Médicos que receitaram o impeachment estão reclamando de que agora?
Mauro Donato
Generalizar significa ofender as exceções. Mas as classes de médicos apoiaram em peso o impeachment de Dilma Rousseff. Centenas de Conselhos regionais e o próprio Conselho Federal de Medicina patrocinaram o golpe.
O Sindicato dos Médicos do Ceará espalhou outdoors por toda a cidade de Fortaleza convocando os panelaços. A Associação Médica Brasileira pagou para publicar anúncios em jornais espinafrando o governo petista e convocou ‘pacientes e amigos’ para irem à av Paulista. E não ficou restrito apenas aos profissionais. Foram muitas as faculdades de medicina que fizeram campanha pró Aécio com os formandos. Portanto exceções confirmam a regra.
Por que agora estão tão revoltados com o ministro da Saúde de Michel Temer? Se o ministro Ricardo Barros é especialista em disparar frases recheadas de sandices e preconceitos (como a mais recente que tem causado a fúria na categoria: “Os médicos precisam parar de fingir que trabalham”), por outro lado, ele atende aos anseios de todos aqueles que queriam ver Dilma pegar o boné e deixar o Palácio.
A pauta não era de um estado mínimo? Pois bem, tão logo tomou posse da pasta, Ricardo Barros já havia dito que o SUS precisaria ser revisto porque ‘infelizmente o governo não tem capacidade financeira para suprir todas essas garantias que tem o cidadão.’ Ali o caldo azedou entre médicos e o ministro. E de lá pra cá, tudo piorou, como a chuva de ovos no casamento de sua filha não deixa mentir.
Ricardo Barros está como ministro de Michel Temer há mais de um ano e já cometeu gafes (para não dizer outra coisa) inacreditáveis. Barros é engenheiro de formação, portanto seu conhecimento sobre saúde associado a seu perfil ‘Temer’ que aprecia as ‘recatadas do lar’, propicia que solte pérolas como responsabilizar a ausência das mulheres em casa como causa da obesidade infantil (mesclou machismo com ‘achismo’).
Para comprovar que não se tratou de um deslize misógino, em outra oportunidade disse que os homens procuravam menos o atendimento de saúde porque ‘trabalham mais do que as mulheres’.
O ministro também já declarou – do alto de seu conhecimento acadêmico – que a população não colabora, exagera, que procura atendimento apenas por ‘imaginar estar doente’.
“A maioria das pessoas chega ao posto de saúde com efeitos psicossomáticos”, afirmou durante um evento na sede da Associação Médica Brasileira (aquela que pagou os anúncios exigindo ‘Fora Dilma’), quando aproveitou para passar um pito nos médicos, aconselhando-os a não pedirem tantos exames laboratoriais nem ficar prescrevendo remédios à toa.
“Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários apenas para satisfazer as pessoas”. Em tempo: o SUS, ao invés de ‘satisfazer’, tem deixado muita gente agonizando por não entregar remédios, e o ministério de Barros ainda reclama de uma ‘judicialização’ nos pedidos não atendidos.
Enfim, defender Ricardo Barros é impossível, mas os médicos pediram por isso.
A classe médica satanizou o Mais Médicos. Um programa que levou mais de 18 mil médicos a mais de 4 mil municípios (quando muitos deles não contavam com nem um único médico sequer) e que, de tão ‘ruim’, obteve nota média 9 (em uma escala de satisfação de 0 a 10), segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizado com mais de 14 mil pessoas em 700 municípios.
Infelizmente a medicina (de novo, salvo exceções) parece ter desvirtuado sua motivação primeira de salvar vidas e tornou-se uma atividade calculista.
Não queriam um engenheiro?
Postado em DCM em 17/07/2017
Um arco-íris . . .
A vida fica mais bonita quando aprendemos a apreciar os detalhes,
até os mais simples
até os mais simples
Mísia Morais
Tomei um susto, esses dias, quando percebi que nunca tinha parado para apreciar, de fato, a beleza de um arco-íris. Isso me inquietou. Óbvio, já vi vários arco-íris, mas, em nenhum desses momentos, eu estava ciente da raridade, beleza e simbologia de tal fenômeno.
