Neto de Jango é médico da família na Rocinha




João Marcelo Goulart nasceu no mesmo dia que o avô e ex-presidente, de quem herdou o nome e a vontade de mudar o país pela base, promovendo justiça social


Caio Barbosa 


O morador da Rocinha que chega ao Posto de Saúde da Família Albert Sabin, no alto do morro, e fica sob os cuidados do Doutor João, nem imagina que aquele médico, que detesta ser chamado de doutor, é neto de um ex-presidente da República. João Marcelo Vieira Goulart, como o nome sugere, é neto de João Goulart, e nasceu exatos 25 anos depois de seu avô ter sido deposto por um golpe militar que jogou o país nas trevas. 


A data de nascimento é 1º de março, a mesma do ex-presidente, de quem herdou não apenas o nome, mas a vontade de mudar o país pela base. E é do alto da favela mais conhecida do Brasil que ele faz sua parte, exercendo a Medicina humanitária que aprendeu em Cuba, buscando forças para seguir os sonhos de Jango.


Maranhense criado no Rio Grande do Sul até os 10 anos de idade, adquiriu o sotaque gaúcho da família e o apreço pelo Grêmio. Chegou ao Rio de Janeiro na pré-adolescência, mas não é do samba, nem da praia. Prefere a vida caseira, ouvindo Pink Floyd, Mano Chao e Caetano Veloso, curtindo a família e o filho recém-nascido.


Nesta entrevista exclusiva ao DIA, o médico João Goulart se mostra sereno, ponderado, mas firme. Não hesita em afirmar que seu avô foi assassinado. Faz críticas e elogios ao governo Dilma, à Revolução Cubana e detona o sistema político brasileiro. E avisa: "Me chama de João. Não gosto desse negócio de doutor, nem de senhor. Não sou senhor de ninguém. Somos todos iguais", diz. 


Você não conheceu o seu avô. Somente através de livros, filmes e pelos seus familiares. Vocês gostam de tudo o que já foi produzido sobre ele?


Sim. Sobretudo a última biografia, escrita pelo (historiador) Jorge Ferreira, que é mais completa e fiel aos erros e acertos do meu avô. E o documentário Dossiê Jango, o mais recente, que traz novos documentos e depoimentos das pessoas que participaram da vigilância do meu avô no exílio, e que falam sobre o envenenamento dele. É um documentário rico em provas que apontam para o assassinato.


Vocês estão seguros que ele foi assassinado? A exumação recente não provou isso.


A exumação dá início a um processo. Mas 30 anos depois da morte, com o corpo enterrado em São Borja, onde chove muito e houve até inundação, é muito difícil provar que alguém foi envenenado. É preciso encontrar uma concentração da substância necessária para matar. E com o passar dos anos isso é impossível. Mas foram encontradas substâncias que não eram para estar ali, que na época da morte do meu avô, só o exército americano tinha acesso. Uma substância muito similar ao TNT (explosivo).


Será um processo longo.


Sim. Não é fácil chegar à verdade sobre a morte de um ex-presidente ainda no exílio, numa época em que os EUA faziam uma série de operações na América Latina, com ditadura na Argentina, no Chile. Já foi dado um primeiro passo, falta ter acesso aos documentos norte-americanos (hoje ainda secretos e confidenciais). Além de ouvir os agentes que participaram das operações, que já foram ouvidos por outros governos da América Latina, mas não pelo nosso, que nunca tomou a iniciativa de ir atrás disso.


Mesmo com uma presidenta que sofreu com esta ditadura?


Com a Dilma a gente teve bastante avanço. Mas com os outros governos, não. É muito mais uma questão de estado do que de governo. Precisamos fazer mudanças na Lei de Anistia, que ainda protege os militares. Ainda temos um longo caminho a percorrer para conhecer a verdade, conhecer a nossa história e evitar que aquilo volte a se repetir. Os livros de História não retratam a verdade. Quando eu estava na escola, falavam em Revolução de 1964, e não em Golpe Militar, e Jango comunista. Não dá.


