Novidade nas academias é o treinamento funcional




Pede pra sair !  R7 vai à academia e testa nova aula que exige força, resistência e muito fôlego, trabalha os músculos em circuito de 50 minutos.


Quando recebi o convite para testar uma aula de treinamento funcional, pensei logo que só podia ser piada. Afinal, sou sedentária de carteirinha, daquelas que não passam na porta de uma academia há cinco décadas. O máximo de exercício que faço no meu dia a dia é carregar meu filho de um lado para o outro, e subir as três escadas do meu prédio sem elevador. Não tenho fôlego nem força, e meu braço já começa a dar sinais de não poder mais dar tchauzinho.Ainda assim, aceitei o desafio e, mesmo temendo ter um piripaque, encarei todo o circuito, que exige resistência e força de vontade. Confira agora como foiTexto e apuração: Marcella Franco, do R7 
Quando recebi o convite para testar uma aula de treinamento funcional, pensei logo que só podia ser piada. Afinal, sou sedentária de carteirinha, daquelas que não passam na porta de uma academia há cinco décadas. O máximo de exercício que faço no meu dia a dia é carregar meu filho de um lado para o outro, e subir as três escadas do meu prédio sem elevador. Não tenho fôlego nem força, e meu braço já começa a dar sinais de não poder mais dar tchauzinho.

Ainda assim, aceitei o desafio e, mesmo temendo ter um piripaque, encarei todo o circuito, que exige resistência e força de vontade. Confira agora como foi.


O primeiro passo do circuito é o aquecimento, e o aluno pode escolher entre a esteira e a bicicleta ergométrica. Optei pela segunda alternativa, por estar mais acostumada a pedalar do que a correr. Foram cinco minutos em ritmo acelerado, em um aparelho que mede separadamente o esforço que cada perna está fazendo. O objetivo é igualar as duas, para trabalhar igualmente ambos os lados 
O primeiro passo do circuito é o aquecimento, e o aluno pode escolher entre a esteira e a bicicleta ergométrica. Optei pela segunda alternativa, por estar mais acostumada a pedalar do que a correr. Foram cinco minutos em ritmo acelerado, em um aparelho que mede separadamente o esforço que cada perna está fazendo. O objetivo é igualar as duas, para trabalhar igualmente ambos os lados.


Parecia tudo muito fácil e eu já estava quase me achando uma atleta. Foi quando os exercícios começaram de verdade.O professor André Trombini, da academia Bodytech, estendeu uma escada de agilidade no chão, equipamento que trabalha o aquecimento e a coordenação. A tarefa dessa vez é correr colocando um pé em cada espaço, mantendo a postura correta, com os braços dobrados e bem alinhados ao tronco
Parecia tudo muito fácil e eu já estava quase me achando uma atleta. Foi quando os exercícios começaram de verdade.
O professor André Trombini, da academia Bodytech, estendeu uma escada de agilidade no chão, equipamento que trabalha o aquecimento e a coordenação. A tarefa dessa vez é correr colocando um pé em cada espaço, mantendo a postura correta, com os braços dobrados e bem alinhados ao tronco.


Ao final da escada, o aluno precisa fazer uma prancha, que serve para fortalecer o CORE e ativar a musculatura que será usada no treino. No treinamento funcional, todas as séries obedecem sempre a uma sequência que incluiu um exercício moderado, um leve e um descanso que, no meu caso, como iniciante, era de 60 segundos.Para quem não está acostumado com exercícios, a prancha é um tanto incômoda, porque exige força na região abdominal e postura alinhada, com o pescoço reto para a frente. São alguns bons segundos segurando a posição, para, em seguida, voltar à escada de agilidade
Ao final da escada, o aluno precisa fazer uma prancha, que serve para fortalecer o CORE e ativar a musculatura que será usada no treino. No treinamento funcional, todas as séries obedecem sempre a uma sequência que incluiu um exercício moderado, um leve e um descanso que, no meu caso, como iniciante, era de 60 segundos.
Para quem não está acostumado com exercícios, a prancha é um tanto incômoda, porque exige força na região abdominal e postura alinhada, com o pescoço reto para a frente. São alguns bons segundos segurando a posição, para, em seguida, voltar à escada de agilidade.


A segunda série é o treinamento suspenso, em um aparelho chamado TRX. Nesta parte, trabalhamos as costas e os braços. Quanto mais o aluno ficar inclinado com as pernas para a frente, mais força se faz, e é aí que o bicho pega para os sedentários
A segunda série é o treinamento suspenso, em um aparelho chamado TRX. Nesta parte, trabalhamos as costas e os braços. Quanto mais o aluno ficar inclinado com as pernas para a frente, mais força se faz, e é aí que o bicho pega para os sedentários.


