Sergio Saraiva, GGN em 19/04/2014
Vivemos momentos em que a modéstia, a prudência e o resguardo parecem ter sido deixados de lado.
Poucos souberam ler tão bem o momento em que o Brasil e eles mesmos viviam como Nelson Rodrigues. Cruel e visceral, como só os que têm uma úlcera como companheira podem ser, decretou:
“Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.
Pois bem, vivemos momentos de um recrudescimento tal da intolerância que parece-me que alguns agentes políticos se acham, se não a salvos de críticas, imunes à suas conseqüências e, assim, se permitem declarações que em momentos de maior cuidado não cometeriam.
O Ministro Joaquim Barbosa resmungando entre dentes, mas não em baixo tom como quem falasse a si, saiu-se com o revelador “Foi por isso mesmo, ora” e desnudou a manipulação das sentenças da AP 470 para garantir a condenação a regime fechado dos réus.
Depois, o Senador e candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves, em uma recepção em que era homenageado pela fina flor da plutocracia nacional, provavelmente sentindo-se protegido por estar entre iguais, entregou-nos sua proposta de governo: “Estou preparado para tomar as medidas necessárias, por mais que elas sejam impopulares”. Como não falava a populares e foi aplaudido, é certo que tais medidas não seriam o aumento dos impostos para os ricos.
Agora, outro senador pelo PSDB, Álvaro Dias, em entrevista relâmpago a Noblat nos deixa a todos boquiabertos com a sinceridade da revelação da estratégia de campanha tucana: “Ao mesmo tempo, precisamos desconstruir a imagem do governo, alimentando o noticiário negativo com ação afirmativa. A instalação da CPI da Petrobras vai ajudar nessa desconstrução”.
Sem dúvida, vivemos momentos em que parece que a modéstia, a prudência e o resguardo, assim como os pruridos de consciência em 68, foram mandados às favas. E por personagens que podem ser acusados de muitas coisas, mas não de serem idiotas.
Sinais de tempos novamente imprudentes?