Uma nova civilização ou o fim do mundo?





Leonardo Boff

Há vozes de personalidades de grande respeito que advertem que estamos já dentro de uma Terceira Guerra Mundial. 

A mais autorizada é a do Papa Francisco. No dia 13 de setembro deste ano, ao visitar um cemitério de soldados italianos mortos em Radipuglia perto da Eslovênia disse: ”a Terceira Guerra Mundial pode ter começado, lutada aos poucos com crimes, massacres e destruições”.

O ex-chanceler alemão Helmut Schmidt em 19/12/2014, com 93 anos, adverte acerca de uma possível Terceira Guerra Mundial, por causa da Ucrânia. Culpa a arrogância e os militares burocratas da União Europeia, submetidos às políticas belicosas dos USA. 

George W. Bush chamou a guerra ao terror, depois dos atentados contra as Torres Gêmea, de “World War III”. 

Eliot Cohen, conhecido diretor de Estudos Estratégicos da Johns Hopkins University, confirma Bush bem como Michael Leeden, historiador, filósofo neoconservador e antigo consultor do Conselho de Segurança dos USA que prefere falar na Quarta Guerra Mundial, entendendo a Guerra Fria com suas guerras regionais como já a Terceira Guerra Mundial. 

Recentemente (22/12/2014), conhecido sociólogo e analista da situação do mundo Boaventura de Souza Santos escreveu um documentado artigo sobre a Terceira Guerra Mundial (Boletim Carta Maior de 22/12/2014). E outras vozes autorizadas se fazem ouvir aqui e acolá.

A mim me convence mais a análise, diria profética, pois está se realizando como previu, Jacques Attali em seu conhecido livro Uma breve história do futuro (Novo Século, SP 2008). 

Foi assessor de François Mitterand e atualmente preside a Comissão dos “freios ao crescimento”. Trabalha com uma equipe multidisciplinar de grande qualidade. 

Ele prevê três cenários: 

(1) O super-império composto pelos USA e seus aliados. Sua força reside em poder destruir toda a humanidade. Mas está em decadência devido à crise sistêmica da ordem capitalista. Rege-se pela ideologia do Pentago do ”full spectrum dominance” (dominação do espectro total) em todo os campos, militar, ideológico, político, econômico e cultural. Mas foi ultrapassado economicamente pela China e tem dificuldades de submeter todos à lógica imperial. 

(2) O superconflito: com a decadência lenta do império, dá-se uma balcanização do mundo, como se constata atualmente com conflitos regionais no norte da Africa, no Oriente Médio, na Africa e na Ucrânia. Esses conflitos podem conhecer um crescendo com a utilização de armas de destruição em massa (vide Síria, Iraque), depois de pequenas armas nucleares (existem hoje milhares no formato de uma mala de executivo) que destroem pouco mas deixam regiões inteiras por muitos anos inabitáveis devido à alta radioatividade. Pode-se chegar a um ponto com a utilização generalizada de armas nucleares, químicas e biológica em que a humanidade se dá conta de que pode se autodestruir. 

E então surge (3) o cenário final: a superdemocracia. Para não se destruir a si mesma e grande parte da biosfera, a humanidade elabora um contrato social mundial, com instâncias plurais de governabilidade planetária. Com os bens e serviços naturais escassos devemos garantir a sobrevivência da espécie humana e de toda a comunidade de vida que também é criada e mantida pela Terra -Gaia.

Se essa fase não surgir, poderá ocorrer o fim da espécie humana e grande parte da biosfera. Por culpa de nosso paradigma civilizatório racionalista.

Expressou-o bem o economista e humanista Luiz Gonzaga Belluzzo, recentemente: “O sonho ocidental de construir o habitat humano somente à base da razão, repudiando a tradição e rejeitando toda a transcendência, chegou a um impasse. 

A razão ocidental não consegue realizar concomitantemente os valores dos direitos humanos universais, as ambições do progresso da técnica e as promessas do bem-estar para todos e para cada um” (Carta Capital 21/12/2014).