Junto com o TRX, a série traz um exercício de equilíbrio, em que é preciso ficar com uma das pernas levantada e dobrada por 40 segundos. Depois disso, descanso de um minuto para recuperar o corpo
Junto com o TRX, a série traz um exercício de equilíbrio, em que é preciso ficar com uma das pernas levantada e dobrada por 40 segundos. Depois disso, descanso de um minuto para recuperar o corpo.


Para trabalhar a resistência dos braços, André escolhe as cordas. Na foto não é possível ver, mas elas são pesadas e, como o objetivo é batê-las no chão fazendo-as serpentear para cima e para baixo, é preciso fazer bastante força.'Aqui também é preciso manter a postura correta, e isso ajuda no fortalecimento do abdome', explica o professor
Para trabalhar a resistência dos braços, André escolhe as cordas. Na foto não é possível ver, mas elas são pesadas e, como o objetivo é batê-las no chão fazendo-as serpentear para cima e para baixo, é preciso fazer bastante força.
"Aqui também é preciso manter a postura correta, e isso ajuda no fortalecimento do abdome", explica o professor.


A sequência também tem um agachamento feito com uma bola daquelas de pilates, vendida em qualquer loja de materiais esportivos. Isso é legal porque dá para repetir em casa e fortalecer os membros inferiores, coxas e glúteos.O bumbum tem que descer retinho, para não prejudicar a coluna. Encoste a bola em uma parede, se apoie nela e vá descendo como se fosse se sentar em uma cadeira
A sequência também tem um agachamento feito com uma bola daquelas de pilates, vendida em qualquer loja de materiais esportivos. Isso é legal porque dá para repetir em casa e fortalecer os membros inferiores, coxas e glúteos.
O bumbum tem que descer retinho, para não prejudicar a coluna. Encoste a bola em uma parede, se apoie nela e vá descendo como se fosse se sentar em uma cadeira.


As coisas começaram a ficar mais complicadas: eu precisava fazer abdominais. Comecei a rir de nervoso, e concentrei a força na barriga, para não machucar o pescoço
As coisas começaram a ficar mais complicadas: eu precisava fazer abdominais. Comecei a rir de nervoso, e concentrei a força na barriga, para não machucar o pescoço.


Para trabalhar os glúteos, agora tiro o bumbum do chão. Como senti que o exercício ainda estava leve, André orientou então que eu levantasse a perna, para trabalhar a parte de trás dela.— Este é um dos melhores exercícios para as mulheres, porque mexe com um dos lugares em que se acumula muita gordura localizada
Para trabalhar os glúteos, agora tiro o bumbum do chão. Como senti que o exercício ainda estava leve, André orientou então que eu levantasse a perna, para trabalhar a parte de trás dela.
 Este é um dos melhores exercícios para as mulheres, porque mexe com um dos lugares em que se acumula muita gordura localizada.


É hora de trabalhar o peitoral — e eu, como o recruta 02, quase peço para sair.O mais difícil aqui é segurar nas argolas e fazer com que os braços não se abram, porque todo o peso do corpo está apoiado neles. Para quem quer repetir o exercício em casa e não tem um aparelho, André dá uma alternativa
É hora de trabalhar o peitoral  e eu, como o recruta 02, quase peço para sair.
O mais difícil aqui é segurar nas argolas e fazer com que os braços não se abram, porque todo o peso do corpo está apoiado neles. Para quem quer repetir o exercício em casa e não tem um aparelho, André dá uma alternativa.


Apoiando as mãos no chão, o trabalho é exatamente o mesmo, fortalecendo os músculos dos braços e peito.Como tenho tendinite no pulso direito, senti muita dor ao dobrá-lo e me apoiar sobre ele. André, então, sugeriu que utilizássemos os aparelhos que aparecem na foto de abertura da matéria. Com eles, os pulsos ficam retos  
Apoiando as mãos no chão, o trabalho é exatamente o mesmo, fortalecendo os músculos dos braços e peito.
Como tenho tendinite no pulso direito, senti muita dor ao dobrá-lo e me apoiar sobre ele. André, então, sugeriu que utilizássemos os aparelhos que aparecem na foto de abertura da matéria. Com eles, os pulsos ficam retos. 


Junto com o peitoral há a corridinha apoiada no banco — que, em casa, pode ser feita com a ajuda de uma cadeira.A ideia é treinar a agilidade. É preciso tirar bem os pés do chão e levantar os joelhos no alto, encostando nas mãos do professor
Junto com o peitoral há a corridinha apoiada no banco  que, em casa, pode ser feita com a ajuda de uma cadeira.
A ideia é treinar a agilidade. É preciso tirar bem os pés do chão e levantar os joelhos no alto, encostando nas mãos do professor.


