Paulo Nogueira
Você pode não gostar de Lula. Pode detestar. Pode abominar.
Mas você vê uma entrevista como a que ele concedeu ontem ao jornalista Kennedy Alencar, no SBT, e logo entende por que os caras têm tanto medo dele.
Imagine Lula, numa eventual campanha em 2018, debatendo com Aécio. Ou com Serra. Ou com Alckmin.
Ou com quem quer que seja.
É concorrência desleal. É profissional versus mirins.
O tempo deixou claro que desde Lacerda os brasileiros não viam um talento tão notável em oratória.
Com a diferença de que Lacerda falava a língua da classe média, e Lula fala a língua do povo.
Lula é um natural, para usar uma expressão inglesa. Nasceu orador. O resto foi consequência, da carreira sindical à presidência.
Ele fala com graça, com verve, com espírito. E, talvez o maior de seus atributos retóricos, transmite sinceridade.
Tudo isso se viu na entrevista de ontem.
A forma como ele referiu às invencionices contra seu filho Lulinha faz você rir e refletir. Ele disse que Lulinha é dono da Casa Branca e da Torre Eiffel.
Só com muito mau humor para não deixar escapar uma risada.
As referências a FHC foram também um dos pontos altos da entrevista.
Primeiro, na questão de fundo: a inveja que FHC parece ter de Lula. Com o correr dos dias, FHC foi diminuindo do ponto de vista histórico e Lula aumentando.
Hoje é claro que FHC governou para os ricos, para a plutocracia. E Lula para os excluídos.
É justo, num país tão desigual, que Lula seja por isso tão maior que FHC.
Lula deu também uma resposta definitiva a FHC na questão da corrupção. Toda vez que ele falar em corrupção tem que pensar na emenda que permitiu sua reeleição.
O Congresso foi comprado com dinheiro vivo, embalado em malas, para que FHC pudesse ter um segundo mandato.
Na questão da Petrobras Lula deixou escapar uma estocada sutil mas doída na imprensa.
Disse que jamais a nossa gloriosa imprensa o avisou de corrupção na Petrobras. É verdade. Nunca jornais e revistas fizeram nada no campo investigativo sobre a Petrobras.
É uma mídia viciada em vazamentos, em receber tudo no colo e depois gritar como se estivesse fazendo um outro Watergate.
Na entrevista, Lula mostrou também um bom senso que vem faltando a quase todo mundo.
Ficar falando em eleições três anos antes é uma insensatez. É conhecida a grande frase de Keynes: “A longo prazo estaremos todos mortos”.
Há um tempo para cuidar de eleições, e não é este de agora. Há problemas presentes que devem ser enfrentados antes de nos debruçarmos sobre 2018.
Temos na presidência da Câmara, por exemplo, um embaraço monstruoso, Eduardo Cunha.
E temos também uma imprensa que se bate até contra o direito de resposta, uma coisa sagrada em qualquer democracia.
Há hora para tudo.
Por enquanto, o que se viu, ontem, é que não é à toa que os caras temem tanto Lula.
Quem não temeria se estivesse no lugar deles?
Postado no Contraponto em 06/11/2015