Em sua irracionalidade, este tipo de razão, constrói os meios de dar-se um fim a si mesma.

O processo de evolução deverá possivelmente esperar alguns milhares ou milhões de anos até que surja um ser suficientemente complexo, capaz de suportar o espírito que, primeiro, está no universo e somente depois em nós.

Mas pode também irromper uma nova era que conjuga a razão sensível (do amor e do cuidado) com a razão instrumental-analítica (a tecnociência). 

Emergirá, enfim, o que Teilhard de Chardin chamava ainda em 1933 na China a noosfera: as mentes e os corações unidos na solidariedade, no amor e no cuidado com a Casa Comum, a Terra. 

Escreveu Attali: ”quero acreditar, enfim, que o horror do futuro predito acima, contribuirá para torná-lo impossível; então se desenhará a promessa de uma Terra hospitaleira para todos os viajantes da vida (op.cit. p. 219).


Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor


Postado no site Pragmatismo Político em 02/01/2015


Nota

O termo Terra-Gaia vem da Mitologia grega, de Gaia, Géia, Gea ou Gê era a deusa da Terra, a Mãe Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora quase absurda.









Globo desrespeita memória de Mário Lago






Léa Maria Aarão Reis no site Carta Maior:

"Acredito que as palavras dela jogam luz onde queriam sombras," diz Mario Lago Filho, irmão da jornalista Graça Lago. 

Ela é a filha do ator Mário Lago cuja indignação, em nota redigida há cerca de dez dias, mobilizou e continua repercutindo em todo o Brasil, nas redes sociais e na mídia digital. 

Ela denuncia a manipulação política da TV Globo mudando “o perfil do premio” que leva, há 13 anos, o nome de seu pai, tradicionalmente uma homenagem a profissionais - atores, atrizes, compositores, cantores - do mundo da dramaturgia e do entretenimento.

Este ano, de repente, o premio foi conferido a um jornalista - da Globo, é claro ... -, o editor chefe do principal telejornal da emissora que vem perdendo audiência de modo significativo. 


Um profissional duramente criticado, durante 2014, pela crescente manipulação do noticiário de modo geral e pela chocante agressividade ao entrevistar a Presidente Dilma Roussef, então em campanha eleitoral, com uma abordagem grosseira à candidata e definitivamente reveladora das suas ideologias particulares permeando o jornalismo envenenado que pratica.


Um exemplo acabado do tipo de jornalismo dos chiens de garde; os cães de guarda* das redações, como se referem os franceses àquele profissional que, em outra oportuna expressão, essa cunhada pelo jornalista Mino Carta, consegue ser pior do que os seus patrões. 

“A questão é a mudança do chamado “perfil” do prêmio. Agora, teve uma conotação nitidamente política,” escreve Graça, ao nos responder à entrevista. 

“Ele sempre foi dedicado a artistas, especialmente atores, com três exceções: Gilberto Gil, Roberto Carlos e Hebe Camargo. Foi uma decisão política da globo, com certeza. Uma tentativa de fazer um desagravo ao Bonner. Mas, pela péssima repercussão que teve essa decisão, parece que foi um tiro no pé. Eles ainda não entenderam que o povo não é bobo.”

“Neste ano,” observa Graça Lago à Carta Maior, ”foi tudo diferente, desde o formato. 

A Globo transformou a premiação (que sempre foi despretensiosa) em um grande ato político. É importante frisar isso. Em um ato sem comparação na própria história da emissora, dedicou quase mais de uma hora do faustão ao prêmio, com inesgotáveis elogios ao Bonner e ao jornal nacional. 

Foi quase um longa-metragem, um ato político com o objetivo de desagravar o jornalista e o decadente jornalismo global que vem sendo duramente criticado pelo facciosismo, partidarismo e reacionarismo. 

A globo não faz jornal; faz panfleto. E o Bonner é um dos alicerces dessa postura.”

