Numa sociedade que humilha, os gentis ainda encontram seus caminhos




Carolina Vila Nova

Não bastassem os bullings da infância e as dificuldades de sermos aceitos na fase adolescente, com o tempo percebemos que durante toda a vida iremos encontrar pessoas e situações com alto potencial e desejo de nos humilhar. Não importa em que idade estejamos, estaremos sempre sujeitos a passar por esse tipo desagradável de situação. Infelizmente faz parte da sociedade em que vivemos.

A dureza com que algumas pessoas foram tratadas em suas próprias vidas se perpetuam nelas mesmas, se elas não trabalham emocionalmente os traumas e frieza sofridos em determinadas experiências. Temos de olhar para elas com compaixão, para que nós mesmos não permitamos ser alvo de suas humilhações. Só assim se quebra a corrente.

Ser humilhado nunca é bom, mas ainda assim podemos aprender algumas lições. Quem é que humilha? E por quê? O que esta por trás da história desta pessoa, para que ela se sinta bem agindo desta forma? Quando conseguimos analisar a situação desta maneira, saímos da experiência com muito mais do que uma desagradável sensação, mas com lições sobre como o ser humano recria através de si mesmo o que ele vivenciou. E prestar atenção a este fato é o que nos permite fazer e ser diferente.

Na minha experiência como estrangeira, por exemplo, percebi que podia ser humilhada por não pertencer à uma raça, ainda que carregasse em mim a mesma ancestralidade. Certa vez numa entrevista de emprego, um homem inglês fez questão de me dizer que não me contrataria, porque meu inglês tinha um sotaque alemão e vice-versa. Mas o tom e a expressão com que me dera esta informação deixavam claro sua vontade de se mostrar superior. E por mais incrível que a mim pareça, já houve quem tentasse me diminuir pelo fato de eu ser escritora. Ou ainda por não ter um poder aquisitivo mais desejável.

Entendi que tudo o que somos ou o que temos pode ser argumento de humilhação no entendimento de outras pessoas, se elas se sentem dispostas à isso. Ainda que seja um ponto positivo, uma qualidade ou um talento, o que sobressai para um determinado tipo de pessoa é o desejo de se mostrar superior e na atitude de tentar diminuir o outro.

Por mais bonito que alguém seja, esta mesma pessoa poderá ser humilhada por sua aparência. Ou por mais conhecimento que se tenha, alguém pode ser diminuído por um único detalhe que não demonstrou conhecer a fundo. Alguém que tem dinheiro pode vir a ser humilhado por não ter classe e assim por diante. O que quero dizer é que não importa o quanto se tenha ou o quanto se seja, quem quer humilhar sempre encontrará seus meios para isso. E vivemos numa sociedade onde este comportamento e desejo é compactuado por um grande número de pessoas.

O que muda é a forma como se reage nos momentos de humilhação. Entender que o problema não é realmente meu e sim do outro. Existe uma grande diferença entre uma crítica construtiva e humilhação. Quem quer ensinar alguma coisa também saberá a forma de conduzir este ensinamento. Já o que pretende mostrar superioridade mostrará nos olhos, na voz e na face as suas intenções negativas, ainda que com naturalidade.

Não há como fugir ou escapar de momentos de humilhação durante toda uma vida. Mas a partir do momento que entendemos quem somos de verdade, nossos defeitos e qualidades, passamos a compreender também até que ponto o outro pode nos afetar com suas opiniões destrutivas.

O humilhar do outro se transforma numa lição extrema de tolerância, paciência e força, quando não nos deixamos atingir e menos ainda revidamos. Permitimos à nós mesmos o crescer diante de algo ruim e não damos continuidade àquilo que machuca.

Se compreendendo isto, o meu silêncio se torna a gentileza que o humilhador não teve. É bem possível que ele nunca venha a reconhecer o fato. Mas a vida nos trás de volta aquilo que geramos.

E não reagir à algo ruim, é gerar algo bom para si mesmo em primeiro lugar. E depois para toda uma sociedade, que de gentileza tanto necessita.



Postado em Conti Outra






















Dilma e a história no último grau


dilma cut


Renato Rovai, em seu blog:



A presidenta Dilma Rousseff esteve ontem em Belo Horizonte para participar do V Encontro dos Blogueiros. Foi a primeira vez que ela veio ao evento. Ao mesmo tempo acontecia na cidade um protesto contra o governo interino e ilegítimo de Michel Temer. A manifestação terminou na frente do hotel onde acontece o encontro.

Aproximadamente 20 mil pessoas esperaram Dilma chegar durante uma hora. Um ato organizado sem grandes pretensões e que acabou se tornando um dos maiores da cidade desde a eleição de 2014.

Dilma chorou quando viu o que a aguardava. E contou isso na sua fala de ontem ao ver que na frente do palco dos blogueiros estava Débora, uma garota de 16 anos, chorando sem parar enquanto aguardava o discurso.

Foi no meio deste turbilhão de emoções que envolve a política brasileira que a presidenta Dilma fez sua primeira fala pública desde que foi afastada da presidência.

