Em 2017 um inverno aveludado



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10 mulheres maravilhosas que todo mundo precisa conhecer hoje





Tuka Pereira



Nem todas as pessoas que realizam trabalhos incríveis e que deveriam ser reconhecidas por eles recebem Oscar, Pulitzer, Emmy, Nobel ou são capas de revistas e destaque em jornais.

Por conta disso, fizemos uma lista de 10 mulheres maravilhosas que desenvolvem trabalhos diversos que vão desde combate ao racismo, machismo tortura e assédio, a incentivo à leitura, empoderamento na terceira idade, representatividade, maternidade e outros assuntos imprescindíveis ao mundo. Se você ainda não as conhece, já passou da hora faz tempo.

1. Täo Porchon-Lynch


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Aos 98 anos de idade, a professora de ioga serve de inspiração para qualquer pessoa que ouse abrir a boca para dizer que é velho demais para fazer qualquer coisa. Nascida na Índia, mas vivendo nos EUA desde muito jovem, Täo prática a modalidade há 90 anos. E olha… ela poderia reclamar se quisesse, pois possui três próteses de quadril. Mesmo assim usa saltos e ainda dirige. Confira seu Instagram: @taoporchonlynch






2. Jesz Ipólito


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Jéssica Ipólito é militante do movimento negro e adepta do feminismo interseccional – que reconhece as diferenças entre as mulheres e respeita todas as lutas: de gênero, de raça e de classe social. Ela é autora do blog Gorda e Sapatão onde discute temas importantes como quebra de estereótipos, diversidade, entre outros assuntos imensamente relevantes. Confira seu Instagram: @jeszzipolito



3. Luiza Junqueira


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Luiza Junqueira é uma das principais vozes de combate à gordofobia na internet. Dona do canal “Tá, querida!“, que hoje conta com cerca de 100 mil assinantes no YouTube, ela aborda de maneira bem humorada temas como roupas justas, estrias, amor próprio, receitas e fala basicamente sobre o que bem entender. Confira seu Instagram: @luizajunquerida





4. Ana Paula Xongani

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Ao lado de sua mãe Cris, uma costureira de mão cheia, Ana Paula criou a Xongani, marca especializada na venda de brincos, colares, turbantes e outras peças inspiradas nas cores, estampas e cultura africanas. Cada item é desenhado para exaltar a beleza da mulher negra e são produzidos com materiais importados do Moçambique e de outros países africanos.


Ana também possui um canal no YouTube onde discute sobre empoderamento da mulher negra, autoestima, dá dicas de beleza e, obviamente, moda. Confira seu Instagram: @anapaulaxongani





5. Larissa Luz


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Dona de uma voz poderosa, a baiana de Salvador ficou conhecida quando esteve à frente do bloco afro Ara Ketu. Ao decidir partir para carreira solo, pôde explorar novas vertentes para sua música e passou a abordar temas importantes em seu repertório. Hoje, usa suas próprias experiências para cantar contra o racismo, o patriarcalismo e o assédio, incentivar a representatividade e exigir respeito. Confira seu Instagram: @larissaluzeluz




6. Dona Onete


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Ionete da Silveira Gama foi professora de história e se aposentou na profissão dando aulas nas escolas do Pará. Começou a cantar carimbó (que sempre foi sua paixão) como passatempo, mas sua carreira foi tomando ‘vida própria’. Hoje, aos 77 anos, dona Onete, como ficou conhecida, se transformou num dos maiores talentos da música popular brasileira. Ela é reconhecida no Brasil e no exterior e é a prova viva de que não há idade limite para praticamente nada nesta vida. Confira seu Instagram: @ionetegama






7. Nátaly Neri


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Nátaly Neri tem apenas 23 anos e, através de seu canal no Youtube, Afros e Afins, discute de maneira simples e direta assuntos que vão desde beleza a empoderamento. Com mais de 190 mil inscritos, ela utiliza a plataforma sobretudo para conscientizar sobre questões raciais importantes que não podem mais ser ignoradas. Confira seu Instagram: @natalyneri