O que mais indignou a família do ator falecido em 2002 e conhecido pela sua integridade e posições políticas à esquerda foi o fato da Globo relacionar, no troféu, o nome de Mário Lago, militante notório e permanente das causas sociais e do Partido dos Trabalhadores à atuação de um mau jornalista que se arvora, com hipocrisia, imparcial, neutro e isento no exercício da profissão; mas que na verdade defende suas convicções reacionárias envenenando a informação cotidiana. 

“Um posicionamento que é, em tudo, o oposto do que o meu pai sempre defendeu e pelo que lutou a vida toda, o que rendeu a ele sete prisões políticas,” lembra a filha de Mário Lago. 

“ Além disso, desde 1989 papai estava alinhado com o PT, participou de campanhas do PT, militou no partido (embora não fosse filiado, porque também nunca se filiou a qualquer partido, nem ao PCB).

Foi uma ofensa à memória dele, à sua história, a tentativa de associar o seu nome a algo e a uma pessoa que ele, se estivesse vivo, certamente condenaria e combateria. 

Papai não emprestaria o nome dele a esse papel. A mim, causou tanta indignação quanto como se tivessem entregado o Troféu Mário Lago diretamente ao retroaecio - (desculpem, eu não nomeio a pessoa.) ”

“E, como se não bastasse, o Bonner, na sua fúria antidemocrática, ainda lançou críticas às redes sociais especialmente àqueles que o criticam e ao jornalismo da globo; portanto, nós. 

Nos chamou de robôs, de instrumentalizados, de estar a serviço de partidos (como se o JN não estivesse!). Foi demais.”

A família soube da premiação, na sua primeira versão, quando ela foi ao ar. “Foi uma surpresa. Fiquei profundamente emocionada quando, passados apenas sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso.” 

Pergunto à Graça: Alguma vez a Globo procurou vocês pedindo autorização, até por uma questão de delicadeza, de consideração, de polidez, para usar o nome de Mário Lago neste troféu? 


“Não. Mas nós procuramos não submeter a herança e a memória de papai a barreiras que tornem inaccessível o acesso a ele. Nesse aspecto, somos bastante liberais. O que impedimos é o uso indevido, é a distorção, é o uso comercial descontrolado, é o desrespeito. Então, o prêmio nos pareceu uma maneira de manter viva a memória dele junto àquele público. Uma coisa boa. 

Só neste ano, quando a globo imprime um caráter essencialmente político ao prêmio e usa o nome de papai para beneficiar uma pessoa contrária a ele é que isso pesou. Mas parece que foi o último ano do prêmio. Depois desta vez, espero sinceramente que sim.”

Vocês consultaram advogado, ou pretendem fazê-lo, para desautorizar a Globo de instituir, no futuro, esse premio com o nome do seu pai? Vocês vão à justiça? 

“Depois de 13 anos, fica difícil, do ponto de vista jurídico, questionar a existência do Troféu Mário Lago. Mas não acredito que será necessário. Duvido que a globo repita a premiação.” 

E vocês, filhos de Mário Lago, vão levar adiante o projeto de instituírem o verdadeiro Prêmio Mário Lago em 2015? 

“Alguns amigos, como o produtor cultural Paulinho Figueiredo e o Márcio Brant, deram essa ideia, do Troféu Verdadeiro Mário Lago. A cerimônia seria no BIP-BIP, em Copacabana, único bar que tem projeto social e compromisso político. 

É um reduto democrático e cultural do Rio. Pode ser que role. Será uma votação democrática. Mas eu já tenho algumas indicações: se for artista, a cantora Beth Carvalho, guerreira de 2014, e o ator e eterno grande aprendiz Tonico Pereira. Se for jornalista, todos os profissionais dos blogs de resistência ao monopólio da mídia. Sempre recomendo: quem quiser se informar vá aos blogs.”

A repercussão do fato continua. Como ela está sendo agora? 

“A repercussão é muito além do que eu pensava. O assunto esteve no topo dos assuntos mais populares em blogs como o Viomundo, Diário do Centro do Mundo, BR 24/7... é espantoso. 