Sabe aquela impressão que temos, às vezes, de que não éramos maduros os suficiente para dar valor a certas pessoas, eventos e privilégios do passado? De que não soubemos aproveitar certas épocas, de que não tínhamos noção da grandeza de alguns detalhes, de que não tínhamos atentando para a beleza de lugares em que estivemos? É isso que sinto com relação aos arco-íris.
Como pude, eu, deixar passar em branco um arco colorido – meio transparente – abraçando a cidade, perpassando a estrada, presenteando a vista da praia? Como pude não me maravilhar com aquele caminho curvado (multicolorido) que atravessa o céu depois da chuva? O pote de ouro que fica na ponta do arco-íris deve estar entristecido. Ninguém mais o procura, nem sonha com ele. Alguns nem mesmo sabem de sua existência. A gente se deixa esquecer os arco-íris da vida. Esquece-se do pote de ouro que fica em seu fim. Um absurdo, não é? Um pecado sem precedentes.
Isso soará meio louco, mas tenho andado na rua, literalmente, com a cabeça nas nuvens. Não tiro os olhos do céu, na esperança de dar de cara com um arco-íris e tirar esse peso de minhas costas. Poderia chamar essa obsessão de um desespero filopoético, talvez, mas penso que toda essa situação é um lembrete do quanto deixamos passar diante de nossos olhos tanta beleza, sem que prestemos atenção. É preciso se policiar, aguçar os sentidos, entende?
A vida fica mais bonita quando aprendemos a apreciar os detalhes (até os mais simples), os fenômenos, os lugares, as situações cotidianas, as pessoas. Pergunto-me o quanto perdi da vida enquanto estava distraída demais. Ou seria me concentrado demais naquilo que não importa verdadeiramente?
A gente se distrai, concentra-se demais e perde os arco-íris da vida. Mal sabemos nós que um dos potinhos de ouro da existência é a habilidade de saber apreciar o que está ao nosso alcance. De saber valorizar o que temos por perto, de se encantar com as cores que estão em nosso campo de visão, de ver a beleza que está oculta pelo costume e pela rotina.
Enfim, o que importa é que, a partir de agora, eu me esforçarei mais para não deixar passar em branco os próximos arco-íris que comigo cruzarem, sejam eles o que forem. E te desafio a fazer o mesmo.
Postado em Conti Outra
Com a morte na alma, os netos de Vargas
Pedro Augusto Pinho
Em excelente artigo onde narra as esperanças e as transformações sociais após a Revolução de 1930, o jornalista Fernando Brito escreve a expressão “netos de Getúlio Vargas”, feliz síntese dos que nasceram e viveram na e após a Era Vargas (Sei bem de onde vim, de um mundo que estão matando, Tijolaço, 15/07/2017).
As forças, contra as quais lutaram o Exército dos tenentes e uma parte da burguesia brasileira em 1930, são as que tomaram, pelo golpe de 2016, o governo no Brasil. São elas:
(a) os traidores de sempre, aqueles que Barbosa Lima Sobrinho chamava do país dos Joaquim Silvério dos Reis, em contraposição ao Brasil dos Tiradentes, os que hoje propõe a alienação do pré-sal às Chevrons e petroleiras estrangeiras, inclusive estatais de outros países, a entrega do Centro de Lançamento de Alcântara (Maranhão) aos Estados Unidos da América (EUA), a venda de terras brasileiras para fundos financeiros alienígenas, a entrega de aquíferos e outras ações que poderiam ser criminalizadas como traição ao País;
(b) a classe ruralista, sempre saudosa da escravidão legal, pois a real jamais deixou de existir, como demonstram os assassinatos no campo de etnias indígenas e daqueles que nele produzem para sobreviver, lembrando a elite fundiária inglesa dos séculos XV a XVII, invadindo e cercando terras – os grileiros que abundam neste Congresso do Brasil, no século XXI;
(c) os rentistas de toda ordem, quer os proprietários de imóveis urbanos quer os especuladores com valores mobiliários. É ainda pouco conhecida a história da formação urbana brasileira, que professores e pesquisadores, da geração de doutores pós 1980, vem produzindo. Nestes trabalhos vai ficando nítida a importância do comércio de escravos na formação da burguesia urbana, formadora de parte dos rentistas de hoje. Os males causados pela escravidão no Brasil não cessam de emergir das sombras, onde as elites os quiseram ocultar;