8. Tatiana Feltrin

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Em um mundo onde youtubers discutem sobre assuntos tão diversos, Tatiana escolheu um segmento que pode ser considerado bastante inusitado para ser debatido nesta plataforma: a literatura. No canal Tiny Little Things ela possui mais de 230 mil assinantes que esperam ansiosamente pelas resenhas que faz de clássicos a best sellers e até quadrinhos. Conteúdo inteligente, criativo e imperdível. Confira seu Instagram: @tatianafeltrin




9. Maria Clara de Sena


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Negra, pobre e mulher transexual, ela passou por muitas dificuldades e chegou a recorrer à prostituição para sobreviver. Hoje, por meio de seu trabalho no projeto Fortalecer para Superar Preconceitos, da ONG de direitos humanos Grupo de Trabalhos em Prevenção (GTP), ela ajuda mulheres trans detentas. Ela ainda é funcionária do Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, órgão pernambucano que segue recomendações da ONU. Confira seu Instagram: @mariaclaradesena.





10. Helen Ramos


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No canal Hel Mother, Helen fala sobre maternidade sem papas na língua. De maneira descontraída e bem-humorada ela ajuda outras mães discutindo situações que ainda são consideradas tabus – como criar filhos sem a presença de um homem – e desromantiza a maternidade debatendo também o lado ruim de ser mãe. Confira seu Instagram: @helmother




Postado em Hypeness

Individualismo, a aceitação do outro e a condição humana





Rafael de Paula Aguiar Araújo

Tenho pensado um bocado sobre a forma como temos construído nossos projetos de vida e escolhido nossas ações. Uma série de ideias e algumas situações vividas recentemente me levaram a pensar essas coisas que gostaria de compartilhar aqui. Sempre tenho comigo que a rede social possa servir para levar uma nova perspectiva a alguém, quem sabe essas palavras não disparem reflexões?

Na semana passada, durante uma aula, conversávamos sobre dois conceitos de Max Weber, a ética da responsabilidade, que aponta para ações coletivistas, e a ética da convicção, que aponta para ações individualistas. E falávamos da forma como o universo tecnológico ampliou nosso isolamento. Ao mesmo tempo em que fiquei ruminando essas ideias, dando forma à relação que guardam entre si, olhava para os absurdos que estamos presenciando a nossa volta. 

A cada dia vemos exemplos de intolerância, que resultam de posicionamentos austeros, convictos. Será que esse movimento tem a ver apenas com o despreparo político, ou com enfrentamentos ideológicos, ou terá a ver com escolhas pessoais, que se voltam ao miúdo do dia a dia, aos nossos projetos e vontades?

Eu entendo que é muito importante tentarmos compreender como nossas ações, por inofensivas que pareçam, desencadeiam ações nos outros, de tal forma que da mesma maneira que um gesto de carinho resulta na felicidade de alguém, nossas atitudes contribuem, voluntária ou involuntariamente, para situações de injustiça. Aqui me refiro à desigualdade racial, de gênero, de classe e tantas outras assimetrias sociais que fingimos não nos dizer respeito.

Quando menciono o universo tecnológico não estou falando apenas da presença das máquinas, não se trata disso. É a produção de uma subjetividade nova, uma maneira de estar no mundo que conspira para o isolamento e para a velocidade, dentre outras coisas. Não temos mais tempo para depurar o impacto dessa aceleração. Tudo é feito para que não tenhamos disposição para pensar nessa nova realidade. A aceleração a que nos submetemos resulta em uma série de impactos, mas um essencial é a forma como ela nos impele ao individualismo.

Na verdade, com esse pensamento martelando minha cabeça, e vendo a intolerância das pessoas nas ruas e nas redes, me ocorreu que temos praticado uma imensa inversão de valores. Saímos de peito estufado enaltecendo o amor próprio. A importância de nos amarmos mais do que a qualquer outra pessoa. 

No trabalho, somos convidados a dar glória ao self made man, ao empreendedorismo de si. No debate político, somos prisioneiros de nossas opiniões, temos uma enorme dificuldade de aceitar uma ideia diferente a ponto de sequer arriscarmos pesquisá-la. Temos as verdades e estamos dispostos a defendê-las até a segunda página. A mesma dificuldade que temos de aceitar o outro, em suas diferenças culturais e étnicas, temos em aceitar suas ideias. Assim jamais construiremos consensos verdadeiros.