Dilma falou muito sobre os avanços do seu governo e também do de Lula, mas o que parece ser o foco desta sua nova fase é a de buscar demonstrar o que será o governo Temer se ela vier, de fato, a sofrer o impeachment.

Na avaliação de Dilma, Temer e os seus caminhos tortos no governo seriam a sua melhor propaganda.

Dilma está absolutamente certa.

Porque o que está acontecendo neste momento no Brasil, no meio de toda essa crise política, é uma grande reflexão. É uma emocionante reflexão.

Boa parte da população brasileira estava querendo saber o que a oposição que gritava ‘Fora Dilma’ tinha para apresentar como solução ao país. E o que está sendo apresentado não vai até a esquina de uma disputa eleitoral. Façamos um teste rápido, pois.

Qual a porcentagem de votos que você acha que teria um candidato que defendesse o seguinte programa no debate eleitoral?

– Fim do Ministério da Cultura.

– Diminuição do SUS e ampliação do atendimento por planos de saúde.

– Aposentadoria no mínimo aos 65 anos para homens e mulheres.

– Reajuste diferenciado do salário mínimo para trabalhadores da ativa
e aposentados.

– Fim do reajuste do salário mínimo com base na inflação e no
crescimento do PIB.

– Interrupção do Minha Casa Minha Vida.

– Redução em até 30% dos recursos para o Bolsa Família.

– Privatização de bancos públicos como o BB e a CEF.

– Privatização da Petrobras.

– Abrir o governo para indicações políticas de Eduardo Cunha.

– Convocação de sete políticos investigados na Lava Jato para assumir
cargos em ministérios.

Quantos votos você acha que este candidato teria?

Em uma semana, Temer foi e voltou ou ficou em vários desses pontos. E não foi eleito para fazer nada disso.

E, nunca, nem ele e nem um outro candidato seria ou será eleito nos próximos tempos com um programa desses.

E, por este motivo, Dilma está certa em forçar o debate sobre o governo provisório e ilegítimo de Temer a partir do que ele tem anunciado e do que ele tem voltado atrás.

E, por este motivo, é muito provável que o governo Temer não se legitime.

Dilma parece ter convicção de que isso vai acontecer.

E, ao mesmo tempo em que luta para reassumir o governo, parece estar disposta a negociar uma outra solução, se necessário for, para defender a democracia.

Ela não diz isso claramente, mas deixa nos detalhes de algumas de suas falas frestas abertas para essa possibilidade.

Por isso, não é exagero dizer que o que está acontecendo no Brasil hoje é história no último grau.

Uma febre transformadora com emoções à flor da pele.

Por incrível que pareça, ouvindo Dilma, vendo a manifestação imensa aqui em BH e participando do encontro de blogueiros, além de todas as outras atividades em que tive nos últimos dias, começo a desconfiar que o Brasil não tem só a perder com tudo o que está acontecendo.

É também nas crises que as máscaras caem, como disse Dilma na conversa reservada que teve com a organização do evento. E é nesses momentos que tudo fica mais claro. E que as pessoas também podem escolher melhor os seus caminhos.

O governo Temer está fazendo o Brasil discutir profundamente os seus rumos.

E as ocupações culturais são apenas o primeiro sinal disso.

E o fato de Dilma parecer ter entendido esse recado das ruas e das emoções que brotam é muito importante. Porque Dilma assumir a resistência ao golpe é fundamental do ponto de vista simbólico para as lutas que virão.


 Em Belo Horizonte  20 de Maio












Você já tocou sua alma com carinho hoje ?




Júlia H. G.


“Se a gente cresce com os golpes duros 
da vida, também podemos crescer 
com os toques suaves na alma.” 

Cora Coralina


Nestes tempos acelerados, em que ansiedade virou epidemia e falta de tempo motivo de orgulho, quando foi a última vez que você tocou sua alma com carinho?

Fazer o melhor, ser o melhor, superar, produzir. E, de repente, nos esquecemos do que realmente importa, da essência e do que nos dá energia e alegria para prosseguir.

Tocar a própria alma é algo muito particular que envolve coisas singelas. A alma não faz questão de estardalhaços e somente atitudes delicadas, daquelas quase imperceptíveis a olho-nu, é que podem tocá-la.

Um chocolate quente, um cochilo breve mas revigorante, o cheiro de uma flor, café com biscoitinhos. O abraço de um amigo, um banho reconfortante, ligar para a família (aquela do seu coração). O calor do sol no inverno ou a sombra de uma árvore no verão. Sentir a brisa, o cheiro de chuva, ouvir ou tocar aquela música que te faz lembrar quem você é. Um livro, uma poesia, um filme. Tocar a grama, espreguiçar, colocar uma música no seu quarto e dançar até cansar. Cantar, meditar, respirar. Seu moletom velho e confortável. Cheiro de alho refogado. Aquele bolo que saiu do forno. Uma lambida do seu cachorro. Dar-se um abraço e dizer “Ei, você fez seu melhor! Estou orgulhoso de você.”.