Ao final de tudo, o professor passa uma sessão de alongamento, para relaxar os músculos
Ao final de tudo, o professor passa uma sessão de alongamento, para relaxar os músculos..


Cheguei inteira ao final do treino, achando bacana principalmente o fato de ter malhado o corpo todo sem precisar dos aparelhos de musculação comuns, que muitas vezes podem ser repetitivos e um tanto chatos. No dia seguinte, fiquei com a barriga e os braços doloridos, e descobri que tinha músculos que nem fazia ideia que existiam. Segundo o professor, as regiões que incomodam depois do treino são justamente aquelas que não usamos com frequência.Eu, que tenho pouco tempo durante a semana e uma certa preguiça de puxar ferro, adotaria facilmente o treinamento funcional como atividade física regular. Viraria uma mulher malhada, e finalmente entraria para a elite das pessoas dispostas e saudáveis. Afinal, quem foi que disse que 'nunca serão'?
Cheguei inteira ao final do treino, achando bacana principalmente o fato de ter malhado o corpo todo sem precisar dos aparelhos de musculação comuns, que muitas vezes podem ser repetitivos e um tanto chatos. No dia seguinte, fiquei com a barriga e os braços doloridos, e descobri que tinha músculos que nem fazia ideia que existiam. Segundo o professor, as regiões que incomodam depois do treino são justamente aquelas que não usamos com frequência.

Eu, que tenho pouco tempo durante a semana e uma certa preguiça de puxar ferro, adotaria facilmente o treinamento funcional como atividade física regular. Viraria uma mulher malhada, e finalmente entraria para a elite das pessoas dispostas e saudáveis.


Texto e apuração: Marcella Franco, do R7 

Postado no Portal R7 em 15/10/2013


Por que sinto um vazio insuportável?



Silvia Malamud

O drama da nossa atualidade vai se revelando na medida em que percebemos as nossas identidades em colapso.

Não existem fronteiras delineando o território individual. O self está ameaçado em sua veracidade e muitos de nós temos a nítida impressão de que é apenas uma farsa e, pior, que lá dentro é vazio... Será?

Por outro lado, outros se encontram em pânico, receando fragmentar o próprio eu e a noção que tem de si mesmos.

A necessidade do imediatismo para praticamente tudo na vida, somada à busca de performances perfeitas, são os principais responsáveis disparadores desse tipo de ansiedade, estresse e da cada vez mais conhecida insuportável sensação de vazio em nossa atualidade.

Reprocessar instantaneamente tudo o que acontece fora e dentro de nós, num tempo onde tudo se passa de modo tão inevitavelmente dinâmico, dificulta o encontro de caminhos para que possamos nos entender e nos aprofundarmos em conhecimentos mais significativos acerca de nós mesmos.

Como conseqüência dessa rapidez, toda sorte de desestabilização emocional emerge.

Estamos na era dos supérfluos, onde acontecimentos e mais acontecimentos se sobrepõem uns aos outros em meio à urgência incontrolável. 

O mal-estar do vazio existencial explode quando notamos que o nosso eu não está mais em seu reinado absoluto e sim dividido e subdividido em suas extensões com pessoas e com coisas de significados mundanos.

E o paradoxo maior ocorre quando se percebe a autonomia do próprio eu perdendo-se de si mesmo, muito embora o marketing atual seja o da apologia do eu. 

Enquanto que o nosso eu real, ou ser essencial, prima por se transformar e por se criar constantemente num diálogo contínuo com o mundo exterior e com as possibilidades oferecidas por este, o confronto exaustivo com as rápidas dinâmicas da realidade, gradativamente, vão minando a validade do eu real, gerando angústia inominável e a falta de sentido na vida. 

Neste árido espaço de manifestação dos reais propósitos da alma, em meio às folhas secas, crescem sentimentos de inadequação, posto que as importantes etapas, que se referem à construção de toda possibilidade de altivez humana, ficam impedidas de serem experienciadas.

Na era do vazio, o norte passa a ser a competição, a conquista e o culto a si mesmo (narcisismo).

Ao mesmo tempo em que existe respeito às diferenças, sinceridade esfuziante, comunicação em demasia, há uma tendência do humano de não mais conversar consigo mesmo. 

Parece que a situação se repete em diferentes etapas históricas de nossa civilização, mas não é bem assim.

Primeiro existe um processo de personalização e de interação com o meio ambiente.

