A cada dia, recomeçar...




Aurora Reis


Todo dia, quando acordamos, ganhamos de presente um novo dia: tantas horas, um espaço de tempo inteiro para criar a nossa vida, nossa história.

Como cada um aproveita o seu tempo é responsabilidade pessoal, ou seja, é você mesmo quem escolhe o que vai viver, o que fazer e deixar acontecer... 

Mesmo que essas escolhas sejam feitas de forma inconsciente ou quando somos "obrigados" a escolher determinado caminho. Quando não escolhemos, é certo que algo ou alguém escolhe por nós, mesmo que seja a própria vida, que nos traz os desafios necessários para nossa evolução.

Acordar é como nascer a cada dia. Uma oportunidade única de recomeçar, transformar, mudar, recriar, reciclar, evoluir. Dar o primeiro passo em direção à mudança almejada talvez seja o mais difícil. Mas depois que nos direcionamos para a trilha certa - guiados por nosso coração - tudo fica mais fácil, colorido e até divertido, por que não?

As mudanças podem ser suaves, frescas como a brisa ou o sol matinal. Não precisam ser como o sol do meio-dia ou uma tempestade, um furacão! Elas podem ser sutis, e o caminho da sutileza é belo, simples e humilde - um passo de cada vez...

Recomeçar requer tato e sensibilidade, consigo mesmo, sem muitas exigências, cobranças, autocrítica ou mania de perfeição. Tudo isso é coisa do ego, que sempre quer transformar num drama algo que é singelo.

Essa mudança gradual pode ser feliz, alegre e divertida, como já foi dito. Mas, como? Apenas sorrindo para a vida, não se levando tão a sério e deixando o medo ir embora.

Medo de errar, de viver, de sofrer, de dar tudo errado.

O medo é o oposto do amor e a principal causa de sofrimento e dor. O medo é a escuridão que se disfarça de luz, mas não engana por seu sentimento causar estranheza e sensação de desconforto. 

Quando não estamos nos sentindo bem em determinado lugar, papel ou com alguma pessoa é sinal de que algo não está tão bem como se deveria estar. Quando o coração sente uma repulsa, um desejo de não estar mais ali é hora de ouvi-lo e prestar atenção à sua silenciosa voz.

Ouvir o coração é um meio de seguir a vida de forma simples, alegre e sem medo. Recomeçar com o guia certo, sem precisar de nenhuma muleta externa. 

Esse tempo já passou!


Postado no site Somos Todos Um


O valioso tempo dos maduros




Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!


Mario de Andrade



Um pouco de música em dois ótimos clipes !






Pharrell Williams em Happy do filme de animação Meu Malvado Favorito 2




Katy Perry em Roar.





Almofadas 2014 : descontração ou sofisticação











Reprodução





































decoração de sala com papel de parede2







Viver de modo leve



Elisabeth Cavalcante

Nenhuma experiência humana prescinde de momentos desafiadores, visto que eles são o ingrediente fundamental do processo de maturação do Ser. Para muitos, de fato, ela é um fardo pesado de problemas e dificuldades. 

A diferença entre estes e os que recebem uma carga menor reside, acima de tudo, nas questões cármicas que o espírito "escolheu" vivenciar. Isto não significa aceitar resignadamente as condições da vida, ao contrário, a lapidação do espírito se dá pela ação, por uma atitude motivada pelo desejo de superar as circunstâncias ruins, pois é assim que se desenvolve o poder interior.

Mas para isto não é necessário encarar a existência com rigidez, inflexibilidade e um permanente estado interior de guerra. Ao contrário, quanto mais relaxada, leve e confiante for a postura adotada diante dos problemas, maiores serão as chances de que eles se solucionem rapidamente.

Este é um aprendizado difícil, visto que somos condicionados desde cedo a encarar a vida como uma batalha, sem qualquer possibilidade de trégua. Porém, se formos capazes de transmutar essa postura, acabaremos descobrindo que é possível encarar muitas situações com menos sofrimento.

Os problemas continuarão existindo, mas a nossa atitude diante deles é que fará a diferença essencial. Uma das chaves para isto é, naturalmente, não ficar remoendo o que já não pode ser mudado.

Ao invés disso, é preciso definir objetivamente o que é possível fazer, no presente, para reverter a situação. A coragem e a determinação são essenciais neste processo.

E, finalmente, é muito útil aceitar de modo tranqüilo que, nem todas as circunstâncias dependem unicamente da nossa vontade para serem transformadas. 

Mas a vida sempre faz a sua parte e atua para nos ajudar a alcançar o equilíbrio, quando desenvolvemos uma disposição firme e sincera de mudar, crescer, evoluir.

"Não brigue com a sua sombra quando ela surgir, apenas observe. Estando identificado com ela, você pode experimentar episódios de pânico. Tenha calma e respire profundamente. Procure se lembrar de que o pânico acontece somente porque você está resistindo a se entregar ao fluxo da vida. Você está insistindo em manter uma coisa que já perdeu o prazo de validade. Você está segurando um ponto de vista e vivendo um drama que já acabou. Ao estudar esse sintoma mais profundamente, você verá que por trás dele está a obstinação. O pânico é você tentando segurar algo que já foi". Sri Prem Baba


Postado no site Somos Todos Um


Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!


NeyAFRICA


Douglas Belchior

A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.

Já a foto à direita, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do que os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.

A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.

Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”

Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.

Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.

No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre esses, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série” são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas vivem um mundo à parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.

E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:

“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”

É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!

Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!

O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!

Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.

O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! 

Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.

Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.

Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e a imprensa que, de maneira geral, exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.

Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.

O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.

Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. 

Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?

Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.

Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!


Postado em Carta Capital em 28/04/2014

Trechos do texto grifados por mim.