Em um único dia, recebi mais de mil pedidos de amizade no facebook. Não estou dando conta de responder todas as mensagens. Só recebi três mensagens negativas, me condenando. O que mais vem é apoio. Há pessoas que até me chamam de corajosa, exemplar, guerreira. Isso tem muito a ver com a força que se acredita que a globo tenha. 

Muitos temem a globo, inclusive pessoas cujas carreiras nem passam perto do mercado da globo. Por isso, acho que acabou sendo um tiro no pé que colocou sob os holofotes o que estava se aquietando. 

Foi um erro enorme de marketing, falando a linguagem deles. Não sei quem aconselhou ou exigiu, mas esse alguém errou porque voltou a chamar enormemente a atenção para os desmandos da emissora.”

Nem todos percebem que em 50 anos, o mundo mudou e cada vez há menos Homers Simpsons na audiência do JN - aqueles mesmos robôs assim batizados pelo próprio editor chefe do noticiário. 


Abaixo, a Nota de Graça Lago 

Primeiro, me apresento – sou Graça Lago, filha de Mário Lago, tenho 63 anos, 50 de militância política e 46 de jornalismo. 

O prêmio com o nome de papai foi instituído em 2002, ano da morte dele, e parecia uma homenagem bacana à memória dele. Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores. Nada especial, mas que poderia manter a sua lembrança viva. Bacana. 

Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso. 

Durante todos esses anos, o prêmio se manteve em um patamar honesto, com homenagens a diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um ou outro, nenhum ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia, é importantíssimo registrar. 

Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu principal (embora decadente) telejornal.  

Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo. 

Em tudo o prêmio fugiu aos seus propósitos originais. Bonner não é um artista, a não ser na arte de manipular e omitir os fatos. 


O evento virou um circo de elogios instrumentalizados. Enaltecer a “imparcialidade” com que ele e sua parceira conduziram as entrevistas com os presidenciáveis é esquecer que ele não deu espaço para uma só resposta de Dilma Rousseff; é esquecer que ele e sua parceira ocuparam mais da metade do tempo estipulado para a entrevista com a presidenta.


É esquecer que esse tratamento não foi dedicado a qualquer outro entrevistado. 

É esquecer que, mesmo no auge das denúncias sobre os escândalos dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, o sr. Aécio não foi pressionado nem um terço do que foi Dilma Rousseff para explicar os flagrantes delitos dos empreendimentos. 

É esquecer que, mesmo frente às denúncias da ilegalidade do jato de Eduardo Campos, a sra. Marina não teve qualquer questionamento contundente (e viajava, sim, no jato). 

Isso para não falar de mil e outros atos de atentado à informação, praticados no JN, como bem foi demonstrado pelo laboratório da UERJ.

Mas não parou aí. Ouvir o Bonner criticar as redes sociais revirou o meu estômago. 

Ouvir o Bonner chamar os que o criticam, e à Globo, de robôs instrumentalizados é inqualificável. É um atentado à democracia. 

Tudo demonstra que o prêmio, criado talvez até por força de uma admiração por meu pai, foi usado este ano politicamente, para proteger, com a respeitabilidade e memória de Mário Lago, o que não tem respeito, nem nunca terá. 

Se a intenção foi política, politicamente me manifestei. 

Não poderia ouvir calada todas essas imensas ofensas à memória de meu pai. 

Meu pai era um homem político, e assim se manifestava e comportava cotidianamente. 

Não aceitaria, jamais, ser manipulado por excrescências como essa. Vi meu pai recusar propagandas bem remuneradas por discordar politicamente delas. Sempre trabalhou e ganhou o seu salário com a maior decência.
...

A Globo tentou jogar no lixo a biografia do meu pai. A isso digo não e me manifesto publicamente sobre a imensa farsa montada nesta premiação do jornalismo mais instrumentalizado e faccioso deste país.




Decoração de espaços com piscina


Backyard


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Design Ideas


Do andar de cima, avistam-se os chalés de hóspedes ao fundo e, em primeiro plano, o lounge da área da piscina, com sofá feito de cumaru e com estofado impermeável Acquablock, da Karsten (Aladim Decorações). Projeto do escritório Vida de Vila.


