A felicidade segundo Zygmunt Bauman



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O filósofo Zygmunt Bauman, morto no último dia 9 aos 91 anos, falou com Valeria Arnaldi, do jornal italiano Il Messaggero, sobre felicidade. Foi uma de suas últimas entrevistas. A tradução é do Unisinos.

Professor Bauman, o que significa hoje “felicidade”?

A declaração de independência americana proclamou, entre os direitos invioláveis do ser humano, a sua busca: um marco para a civilização ocidental. As ideias de felicidade são muitas, mas que podem ser remetidas a duas categorias. A visão mais popular é a de uma vida plena de momentos agradáveis, sem problemas e desafios. A outra nos foi mostrada por Goethe. Já idoso, ele foi perguntado se a sua vida tinha sido feliz. Ele respondeu que sim, mas que não se lembrava de uma única semana em que o tivesse sido. Isso implica que ser feliz não significa não ter dificuldades, mas superá-las.

A atualidade mudou essas visões?

Definir o que significa ser feliz é muito complexo. A própria ideia de felicidade parece conter em si o pressuposto da sua não existência no mundo. A felicidade deve ser conquistada, mas, no nosso sistema de consumidores, vendem-se promessas de promessas de algo que nos fará nos sentirmos melhor. O mercado, em teoria, deveria aspirar a satisfazer todas as necessidades.

Na prática, porém…

Satisfazer os consumidores, na realidade, é o pesadelo do mercado: envolveria não ter mais nada para vender. Os especialistas, portanto, sabem nos manter continuamente insatisfeitos. A publicidade nos promete que seremos felizes com o novo celular, por exemplo, mas ela tinha feito o mesmo para o modelo anterior e vai refazer o mesmo para o posterior. Porém, milhões de pessoas correm para comprar.

O capitalismo está condenado, portanto, à infelicidade?

A atitude do sistema encoraja a ideia de que há algo que pode resolver todos os problemas e alimenta constantemente tal convicção. Isso torna os momentos de felicidade muito curtos. O problema é que somos constrangidos a gastar o dinheiro que ainda não ganhamos para comprar coisas das quais não precisamos para impressionar pessoas que não nos importam muito. Esse é o caminho para alongar os momentos de infelicidade.

É preciso repensar o nosso modo de nos imaginarmos satisfeitos?

É preciso redescobrir o prazer de comunicar. Eu não me refiro aos tuítes, mas a conversas de verdade. Há uma grande diferença entre encontros virtuais e tradicionais. Para voltar aos acontecimentos ao estilo antigo, cada um deveria diminuir as suas próprias demandas, mas o mercado tenta levantar as expectativas e faz isso nos forçando a pensar, desde crianças, que cada momento de felicidade deve ser melhor do que o anterior. Cada instante desperdiçado é uma chance de felicidade perdida.

A sociedade líquida ainda é capaz de ser feliz?

A ideia da sociedade líquida é de que nada permanece por muito tempo. Vivemos em um mundo de constante novidade, em que envelhecemos cada vez mais rápido do que antes. Estamos em um espaço vazio. Gramsci definiu essa situação como um interregno em que as velhas regras desapareceram, e as novas não foram inventadas. Isso gera ansiedade.

E para que cenários a ansiedade nos leva?

Quando eu era estudante, os professores diziam que aprender nos torna mais ricos. Eu acho que a cultura contemporânea não está mais fundamentada na capacidade de aprender, mas de esquecer. Para aprender outros conceitos, você deve eliminar os velhos. A maior qualidade seria, por isso, a habilidade de esquecer. Na Itália e na Espanha, vê-se menos isso. Na França, Alemanha, Inglaterra, a questão é evidente e é uma reação ao medo.

A crônica nos revela que muitos gostariam de respostas mais duras por parte da política: o medo está criando espaço para o retorno de regimes fortes?