Quem foi Jango para você e para a família? Comunista, trabalhista, conciliador?


Um trabalhista, mas acima de tudo um cara humanitário, que queria fazer justiça social no país. Que queria garantir trabalho, pois sem emprego não se movimenta a economia. Queria a reforma tributária, pois olha o que está acontecendo no país sem ela! Queria a reforma agrária para as pessoas produzirem e gerar desenvolvimento. Mas naquele momento político, é óbvio que seria classificado pelos americanos como comunista. Era apenas uma desculpa para a intervenção norte-americana, tanto que a frota dos EUA já estava na nossa costa. Eles já queriam dar o golpe em 1961, mas o Brizola segurou com a Campanha da Legalidade. Fizeram de tudo para tirar meu avô do poder, com a Operação Brother Sam, financiando campanhas de deputados da direita. Mas como não conseguiram, deram o golpe.


E você se identifica com que ideologia?


Sou socialista. Veja a Rocinha. Isso aqui é lugar de trabalhador. São domésticas que trabalham em casa de famílias da Zona Sul, porteiros, garçons, gente que ainda hoje tem seus direitos usurpados pela elite que adora reclamar mas ela própria não garante os direitos de seus empregados. Eu gostaria de ver o meu país garantindo o direito dos trabalhadores. Acho que o capitalismo e a direita tem coisas úteis ao socialismo, bem como o socialismo ao capitalismo. Mas socializar saúde, educação, cultura, esporte e lazer é mínimo que o estado deve garantir ao seu cidadão. Aprendi isso em casa, em Cuba, no meu trabalho, no meu dia a dia.


Como você, médico, avalia a saúde pública no Brasil?


Apesar de o SUS ser reconhecido no mundo todo, é preciso melhorar muito. E acho que grandes passos foram dados no governo Dilma com o Mais Médicos, que vem para garantir atenção básica de qualidade, para resolver o problema pela raiz. Você economiza muito investindo em atenção básica porque o hipertenso não vai infartar, ter AVC, parar numa UTI. O diabético não vai precisar de hemodiálise. Isso é muito custoso para o Estado e para o paciente. Temos que socializar o básico para o país poder crescer, mas nosso sistema político não permite.


Como assim?


Nosso sistema é financiado por empresas privadas. Então, como vai bater de frente com isso? Os planos de saúde devem bilhões à União e o nosso presidente da Câmara (Eduardo Cunha) quer perdoar as dívidas porque é financiado por plano de saúde (somente a Bradesco Saúde financia 214 deputados ligados a Cunha). Mesma coisa agora com a Samarco, que financia campanha. Quem vai cobrar providências para a questão de Mariana? Precisamos de uma reforma política que saia do papel.


E como você se decidiu pela Medicina e por Cuba?


Decidi fazer faculdade lá por saber que era o lugar que formava médicos com caráter humanitário e que tinha os melhores indicadores do mundo. Queria aprender e trazer meu aprendizado para o Brasil, contribuir de alguma forma com o meu país. E lá aprendi o que é atenção básica, primária, e que 85% dos problemas de saúde são resolvidos dessa forma.


Você já tinha ido a Cuba? Estudou onde?


Fui em 2007 para fazer a faculdade, e fiquei seis anos e meio lá. Estudei na Escola Latino Americana de Medicina, criada pelo Fidel nos anos 90 após o Furacão Mitch (o pior da história, com mais de 18 mil mortes), que devastou Honduras, Nicarágua e Guatemala. Não havia profissionais para atender a população nestes países e Cuba precisou enviar milhares de médicos. Fidel, então, decidiu criar a escola para formar 10 mil médicos destes países, para que eles voltassem a atendendo pobres, carentes e multiplicando conhecimento. Só que a escola deu tão certo que foram formados dez, vinte, trinta mil médicos e hoje tem americano, canadense, chinês, vietnamita, gente do mundo todo lá. Gente pobre, que mora em povoado distante e volta ao povoado depois de formado para cuidar do povo.


Uma realidade que não acontecia no Brasil antes do Mais Médicos.


