Jari Maurício da Rocha
Depois que a expectativa de ver um governo popular cair por si mesmo ruiu, os ânimos se mantiveram amistosos por um bom tempo. Porém, Lula foi reeleito, apesar da judicialização política e da midiatização da justiça.
A boa notícia, no entanto, era que seu nome não estaria nas cédulas de votação da eleição seguinte. Todavia, o mesmo projeto foi reeleito com nome diferente. Foi a gota d’água que faltava para a direita tomar uma atitude, embora viesse tratando disso através de cooptações e ‘sensibilizações’ de futuros servidores em posições estratégicas.
Era preciso agir para acabar com as sucessivas derrotas, desta forma, se iniciou a etapa de evangelização, cuja principal pregação era o apolitismo, introjetado via senso comum. Havia ainda a necessidade de alterar a onda de vergonha dos cidadãos que se esquivavam para se autoproclamarem de direita.
Diante de um governo de esquerda que possibilitou mudanças sociais estruturais, política econômica voltada ao bem estar social, ações transformadoras e visíveis, os militantes de direita desapareceram.
Assim, o apolitismo serviria de estágio para se sair da estima em frangalhos para, num futuro próximo, chegar ao orgulho de se opor. O tiro, no entanto, saiu pela culatra.
A definição “não sou de direita nem de esquerda”, cunhada no processo de despolitização, acabou atraindo possíveis simpatizantes dos partidos de oposição a grupos extremos que chegaram até mesmo a pregar a volta da ditadura.
Foi imperativo concentrar esforços em torno de um ‘Novo’ projeto de ‘Brasil’, cuja plataforma, única e exclusivamente, tinha por fim encerrar a era petista – com o slogan da moralização e do ‘Abaixo a corrupção’ e, por incrível que possa parecer, renegando o próprio Brasil.
A acertada escolha de Aécio Neves – quase 49% dos votos – a criminalização política e a campanha de desmoralização do petismo não foram suficientes para chegarem ao Planalto. E a ‘quase’ vitória serviria para legitimar uma reversão do resultado das urnas.
O ataque iniciou logo após as eleições – o candidato da oposição tinha prazo de validade – e se intensificou a partir do momento em que o PT assumiu pela 4º vez o Governo Federal.
A ideia era criar um sentimento de acanhamento para a esquerda. Só os insanos se atreveriam amparar um governo corrupto. Frases de laboratório seriam repetidas a esmo: “Isso é defender o indefensável; o governo mais corrupto da história; o PT afundou o país; um mar de lamas…”.
Usaram todas as armas possíveis: bombardeio midiático, fabricação massiva de boatos, vazamentos e julgamentos seletivos, desaparecimento de helicóptero com meia tonelada de cocaína e o atiçamento da população para sair às ruas não importando o motivo.
Esta última, aliás, do gigante que despertara, foi como uma espécie de carnaval de rua embalado pelo samba do crioulo doido. Virou motivo de piada nas redes sociais.
Isso também atrapalhou os planos, pois o tempo era limitado para que o golpe obtivesse êxito. Então, os podres começaram a vir à tona. Em pouquíssimo tempo as passeatas, apesar do dinheiro, foram mirrando e chegou-se ao ponto de os adesivos “A culpa não é minha. Eu votei no Aécio” começarem a desaparecer das camionetes de luxo.
Não havia mais como segurar a barragem de lama que ocultava décadas de impunidade, entreguismo e corrupção – sem falar da compra de votos da reeleição e o desmonte do estado na era FHC.
O engavetador geral não estava mais lá e a imprensa (desacreditada, desmascarada) não conseguiu conter a lama nem (que soubéssemos) a 1ª dama (Lu Alckmin) que voava como se o estado, minimizado, fosse suas próprias asas.
Havia ainda o novo filme de Aécio Neves: Os trezentos mil.
Durante o longo período de demonização do governo, houve resistências. Jornalistas, cineastas (Jorge Furtado), atores (Zé de Abreu, Werner Schunemann e Osmar Prado), escritores (Fernando Morais) eram execrados e apedrejados em ‘time line’ pública, mas não se intimidaram.
Só o que faltava ainda era um fato que resumisse num só nome do que o desvairismo e a cegueira eram capazes. E foi no Leblon.
A partir do episódio Chico Buarque, o país começou a se perguntar: A que ponto? E a névoa que encobria a campanha golpista começou a se dissipar. Claro, pelo alto grau de contaminação, alguns ainda fazem coro “Chico é um merda!”. O que dizer deles?
A direita falhou novamente, errou em muitas coisas, mas numa delas acertou em cheio e deverá seguir na estratégia: a fabricação de boatos. Eles apostam na ignorância, no senso comum e na falta de informação.
Por isso, ainda surgirão milhares de boatos, bombardeios incessantes para que não dê tempo de respirar, nem de pensar. Isso servirá de base para novas estratégias que vão sendo traçadas.
Apesar das disputas tucanas internas, um novo nome poderá vir com a força de um lava-jato. Possivelmente, o foco, que era 2018, pode ter mudado para 2022. E isso não significa trégua, muito pelo contrário.
Não se pode desconsiderar nada. Essa turma é incansável, sedutora e esperta. Afinal, são 500 anos de experiência.
Postado no Tijolaço em 07/01/2016