Entrevista de Gabriel Priolli à Rede Brasil Atual 16/02/2014
Para o jornalista, preconceitos de classe estão aflorados e os meios de comunicação têm grande responsabilidade na radicalização do ambiente político
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Para onde vai o belicismo que se vê no cenário político?
Acho que este ano teremos a campanha mais podre de todos os tempos.
O ano de 2010 bateu recordes de baixaria, mas vai ser café pequeno comparado ao que nos espera.
É lamentável o que acontece e a responsabilidade da mídia é muito grande.
Até o governo Lula (2003-2010), a imprensa mantinha uma vigilância crítica, mesmo porque, do ponto de vista de classe, os governos anteriores eram seus, defendiam seus interesses, inclusive os da ditadura. As críticas eram pontuais, na forma. Mas a partir do governo do PT, houve uma mudança total.
Por mais que o governo fosse moderado, muito mais tendendo ao centro do que à esquerda, sempre disposto a flexibilizar e a fazer concessões, ainda assim há uma reação radical de não aceitá-lo. Todos os preconceitos de classe possíveis e imagináveis afloraram e se solidificaram contra o Lula. É porque é pobre. É porque é operário. É porque é nordestino. É porque não tem dedo…
Isso contaminou a visão que se tinha do presidente?
Sim, e também a leitura do governo que se fazia. A mídia embarcou na onda neoconservadora internacional. Nos Estados Unidos, os veículos de direita, tipo Fox News, sustentaram que Barack Obama era socialista, marxista. Uma loucura sob qualquer aspecto. Imagina se um dia eles realmente tiverem um presidente de esquerda o que vão falar.
Foi nesse momento que se soltaram as rédeas dos analistas sem pudor nem limites, que no passado eram moderados?
Houve favorecimento e incentivo a esse tipo de gente e a essa conversão de comportamento.
Todos os que fizeram, e continuam fazendo comentários de direita, foram e seguem sendo premiados.
No lado oposto, o daqueles profissionais que tinham posições contrárias, houve repressão. Aconteceu um expurgo da esquerda nas redações e triagem ideológica nas novas contratações.
Os jovens que foram ingressando têm majoritariamente pensamento conservador. Montou-se uma uniformidade ideológica nas redações.
Se existia uma coisa rica na imprensa nos anos 1970, era exatamente a diversidade ideológica.
Tinha a “direitaça”, gente ligada aos órgãos de repressão, e tinha gente que participou dos grupos armados de esquerda. Era um saco de gatos.
Correntes democráticas, correntes revolucionárias. Isso era muito rico. Nunca tive, até o governo Lula, qualquer constrangimento dentro de qualquer redação por causa de posição política. Nunca dei atestado ideológico para quem quer que fosse. E ninguém queria saber se você era ou não petista ou tucano.
Hoje está tudo mudado. Cheguei a ser censurado em artigos que me convidaram a escrever, ou porque não batiam com a posição patronal ou porque tocavam em assuntos tabu, como a regulação da mídia.
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