O problema aqui não é a falta de médicos. Está na distribuição e na formação, que precisa ser voltada para a atenção básica, que é a necessidade do país. Se você traz um estudante para a atenção básica, é natural ele querer ajudar. Mas se não tiver isso em sua formação, vai se lixar e querer ser apenas um especialista em sua clínica particular. Pois foi isso o que aprendeu na formação.


Afinal, medicina também é servir, não apenas se servir.


Sim, e a medicina que se aprende no Brasil é a de um modelo ultrapassado, criado nos EUA para o sistema mercantil americano de 100 anos atrás. Temos que formar médicos com vínculo com a população. Pelo menos por um período. Que fique dois anos na atenção básica. Se gostar, ótimo. Se não gostar, tudo bem. Que vá fazer sua especialização e ganhar dinheiro. Mas esse médico, lá na frente, nunca vai virar as costas na sua clínica para quem estiver necessitado.


E que Cuba você conheceu? Aqui no Brasil, quem é de esquerda ama, quem é de direita odeia (risos).


Os turistas adoram. Quem odeia, nunca foi. Na população, no entanto, há uma divisão. Quem viveu a Revolução é 100% Fidel. São pessoas que viram a transformação de uma país miserável, antro de drogas e prostituição, num país muito melhor. Mas com o embargo norte-americano (nos anos 60) e o fim da União Soviética (em 1990), faltou tudo, e há uma geração que nasceu nessa época e não gosta de Cuba. Mas, ainda assim, é um país que oferece educação, saúde, cultura, esporte e lazer em níveis excelentes.


Que problemas você notou por lá?


Há erros cometidos pela Revolução, como não permitir que o cubano abra seu próprio negócio, e isso deixa eles furiosos, e erros que vão além da Revolução. Na saúde, por exemplo, os níveis de meningite são muito bons, mas aquém do desejado porque a patente da vacina é norte-americana e nem isso o é permitido importar. Nem vacina, para evitar o sofrimento e morte! A internet, por exemplo, demorou a chegar. E só foi possível graças a um cabo de fibra ótica que atravessou o oceano pela Venezuela. Porque se não fosse a Venezuela, não teria internet até hoje.


E por que muitos cubanos querem deixar o país?


Ora, porque os americanos oferecem ao cubano que chega lá, casa, comida, roupa lavada, emprego no momento em que você coloca os pés nos EUA. Mas só ao cubano. Se você chegar lá hoje, ficará ilegal. Você e qualquer outra pessoa de qualquer país. Mas cubano recebe tudo. É uma estratégia norte-americana de boicotar o regime cubano. Só que alguém divulga isso? Não.


E o que você pensa sobre Cuba, sobre a abertura que está acontecendo?


Tenho muita vontade de voltar um dia e continuar estudando naquele sistema que é único. Vejo um país que ainda tem muito a oferecer ao mundo. Bastam algumas políticas mudarem, tanto por parte de Cuba como por parte dos EUA. Vamos ver o que acontece com essa abertura, se vai dar certo. Não adianta abrir e entrar a cultura do consumismo excessivo.


E qual sua avaliação do governo Dilma?


Não sou petista, mas acho que o Brasil mudou muito com o PT. De forma positiva. As oportunidades para quem não tem renda são muito maiores do que na década de 90. A miséria e a pobreza diminuíram muito. Mas ainda é preciso ampliar isso. Garantir direitos, saúde e educação. Acho que o governo desviou um pouco o foco destas questões nos últimos anos, com esta relação com empreiteiras...


Nas redes sociais, muito se fala em relações milionárias dos filhos do Lula, da filha de José Serra, do neto do general Figueiredo. Você tem um perfil diferente. Dorme melhor assim?


Durmo melhor sabendo que posso contribuir com meu país pelo meu trabalho. E espero contribuir ainda mais. Mas acho que cada um traça seus objetivos. Eu não fico pensando nisso. Penso apenas no meu objetivo.


E o que você costuma responder a quem diz que a saúde no Brasil é uma tragédia?


