A palavra sincera
Você sabia que a palavra Sincera foi criada pelos romanos?
Eles fabricavam certos vasos com uma cera especial tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes.
Em alguns casos era possível distinguir os objetos guardados no interior do vaso.
Para um vaso assim, fino e límpido, diziam os romanos:
Como é lindo! Parece até que não tem cera!
Sine cera queria dizer sem cera, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes.
Com o tempo, o vocábulo sine cera se transformou em Sincero e passou a ter um significado relativo ao caráter humano.
Sincero é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações. A pessoa sincera, à semelhança do vaso, deixa ver, através de suas palavras, os nobres sentimentos de seu coração.
Assim, procuremos a virtude da sinceridade em nossos corações. Sim, pois na forma de potencialidade, ela está lá, aguardando o momento em que iremos despertá-la e cultivá-la em nossos dias.
Se buscamos a riqueza do espírito, esculpindo seus valores ao longo do tempo, devemos lembrar da sinceridade, desse revestimento que nos torna mais límpidos, mais delicados.
Por que razão ocultar a verdade, se é a verdade que nos liberta da ignorância?
Por que razão usar disfarces, se cedo ou tarde eles caem e seremos obrigados a enfrentar as consequências funestas da mentira?
Por que razão dissimular, se não desejamos jamais ouvir a dissimulação na voz das pessoas que nos cercam?
Quem luta para ser sincero conquista a confiança de todos, e por consequência seu respeito, seu amor.
Quem é sincero jamais enfrentará a vergonha de ser descoberto em falsidades.
Quem luta pela sinceridade é defensor da verdade do Cristo, a verdade que liberta.
Sejamos sinceros, lembrando sempre que essa virtude é delicada, é respeitosa, jamais nos permitindo atirar a verdade nos rostos alheios como uma rocha cortante.
Sejamos sinceros como educadores de nossos filhos. Primemos pela honestidade ensinando-lhes valores morais, desde cedo, principalmente através de nossos exemplos.
Sejamos sinceros e conquistemos as almas que nos cercam.
Sejamos o vaso finíssimo que permite, a quem o observa, perceber seu rico conteúdo.
Sejamos sinceros, defensores da verdade acima de tudo, e carreguemos conosco não o fardo dos segredos, das malícias, das dissimulações, mas as asas da verdade que nos levarão a voos cada vez mais altos.
Por fim, lembremo-nos do vaso transparente de Roma, e procuremos tornar assim o nosso coração.
Redação do Momento Espírita
Polêmica: “Nunca fomos cordiais”
Violência para nós, brasileiros, é um valor — e se confunde com nossa percepção do que é “ser homem”.
É triste que Manuel Castells tenha de nos dizer isso
É triste que Manuel Castells tenha de nos dizer isso
Wedencley Alves
Hoje, mais cedo, um querido amigo me chamou a atenção para uma matéria da Folha, onde Manuel Castells afirma que não é a internet que nos faz violentos. Mas o próprio país, que tem um histórico longo de violências. Ele tem razão, mas não precisava, comentei, um estrangeiro nos dizer isso.
Violência para nós é um valor: desde as, aparentemente, ingênuas malhações de judas (e quem malhávamos, quer dizer, espancávamos “simbolicamente”? Os vizinhos, aqueles de quem não gostávamos, os maridos “traídos”, as mulheres que, supostamente, “não inspiravam respeito”, o gay, o devedor, o comerciante antipático etc.).
Somos violentos porque desde cedo o garoto é ensinado a não voltar pra casa “chorando”, para não apanhar “duas vezes”. Nossa violência se confunde com nossa percepção do que é “ser homem”. Sim, porque as mulheres brasileiras não são mais violentas — fisicamente, embora do ponto de vista “verbal”, tenho lá minhas desconfianças — do que qualquer outra mulher no mundo, mas os homens, sim, em relação aos outros.
Temos violência de classe (pobres se matam muito, e as elites e classes médias “mandam” matar: o que são os assassinatos policiais, senão o efeito da carta branca que damos a “eles” para matar em nosso nome, em defesa do nosso patrimônio?). Temos violência de raça (socialmente falando), temos violência de gênero.
Somos violentos nas discussões políticas, futebolísticas. Não confiamos na justiça, confiamos na vingança e, particularmente, mesmo a justiça, quando ganha os holofotes, quer reafirmar a violência como valor; ou, quando longe dos holofotes, recorre a arbitrariedades impensáveis contra os mais frágeis (ou inimigos políticos “a mando”).
Somos os campeões de tortura, de linchamentos letais, morais, midiáticos. Das mortes nos campos, nas cidades, nos lares.
Morador de Nova Iguaçu, vi boa parte dos meus amigos de infância morrer na mão de terceiros: de bandidos? Não. Até de amigos ou colegas. Acerto de conta, briga de bar, ciúme de garotas.