(d) a imprensa e os intelectuais vendidos, quer por simples e nada meritórias condecorações quer por valores pecuniários, a depender de sua pouca inteligência ou ambição. No caso da imprensa, hoje, com o domínio da banca (sistema financeiro) em quase todo o mundo, a concentração da produção de informações e o desleixo de profissionais transformam todos em papagaios acríticos – muita propaganda, proselitismo, quase nenhuma informação veraz, fidedigna;
(e) o judiciário que sozinho já mereceria todo artigo. Sua formação vem do feudalismo do Brasil Colônia, quando o primogênito era encaminhado ao bacharelismo. Já se escreveu sobre a República dos Bacharéis, onde se a lei não ajudava o senhor das terras, sua aplicação “corrigia” este lapso. A República dos Bacharéis era a garantia da República dos Coronéis. Hoje os coronéis são a banca, o neoliberalismo que, como ideologia ou por corrupção, domina a cena jurídica, em seguida os mesmos e velhos coronéis do ruralismo e do rentismo urbano, e, pairando sobre a nação, como um urubu, os sempre presentes interesses estrangeiros, quer geopolíticos quer meramente econômicos;
(f) e, não por simples acaso, por último a ignorância, que se reveste de patos amarelos, camisas da seleção de futebol, panelas estragadas e com um profundo e não assumido desconhecimento de si mesma, de suas próprias necessidades como pessoa e cidadão, a classe que se chama média. Esta burguesia que se irritou profundamente quando a pensadora brasileira Marilena Chaui a colocou diante do espelho e a mostrou “violenta e ignorante”. Lembre apenas, caro leitor, que foi ela quem amarrou, no Rio de Janeiro, um pobre ao poste para surrá-lo, macaqueando o escravo que açoitava outro escravo para agradar ao senhor, que pedindo educação votou e vota em quem corta as verbas para o ensino, que se diz democrata mas pede ditaduras, se diz generosa e não dá férias à empregada doméstica etc etc etc. Hoje é esta “incorruptível classe média”, que acha natural dar “um trocado” ao guarda para estacionar em local proibido, que procura o amigo para usufruir de uma vantagem, nem que seja furar a fila, que, com seu comportamento hipócrita, fornece um péssimo exemplo para o Brasil e nos deixa humilhados no concerto das nações – um país com esta dimensão territorial, com tão grande população e uma economia que o coloca entre as dez maiores do mundo. Ser humilhado, como Temer, o golpista, o foi na recente reunião do G20, na Alemanha, é a consequência de sua falta de consciência de si mesmo e do respeito ao outro ser humano.
E qual era o propósito deste avô de todos nós?
Um projeto revolucionário, nacionalista, um projeto perigoso para a civilização cristã e ocidental: o Brasil industrializado, soberano e justo com quem produz sua riqueza: a classe trabalhadora. Um Brasil que se envergonharia de colocar em prisão perpétua um herói, o mais importante cientista nuclear brasileiro, Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, um Brasil que se envergonharia de ter presidindo o Executivo e o Legislativo pessoas que, comprovadamente, cometeram ilícitos penais e pior, condenando, sem provas, o ex Presidente que tirou da miséria 40 milhões de brasileiros; um Brasil que deveria se envergonhar de ir às ruas para aplaudir um agente estrangeiro que, por suas ações, destruiu a engenharia brasileira, quando ela ameaçava, pela competência técnica e gerencial, as congêneres estadunidenses e europeias.
Os propósitos eram a industrialização soberana e não a financeirização; o consumo nacional como prioridade e não o modelo exportador centrado na primarização; a construção da cidadania, com os programas de renda mínima (Bolsa Família), o atendimento à saúde (SUS) e não o incentivo à doença, a construção de moradias, contrariando o rentismo fundiário, o fornecimento de luz para todos, no sentido direto e figurado da construção de escolas técnicas e universidades, dos planos de educação e de cultura nacionais; a soberania nas relações internacionais, sem as humilhações de tirar o sapato para policial em aeroporto nem ser desdenhado em reuniões internacionais; o Brasil e não a banca como ideal.
Enfim, somos os netos de um projeto de País que os maus brasileiros, vocês coxinhas e antipovo, apoiando-se nos traidores e corruptos estão destruindo e impedindo de existir.