Digo que estamos dando passos importantes. O Mais Médicos, como falei, é um deles. A Escola Nacional de Saúde Pública, na Fiocruz, já está discutindo mudanças na formação médica no país. Isto é importante. A gente ouve muita reclamação no atendimento terciário, especializado. E com razão. Mas a atenção básica, quando está presente, funciona. O problema é que ela nem sempre está presente. E isso depende, também, da parceria e da vontade política de estados e municípios. Aqui no Rio temos melhorado muito. Ainda há problemas? Muitos. Mas o programa Saúde da Família no Brasil é coisa nova, é um bebê, diferentemente de Cuba, Reino Unido e Canadá, por exemplo. Precisamos chegar lá.


Postado no Luis Nassif Online em 26/01/2016










Você quer um milagre ? Seja o milagre !










Entre o 1% mais rico do planeta, exploração e trabalho escravo


Pesquisa Oxfam dá números e dimensão da desigualdade e da concentração de renda no mundo | Foto: Ministério do Trabalho do ES

Pesquisa Oxfam dá números e dimensão da desigualdade e da concentração de renda no mundo | Foto: Ministério do Trabalho



Felipe Rousselet



Um estudo da organização não governamental Oxfam, divulgado na segunda-feira 18, dois dias antes do início do Fórum Econômico Mundial de Davos, revelou que a riqueza acumulada por 1% da população mundial, os mais ricos, superou a dos 99% restantes em 2015. 

Somente as 62 pessoas mais ricas do mundo detêm tanto capital quanto a metade mais pobre da população mundial. 

Neste grupo, estão incluídos banqueiros, donos de empresas conhecidas pela exploração abusiva de mão de obra e empresários que fizeram fortuna com a exploração de recursos naturais finitos.

Os Koch e os Walton

Entre os 62 mais ricos, duas famílias têm especial destaque: os Koch e os Walton. A primeira é representada na lista pelos irmãos David (US$ 72,9 bilhões) e Charles (US$ 42,9 bilhões), respectivamente terceiro e sétimo colocados no ranking. 

Sócios, são conhecidos por financiarem institutos conservadores e organizações liberais em todo o mundo. 

Em março de 2015, a revista Carta Capital abordou uma possível conexão entre o Movimento Brasil Livre (MBL), que defende o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e a organização Students for Liberty, financiada pelos Koch.

Entusiastas do “Estado mínimo”, os Koch possuem refinarias em vários estados dos EUA, seis mil quilômetros de oleodutos, madeireiras, indústrias de papel e celulose e a Invista, ex-divisão de fibras têxteis da DuPont, dona das marcas Lycra e Cordura. Proprietários de diversas empresas que exploram recursos naturais finitos, naturalmente os irmãos refutam qualquer estudo que indique a influência da humanidade no aquecimento global.

O patriarca, Fred Chase Koch, que faleceu em 1967, era um admirador de Benito Mussolini e foi um dos fundadores da organização ultradireitista John Birch Society, que combateu duramente a lei dos direitos civis nos EUA, instituída pelo presidente Lyndon Johnson nos anos 1960.

Já os Walton, família fundadora da maior rede de varejo do mundo, o Walmart, conta com quatro representantes entre os 62 mais ricos do mundo: Christy Walton (8º – US$ 41,7 bilhões), Jim Walton (9º – US$ 40,6 bilhões), Alice Walton (11º – US$ 39,4 bilhões) e Samuel Robson Walton (12º – US$ 39,1 bilhões).

Enquanto o clã Walton está no “topo do mundo”, os funcionários do WalMart não possuem sequer condições de trabalho dignas.

Em outubro de 2013, a rede varejista foi condenada a pagar R$ 22,3 milhões em indenização por danos morais coletivos aos seus trabalhadores no Brasil, a maior penalidade do tipo imposta a uma empresa até então no país. 

Na denúncia, funcionários relataram humilhações, xingamentos constantes, preconceito racial e a imposição de cantar hinos motivacionais e dançar nas reuniões. A rede limitaria até mesmo as saídas ao banheiro.