Na verdade, um projeto civilizatório não pode se sustentar com indivíduos. O que nos faz humanos é a relação que construímos com o outro. A política não nasce conosco, ela nasce entre nós. Quando um valor individual é colocado acima do coletivo, corremos o risco da intolerância e do autoritarismo. Basta dar uma olhada nas opiniões que circulam por aí, a visão que tem sido construída sobre os tantos fatos absurdos que temos vivido recentemente, para se ter a percepção de que estamos no caminho errado. Fizemos apostas erradas.

A condição humana está na relação com o outro necessariamente. Não há como escapar disso. Em todas as situações em que esse dado é desprezado o que temos é a ideologia operando silenciosamente, construindo valores mancos que nos fazem ser individualistas.

Não estou dizendo que não devemos ter amor próprio e cuidar de nós mesmos. O que estou dizendo é que se a essência do ser humano edifica-se na relação com o outro, não faz sentido que exista um amor próprio que ignore o outro.

Num mundo em que tudo conspira para que sejamos individualistas, para que tenhamos nossas metas pessoais e as persigamos, temos vergonha de precisar de ajuda e dificuldade de reconhecer a importância que o outro tem para nossa existência.

É irônico que a experiência de vida nos revele isso. Os mais velhos têm uma sabedoria sofrida, aprendida na carne, que eu mesmo só conheço aos pedaços ou através dos simulacros que os livros oferecem. Mas, talvez, a grande sabedoria que possamos tirar da vida seja compreender a importância de viver em função do outro. Ter alguém para cuidar e poder conhecer-se a cada vez, a cada movimento realizado, e ver no outro um espelho em que nos enxergamos.

Não acho que é uma experiência que se aprende através das fórmulas dos terapeutas, não é algo que se aprende com conselhos ou lendo textões na internet. É um saber que se faz na intersecção do agir com o pensar. Implica o esforço de olharmos para nós mesmos e aceitarmos nossos limites com o parâmetro que os outros nos oferecem. É uma experiência que se aprende, por exemplo, com um filho. Mas também com a amizade ou um amor sincero a alguém. Tomar a vida do outro como parte da sua e cuidar. Ao cuidar do outro, cuidamos de nós mesmos.

Esse cuidado aprendemos em nossas relações, mas de uma forma ou de outra essa aprendizagem, ou a ausência dela, também se mostra quando nos voltamos a ações coletivas e mais amplas. Se a palavra cultura vem de cuidado (colere), não será possível afirmar uma cultura individualista, ela nos faria objetos de um engenhoso sistema que o mundo do trabalho construiu. Ele nos percorre as veias e penetra nossa percepção a ponto de naturalizá-lo. Não há dignidade no trabalho de exploração, muito menos em tudo o que se constrói em torno desse universo.

A moda, o consumo, o lazer e a maior parte de nossos desejos são distrações de nós mesmos, mas há uma dificuldade imensa em nos retirar de um sistema tão totalitário, que é alimentado todos os dias pelos jornais, novelas e filmes. E, então, afirmar que a essência da existência humana deva estar na relação que cultivamos com o outro soa como algo romântico.

É importante que possamos viver uma ética de responsabilidade, ponderando as consequências de nossas ações para os outros, e não uma ética de convicção, quando nos conformamos em viver uma máxima qualquer. Como é possível que haja uma cartilha pronta para a vida, com a lista de experiências pelas quais devemos passar, se os sentidos devem ser construídos em conjunto?

Agir em nome de uma convicção é, de alguma forma, correr o risco de ser individualista. Simplesmente porque não há uma ação que não seja movimento e que não exerça influência no outro. Não sentir em nós a influência do outro é também uma maneira de recusarmos nossa humanidade. E para não assumirmos essa nossa limitação, entoamos convicções. De onde surgiram? Se foi da experiência, ótimo. Mas a experiência está cada vez mais rara, vivemos o mundo pela mediação da tela, pelas frases feitas e através de valores desvalorados.