Piscinas más naturales · ElMueble.com · Casa sana


Casas no Jardim do Lago, Canoas - Vivendas do Lago Clube Residencial - Cyrela.com.br


Casas em Canoas - Moinhos de Vento, Canoas - Quinta do Moinhos - Cyrela.com.br


Área de Lazer com piscina


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Candidato à Presidência da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é contra a regulação necessária e democrática da mídia brasileira !



















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Cunha tenta blindar mídia, mas apenas revela insegurança e desespero


Miguel do Rosário

Obrigado, excelentíssimo deputado federal Eduardo Cunha.

Vossa excelência prestou uma grande contribuição à causa da liberdade democrática.

Só que às avessas.

A causa da liberdade democrática caminha junto com o debate sobre a regulação democrática da mídia.

A sua manifestação hoje no Twitter, que já está sendo recebida com fogos de artifício pela mídia corporativa, foi um tiro no pé.

No seu pé e no pé da mídia.

No mesmo dia em que o novo ministro da Comunicação, Ricardo Berzoini, diz que o governo irá promover o debate sobre a regulação da mídia, uma promessa de campanha da então candidata e da agora novamente empossada presidente Dilma Rousseff, o deputado Cunha se posiciona duramente contra.

Até aí tudo bem. Se vimos até gente pedindo intervenção militar, não nos espantamos que haja quem seja contra que o Brasil possua um sistema de informação mais democrático e mais plural.

Só que Cunha foi mais longe. Ele disse que eles, do PMDB, não aceitam “nem discutir o assunto”.

A reação de Cunha, e da mídia, é de insegurança.

A insegurança dos autoritários.

A essência da democracia, e em especial do parlamento, é a liberdade para discutir qualquer assunto.

O Partido dos Trabalhadores é a legenda com o maior número de representantes na Câmara. E a democratização da mídia hoje faz parte de suas diretrizes políticas mais importantes.

O próprio PMDB tem vários parlamentares favoráveis ao debate sobre a democratização da mídia. A começar pelo senador Roberto Requião, candidato do PMDB ao governo do Paraná. Ainda no PMDB, temos o deputado federal Jorão Arruda, também do Paraná.

Diversos outros partidos tem quadros comprometidos com a causa da regulação democrática da mídia, como o PSB, que conta com Luiza Erundina.

Como assim alguém que pretende ser presidente da Câmara não aceita sequer discutir o assunto?

Cunha vai impor censura? Ele pensa que é candidato a ditador do Brasil?

Ao agir assim, Cunha fez o contrário do que pretendia.

Ele iniciou o debate em alto estilo, por isso o agradecimento a sua pessoa no início do post.

Cunha é contra qualquer tipo de pauta progressista.

Sua última campanha no Rio de Janeiro foi feita com espaços publicitários nas páginas mais importantes do Jornal O Globo.

Por isso mesmo, para a mídia, é um tiro no pé ter um lobista da qualidade ética e com o perfil político de Cunha tentando censurar e bloquear o mero debate sobre uma regulação necessária e democrática da mídia brasileira.

Tentar impedir o mero debate é uma medida extrema, truculenta, medrosa, desesperada.

Com apoio de seus lacaios, a mídia tenta pintar o debate sobre regulação econômica da mídia como tentativa do governo de “censurar” a imprensa.

Pintar um “debate” como tentativa de censura é um contrassenso ridículo.

Uma mentira que apenas reforça a necessidade de regular democraticamente a instância mais importante na formação da consciência política de um país.

Ninguém quer censurar nada!

Quem sempre foi a favor da censura são os barões da mídia, que formam um cartel ideológico formado e consolidado na ditadura militar, e que até hoje tentam impor uma agenda política ao país.

Os bilhões nas contas bancárias dos barões da mídia é que foram constituídos com censura.

Até hoje censuram!