Zara

A quinta posição da lista dos mais ricos do mundo pertence ao empresário espanhol Amancio Ortega, fundador e proprietário da Zara, empresa têxtil com lojas de varejo espalhadas por diversos países. 

A marca é conhecida por estabelecer relações comerciais com fornecedores que submetem funcionários a péssimas condições de trabalho. 

Em maio de 2014, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito do Trabalho Escravo, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), representantes da Zara admitiram pela primeira vez que havia trabalho escravo em sua cadeia de produção de roupas e acessórios.

Safra e Leman

O Brasil, terceiro país onde os bancos mais lucram com juros no mundo, não por coincidência tem como um dos representantes na lista dos 62 mais ricos um banqueiro, Joseph Safra (52º – US$ 17,3 bilhões). 

O empresário libanês, naturalizado brasileiro, é cofundador do banco Safra. Desde o século XIX, a família Safra é constituída por banqueiros, todos judeus halabim, uma das mais tradicionais classes mercantis do Oriente Médio.

Na frente de Joseph, na 26ª posição na lista, aparece o compatriota Jorge Paulo Lemann, dono da maior cervejaria do mundo, a AB InBev. 

Com fama internacional de empresário ousado e hábil “cortador de custos”, Lemann também tem um passado no mercado financeiro brasileiro. Nos anos 1970, fundou o banco de investimentos Garantia, adquirido pelo Banco de Investimentos Credit Suisse (Brasil) em 1998.



Postado no Sul21 em 23/01/2016


Nota 

Por tudo que está descrito acima, e muito mais, que nem gostaríamos de imaginar, devemos procurar saber para quais marcas estamos dando nosso dinheiro, quando compramos qualquer objeto, alimento ou serviço.

O boicote é nossa arma contra o capitalismo selvagem 
e seus crimes contra a Humanidade.

( Rosa Maria )













Chineses protestam contra condições de trabalho na Foxconn em frente a revendedora da Apple































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Lições que eu aprendi com meu filho AUTISTA !





Marcos Mion escreveu um texto em seu Facebook revelando detalhes da convivência com seu filho Romeo (9), que é autista.

Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.


Marcos Mion

Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.

Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.

Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando entra em contato com ela.

O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade, de aprendiz.

(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)

Todos ja me viram falar publicamente que me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu Romeo.

Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que, quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a entender pq aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.

Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?

Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.

Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.

Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os tres para fazer a carta do Papai Noel.

– “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano.

– “Calma que ja tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tenis da Nike, alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.

Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na época do Natal!!

Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.

“Uma escova de dentes azul”.

E agora chegamos no ponto crucial desse texto.

Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.

Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os verdadeiros valores do Natal.

O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornado-se um lembrete vivo e constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não interessam.

Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra material como recompensa e até como educação, inclusive de valores morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos meus outros filhos.

Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de pelúcia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que eu quero ganhar do Papai Noel”.

Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel na madrugada.

Não preciso dizer que 5:00 am ja ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.

Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos, abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um certo grau de tensão no ar.

“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.

Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!

Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que, quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele foi tomado de emoção!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de tão forte que essa emoção veio.

Sim, ele chorou.

Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.

Tão pouco … um presente tão simples … e ai me deu o estalo. Mestre!

Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes. Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.

Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.


Postado no Mensagem Espírita em 28/12/2015



O que é bom demais também pode ser verdade



Viviane Battistella


Por que temos tanta dificuldade em aceitar os bons momentos imaginando que eles são prenúncio de uma grande tragédia?

Acho que em quase todos os filmes que assisti vi aquela cena na qual tudo está indo muito bem e todos estão felizes. Então, de repente, percebe-se a atmosfera de que algo ruim vai acontecer. A música de fundo sinaliza que está chegando uma grande tragédia e os olhares dos personagens nos revelam que o pior ainda está por vir. A felicidade como prenúncio da morte, do terremoto, do tsunami, do meteoro, do marido traído chegando, do ataque do tubarão ou da trombada no iceberg é facilmente encontrada nos filmes, nos livros, nas novelas.