Não aceitar que nossa vida deva ser em função do outro é viver em uma zona fronteiriça. Nesse limite, vivenciamos um problema que às vezes se nos mostra na forma da tristeza e da depressão, às vezes se esconde na forma da alienação. A rigor, trata-se de abrir mão da experiência gratificante do cuidado, do ser dois em um. Acho que o humano é isso. Demora a perceber, mas a verdade é que o universo simbólico que nos faz humanos é sempre alimentado pelo outro. Por isso é triste quando abrimos mão do outro pela máxima do amor próprio. Não porque não devemos nos amar, mas porque não percebemos que sem o outro nunca nos amaremos verdadeiramente.

Acho que pensar em nossas experiências pessoais pode dar materialidade a essa sensação. É um exercício importante que, me parece, devemos fazer sempre. Eu tenho pensado muito nisso ultimamente. O próximo passo é perceber que ao falarmos disso estamos também falando da política e da forma como organizamos nossas cidades, nossas relações sociais e nossas instituições.

Eu acho que os horrores que temos vivido recentemente, políticas desastrosas que aviltam direitos, gestos de ódio e intolerância, discursos carentes de pensamento, resultam de uma incapacidade de agir pela qual optamos. Nossa incapacidade de compreender o absurdo e de sentir a náusea nasce desse treino constante de olharmos para nós mesmos sem conseguir sentir em nós o papel exercido todos os dias pelo outro. E esse sentimento não é passivo. Não é algo que devemos aguardar sentir. Ele deve partir de nossa consciência e ser construído ativamente, sem preguiça, avaliando os benefícios de sermos humildes no reconhecimento de nossas carências.

Ao final da escritura desse texto me lembrei de um livro do Richard Sennett que gosto muito: Carne e Pedra. E lembrei-me de um trecho que transcrevo aqui: "Escamotear os problemas enfrentados pelos cidadãos de uma cidade multicultural revela um empecilho moral de inspirar sentimentos calorosos e espontâneos ao Outro. A simpatia corresponde ao entendimento de que as aflições exigem um lugar em que possam ser reconhecidas e onde suas origens transcendentes sejam visíveis. O sofrimento físico possui uma trajetória na experiência humana. Ele desorienta e torna o ser incompleto, derrota o desejo de arraigamento; aceitando-o, estamos prontos a assumir um corpo cívico, sensível às dores alheias, presentes, junto às nossas, na rua, finalmente suportáveis - mesmo que a diversidade do mundo dificulte explicações mútuas sobre quem somos e o que sentimos (...)".

Quando nos metemos a ler esses autores e a buscar compreender a sociedade e o que é a condição humana, inevitavelmente nos vemos nessa cilada. É libertador e angustiante ao mesmo tempo. Sennett nos diz a partir da experiência com a metrópole, e com todo aquele universo tecnológico a que me referi no início, que o sofrimento físico possui uma trajetória na experiência humana.

E é passando por essa experiência do sofrimento que podemos abrir os olhos e compreender o outro como parte do que somos. Isso até pode resultar em uma sincera devoção fraterna, tão importante em uma sociedade desigual como a que construímos.

Mas me parece importante, antes de qualquer gesto, que possamos compreender que não é possível cuidar de si sem o cuidado com o outro. É nesse entregar-se que reside nossa humanidade e é a partir dela que podemos concretizar nosso civismo e frear o individualismo.



Rafael de Paula Aguiar Araújo tem doutorado em ciências sociais e pós-doutorado em ciências da comunicação, docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da PUC-SP, pesquisador do Núcleo de Estudos e Arte Mídia e Política






Diretas já !









Copacabana  por  Diretas Já



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O poder do exemplo



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Amigo de si mesmo





Martha Medeiros

Em seu recém-lançado livro Quem Pensas Tu que Eu Sou?, o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. 

Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como Se o Cigarro de García Márquez Falasse, Somos Todos Estranhos ou A Crueldade é Humana. Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha. Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirilimpimpim.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: “Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância. Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. 

Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.