Depois a busca do si mesmo. Seria bom se os dois caminhassem sempre juntos e não dissociados, a ponto de levar a crises existenciais avassaladoras como as de identidade, que são a evidência dessa era.

Esta crise tem a ver exatamente com o nosso século e com todas as vicissitudes implicadas, tem a ver com as nossas origens não vistas, não visitadas, tem a ver com a impaciência que temos com nós mesmos em relação ao cumprimento das etapas, em relação a tudo que leva algum período de tempo, enfim, a tudo que significa processo. 

Historicidade e compreensão aquecem, preenchem e oferecem sentido à própria vida. Somente a partir disso que se torna possível se reinventar. 

O vazio grita nos ouvidos e perturba profundamente, mas funciona como um alerta para a alma mostrar o quanto estamos distantes de nós mesmos vivendo como autômatos. Sensação muitas vezes enlouquecedora.

Estamos na era do jogo da aparência, do que se vende ao outro e do que fica bonito.

Por mais incrível que possa parecer, o culto à felicidade também pode levar ao vazio; corremos o risco de nos tornarmos apenas e tão-somente figuras sem fundo, totalmente previsíveis. Autômatos em massa facilmente manipuláveis.

Nas origens do passado, existem símbolos que compõem nosso psiquismo e que jamais deveriam ser esquecidos ou negados.

Neles constam a nossa história, a experiência de gerações, a sensação de segurança na estruturação linear que envolve o passado, o presente e que cria possibilidades de futuro. Não partimos do nada e o que inventamos sempre é baseado em algo anterior.

Vejo muitos dos meus pacientes virem ao meu consultório com terríveis angústias, sobrevivendo em meio a grandes dificuldades, atolados na sensação do vazio, da falta de sentido da vida.

Por estarmos na era do narcisismo, fica difícil nomear sentimentos, portanto, a queixa maior fica por conta dessas sensações de vazio interior, de absurdo da vida, de desconexão de tudo com tudo num mundo repleto de conexão, virtual.

Estamos na época do espetáculo, tudo tem que ser fantástico e se não for, não nos toca.

Ao mesmo tempo em que não há mais espaço para sentimentalismos ou para se perceber, parece que o palco agora é outro e a busca é de se experimentar algo cada vez mais forte para, quem sabe, a vida real ser finalmente sentida.

E para fugir deste imenso naufrágio, muitos vivem no risco. Dentro deste cenário de busca frenética, da sensação de se sentir vivo e distante do insuportável sentimento do vazio, fica valendo o sexo pelo sexo, o culto à violência e a busca das sensações alucinadas provocadas por drogas, álcool etc..

Neste sentido referido, embora ainda se queira relacionamentos afetivos, a informação de comando é a do terror de se ter uma relação estável em que algo se constrói.

O continuísmo da relação pode oferecer a sensação de que tudo está parado e que a velocidade, acostumada e identificada como aspecto de si mesmo, fica ameaçada de se perder como referência.

O medo se instala, a solidão e o desespero novamente imperam e mesmo que acompanhado, sente-se o vazio.

E você? Já notou se está programado para não sentir e, sim, para agir?

O problema é que o nosso sistema é imensamente mais complexo e profundo do que isso.

Se você se encontra permeado pelos sentimentos de vazio, mal-estar e falta de sentido, leve-se a sério, pare e reveja-se.

Se for tocado, busque ajuda, reconheça-se e exista naquilo que de verdade o preenche.

Postado no site Somos Todos Um

Ana Paula Maciel, uma gaúcha nas mãos de Vladimir Putin


Julgamento de Ana Paula Maciel na Russia

Se considerados culpados, os ativistas podem pegar até 15 anos de cadeia

Ana Paula

Ana Paula solitariamente numa jaula,
no circo da magistratura da Rússia
enlutou meu coração desencantado,
feriu meu silêncio, agrediu minha culpa, 
estar distante, confortavelmente abrigado, 
acordando feliz com o canto dos sabiás; 
enquanto Ana Paula, bichana meiga 
e delicada, exposta à sandice bárbara 
da repressão dos herdeiros da KGB. 

Ana Paula não pode sentir meu hálito 
com palavras estaiadas em seu gesto 
simples de quem cuida nossa maloca 
planetária, em busca do habite-se 
em um ecossistema sustentável. 

Ana Paula não pode ver meus olhos, 
minhas lágrimas envergonhadas; 
sofro apenas ameaças de punguistas, 
pequenos golpes no troco das compras, 
sequer o colapso de amor não correspondido, 
ou o atropelamento de motorista desvalido. 