A arte quando imita a vida, imita com destreza. Parece ser bem comum na nossa cultura aceitarmos com mais facilidade as más notícias, as tragédias, as perdas, as críticas. Estamos muito acostumados a aceitar o que é ruim. Talvez isso tenha vindo com o cristianismo que promete a salvação a quem sofrer bastante aqui na terra; ou talvez seja simplesmente a passagem dos conceitos de geração para geração sem questionamento algum.

O que era doce se acabou.

Estava bom demais para ser verdade.

Quando a esmola é demais o santo desconfia.

As frases acima nos dizem que tudo que é bom precede o ruim. Engolimo-nas como se fossem verdades absolutas. Até Tom Jobim cantou que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Ah Tom, quem será que lhe fez escrever isso?

Assim como minha avó me dizia que eu morreria se comesse manga verde e tomasse leite em seguida, ela deve ter me ensinado que “quando está tudo muito bem, pode esperar que logo atrás virá a desgraça”. E é assim que, sem perceber, vamos aceitando as coisas ruins da vida como naturais, criando muros para que a felicidade não se aproxime. Parece que nos ensinaram a ter medo do que é bom.

Recebo muitas mensagens durante a semana e uma me chamou muito a atenção. Um rapaz me escreveu para contar que deixou ir embora a mulher da vida dele e que havia descoberto que fez isso simplesmente porque não acreditava que algo tão bom pudesse estar acontecendo.

Escreveu apenas para me contar. Respondi apenas “obrigada pela mensagem, por ter me contado”. O que mais poderia eu dizer a ele? Se é difícil aceitar um elogio, o que dizer sobre a chegada de um grande amor? Muitas vezes não aceitamos e nem acreditamos nos elogios, desconfiamos deles e de quem os faz. Quando nos dizem que estamos usando uma blusa bonita, por exemplo, a resposta que vem é sempre um:

-“Ah imagina, nossa, é tão velha essa blusa!”.

Percebam que a frase bloqueia o elogio, é uma defesa a ele. Nas entrelinhas fica claro que não o aceitamos. Legal seria dizer um “muito obrigado” e saborear a escolha de uma roupa bonita e da admiração vinda por isso. Ah, mas é mais fácil pensar que é inveja, que é falsidade, ou que estão de brincadeira conosco não é mesmo? Percebem como a nossa mente funciona?

Estamos habituados a criar barreiras ao que é bom e aceitarmos de braços abertos as críticas. Se a cena acima mostrasse alguém nos dizendo algo do tipo: “ah, não gostei dessa sua blusa, não ficou bem em você” teríamos não só a aceitação incondicional da crítica, mas também daríamos àquela frase o poder de acabar com nosso dia e certamente a blusa iria para o lixo junto com a amizade.

É provável que estejamos estragando diariamente nossa felicidade bancando os diretores de filmes nos quais ela só serve para ser prenúncio da desgraça. E assim vamos afastando os grandes amores, as blusas bonitas e as amigas sinceras. Vamos extinguindo o comportamento de elogiar e de acreditar nos elogios.

Passamos a aceitar apenas o que a vida oferece de ruim como se viver fosse essa resignação de “cristão crucificado” que um dia receberá o reino dos céus. 

Ah, o Cristo não concordaria com isso. Ele, que só pediu que amássemos uns aos outros não deve ter achado bonito o rapaz que deixou ir embora a futura mãe dos filhos dele porque achava que ela era “areia demais para o seu caminhãozinho”.

“É bom demais e é verdade”. Este deveria ser o título do meu artigo. É assim que pensam e vivem as pessoas felizes. 

Elas simplesmente aceitam os elogios, o afeto e os momentos prazerosos. Elas não têm medo da profecia malévola na qual tudo vai dar errado no fim, inventada sei lá quando e sei lá por quem. 

Elas passam pela vida e superam os momentos ruins, não se ofendem com as críticas, e nem dão valor algum a elas. Já sobre elogios, felicidade e grande amor de suas vidas, ah elas correm atrás deles o tempo todo e por isso os alcançam.


Postado no Conti Outra