Vide o caso da sonegação da Globo, sinistramente censurado em todos os meios de comunicação. Autocensurado. E agora tentam repetir a fórmula com o debate sobre a regulação econômica da mídia.

A mídia herdou o que havia pior na ditadura: censura, truculência e autoritarismo.

As armas desses senhores feudais da mídia perderam poder de fogo, mas ainda possuem poder excessivo, sobre o debate político, econômico e cultural, sobretudo quando olhamos para as concessões públicas na TV aberta.

Suas campanhas de mentiras e agora a contratação de um lobista da qualidade de Eduardo Cunha, apenas ilustram a decadência moral e política de uma imprensa profundamente anti-democrática.



Postado no blog Tijolaço em 03/01/2015


De que lado você está ? On ou Off ?








Petrobras: um filme a ser revisto


Arquivo

“A única maneira de impedir que tudo seja revirado é considerar o terceiro mundo como [um mundo] de seres humanos, não de seres inferiores”.

Enrico Mattei


Flávio Aguiar

O Financial Times publicou, recentemente, um artigo onde se afirma que, dentre as companhias petrolíferas do mundo, a Petrobras arrisca tornar-se uma “pária”, diante das acusações de corrupção interna e externa. 

Processada por um fundo abutre nos Estados Unidos, a Petrobras passa por um momento em que, além das investigações (adequadas), enfrenta ataques demolidores no plano nacional e internacional.

O artigo do FT, além de noticiar as investigações, ressoa também o desejo (“wishful thinking”) de que a estatal brasileira venha a ser isolada, quebrando-lhe a espinha, e de quebra a espinha do governo brasileiro e do próprio Brasil, incômodo besouro que não deveria voar segundo as leis da ortodoxia econômica, mas que no entanto avoa, passando, apesar das dificuldades, por uma fase melhor do que a maioria dos países europeus, envoltos em crises de identidade, de empobrecimento galopante, de ascensão da extrema-direita e de perda de prestígio. 

Os ataques vão continuar e recrudescer, sobretudo desde que a ortodoxia europeia entrou em indisfarçável pânico diante da possibilidade de que o Syriza ganhe as próximas eleições nacionais na Grécia e arranque o país dos grilhões da “austeridade”. Se tiver sucesso, vai ser uma “catástrofe”...

Quanto à Petrobras, há um filme para ser visto ou revisto. Chama-se “O caso Mattei”, é dirigido por Francesco Rosi (“O bandido Giuliano”, dentre outros), foi lançado em 1972 e tem Gian Maria Volonté no papel-título, o do engenheiro italiano Enrico Mattei, assassinado (hoje isto está judicialmente aceito, embora sem apontar os culpados) em 1962, num atentado contra o avião em que ia da Sicília para Milão e que matou também o piloto e um jornalista que o acompanhava.

Enrico Mattei (1906 – 1962) foi o engenheiro nomeado presidente da companhia Agip (Azienda Generale Italiana Petrolio), fundada por Benito Mussolini, para fechá-la. 

Ao invés disto, Mattei, convocando técnicos demitidos no pós-guerra, reativou-a, dinamizou-a e refundou-a sob o nome de Ente Nazionale Idrocarburi (ENI), empresa estatal que existe até hoje, sendo uma das mais dinâmicas da hoje combalida economia do país e uma das responsáveis pelo “renascimento italiano” dos escombros do fascismo na década de 50.

O motivo desta decisão surpreendente e que contrariou inúmeros interesses naquele momento, dentro e fora da Itália, foi a descoberta de um memorando em que um dos técnicos demitidos registrara a descoberta de jazidas de petróleo e gás no vale do rio Pó, perto de Milão, em terras pertencentes ao Estado. 

Em 1947 as prospecções confirmaram o memorando, encontrando não muito petróleo, mas muito gás, o suficiente para fornecer energia para a nova industrialização do norte do país.

