Fantásticas fotografias mostram estrelas como você nunca viu antes


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O fotógrafo australiano Lincoln Harrison juntou talento e paciência à técnica fotográfica da longa exposição para captar imagens incríveis do rastro deixado pelas estrelas durante a rotação da Terra. As imagens levaram entre 13 a 15 horas para serem capturadas, o que obrigou o fotógrafo a ficar acampado e acordado durante a noite.

A técnica da longa exposição consiste em deixar o obturador da câmera aberto por 30 segundos ou mais, mas Harrison foi bem além disso. Durante horas, ele permitiu que sua Nikon D7000 captasse o céu estrelado sob o lago Eppalock, na Austrália, onde decidiu acampar.

Harrison se manteve acordado entre o pôr e o nascer do sol, aproveitando assim a rotação natural da Terra para apresentar esse incrível padrão em forma de espiral no céu. As fotos têm feito sucesso na web e não é difícil entender porquê. Veja algumas delas:

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Postado no site Hypeness em Outubro de 2013


Alemanha reconhece terceiro gênero sexual no registro de bebês





A medida está dando o  que falar na Europa, onde se estima que uma em cada 5 mil crianças nasça sem um sexo definido – os chamados de hermafroditas.


A partir de novembro, será possível registrar na Alemanha um bebê com sexo indefinido. Mais tarde, ele poderá escolher o que achar correto ou que o seu corpo definir.

Até aqui, quando uma criança nascia com características dos dois sexos, tornando impossível a definição de um em particular, os pais eram obrigados a fazê-lo, preenchendo a opção “masculino” ou “feminino”. 

Agora a Alemanha acrescenta uma hipótese e deixa que seja a pessoa a escolher, ou mesmo que ela fique registrada com sexo indefinido.

Claro que a medida enfrenta algumas barreiras, principalmente na ligação com outros documentos: por exemplo, como fica o passaporte de uma pessoa sem um sexo definido? 

Os responsáveis alemães dizem que é necessária uma grande reforma nesta questão e alguns juristas sugerem a utilização da letra X do lado dos habituais M e F.

A Alemanha é o primeiro país da Europa a fazê-lo, o que poderá servir de efeito de contágio para outros países. A Austrália também adotou a medida recentemente.


Postado no site Hypeness em Outubro de 2013



Maquiador de Gisele Bündchen tira dúvidas sobre make


Na profissão há 15 anos, Marcelo já maquiou nomes como Gisele Bündchen e Juliana Paes





Quais os produtos essenciais para montar uma nécessaire básica?

Marcelo Gomes – Na nécessaire é importantíssimo ter filtro solar, corretivo, base líquida, rímel, lápis preto, pó compacto e hidratante labial. Se quiser pode acrescentar blush e batom.

O que está na moda e o que não se deve usar de jeito algum?

MG – Filtro solar está super in, muito rímel. Isso levanta até defunto e uma boca vermelha. Agora, pancake está fora de cogitação. Sombra iluminadora branca embaixo da sobrancelha é totalmente fora de moda e também não gosto muito do tal batom cor de boca. Ou a mulher opta por uma cor ou então não passa nada.

Como faço para passar blush no lugar certo, marcando bem o rosto? 

MG – Antes de qualquer coisa é preciso investir no pincel correto. Procure um modelo chanfrado (os pelos do pincel crescem em diagonal). Posicione a parte maior para baixo, bem embaixo das maçãs do rosto. Depois de retirar o excesso de blush (assoprando ou dando batidinhas na mão), passe o pincel de dentro para fora em direção às têmporas. Isso deixará o rosto bem marcado. Mas quem quiser ficar apenas com um ar saudável, passe o blush nas maçãs do rosto com movimentos circulares. 

Tenho olhos grandes e sobrancelhas grossas. Nesse caso, os batons escuros estão proibidos? 

MG – Nada é proibido. É só preciso dosar. Mas nesse caso, prefira cores mais abertas como vermelho sangue, pink, laranja. E dispense o contorno com lápis. Isso faz os lábios aumentarem. Uma dica é passar o batom com os dedos. Dê leves batidinhas nos lábios e espalhe. Assim ele não fica tão forte. 

Qual o passo-a-passo para “fazer” um olho básico para o dia-a-dia? 

MG – Curvex é tudo nessa vida. Depois opte por uma sombra cremosa marrom, mas passe só na pálpebra. Abuse do rímel e finalize com lápis marrom na parte debaixo do olho. 