Somos a cultura daquele que fala mais alto, aquele que bate na mesa, aquele que chama pra porrada, aquele que “não aguenta desaforo”, aquele que mete o dedo na cara, e aquele que pergunta “sabe com quem você está falando?”.
Somos violentos nos programas de humor infantis, nas piadas sem graça, no campo de futebol, na sala de aula, pra reafirmar nossa macheza incipiente. É lógico que nossos bandidos serão violentos. Eles serão parte da sociedade em que vivem. Não quero nem falar do trânsito estúpido, com recorde mundial de mortes. Carros são armas perigosas nas nossas mãos.
Nossa violência é verbal, institucional, física, psicológica.
O Brasil não é o campeão de homicídio. Mas está muito perto de ser. Não importa os dois ou três países mais violentos que nós. Importa que precisávamos repensar isso: subtrair a violência como um valor social. É preciso que nossa violência se torne motivo de vergonha, não de orgulho; vexaminosa, não auto-afirmativa.
É preciso desconstruir, de uma vez por todas, esta cultura da violência. Não para sermos o ideal com que um dia mentiram pra nós. Mas ao menos para que não nos matemos diariamente.
Wedencley Alves é professor do Departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. É doutor em Linguística (Unicamp) e mestre em Comunicação (UFF). Pesquisador na área de comunicação e discurso, hoje dedica especial atenção a questões envolvendo “mídia e violência” e “mídia e saúde”.
Postado em Outras Palavras em 21/05/2015
O desabafo de Mirian França : Sou negra ! E sou a prova !
Mirian França
Hoje acordei com vontade de gritar: Sou negra !
Filha de uma negra solteira, pobre, costureira aposentada, que jogou uma negra doutora na cara da sociedade. Uma negra que estuda e trabalha pra caralho pra garantir o direito de ser livre e viver como quiser.
Essa sou eu, Mirian França, a negra encarcerada no Ceará em Dezembro de 2014 por suspeita de assassinar uma turista italiana.
Graça aos amigos e à população, a policia foi obrigada a me libertar do meu cárcere. Cárcere sim!
Pois se tratando de uma prisão sem fundamentos, trata-se de uma prisão ilegal. Cometida por uma polícia despreparada e racista, que insiste em enxergar o negro como culpado mesmo quando não existem provas, evidência, motivação ou testemunha.
Que insiste em dizer que têm “CONVICÇÃO” de que somos culpados mesmo quando não há nenhuma prova da nossa culpa. Se tratando dos negros a polícia se esquece do nosso direito básico de que somos inocentes até que ELES provem o contrário, não somos nós que precisamos provar nossa inocência.
Aos 31 anos descobri o que é ser negra de verdade.
Ser negra é ser chamada de estranha quando você sai de férias e passa o dia na beira da piscina lendo, porque uma negra gostar de ler “é muito contraditório, provavelmente está forjando um álibi”.
Ser negra é ser questionada sobre como teria dinheiro para tirar férias no Ceará (um estado do meu país, onde apenas turistas estrangeiros parecem ser bem vindos).
Ser negra é ter a obrigação de andar com um macho a tira colo; não poder viajar sozinha; não ter o direito de trepar com quem quiser, sem ser chamada de puta (alias, essa é a sina de todas nós mulheres).
Ser negra é ter medo de parir uma criança que já nasce como um alvo para o genocídio. Que precisa ser preparado pra violência policial, pra chacota na escola, no teatro, na vida toda.
O racismo no Brasil é um crime perfeito. É o crime sem corpo, sem prova, sem testemunha. Mas é nítido quando a polícia tem “convicção de que você é culpado”, apenas com base no seu “comportamento suspeito” (Gostar de ler? Gostar de escutar musica? Gostar da introspecção? Gostar de viajar? Ser solteira?).
Não precisa chamar o negro de macaco pra ser racista não. Basta abrir os olhos e ver quem é preso por engano, basta ver quem precisa provar a inocência (quando a lei é clara que se é inocente até que se prove o contrario).
Quem é assassinado nos autos de resistência nunca é um branco. Eu nunca soube de um branco preso em manifesto por portar uma garrafa de desinfetante (Daniel Braga). E nem uma branca ser arrastada por viatura policial (Claudia Ferreira).
Eu sou a prova viva de que a redução da maior idade no Brasil é pretexto pra prender criança negra. Sou prova viva de que pena de morte no Brasil é consentimento jurídico para o Estado assassinar mais negros.
Eu sou a prova de que pra policia brasileira a culpa tem cor.
Saiba mais informações sobre o caso Mírian França nos links indicados:
(3) http://g1.globo.com/ceara/noticia/2015/02/carioca-e-liberada-pela-justica-para-deixar-fortaleza.html
(4) http://jornalggn.com.br/noticia/a-prisao-abusiva-de-mirian-franca-pela-morte-da-turista-italiana
Postado no Pragmatismo Político em 26/05/2015
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