Luiz Carlos Azenha
Durante a abertura do Nono Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT, em Guarulhos, o ex-presidente Lula deu a linha de como o PT pretende se defender do bombardeio existencial que vem sofrendo na mídia.
O discurso foi feito antes da prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que aconteceu na manhã desta quarta-feira.
A prisão agrava a crise da legenda — é o que vão dizer em uníssono os comentaristas da grande mídia, desconhecendo que todas as empresas que doaram ao PT doaram também ao PSDB e a outros partidos.
Mas, no caso do PT, foi suborno relacionado aos contratos da Petrobras, insiste a mídia.
A mulher e a cunhada de Vaccari são peças essenciais no jogo do juiz Sergio Moro. Se houver um depósito suspeito sequer na conta de alguma delas, a casa do PT desaba.
Não é novidade, mas essa é a linha de criminalização que vai desaguar no pedido de impeachment de Dilma, mais cedo ou mais tarde.
1. Cobrindo a Operação Lava Jato nos mínimos detalhes, enquanto trata a Operação Zelotes e o escândalo do HSBC — que envolvem muitos dos “seus”, sejam barões midiáticos ou patrocinadores deles — como coisa menor.
2. Selecionando alguns réus — Vaccari entre eles — para serem mais culpados que outros — Eduardo Cunha entre eles.
3. Prevendo o fim do PT, como fez um comentarista da Folha hoje, para o qual, sob algumas circunstâncias, “o propalado risco existencial para o partido de Lula e Dilma ganhará ares de inevitabilidade”.
Tudo isso terá repercussão óbvia nas eleições municipais de 2016, quando a Prefeitura de São Paulo estará no centro da disputa. Derrotar o PT em São Paulo é essencial para enfraquecer a volta de Lula em 2018.
Lula, em seu discurso aos metalúrgicos, aplicou algumas vacinas preventivamente.
1. A ligação entre ele e Dilma é indissolúvel e não depende da popularidade da presidenta nas pesquisas. Trata-se do mesmo projeto político. Dilma, disse Lula, “aprendeu na adversidade”. “Naquele tempo não era delação premiada, não, era choque”, afirmou.
2. “Nunca vi tanto pessimismo na minha vida”, disse o ex-presidente sobre o Brasil de hoje. Ele passou a citar dados para rebater o pessimismo, disse que o ajuste é passageiro, que parte da mídia é que está pessimista e que Dilma “deu azar” com a seca. Em resumo, afirmou que a situação econômica é transitória e que o Brasil terminou 2015 com taxa de desemprego “da Dinamarca, da Suécia”.
3. Ninguém combateu a corrupção tanto quanto o PT e Dilma, a quem um dia os brasileiros ainda vão agradecer, afirmou Lula.
4. Se o PT recebeu dinheiro das empresas envolvidas na Lava Jato, outros partidos também o fizeram. “O dinheiro dos tucanos veio da quermesse?”, perguntou o ex-presidente.
5. Dilma poderá contar com os metalúrgicos e os trabalhadores em geral tanto quanto ele, Lula, contou em 2005, quando a oposição chegou a falar no impeachment do ex-presidente.
Esta última afirmação de Lula resume o nó da conjuntura política.
O apoio popular a Dilma, como se vê nas pesquisas, depende da situação da economia. Se os tucanos forem para a jugular da presidenta nos próximos meses, como estão se preparando para fazer — por exemplo, ao pedir ao jurista Miguel Reali Jr. um parecer sobre a abertura de processo de impeachment –, é possível que encontrem nas ruas respaldo popular para derrubar o governo.
Não por outro motivo, a grande mídia está envolvida até o pescoço na promoção das manifestações da direita, especialmente a Globo, enquanto as manifestações à esquerda são tratadas como problema de trânsito.
Lula, e a própria Dilma, como ficou claro na entrevista dada pela presidenta a blogueiros, apostam que o ajuste trará resultados até o final deste ano. A retomada do crescimento econômico, assim, aliviaria a pressão sobre o Planalto.
Lula sinalizou, em seu discurso, que até lá Dilma pode repetir o bordão que os sindicalistas adotaram para sustentar o ex-presidente em seus dias de baixa popularidade: “Mexeu com Lula, mexeu comigo”.
Postado no Contraponto em 16/04/2015