Como o juiz Moro e seu time jogam solto, sem qualquer marcação e com a cobertura da grande mídia, a Direita está se sentindo forte para, impunemente, tramar a derrubada do governo, disseminar o ódio e até fazer ameaças de morte
Ribamar Fonseca
Todo mundo sempre soube que o principal alvo da Operação Lava-Jato é o ex-presidente Lula. Ele é uma ameaça ao projeto de poder da Direita, em especial dos tucanos, e, por isso, precisa ser afastado do caminho a qualquer preço. E a única maneira de conseguir isso, já que nem o câncer de garganta conseguiu, é envolvê-lo no esquema de corrupção da Petrobrás.
Nos porões da Lava-Jato já se trama uma justificativa para decretar a sua prisão, bastando que um delator cite o seu nome, o que, imaginam eles, será suficiente para que seja condenado pela opinião pública, mesmo sem provas.
Os dois principais delatores – Roberto Costa e Alberto Youssef – que divergem nas delações, já estão sendo espremidos para dizer o que o pessoal da operação quer que eles digam.
O juiz Sergio Moro, que se tornou o homem mais poderoso deste país – ele manda prender quem bem entende no momento que lhe apraz – estaria só esperando também uma palavra acusatória dos chefões da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, seus mais recentes presos, para chegar a Lula, o que seria o seu grande feito.
O magistrado, ignorando as críticas dos mais renomados juristas deste país, faz o que quer, sob os olhares indiferentes dos órgãos superiores da Justiça, cujos membros parecem acovardados diante da pressão da mídia. E toma suas decisões estribado não em provas concretas, mas em suas interpretações, que não passam de opiniões contaminadas por simpatias político-partidárias.
Além dos tribunais superiores, que fazem vista grossa para o que está acontecendo – talvez por ter sido o então ministro Joaquim Barbosa que inaugurou a era do "domínio do fato" e do conceito de que todos são culpados até provarem sua inocência – também a Ordem dos Advogados do Brasil está se fingindo de morta, igualmente em silêncio, como se não tivesse nenhuma responsabilidade com a preservação do estado de direito.
Enquanto isso o juiz Moro prossegue impávido na condução da Operação Lava-Jato, acolitado por procuradores que não escondem ódios inexplicáveis, o que, de certa forma, compromete a isenção do seu trabalho de investigação, pois é evidente o sentimento antipetista entre integrantes da força-tarefa.
Todo mundo já percebeu que o que eles querem mesmo é atingir o ex-presidente Lula, de qualquer maneira, e a mais recente acusação é a de que o seu instituto, o Instituto Lula, recebeu "propinas" das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, agora sob investigação da Lava-Jato.
O Instituto FHC também recebeu recursos das mesmas empreiteiras, mas neste caso foram "doações". Ou seja, para Lula é propina e para FHC é doação.
A propósito, em recente entrevista o ex-presidente FHC afirmou que não há nenhum problema em seu instituto receber recursos das empreiteiras investigadas. "O dinheiro é para promover palestras e seminários", disse.
Indagado sobre qual a diferença entre o dinheiro recebido por ele para dar palestras e o recebido por Lula, pelo mesmo motivo, afirmou com a sua conhecida cara-de-pau: "A minha palestra eu dou e vocês assistem..."
Com a cumplicidade da "Folha", que igualmente torce tudo para comprometer Lula, o senador Ronaldo Caiado divulgou nota dizendo que o ex-presidente entrou com habeas corpus "pedindo para não ser preso pelo juiz Sergio Moro".
Ficou comprovado que alguém, sem qualquer ligação com Lula, entrou com o habeas corpus, mas não apenas o senador do DEM como o jornalão paulista insinuaram ter sido o próprio ex-presidente petista o autor do pedido. Embora nem o senador goiano – que foi acusado de ter a sua campanha eleitoral financiada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira – ou o jornalão mereçam crédito, muitos imbecis, entre eles o roqueiro Roger, festejaram a notícia que, para eles, evidenciaria o medo do ex-presidente.
Eles esquecem que Lula enfrentou fuzis e baionetas para restaurar a democracia no país.
O fato é que como o juiz Moro e seu time jogam solto, sem qualquer marcação e com a cobertura da grande mídia, a Direita está se sentindo forte para, impunemente, tramar a derrubada do governo, disseminar o ódio e até fazer ameaças de morte.
Estranhamente a presidenta Dilma Rousseff e o PT, sob intenso bombardeio de todo lado – até de dentro do próprio governo – continuam acovardados, sem esboçar a menor reação às agressões.
Não há nem mesmo reação às ofensas que circulam nas redes sociais, onde muitos se julgam no direito de desrespeitar a chefe da Nação.
Diante desse quadro, nunca registrado na história deste país, se nada for feito para estancar essa escalada será muito difícil prever os acontecimentos futuros, quando os atuais linchamentos morais poderão se transformar em físicos. E aí será o caos.
Postado no Brasil247 em 25/06/2015