Mas o esforço de Mattei não se limitou a isto. Ele projetou a ENI no cenário internacional, e aí seus maiores problemas começaram. Já havia problemas internos, que o filme de Rosi debate intensamente, centrando-se, entre outros temas, na discussão sobre o papel do Estado na recuperação econômica da Itália.

Jornalistas ortodoxos (parece um outro país que conhecemos...) criticaram violentamente o “estatismo” de Mattei, que não cedeu as reservas descobertas à exploração pela iniciativa privada, ressalvando que as empresas particulares eram bem-vindas – para fazer suas próprias prospecções em outras terras, vizinhas ou não, reguardando a propriedade estatal para a ENI.

Mas foi no plano externo que os problemas se avolumaram desmesuradamente. 

Tratava-se de um momento (década de 50) em que o cartel das “Sete Irmãs” (uma expressão cunhada por Mattei) dominava completamente o mercado petrolífero mundial, fazendo acordos lupinos e vorazes com governos corruptos e colonialistas dos países produtores no Oriente Médio e no norte da África, com condições abjetas, e simplesmente depondo governos que a eles e elas não se sujeitavam, como no caso da Pérsia, futuro Irã, em que o governo nacionalista de Mossadegh foi derrubado em 1953 sob a desculpa de “salvar o país do comunismo”.

As Sete Irmãs eram: a Anglo-Persian Oil Company (hoje British Petroleum, BP*), a Standard Oil of California (SOCAL), a Texaco-Chevron*, a Royal Dutch Shell*, a St. Oil of New Jersey (Esso), a St. Oil of New York (SOCONI) (hoje Exxon Mobil*) e a Gulf Oil. As assinaladas com o (*) existem até hoje e estão ativas no plano internacional.

Mattei tomou várias iniciativas que contrariaram o interesse do cartel e de quem a ele estava ligado, dentre elas:

1) Começou a percorrer os países do Oriente Médio e do norte da África oferecendo melhores condições contratuais. Alvos: Argélia (então ainda um “protetorado” francês), Tunísia (idem), Marrocos, Pérsia (hoje irã) e Egito. Objetivo: assinar acordos na base de 50%/50% na repartição dos lucros.

2) Realizou um acordo de compra de petróleo da então União Soviética, contrariando e enfurecendo a OTAN. Um memorando então secreto do National Security Council dos Estados Unidos considerava Mattei alguém “irritante” e um “obstáculo”.

3) Apoiou o movimento de independência da Argélia, atraindo a ira da organização terrorista francesa Organisation Armée Secrète (OAS), a mesma que tentou matar o General De Gaule, dentre outros atentados. Com isto contrariou também o próprio serviço secreto francês, o Service de Documentation Exterieure et de Contre-Espionage (SDECE).

Mattei criou uma espécie de fábula, no estilo de La Fontaine e Esopo, para explicar o que estava acontecendo:

“Um pequeno gato chega onde alguns cachorrões estão comendo num pote. Os cachorrões o atacam e o expulsam. Nós, italianos, somos como este pequeno gato. No pote há petróleo para todos, mas alguém não quer deixar que cheguemos perto dele”.

Mattei era uma figura pública, no centro da captação financeira do momento. De fato, tornou-se “irritante” e um “obstáculo”. E num momento em que, na Itália do pós-guerra, as várias versões da Máfia tinham se tornado investidoras no mercado financeiro. Não só lá: nos EUA também.

O desfecho deu-se num vôo da Sicília para Milão. Hoje se admite oficialmente que houve um atentado, provavelmente por uma bomba colocada no avião, acionada por algo como o acender de um isqueiro na cabine (sempre fui contra fumar em vôos).

O avião caiu, e sabe-se que vários indícios e evidências foram “lavados” no local, ou não tomados em consideração, como o de que o corpo de Mattei tinha cravados vários fragmentos de metal – o que só uma explosão podia explicar.

O assassinato – hoje oficialmente admitido – aconteceu num momento em que isto era comum como “aggiornamento” ao mundo da Guerra Fria: recordemos o de Patrice Lumumba, no Congo, e a morte suspeita do Secretário Geral do ONU, Dag Hamarskjold, também numa queda de avião, no mesmo Congo, hoje objeto de nova investigação. Sem falar nos inúmeros golpes de direita na América Latina.

