais aquela sensação de que estou perdendo tempo. Só consigo pensar em ti, meu irmão. E escrevo como se fosse para outra pessoa porque realmente espero que eu tenha me tornado outra. Melhor, em todos os sentidos. Mais forte, mais responsável, mais humilde, mais realista.

Eu consegui. E quem consegue uma vez, consegue de novo.

Agora, deleta essa carta e não cai na bobagem de ficar admirando os nossos feitos. Baixa a cabeça, traça novos objetivos e escreve uma nova.

Quando terminar, copia essas últimas quatro frases e termina assim:

Eu espero ler isso até o último dia da minha vida, seja lá quem eu for.






Nota do Blog Por Dentro ... Em Rosa :


Mesmo verificando, no decorrer da leitura, que o texto apresenta alguns errinhos de gramática, decidi colocá-lo, no blog, por sua mensagem superinteressante e original. Assim como eu, tomara que os queridos leitores tenham gostado. E que tal, também, escrevermos uma cartinha para o nosso " Eu amanhã " ?  Abraço.



   

" Agora estão me levando, mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo."




Resultado de imagem para Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.






INTERTEXTO

Bertolt Brecht


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.



NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!



Apesar das sombras do Golpe e seus personagens que pairam sobre o Brasil, 

não percamos a Esperança e a Fé ! 







Músicas :

Ave Maria - O Guarani, de Carlos Gomes

Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, canta Alexandre Pires





Emílio Santiago e Marisa Gata Mansa : Viagem



Imagem relacionada









Netflix responde – quais as séries mais assistidas em 24 horas ?



Resultado de imagem para os defensores serie netflix


Aurélio Araújo



A Netflix gosta de estimular os ‘binge watchers‘, pessoas que sentam diante da TV e assistem a um episódio atrás do outro – no nosso português, os ‘maratonistas de séries‘. Nao é surpresa, portanto, que a empresa tenha divulgado nesta semana uma lista das 20 séries mais assistidas por seus fãs dentro do prazo de 24 horas. Ou seja, aquelas mais viciantes, das quais o público praticamente nao desgrudou o dia inteiro até terminar de assistir a temporada. Segundo a Netflix, 8,4 milhoes de assinantes já assistiram temporadas completas num único dia. Veja abaixo a lista das séries originais do canal mais assistidas num único dia.




1. ‘Gilmore Girls: A Year in the Life‘


2. ‘Fuller House‘

3. ‘Os Defensores‘

4. ‘The Seven Deadly Sins‘

5. ‘The Ranch‘

6. ‘Santa Clarita Diet‘

7. ‘Trailer Park Boys’

8. ‘F is for Family’


9. ‘Orange Is the New Black’

10. ‘Stranger Things‘

11. ‘Friends from College’

12. ‘Atypical’

13. ‘Grace and Frankie’

14. ‘Wet Hot American Summer’

15. ‘Unbreakable Kimmy Schmidt’

16. ‘House of Cards’

17. ‘Love’

18. ‘Glow’

19. ‘Chewing Gum’

20. ‘Master of None’



Postado em Blue Bus em 19/10/2017


1.




2.



3.



4.



5.



6.



7.



8.



9.



10.



11.



12.



13.



14.



15.



16.



17.



18.



19.



20.





Coragem civil, qualidade rara nos dias de crise que vivemos



Professora enfrenta os policiais




Por Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça


“ Mut auf dem Schlachtfelde ist bei uns Gemeingut, aber Sie werden nicht selten finden, dass es ganz achtbaren Leuten an Zivilcourage fehlt.“ (Otto v. Bismarck, citado por Robert v. Keudel, 1901).
[trad. “ Coragem no campo de batalha é entre nós parte do patrimônio comum, mas não raro se constata, que falta coragem civil a pessoas mui respeitáveis.”]

Épocas de crise política são uma oportunidade de recobrar virtudes perdidas ou nunca antes valorizadas. As crises são desencadeadas por destruição de consensos e, para reconstruí-los, é preciso o reforço daquilo que todos prezam porque para si o exigem, mesmo que neguem aos outros.