François Villon, trovador francês do fim da Idade Média, na célebre Balada das Damas do Tempos Idos (Ballade des Dames du Temps Jadis), concluiu cada estrofe com a pergunta: Onde estão as neves de outrora? E eu pergunto: onde estão os tenentes e a burguesia de 1930? Onde estão nossos operários da greve de 1917?
Postado em Brasil 247 em 16/07/2017
Beatriz Fagundes : Simplicidade, determinação e liberdade
Radialista da editoria de política vive o poder do agora e diz estar feliz
Luiza Borges
Acompanhada da filha Sheila e do neto Davi, Beatriz Fagundes chegou ao local da entrevista usando óculos escuros e vestindo uma estampa florida, que transmitia o momento de astral leve. Ao apresentar o pequeno de dois anos, comenta que ele brincava de desenhar, sinalizando as mãos riscadas de canetinha. O guri sorri, olhando para a avó e com expressão de gratidão, acena um até breve, deixando-a para o bate-papo com o Coletiva.net. A troca de olhares mostra o apreço pela família, pois os netos são uma das razões da boa fase que Beatriz se encontra: livre e conectada apenas ao que necessita.
Divorciada, em nova etapa profissional e de bem consigo mesma, conta que “é sozinha, mas nunca está sozinha”. Aos 61 anos, é avó de três crianças: Davi, de dois anos e Arthur, de sete, ambos filhos de Sheila, que vivem em Porto Alegre; e Gabriel, de 12 anos, filho de Jeferson, atualmente morando em Florianópolis, Santa Catarina. Sobre a saudade e a distância, conta sorrindo: “Os dois são praticantes do taekwondo. Meu filho é mestre no esporte e o Gabriel está seguindo os passos do pai. Fico por dentro de tudo o que acontece, pois fazemos contato via Skype e converso direto com eles”, comenta, aliviada com as facilidades das tecnologias.
Criada com mais quatro irmãos, Vera, Iara, Matheus e Henrique (já falecido), se recorda da infância em São Leopoldo, onde viveu até os nove anos. “Sou do tempo em que criança brincava na rua, subia em árvores, andava de bicicleta. Eu e meus irmãos nos divertíamos muito”, relembra. Estas boas recordações se mesclam a um acontecimento que marcou a vida de Beatriz. Filha de capitão do exército, acompanhou de perto o clima de repressão durante a ditadura militar, em 1964.
Ela tinha nove anos quando seu pai, Matheus Gonçalves Fagundes, ficou quase 100 dias desaparecido. Ao retornar para a casa, após ser torturado e 20 quilos mais magro, era quase que irreconhecível. A lembrança despertou o interesse da jovem em entender o que era governo. “Queria saber quem tinha o poder de fazer aquilo com uma pessoa. Quem mandava? O que fazia e por quê? ”, conta. Desde então, passou a ler e pesquisar muito, e assim a ligação com a política foi ficando mais forte.
A radialista
Beatriz tornou-se uma mulher determinada e corajosa. O envolvimento com a ciência política acabou se transformando em profissão. Em 1984, o então marido que trabalhava na Rádio Guaíba ficou sabendo de uma oportunidade para produzir o programa do jornalista Lasier Martins. Candidatou-se e conquistou a vaga de produtora-executiva. Durante um ano e meio, foi responsável pelo conteúdo do Guaíba Revista. Foi durante esta época que, por conta de uma situação inusitada, Beatriz entrou no ar. “Eu estava com a escritora Rose Maria Muraro que ia divulgar sua obra ‘A vida sexual da mulher brasileira’. O Lasier chegou no estúdio e, sem explicar o porquê, disse que não ia fazer o programa e foi embora. Fiquei desesperada, mas encarei e apresentei a atração. Fui lá e fiz. Estava quase tendo um chilique, pois ele foi embora e não tive chances de conversar e pegar instruções. Não consigo me lembrar de nada do que falei, mas deu tudo certo”, relata, sorrindo. Deste dia em diante, a radialista de coração trocou a produção pelos microfones e entrou de cabeça no mundo do jornalismo político.