Teme-se uma gripe no Rio Grande do Sul 
pela mudança de temperatura, vento encanado, 
enquanto Ana Paula, presa em uma jaula na Rússia, 
esbofeteia com seu toque de pluma 
o acomodamento classe média do mundo, 
o consumo conivente dos eunucos da vida. 

Queria abraçá-la com a ternura inversa 
dos sádicos que postulam quebrá-la 
no confinamento e no vexame criminoso. 

Amo-a como o vento adora sua Pirata 
da liberdade, a brisa a sua borboleta 
de arco-íris, a lua como o orvalho 
sereno adornado em sua pele lúdica, 
o horizonte seu olhar de plenitude, 
as flores as manhãs de primavera. 

Desde meus sete palmos de segurança 
projeto-me para a tela dos olhos fixos 
de Ana Paula, sem ser uma imagem, 
apenas a água da vida para umedecê-los 
com o beijo de minha saliva solidária, 
o encanto do meu coração experimentado, 
o antídoto da cegueira pestilenta da terra. 

Ana Paula está exposta em uma jaula 
na Rússia, no Japão, no Congo, em Cuba, 
em Passo Fundo e em Porto Alegre, 
os verdugos ejaculam as babas das bestas. 

Mas, misteriosamente, Ana Paula está só 
e resiste em sua fortaleza delicada e humana, 
vertical, como a flor que criou cerne 
de madeira de lei encravada na pampa; 
olhar das imensidões, enraizado em pétalas. 

Estava só, abstratamente filosófico, 
teórico e contemplativo no reduto da alma. 

Ana Paula deu-me o sopro da vida cotidiana, 
Reascendeu em mim a poética da existência 
as energias de Hefesto e Ogum, deuses da forja, 
para lançar-me contra as barras de ferro da jaula 
que aprisionam a pirata enclausurada Ana Paula. 

Tau Golin é jornalista e historiador. 

Postado no site Sul21 em 13/10/2013





Minha homenagem ao Professor !





Republicando esta postagem de outubro de 2012,
rendo homenagem aos Professores, deste país, que sonha ser grande, mas que ainda não aprendeu a engrandecê-los, valorizando-os com salário digno e melhorias necessárias nas escolas.

Professor = Educação = Desenvolvimento 



Professor

Alguém um dia se propôs a trabalhar na construção de vidas, estudou psicologia, filosofia e as melhores técnicas de comunicação. Passou dias, horas e minutos, observando o comportamento de todas as faixas etárias do ser humano.

Alguém que se percebeu vocacionado e, atendendo aos apelos do coração, inscreveu-se na batalha de frente da luta milenar contra os analfabetismos. Armado de pouquíssimos recursos materiais,postou-se de peito aberto, levando flechadas federais, estaduais, municipais.

Alguém se especializou nas oficinas mecânicas do ser humano e candidatou-se a reformar conceitos e valores da educação mal orientada. 

Alguém se inscreveu no concurso da vida, não se importando de sacrificar o próprio corpo na concorrência desleal de convênios, convenções, tratados e dissídios. 

Alguém se fez alheio às dificuldades, tendo plena certeza delas, e saiu disposto a questionar leis, portarias, resoluções e regimentos. Nos desmaios da sobrevivência, impôs-se. 

Alguém foi nomeado, designado, empossado para o exercício do magistério, não se perdeu no labirinto do caminho nem se assustou com o fantasma da exigência impossível. Saiu a procurar o aluno perdido, nas balas perdidas da guerra civil. 

Alguém convive com a distância, com a fome, com a injustiça, com a carência e a canseira, contudo, ensina gerações a acreditar no futuro, a ter fé e não se deter. 

Para um ser assim tão especial, 
só um nome poderia identificá-lo:

P R O F E S S O R 



(Ivone Boechat)













A Terra Prometida e a identidade perdida da "América"





A história é bem conhecida em praticamente todos os cantos do mundo hoje. Funcionários de uma grande corporação são enviados a uma pequena cidade do interior, de base agrícola e em decadência econômica, para fazer uma proposta aparentemente irrecusável.

No caso do filme “A Terra Prometida” (Promised Land, EUA, 2012), dirigido por Gus van Sant, ela se passa no interior dos Estados Unidos.

Steve Butler e Sue Thomason (interpretados, respectivamente, por Matt Damon e Frances McDormand) são funcionários de uma grande corporação da área de energia e desembarcam em McKinley, uma pequena cidade rural dos grotões dos EUA, para tentar negociar com os moradores os direitos de perfuração de suas propriedades para a exploração de gás natural. Esse é o ponto de partida do filme.