Virtudes não se encontram no dia a dia “dando sopa” na sarjeta. Ainda que delas falemos de boca cheia como se as possuíssemos em abundância, são preciosidades raras, principalmente quando a polarização moralista torna hábito olhar para o rabo alheio quando se senta sobre o próprio.

O Brasil se encontra numa dessas encruzilhadas da história em que dependerá muito de se acertar em escolhas dramáticas para não cair no abismo. E todos parecem saber o melhor rumo, mas ninguém o quer desbravar. O abismo é o outro, a quem se quer eliminar, mal enxergando que, a cada impulso exterminador, aproxima-se mais a borda do precipício que pode a todos engolir.

Virtudes são o freio ao ímpeto destrutivo e precisamos cultivá-las. Mas, para assim fazermos, temos que nos vestir de coragem civil. Esta consiste sobretudo em não ter medo de fazer o que, no íntimo, ouvido nosso Eu histórico, sabemos que é certo, pouco nos importando com as furiosas críticas que advirão para afetar nossa autoestima e nos fazer vacilar.

Ter opinião e atitude em tempos de polarização exige determinação e não impressionar-se com os maus olhares, as broncas e as maledicências daqueles que, por oportunismo, por fraqueza ou por comodidade, preferem seguir a manada no seu estouro picada afora.

Ter opinião e atitude implica receber crítica e causar desconforto. Quem, nestes tempos, opta por dizer o que pensa pode ter a certeza de que vai arrumar muitos inimigos, mas vai também receber apoios, encontrar aliados e companheiros de caminhada, imprescindíveis para a superação da crise que afeta a cada um de nós.

Há carência de verdades indisfarçadas e apresentadas de forma simples e direta; verdades amplamente assimiláveis e mobilizadoras. Portanto, tê-las e externá-las, por mais bronca que atraia, encontra eco imediato por atender a enorme demanda.

Já a covardia de não querer tomar partido fortalece o dos celerados, dos narcisistas e dos mal intencionados. Querer estar de bem com todos é buscar desconfianças contra si e leva fatalmente ao isolamento e à solidão do insignificante na manada.

Coragem civil é dar a cara à tapa, mas também é dar impulso às transformações necessárias para um tempo melhor. Faz mais sentido do que se esconder na turba, como uma avestruz a enterrar sua cabeça na terra.

É preciso dizer hoje em alto e bom tom que nossas instituições fracassaram no cumprimento de seu papel constitucional. O Congresso, por ambição e cobiça, deu, com a ampla maioria de gente sem caráter e contaminada pelo ódio político e de classe, sustentação a um bando de corruptos sem princípios, que se apossaram do governo na traição ao eleitorado e à sociedade.

Permitiu-se vender a preço de banana os ativos estratégicos do País, destruir o parque tecnológico, rifar direitos conquistados a duras penas ao longo de décadas de história sofrida e sanguinolenta e tirar do Brasil sua invejável posição de respeito e altivez no concerto das nações.

O judiciário e o ministério público foram mais que coniventes, foram co-autores na empreitada. Portaram-se mal e escolheram o lado do golpe contra a democracia. Reforçaram, com discurso moralista barato e tom exaltado de falsa indignação, a polarização política. Jogaram para a plateia. Quiseram-se bonitos e cheirosos, à busca narcisista de aplauso.

Esqueceram-se convenientemente do seu dever de defesa do Estado de Direito e da democracia. Traíram repetidamente a letra da Constituição. No auge da crise por eles sustentada pediram aumento de seus ganhos, indiferentes com a gravidade do momento: repetiram a saga dos soldados romanos a jogarem dados na disputa pela túnica de Jesus ao pé do crucifixo.

Desprezaram a segurança jurídica, aniquilaram o devido processo legal, o julgamento justo, a presunção de inocência, o direito à imagem, o direito à esfera privada. Entregaram seus investigados e seus réus à ira pública. Como Pilatos, soltaram Barrabás e crucificaram Jesus: protegeram Temer e Aécio e expõem Lula e os seus à exigência de lustração de falsa moral.