Além de focar uma tragédia, o filme de Rosi teve a sua própria. Durante a preparação do roteiro o diretor pediu ao jornalista Mauro de Mauro que fizesse uma investigação sobre Mattei. De Mauro tinha uma biografia interessante e complicada. Apoiara os fascistas de Mussolini e depois, quando os ventos mudaram, tornou-se membro da Resistência. Isto lhe garantiu inúmeros contatos, mas também lhe trouxe o hábito de falar demais, com todo mundo.

De Mauro foi à Sicília, e de lá, num dos últimos contatos com amigos, disse que tinha descoberto “a história de sua vida”. “Algo que iria abalar a Itália”.

Aparentemente, segundo um destes amigos, “falou a coisa errada para a pessoa certa e a coisa certa para a pessoa errada”. Foi sequestrado e morto pela Máfia siciliana. Seu corpo nunca foi encontrado. Dois dos investigadores de sua morte – o Coronel Alberto Della Chiesa e o Capitão Giuseppe Russo – foram mortos também pela Máfia. O episódio é evocado no filme.

Em 1997 o “Caso Mattei” foi reaberto, à luz das declarações do “capo” Tomaso Buscetta, duas vezes preso no Brasil e duas vezes extraditado para a Itália. 

Buscetta foi o primeiro a admitir que Mattei fora morto por ordem da Máfia Siciliana. 

A versão hoje predominante é a de que esta o matara a pedido da “Cosa Nostra” norte-americana que, como o NSC, considerava Mattei um “obstáculo irritante”, por atrapalhar seus investimentos petrolíferos junto a algumas empresas das Sete Irmãs. O envolvimento destas nunca foi comprovado, sequer investigado – exceto pela sugestão do filme de Rosi.

O caso de De Mauro foi a julgamento em 2011, no de Salvatore Rine, o único mafioso sobrevivente que teria um envolvimento com seu desaparecimento e morte. Rine foi absolvido por falta de provas, e o veredito apontou “assassinato com autores desconhecidos”, um final melancólico para a justiça italiana.

Embora com pontos análogos, a situação da Petrobras hoje é diferente. Ela não é mais “um pequeno gato”. Virou um cachorrão. 

O próprio FT publicou não faz muito uma lista do que considera hoje “as Sete Irmãs”: a Saudi Aramco, a China NP Corporation, a Gazprom, a National Iranian Oil Co., a PDVSA venezuelana, a Petronas da Malásia, e a Petrobras. 

Há diferenças gritantes em relação às antigas “Sete Irmãs”: elas não formam um cartel. Tanto quanto se sabe, não patrocinam golpes de estado. E algumas das antigas “Sete” continuam em operação, com seus métodos nada ortodoxos.

Quanto à Petrobras, o seu problema é que hoje ela descobriu o novo “grande pote”. Ou seja, o Pré-Sal.

Isto pode desequilibrar (reequilibrar?) o mundo petrolífero em vários sentidos. 

O Brasil pode se tornar membro da OPEP. Pode trazer autonomia em matéria de petróleo não só para si mas para a América do Sul como um todo. E o petróleo ainda tem vida longa como fonte de energia.

A cachorrada ao redor está alçada. A externa, para por os dentes na reserva, impedindo que seus dividendos sejam usados para beneficiar a educação e a saúde dos brasileiros, favorecendo ao invés a “saúde” e o “bem estar” dos mercados internacionais. A interna, para lucrar com a entrega à voracidade internacional deste patrimônio nacional.

O filme de Rosi repartiu a Palma de Ouro do Festival de Cannes com “A classe operária vai ao Paraíso”, de Elio Petri. Está no youtube. 

Oo anúncio, diz que o filme tem legendas em português. Na versão que vi, não tem. Mas é compreensível para um falante de português ou espanhol.

Não perca.


Postado no site Carta Maior em 02/01/2015