A salvação oferecida pela grande corporação está baseada, porém, em um polêmico processo de extração de gás natural: a fratura hidráulica (“fracking”), processo que consiste na utilização de água sob altíssima pressão com produtos químicos para extração de gás xisto.

Esse método de extração de gás vem sendo muito combatido nos Estados Unidos por ambientalistas.

Um estudo divulgado em agosto deste ano pelo Serviço Geológico dos EUA e do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA adverte que fluidos derramados no meio ambiente por esse processo estão causando a morte de diversas espécies aquáticas na região de Acorn Fork, no estado de Kentucky. 

Esses resíduos, segundo o estudo, estariam provocando lesões nas guelras, fígado e baço dos peixes. Além disso, fizeram o pH da água cair de 7,5 para 5,6, tornando-a mais ácida.

Esse é o pano de fundo para Gus Van Sant falar de vários temas: as fontes energéticas e seus impactos ambientais, a relação de fidelidade dos vendedores com as suas empresas e a ausência de limites da manipulação corporativa.

Mas, na avaliação do diretor, o tema central do filme está ligado à identidade norte-americana e à progressiva dissolução de um modo de vida comunitária que ajudou a construir o país. 

As pequenas comunidades rurais empobrecidas são convidadas a ingressar no paraíso do capitalismo corporativo, que oferece ganhos milionários e uma nova vida. Mesmo assim, há quem resista e desconfie de propostas tão generosas. 

No filme, o personagem vivido por Matt Damon carrega consigo a experiência de ter saído de uma dessas comunidades empobrecidas e assume a postura do novo rico que luta desesperadamente contra seu passado.

Já Sue Thomason, interpretada pela extraordinária Frances McDormand, procura fazer seu trabalho do modo mais rápido e eficiente possível, e mostra um olhar que mistura cinismo e melancolia sobre os personagens da cidade, seu colega de trabalho e ela mesma. 

Ela está ali para cumprir uma missão e não economizará nenhum meio para isso, inclusive tentar corromper os adversários do projeto com alguma propina. Entre o idealismo corporativo de Steve e o cinismo melancólico de Sue, aparece um terceiro personagem que desempenhará um papel fundamental no filme.

Além da resistência de membros da comunidade, o projeto para a exploração de gás encontra a oposição de um militante ambientalista que desembarca na cidade com esse único propósito. 

Assim como as promessas de prosperidade da corporação não são o que parecem, outras fachadas da história terminarão desabando até o fim.

Ao apresentar o filme, no início deste ano, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Gus van Sant disse que o tema central da história é a identidade dos Estados Unidos e de sua população. A problemática ambiental, em si mesma, é secundária. “Quis fazer um filme sobre a identidade americana. Quis mostrar como podemos tomar decisões difíceis em determinadas alturas e como os Estados Unidos estão se afastando de um tradicional sentido de comunidade”. 

A destruição de modos e formas de vida e de economia comunitária pelo avanço do capitalismo global e seus empreendimentos não chega a ser novidade. A destruição ambiental que muitas vezes acompanha esse processo também não. Mas o filme não parece interessado em contar novidades, e sim colocar uma lupa sobre uma pequena comunidade para tentar ver com mais clareza como se dá essa dissolução de identidades.

Uma dissolução marcada por um paradoxo significativo: na terra do capitalismo, o desaparecimento de formas de vida comunitárias, próximas da natureza e adeptas de um modo de vida mais simples, é apresentado como uma ameaça à própria ideia de uma “América” como terra da liberdade e da felicidade. 

Em um determinado momento do filme, o personagem de Matt Damon faz um discurso irritado em um bar para moradores locais que estavam provocando-o. Diz o quanto eles são estúpidos e atrasados por não quererem ganhar muito dinheiro com o negócio da exploração do gás. Recebe como resposta um soco na cara.

O encontro da “América decadente” com a “América corporativa” coloca a perspectiva da Terra Prometida como um projeto a ser resgatado contra o capitalismo.

O que é a Terra Prometida, afinal de contas? É o aceno de uma nova vida, com dinheiro, feito pela grande corporação da área de energia? Ou é a terra que já se perdeu pelo modo de desenvolvimento do próprio capitalismo que não concede lugar para formas de vida idílicas e comunitárias, especialmente se elas estiverem assentadas sobre alguma grande fonte de energia.

Como assinala Gus van Sant, o debate ambiental aí é secundário, não no sentido de ser menos importante, mas sim no de ser derivado de uma premissa anterior, a qual estabelece uma relação direta entre modo de vida e escolhas econômicas. 

