Lelê Teles
Os caras têm o presidente da república; mesmo que empurrado goela abaixo, feito um foie gras.
Têm maioria na câmara e no senado.
Têm maioria no stf.
Contam com a omissa conivência do MPF e da PGR.
Ofendem a constituição, burlam as leis, subvertem a ordem.
Tudo para o seu bel prazer.
Governam os estados mais importantes, economicamente falando.
Se servem da bajulação da grande mídia que, de brinde, ainda comete assassinato de reputação de seus adversários.
Comandam uma malta de midiotas que cagam ódio nas redes sociais, intoxicando corações e mentes.
Debocham, escarnecem, tripudiam.
São - estes que aí estão - frutos do espírito de um novo tempo.
E, como sabemos, são tempos trevosos.
Estes intransigentes brucutus demofóbicos - os tais homens de bens - são também carolas de fachada, dizimistas desalmados, papa hóstias fingidos...
Cristãos de tabernáculo, em suma.
Do cristo, seguem apenas o exemplo da cruz, onde o mestre perdoa o "bom" ladrão.
São discípulos deste e não daquele.
São corruptores, corruptos, machistas, sexistas, sexólatras, misóginos, racistas, classistas, ególatras...
Umas bestas-fera.
E chegam - oh, opróbrio! - com uma fome de anteontem.
São vorazes.
Devoram tudo que veem pela frente; como cupins.
E o diabo é que eles estão em quase todas as partes.
Ontem mesmo descobrimos, durante o churrasco da família, alguns deles entre nós.
Agora, como pokémons, eles surgem em nossa frente na faculdade, nas redes sociais, nos púlpitos, nas cortes, nas praias, nos programas de tv, na balada...
E o pior, aqui e nas estranjas.
Esse pandemônio já é uma pandemia.
São as sementes do desamor esparramadas mundo afora e que agora frutificam também por estas paragens.
Espalham-se, contagiam...
Emergiram do limbo quais criaturas sombrias, soturnas, enigmáticas.
Estão sempre com um sorriso cheio de ódio a rasgar-lhes os lábios.
Amam odiar.
Sentem ódio todos os dias, como quem sente sede e fome.
E estão sempre sedentos e insaciáveis.
Estupram, espancam, humilham.
A antítese da mulher sujeito é o homem abjeto.
E é este que agora volta ao poder, o macho branco e machista.
Welcome to the trump land.
Negam qualquer alteridade. São contra o outro, o outro é sempre um inimigo a ser destruído.
Detestam o estrangeiro de pele escura, querem extinguir o índio nu e prender o homem de pé descalço ou que pede esmola.
Estes, eles matam e esfolam.
No campo, como na cidade, mandam e desmandam, matam e desmatam.
Truculentos, dão carteirada, mentem, omitem, chutam a porta, arrancam pelos cabelos, se apropriam das cadeiras e das canetas, tomam de conta do pedaço.
Nunca imaginávamos que eram tantos.
E em pouco tempo - se o grande meteoro não vier - confirmarão sua ubiquidade.
Um trump aqui, uma le pen ali.
Um temer cá, um macri acolá.
Eles...
Eles...
Quê que eu tava pensando mesmo?
Questões enigmáticas.
Lelê Teles - Jornalista, publicitário e roteirista
Postado em Brasil247 em 08/02/2017