Quando decidiu por este caminho, a questão do nome foi colocada em pauta. Na época, haviam duas figuras femininas se destacando no meio da comunicação, que eram Tânia Carvalho e Magda Beatriz. Então, de Tânia Beatriz passou a se apresentar como Beatriz Fagundes, para diferenciar. A radialista teve experiências futuras na Rádio Gazeta, onde conheceu Nelson Marconi, profissional a quem destaca como ótimo e uma pessoa muito bacana. “Iron Albuquerque foi quem abriu a rádio Gazeta. Ele era outra figura louca, mas que considero sensacional”. Trabalhou ainda durante oito anos na Rádio Pampa e atuou por seis meses na Rádio Bandeirantes.
Como referências na profissão, admira dois profissionais: no Rio de Janeiro, tem Cidinha Campos, que conheceu e por quem despertou um grande carinho. Já no Rio Grande do Sul, Jorge Alberto Mendes Ribeiro, com o qual também teve a oportunidade de trabalhar, era a inspiração. “Eu o achava um cara sensacional”, resume. As influências que tornaram Beatriz a profissional que é vieram de vários cantos. “Tu vai como um beija-flor, pega um pouco do néctar de cada um e cria o teu ser”.
Abertamente de esquerda
Seu posicionamento esquerdista dificultou algumas relações profissionais. “Quando meu contrato com a Bandeirantes se encerrou, fiquei um tempo analisando. Sou de esquerda abertamente e isto me tirou um tempo do mercado”. Foi, então, que veio a experiência na Rádio Real, de Canoas, a qual resume como “uma boa fase”, pois ia de trem e aproveitava para ler muito no trajeto para a rádio. Trabalhou lá durante sete anos, até Lula ser eleito presidente do Brasil, em 2002, quando voltou para a Pampa a convite do vice-presidente da emissora, Paulo Sérgio Pinto.
Foram anos de conversas e contato com grandes figuras da política brasileira. Algumas situações inusitadas ocorreram, lembradas com muito bom-humor pela radialista. Certa vez, estava no ar com os convidados – uma psicóloga e uma sexóloga. Antes de entrar os comerciais, recebeu o sinal do operador de som e falou: ‘Vamos a um breve intervalo sexual e já voltamos’. A gafe passou batida por todos que estavam presentes no estúdio. Mas, de repente, mensagens dos ouvintes começaram a chegar com diversas brincadeiras. Eles falavam: ‘nossa, mas que rapidinho. Já voltaram’. Os comentários aumentaram e, quando entenderam o que aconteceu, foi uma diversão que só.
Manawa, o momento do poder é o agora
“Eu vivo o hoje. Nós não temos o controle da vida. Temos o poder do sim e do não, mas no agora”, garante, ao ponderar que espera um futuro com saúde para continuar fazendo o que a faz bem, sem se preocupar se vai ser rica ou famosa, mas desejando poder fazer o que quiser fazer. “Quero poder tomar as decisões que tenho vontade”.
Atualmente, Beatriz se dedica a um projeto pessoal: a Rádio Web Manawa, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h, tem no comando a voz da locutora. Fundada em fevereiro de 2016, o veículo traz em sua programação o debate sobre política, é claro, mas também aborda questões atuais, sempre sugeridas pelos ouvintes que participam com bastante frequência. O nome Manawa é inspirado em um dos sete princípios da filosofia havaiana Huna, que entende que o poder vive no agora. Adepta da doutrina, ela explica: “A Beatriz que saiu de casa para vir aqui já não existe mais, a que vai sair daqui ainda nem existe, mas esta que está aqui agora é real”, diz. Beatriz conheceu a filosofia em 1996, através de amigos. Mas foi no ano de 2000, quando sofreu com uma depressão sem explicação, que reencontrou na Huna sua salvação.
Seu programa de rádio é transmitido em um estúdio simples, em estrutura montada na própria casa. “Até cheguei a abrir um espaço fora, mas achei desnecessário, pois consigo entrar no ar e fazer um bom trabalho de casa”. A Manawa conta com a participação dos amigos ouvintes e internautas. “Há uma incrível troca de informações. Abro espaço para a opinião dos ouvintes e eles mandam vídeos, enviam sugestões de pauta, sentem-se e fazem parte do programa”, conta, bastante alegre. Ela trabalha com o que gosta. Viveu muitos momentos bons, realizou diversas entrevistas interessantes sobre assuntos variados como. Isso a faz feliz, pois adquire muito conhecimento. Para ela, o rádio tem que ser companheiro, e o locutor acaba sendo um amigo para o ouvinte.