Estamos voltando 200 anos atrás nas lutas por democracia e liberdade. Agora, desejam-se mais regras. Segurança e liberdade são valores fundamentais para a dignidade humana. A segurança sem liberdade é escravidão. A liberdade sem segurança é um tipo de deficiência. As pessoas, por séculos, procuraram equilibrar as coisas, e isso não funcionou. Cada passo em frente para a liberdade requer que se renuncie a uma parte da segurança. Cada passo rumo a uma maior segurança envolve renunciar a um pouco de liberdade. Não há um caminho direto para ter cada vez mais de uma ou da outra. É um pêndulo que oscila, empurrando para a mudança.

Hoje, oscilamos para a segurança.

Muitas pessoas, em diferentes partes do mundo, parecem ir na direção da renúncia a mais liberdades em favor da segurança, desejando uma situação mais estável. É a tendência atual. Ainda estamos em uma sociedade líquida, mas em que nascem sonhos de uma sociedade menos líquida.



Postado em Diário do Centro do Mundo DCM em 11/01/2017



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Na dúvida … seja generoso. Na certeza … seja ainda mais !



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Ana Macarini


A generosidade é o real milagre do coração humano que consegue, por alguns instantes, parar de bater em causa própria para bombear algo além de sangue. Generosidade é a única cura possível para a doença comportamental do isolamento afetivo.

Não se trata apenas de envolver-se em ações concretas de doação, como contribuir com dinheiro, alimentos, roupas ou remédios para pessoas em situação de emergência, penúria circunstancial ou crônica.

É isso também. Posto que gente com fome, com frio, doente ou privada de qualquer necessidade básica de sobrevivência, torna-se vulnerável tanto física, quanto psicológica e moralmente.

E no caso de estarmos em situação mais favorável, isso faz de nós gente potencialmente capaz de estender a mão, alongando para além do corpo físico uma extensão de humanidade, que além de nos fazer evoluir, oferece ao outro, condições de ultrapassar as situações de sofrimento com um tantinho a mais de substrato humano.

A desigualdade nas condições de vida, tão explícitas, já seriam um incentivo mais do que suficiente para fazer brotar no peito da gente o calor daquilo que, sem nenhuma sombra de dúvida pode ser chamado de amor.

Ser capaz de ter empatia pelo outro – e tanto faz se esse outro encontra-se geograficamente ao nosso alcance ou do outro lado do planeta -, é condição básica para que tenhamos direito a essa tal de felicidade.

Essa gloriosa sensação de bem-estar e plenitude pela qual vivemos obcecados, acaba sendo constituída por uma situação extremamente frágil e efêmera se, o que nos mover para alcançá-la for tecido apenas por recompensas individuais.

Dito assim, isso parece até meio óbvio. Mas não é. Isso é nossa maneira automatizada de lidar com as demandas da vida, regidos por um funcionamento vazio de conteúdo, de significado e de valor humano agregado.

O nosso alívio e solução para essa vidinha tacanha de trabalhar para juntar coisas, está justamente na mudança de foco. Olhar em redor com o mesmo interesse que olhamos para as coisas que tanto cobiçamos ter.

Sentir pelo conforto do outro uma responsabilidade voluntária e amorosa que nos faça dar um passo adiante; não em direção ao topo, mas em crescimento espiritual que nos envolva numa jornada menos solitária.

A vida é mesmo tão breve, não é?! E sendo breve, não precisa ser curta. Curta no sentido de passar voando a ponto de ficarmos perdidos numa vertigem de interesse autocentrado e frio.

Ser generoso é descobrir alegria em algo que se faz interessado no bem além de nós, sem nenhum interesse pessoal. Pode ser algo que, de tão simples, torna-se genial. Ouvir. Enxergar. Compartilhar. Silenciar. Oferecer. Respeitar.

Na dúvida, seja generoso. Esqueça as desculpas prontas de falta de tempo, excesso de obrigações e escassez de recursos. Na certeza, seja ainda mais! Afinal, é na partilha que multiplicamos a chance de encontrar o real significado da vida; uma vida plural que venha nos salvar desse isolamento afetivo que nos endurece e paralisa.



Postado em Conti Outra 






Olhem o talento destes dois guris do meu Rio Grande do Sul
















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