Usaram o tal “Combate à corrupção” como arma seletiva para inviabilizar o governo popular e devolver o País a sua aristocracia cleptomaníaca. Com esta festejam seu poder, seu prestígio e seu bem-estar, às custas das massas desempregadas e desabrigadas.

Ter coragem civil é dizer não a isso tudo, é exigir a devolução do poder à verdadeira soberania popular, aquela que consagrou Dilma Presidenta constitucional do Brasil. Ter coragem civil é assumir a defesa dos injustiçados, pouco ligando para os “Antagonistas” da vida, que sempre vomitarão ódio e falsa indignação.

É acolher com dignidade os que tiveram sua reputação destruída e ajudá-los a recupera-la. É abraçar José Dirceu. É reconhecer a brutalidade de que Ângelo Goulart e Willer Tomás foram vítimas por perseguição corporativa. É exigir respeito a Lula. É estar em luto por Luis Carlos Cancellier. É lutar pela volta de Dilma. É ir às ruas contra o roubo de direitos e contra a entrega aviltada dos ativos nacionais.

Quem quiser ficar em casa, que fique, mas que não pretenda ser tratado com honras dos heróis. Que não queira reconhecimento que se dá aos lutadores. Que se contente com sua insignificante existência covarde e deixe os bravos lutarem! Que não reclame mais tarde, se tudo estiver perdido. Coragem civil é mais que necessária agora. Já!



Postado em Diário do Centro do Mundo em 20/10/2017



Raramente querem saber se a gente é feliz





Perguntam se a gente tem emprego, se a gente se casou, mas raramente querem saber se a gente é feliz


Marcel Camargo


Quanto mais a gente vive, mais percebe que a grande maioria das pessoas não está nem aí, não se importa, não quer saber, tampouco se interessa pela vida do outro. As pessoas correm demais, trabalham demais e se preocupam excessivamente consigo mesmas, a fim de que lhes sobre tempo para sair de sua confortável redoma, onde o eu – e só ele – existe.

E, assim, atravessamos bons dias apressados, boas tardes frios e boas noites desinteressados. Discursa-se sobre a necessidade de haver mais sentimento entre as pessoas; postam-se mensagens e textos virtuais que transmitem amor e solidariedade; leem-se livros de autoajuda, veem-se filmes motivadores. No entanto, na prática, no dia-a-dia, os eus continuam olhando para si mesmos, tão somente para si mesmos, atropelando quem ousar pensar diferente.

O pouco tempo disponível que sobra é lotado de compromissos egoístas, como exames de rotina, malhação na academia ou nos parques arborizados, encontro com colegas de quem pouco se sabe, para embriagar-se e assim tentar se esquecer do que se deixa para trás. Não queremos sofrer, temos horror ao sofrimento, por isso nos afundamos em dívidas, em pílulas da felicidade, em sessões de terapia.

A maioria das pessoas está preocupada com os próprios problemas, com o quanto poderão consumir naquele mês, ou se o peso do corpo continua o mesmo. Quando conversam umas com as outras, mal estão prestando atenção nas respostas às perguntas superficiais que fazem, porque não se interessam, pouco se importam – trata-se apenas de curiosidade mesmo. No máximo, repassarão algo que ouviram, através do “diz que diz”, muitas vezes de maneira puramente maldosa.

Isso, no entanto, não significa que não existe quem seja verdadeiro e confiável, mas serve para que possamos nos abrir a quem de fato se interessa pelo que sentimos. Sempre haverá alguém que torce por nós verdadeiramente, com afetividade sincera. Saber quem são essas poucas pessoas nos dará a certeza de que temos com quem contar, se precisarmos. Nós, obviamente, teremos também que nos abrir, saindo de nosso mundinho, para que partilhemos verdades com quem chega de coração aberto. Somente assim a gente vive sem pesos demais atravancando nossa busca pela felicidade.



Postado em Conti Outra