Flávio Bastos
O homem, mergulhado no mistério da vida em busca de respostas que tragam paz aos corações e mentes, ou à procura de prazeres que o façam esquecer de seu corpo finito que um dia perecerá, equilibra-se na corda bamba de sua existência como se a morte representasse o intransponível abismo de seu trágico fim.
Não percebe o homem ocidental, arraigado à sua cultura materialista, que a vida é apenas um capítulo de um livro que contém muitas páginas e capítulos de sua existência corpórea. Desta forma, alienado de sua essência, atira-se aos gozos do materialismo porque, cedo ou tarde, ocorrerá a queda no abismo, trazendo consigo o escuro manto da finitude.
Confuso, angustiado e, muitas vezes, dividido entre os prazeres mundanos ou uma vida com o cultivo de valores espirituais que promovam a essência no lugar do ego e suas necessidades voltada para si, o homem deixa-se levar pelas escolhas mais imediatas e palpáveis que contemplam o eu como sendo o centro do universo.
Ao separar o prazer do resto, o indivíduo dotado de inteligência restringe a experiência de viver ao mundo físico, onde busca na satisfação de suas necessidades egóicas, aplacar a angústia que sente da própria morte, como se não existisse vida após a vida.
No entanto, aos poucos, inspirado pela invisível energia da Nova Era de transformações, o homem começa a perceber que os prazeres efêmeros morrem com o corpo físico, e que o prazer de viver precisa ser redimensionado no sentido de valorizar o indivíduo inserido no contexto interdimensional de sua existência, ou seja, de uma vida compartilhada com o semelhante através de valores que promovam a prática da caridade, observada no seu sentido mais amplo como um ato de amor e de prazer inserido no cotidiano da vida.
Nesta direção, os prazeres individualistas e exclusivistas, fundamentados numa cultura alienante de consumo, serão, gradualmente, substituídos por um valor de interesse coletivo e solidário que gera o amor abrangente entre os homens: o bem-comum.
Sendo assim, o homem passará a conciliar certos prazeres mundanos necessários à sensação de bem-estar pessoal, aos prazeres relacionados à prática do bem-comum e do amor fraternal na dinâmica da vida. Isto é, o prazer deixa de ser um ideal meramente individualista, para tornar-se uma sensação prazerosa que envolve corpo e alma através do amor solidário e de valores do espírito que encontravam-se adormecidos na inconsciência.
No alvorecer da Era de Cristal, o progresso chega à humanidade gradativamente, com a mesma sutileza com que a claridade do dia faz desaparecer a escuridão da noite. Ele desce quase que imperceptível sobre as criações e criaturas como um orvalho fecundo e fundamental à nossa vida de espírito imortal.
Nada vem do nada. Os caminhos renovadores quase sempre aparecem em nossa jornada evolutiva como possíveis "coincidências", ou mesmo como acontecimentos ilógicos e enigmáticos. Na realidade, são experiências imprescindíveis que atraímos e que se encaixam perfeitamente nas nossas necessidades de renovação interior. O despertar vem de um modo que nem imaginamos.
A psicologia Junguiana chama as "coincidências" que ocorrem na vida do indivíduo de "fenômenos sincronísticos". No entanto, seja qual a denominação que utilizarmos, tenhamos a certeza de que tudo aquilo que nos acontece tem como objetivo profundo a renovação da alma e como propósito o bem-comum.
O progresso que atingimos hoje é compatível com o crescimento que tivemos ontem. Cada passo dado a caminho da maturidade é proporcional à etapa percorrida anteriormente. Avançamos pelo universo em conjunto harmônico com os outros humanos. A orquestra cósmica da qual compartilhamos é muito mais ampla do que podemos imaginar e cada um precisa dar a sua cota de participação na sinfonia do mundo. Somos parte do universo e ele é parte de nós.
A mente apegada à condição alienante do espírito encarnado, é incapaz de perceber a sua essência. O indivíduo agarrado ao ego está vazio do sagrado. O indivíduo que liberta-se dos grilhões do eu descobre que sempre esteve ligado ao sagrado.
O indivíduo em processo de desapego do eu exclusivista não vive atado aos vínculos doentios da "ansiedade de separação", pois crê plenamente que a lei das vidas sucessivas não destrói os laços da afetividade, antes os estende a um número cada vez maior de pessoas e também por toda a humanidade.
Portanto, é tempo de transformar os "prazeres da vida" em prazer e alegria de viver com significados que transcendam o apenas "aqui e agora" de uma vivência vazia de conteúdo na relação consigo próprio, com o outro e com o mundo que nos rodeia.
Postado no site Somos Todos Um