A vida nos bosques, experimentada por Thoreau, há algum tempo soa inocente, ingênua e impraticável aos olhos da máquina ideológica do capitalismo que funciona 24 horas por dia.

Co-autor do roteiro, Matt Damon reserva um final generoso para o seu personagem que vive um processo catártico em relação ao seu próprio passado de morador de uma dessas comunidades que ele queria agora destruir. 

Há uma paixão no meio que o ajuda nesta travessia de rompimento com a lógica corporativa e o reaproxima da terra prometida, uma ideia que está presente na “América” desde a chegada dos primeiros peregrinos vindos da Europa. É sintomático que ela ainda tenha força e seja confrontada com o atual estágio do capitalismo norte-americano.

Visões idílicas de comunidades vivendo em harmonia com a natureza são cada vez mais incompatíveis com esse capitalismo hegemônico hoje em todo o planeta. 

Por outro lado, quando o modo de vida engendrado por esse modelo começa a se tornar incompatível com a sobrevivência do próprio planeta, a ideia de uma terra prometida parece ganhar atualidade em um duplo sentido: em um sentido negativo, pelas promessas não realizadas do capitalismo, e em um sentido positivo como a necessidade de libertação de um sistema opressor e inimigo da vida.



Postado no site Carta Maior em 13/10/2013
Ilustrações anexadas ao texto por mim
Trecho do texto grifado por mim





Uma história do homem, do neandertal ao neoliberal


Arando a terra, pintura de Sennedjem. Tumba egípcia, c. 1200 a.C., Tebas
A humanidade de hoje é predominantemente descendente dos grupos que inovaram a agricultura

Uma análise da evolução do planeta observa que as decisões políticas em benefício de uma elite não são inexoráveis. Sempre há, como agora, possibilidades que levem em conta a vida das maiorias.


Renato Pompeu

Até hoje, apesar de a globalização e de o entrelaçamento de todos os povos do mundo numa interdependência recíproca já datarem de décadas, a história do mundo, ou história geral, na maioria das escolas e universidades e na quase totalidade dos livros, é narrada e interpretada como se a Europa Ocidental tivesse sido sempre o centro mais importante do mundo, com destaque para Grécia, Roma, a Idade Média e a Revolução Industrial. 

Só nos últimos poucos anos é que têm surgido no Ocidente livros de história de um ponto de vista mais global, que mostram notadamente que, diante de impérios como a China, a Índia e a Pérsia e da expansão do Islã, a Europa Ocidental foi na maior parte dos séculos e milênios uma península isolada e atrasada.

Agora que a Ásia está ressurgindo como protagonista mundial, podemos ver mais claramente que o período de ascendência do Ocidente sobre o mundo durou pouco mais de um século, desde os fins do século 18 até recentemente. Fora desse período, a China e a Índia foram sempre muito mais ricas e muito mais poderosas. 

Até mesmo os melhores pensadores europeus, como Hegel, Marx e Engels, foram dominados pelo eurocentrismo, embora procurassem se informar sobre outros povos.

Essa tradição ocidentocêntrica continuou entre os historiadores marxistas – por exemplo, o famoso livro do marxista americano Leo Huberman, História da Riqueza do Homem, mal menciona regiões­ não ocidentais.

Agora, porém, surgiu na Inglaterra e nos Estados Unidos a primeira história globalizada do mundo escrita por um marxista. Trata-se de A Marxist History of the World: From Neanderthals to Neoliberals, do arqueólogo e historiador inglês Neil Faulkner, autor anteriormente de estudos sobre sítios arqueológicos britânicos, as Olimpíadas gregas e a Roma antiga. 

A obra foi editada pela Pluto Press e o título pode ser traduzido por “Uma história marxista do mundo, dos neandertais aos neoliberais”, numa manifestação do típico humor sarcástico inglês.

Questão de escolha

Como obra marxista, a de Faulkner restabelece a visão de processo dinâmico cultivada mais por Marx que por Engels e pelos marxistas tradicionais. 

Não defende teses de que os desenvolvimentos históricos estiveram sempre predeterminados por estruturas econômicas que aprisionam o destino humano em rumos inexoráveis. 

Ele tenta mostrar, a cada passo, como as estruturas econômicas permitiam uma série de saídas e de evoluções, e não apenas as que efetivamente ocorreram, procura estabelecer que, em cada situação histórica, os seres humanos sempre podem escolher que saída adotar.

Como obra de história, a de Faulkner se destaca por não parar no tempo. 

A maior parte dos livros contemporâneos de história do mundo se detém num ponto do passado, em geral a Segunda Guerra Mundial ou, na melhor das hipóteses, o colapso dos países socialistas.