Normalmente, o que toca nossa alma está muito ligado às nossas memórias de infância, quando ainda estávamos mais conectados com nossa essência. Infelizmente, nós crescemos e esquecemos o quão importante é manter esse contato. Sem ele, morremos aos poucos. A vida torna-se mecânica e sem sentido. A tristeza aparece.

O bom dessa coisa de tocar almas é que elas, por mais diferentes que sejam, podem comunicar-se umas com as outras. Mesmo que você esqueça de tocar a sua própria, cada vez que chega na de alguém, é instantaneamente tocado.

Mas, como foi dito, almas são feitas de material puro, tocadas apenas com delicadeza. Naquele sorriso sincero, naquele gesto de preocupação, naquela surpresa pequena, porém doce e cercada de carinho. Tudo que é genuíno chega até as almas. Toca fundo e ressoa para as outras, em diferentes cores e melodias suaves. Após tocar todas as almas existentes, dissipa-se pelo universo e fica na memória.


Postado em Conti Outra


Esta música maravilhosa de John Denver, Perhaps Love, imortalizada nas vozes de Placido Domingo e John Denver, sempre faz um carinho em minha alma !








Este mundo da Injustiça globalizada ( José Saramago )
































Castro Alves estaria defendendo hoje como ontem a Liberdade !







O poema Navio Negreiro, escrito em 1868, faz parte do livro “Os escravos”, de Castro Alves

Recitado pela primeira vez pelo autor, então com 21 anos, no Teatro São José, em São Paulo, tornando-se uma importante peça na campanha abolicionista que começava a ganhar corpo em todo o país. 

A última parte da poema fala da nossa Bandeira e a infâmia da Escravidão e da falta da Liberdade. 

Poderíamos transportar seus magníficos versos para descrevermos os dias 17 de Abril e 12 de Maio de 2016, quando senhores e senhoras do Congresso Brasileiro usaram nossa Bandeira, para justificarem, também, algo infame, o Golpe em nossa Democracia e em nossa Liberdade.






E existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia! ...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria! ...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?! ...

Silêncio! ... Musa! chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto ...


Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança ...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha! ...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu na vaga,

Como um íris no pélago profundo! ...

 Mas é infâmia de mais ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo ...

Andrada! arranca este pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta de teus mares!




Retrato do poeta e abolicionista brasileiro Castro Alves (1847-1871)

Arquivo ABL

Castro Alves é considerado um dos maiores poetas brasileiros.

Seus poemas estão entre os mais lidos no país. 

Grande parte deles se caracteriza pelo espírito humanista e pelo ideal de liberdade. 

Por sua luta abolicionista, tornou-se conhecido como “Poeta dos Escravos” e “Poeta da Abolição”.




Excelente documentário Resistir é Preciso [ A imprensa alternativa na ditadura civil - militar de 1964 ]







Da mesma maneira que hoje os blogs são uma alternativa ao discurso hegemônico da grande imprensa corporativa, na ditadura a imprensa alternativa lutava não só contra o consenso criado pelas manchetes dos jornais que apoiavam o regime militar, lutava contra agentes que frequentemente os perseguiam e até mesmo os torturavam e matavam.

Narrada e apresentada pelo ator Othon Bastos, a série traz depoimentos e material historiográfico de jornalistas que atuaram em três frentes de combate à ditadura militar: a imprensa alternativa, a clandestina e a que atuava no exílio. 

PifPaf, Pasquim, Movimento e Opinião são alguns dos jornais alternativos apresentados na série. 

Para relembrar e construir essas histórias, Resistir é Preciso conta com depoimentos de grandes nomes do jornalismo da época como: Raimundo Pereira, Juca Kfouri, Laerte, Ziraldo, Audálio Dantas, Paulo Moreira Leite, José Hamilton Ribeiro, Bernardo Kucinsky, Tonico Ferreira, Antonio Candido e tantos outros. 


Comentário postado em DocVerdade em 05/05/2016




EP. 1 - Como tudo começou





EP. 2 - Um barão que não era barão faz escola e cria um estilo





EP. 3 - Começa a ditadura militar. A resistência pela imprensa também





EP. 4 - Imprensa Alternativa, uma leitura obrigatória (parte 1)





EP. 5 - Imprensa Alternativa, uma leitura obrigatória (parte 2)




EP. 6 - As muitas imprensas alternativas





EP. 7 - A imprensa alternativa pelo Brasil afora





EP. 8 - A expansão da imprensa alternativa no exílio




EP. 9 - Vou-me embora para a... clandestinidade





EP. 10 - A resistência dá a volta por cima





Sobre este excelente Documentário, sem pedir licença (mas acho que eles a dariam), coloco abaixo dois comentários feitos no Youtube, que dizem o mesmo que eu diria :




Rose Martins 
Encantadíssima com o trabalho desta série. Cada episódio inundado de valores humanistas e disseminantes de informação com conteúdos históricos contados e explicados pelos protagonistas, os quais me emocionaram do começo ao fim. Obra-prima de fato e de direito "resistir é preciso... SEMPRE"! Parabéns!
André Morais 
Uma obra-prima essa série. Obrigatória a qualquer cidadão que tenha algum apreço por valores como dignidade, coragem, generosidade, etc.