Momento total zen
Amante de tudo o que envolve energia positiva, Beatriz gosta de absorver informações que vão da astrologia a numerologia, áreas que se identifica muito. “Às vezes, o ser humano passa a vida inteira sem realmente se conhecer. E isto não tem a ver com idade, nem gênero. Existem pessoas que já possuem uma certa idade e muitas experiências, mas ainda não se conhecem de verdade. Estudar a tradição do xamanismo havaiano, entender a Huna me fez olhar as coisas de outro modo.” A liberdade de espírito proporcionou a seguinte maneira de pensar e agir: temos 100% de liberdade em nossas vidas, mas sobre estas escolhas, temos 100% de responsabilidade.
Em sua rotina, Beatriz fica no ar durante a manhã, pela Rádio Web Manawa. Após três horas online, geralmente fica cerca de 30 minutos em silêncio, realizando mantras, que têm como objetivo proporcionar um descanso para o cérebro. “O momento político está um lixo e as energias pesadas estão circulando. A cabeça vira uma reciclagem deste lixo e temos que trabalhar isto, diariamente. Às vezes até acabo dormindo um pouco”.
Mesmo com tantas coisas boas acontecendo na vida, ela não se sente completamente realizada, pois acha que ainda falta algo. “Não sei o que é, ainda não parei para analisar isto. Mas é exatamente por isso que, quando acontece algo bom, eu comemoro. Não me apego. Prefiro que a vida me surpreenda”, afirma, ressaltando que é bom ter metas, mas não se pode ser refém delas.
Longe do microfone
Quando está distante do estúdio, existe uma mulher que não gosta de viver em caixinhas. Eclética em todos os gostos, vai de fases em que aprecia desde uma boa feijoada até a leve salada. Mas confessa não ter frescura, pois come de tudo. “Estou aqui tentando lembrar de algum alimento que eu não comeria de jeito nenhum, mas não consigo”.
Sem religião definida, é adepta do que faz o bem. Lê sobre tudo, daquelas que não deixa escapar nem bula de remédio. Gosta dos livros de autoajuda, mas também lê Shakespeare, Paulo Coelho. Quando o assunto é música, acha mais fácil citar os estilos que não aprecia: funk e heavy metal. Ou seja, dependendo de como estão seus sentimentos no dia, escolhe a trilha sonora. Sobre cinema, cita o filme ‘Central do Brasil’ como referência e elogia: “Foi uma baita denúncia sobre a miséria mental do País”.
Exploradora nata, se pudesse escolher outra profissão, seguiria o ramo de turismo. Amante das trilhas no meio da natureza, já foi daquelas aventureiras e fez muitas trilhas pelo interior do Rio Grande do Sul, apesar da estreia ter acontecido quando morava no Rio de Janeiro e subiu, pela primeira vez, a Pedra da Gávea.
Colorada desde criança, foi a única da família que optou torcer pelo Internacional. Não sabe explicar o porquê, mas diz que a paixão nasceu com ela. “Meu pai era gremista doente. As pessoas contam que, quando queria ganhar alguma coisa, eu dizia que era gremista. Quando conseguia o objetivo, voltava a ser colorada”, recorda, soltando uma gargalhada. Sempre brincando, é uma mulher de astral contagiante.
Para conquistar a amizade de Beatriz, é preciso ter um papo bacana e ser bem-humorado. “Sou daquelas que perco o amigo, mas não perco a piada”, comenta, rindo novamente. Quem quiser manter o contato com ela, deve evitar agir com hipocrisia e falsidade, pois são características que a tiram do sério. “Quando sinto estas energias, até me afasto para não julgar.”
Humilde no que se refere à aparência, tem a mania de se vestir confortavelmente. “Adoro usar chinelo e abrigo. Por causa disso, as pessoas me veem e perguntam se estou bem. Minha característica é andar ‘esgualepada’. Gosto de estar o mais simples possível”. E com estas palavras ela termina o bate-papo, quando, sorrindo, diz: “E é isso. Em resumo, eu sou o máximo”.
Postado em Coletiva.net em 14/07/2017
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