Mas o autor chega até os dias de hoje, e isso é particularmente importante porque ele considera a atual crise estrutural do capitalismo mundial o maior desafio que a humanidade teve de enfrentar em todos os tempos.

Faulkner reforça sua tese de que nosso destino não está traçado inexoravelmente pelas estruturas econômicas vigentes, pois dentro dessas estruturas há forças que permitem diferentes saídas, das que beneficiem uma elite da população às que beneficiem a maioria.

Como bom marxista não ortodoxo, defende a tese de que nada está predeterminado, tudo depende da luta, tudo depende do empenho de cada um e de todos em mudar o seu destino.

Não era obrigatório, por exemplo, que os antigos primatas hominídeos se transformassem em seres humanos socialmente cooperativos, nem era inevitável que no Paleolítico Superior houvesse uma revolução tecnológica no uso de instrumentos de pedra. Tudo isso foi objeto de escolhas conscientes.

Já no Neolítico, havia pelo menos duas saídas para alimentar a crescente população de sociedades comunísticas: ou a guerra global por recursos escassos, ou a intensificação da agricultura.

Na verdade, conforme a região, as duas situações ocorreram, sendo a humanidade de hoje predominantemente descendente dos grupos que inovaram na agricultura, na proteção militar, no controle da irrigação, na coleta de impostos, no controle da distribuição da produção, enquanto a maioria continuava no cultivo. 

Tudo isso decorreu da criatividade humana, do mesmo modo que a saída da crise atual vai depender da criatividade de bilhões de pessoas.

No Egito e no Grande Zimbábue (na África), na Suméria (na Ásia) e no México (na América do Norte), a intensificação da agricultura permitiu que houvesse um superávit alimentar que sustentava enormes populações de governantes, soldados e sacerdotes, que não precisavam produzir a própria comida. 

Que isso foi objeto de escolhas conscientes, e não de reflexos sociais inexoráveis a partir das condições econômicas, fica provado pelas enormes diferenças estruturais, sociais e culturais entre as sociedades egípcia, zimbabuana, suméria e mexicana. A única coisa em comum são seus artefatos de cobre.

Quando se adotam instrumentos de bronze, se sucedem, principalmente na Mesopotâmia e no Egito, impérios que nascem, ascendem, chegam ao auge, decaem e desaparecem, sempre em meio a crises e guerras, num processo que se replica várias vezes.

Aqui Faulkner, que está longe de ser um historiador “objetivo” e sempre toma partido da maioria, se insurge como um profeta bíblico contra as vitórias das minorias, que segundo ele transformaram a Idade do Bronze numa sucessão de desperdício de recursos e de violências e guerras intermináveis.

Ele vai notar, mais adiante, que hoje estamos diante de escolhas semelhantes.

O próximo grande passo da história não foi dado no Egito, no Grande Zimbábue, na Suméria ou no México, mas em pontos periféricos (na época), como a Pérsia, onde se passou a adotar instrumentos agrícolas e de artesanato e armas de ferro, não mais de bronze.

O excedente de alimentos aumentou enormemente em relação à Idade do Bronze: a Idade do Ferro se consolidou mais ou menos 1.300 anos antes de Cristo.

Surgem os impérios Indiano e Chinês. Aqui Faulkner vai observar que, com a instauração da propriedade privada, as mulheres passaram a perder seu papel central e crucial na sociedade para ficar em posições subordinadas.

Em outro capítulo bem interessante, demonstrará que o advento do judaísmo, do cristianismo e do islamismo foi em grande parte produzido pelos mitos vigentes entre as camadas oprimidas e pelas suas aspirações.

A globalização triunfa de novo no livro do arqueólogo com a descrição dos esplendores dos impérios Bizantino, Islâmico, Indiano e Chinês, enquanto a Europa sofria a invasão dos bárbaros e permanecia em isolamento atrasado até o início das grandes navegações e até começar a se consolidar o capitalismo, a partir da exploração das colônias. Embora o autor não deixe de mencionar as civilizações da África, da Mesoamérica e dos Andes, aqui já estamos caminhando em terrenos mais familiares.

Mas Faulkner inova mais uma vez no final: ele chega até 2012.

Diz que a crise financeira de 2008 representa a passagem de “uma bolha para um buraco negro” e que, quatro anos depois, a elite neoliberal está emaranhada nas contradições que seu próprio domínio envolve.

E adverte: a saída dessa situação não está de modo algum predeterminada pelas condições econômicas; depende da ação consciente de todos os seres humanos em relação às situações concretas em que nos encontramos. 

Trata-se de um apelo à luta em favor das maiorias oprimidas.