Como faço para fixar melhor a maquiagem? 

MG – Eu costumo usar o pincel molhado. Além de não borrar, fixa melhor. Nem toda maquiagem dá para molhar, então prefiro os produtos mais cremosos. Passo o pincel na água, depois na sombra, por exemplo, e aplico na pele. 

É verdade que usar lápis preto na parte inferior aumenta os olhos? 

MG – Não, pelo contrário, diminui. Para aumentar, deve-se usar lápis branco ou bege só na parte inferior. 

Nunca acerto na hora de esfumaçar a sombra. Qual o procedimento? 

MG – Mais uma vez tem que ter o pincel certo. Escolha um com a ponta mais arredondada. Abuse da sombra preta em todo o côncavo. E com o pincel (sem molhar) espalhe a sombra em direção às têmporas. 

Como faço para escolher a base ideal para o meu tipo de pele? 

MG – A pele da mão é muito parecida com a pele do nosso rosto. Use isso como referência e tente chegar o mais próximo possível. Essa tática vale tanto para a escolha de base como também para corretivo. 

Como faço para afinar o nariz? 

MG – Com um pincel mais quadrado com base reta, passe sombra marrom clara e escura. Nos lugares que considera mais “cheio”, use a sombra marrom escura (lateral do nariz, abaixo do maxilar) e em cima do nariz, contraste com a sombra clara. 

Qual a ordem correta para se fazer uma boa maquiagem? 

MG – A ordem que dá muito certo para mim é: filtro solar, base, se houver necessidade corretivo, curvex, blush, sombra, rímel e para finalizar, pó compacto na zona T (testa, nariz e queixo). 

Posso usar o mesmo demaquilante para tirar toda a maquiagem?

MG – Recomendo demaquilante específico para a região dos olhos e outro para a pele. Se usar o de pele nos olhos, poderá agredir a região por fazer muita força. Normalmente, os produtos para a retirada de maquiagem da pele são mais fracos do que os específicos para os olhos.

Posso usar um lápis de contorno labial mais escuro que o batom para realçar a boca e deixar o visual mais sensual?

MG – Isso é totalmente fora de moda. O que se pode fazer é usar um lápis da cor da boca ou do batom escolhido para corrigir o desenho e não deixar a boca marcada.

Ainda existe aquela regra que se carregar no batom, o olho deve ser menos maquiado e vice-versa?

MG – Não é uma regra. Mas o legal não é deixar o look todo pesado. É moderno equilibrar. Se quiser um olho bem elaborado, aposte em uma boca mais “clean” com gloss ou tons claros. Se a proposta for arrasar com uma boca vermelha, o olho deve vir mais básico. É claro que em editoriais e desfiles, é comum ver mulheres com maquiagem bem carregada. Mas isso é melhor em produções e não no dia-a-dia.

Como faço para aumentar os lábios?

MG – Com muito cuidado, use um lápis no tom do batom para marcar o desenho da boca.

E para preencher a sobrancelha?

MG – Acho lápis muito pesado e mais fácil de borrar. Gosto de usar um pincel indicado para sobrancelha e preencher com sombra. Indico as sombras de tons mais claros para as mulheres mais branquinhas.

Tenho muita dificuldade em passar delineador. Já tentei usar de vários tipos como lápis, pincel, em caneta, mas nunca consigo um bom resultado. Alguma dica?

MG – Uso o pincel de sobrancelha com sombra preta molhada. Marco o canto externo na altura do côncavo e faço um traço até a parte interna. Depois preencho tudo.

O que derruba uma make?

MG – Delineador caído, sombra iluminadora embaixo da sobrancelha, excesso de pó, corretivo usado em toda a região dos olhos, lápis labial mais escuro que o batom… Enfim, maquiagem em excesso.

Qual a maquiagem ideal para uma produção à noite?

MG – Rímel é tudo! Capriche muito no rímel, opte por sombras escuras. Se quiser, pode usar tons cintilantes. Para produções a noite, vale tudo.

Sempre vejo maquiadores usando técnicas diferenciadas. Tem algum truque que ajude na hora de maquiar?

MG – Com o tempo a gente acaba testando várias coisas e vê o que dá certo e o que não. Eu gosto muito, por exemplo, de passar um pouco de gloss em cima da sombra. Dá um efeito despojado, meio borrado, que acho lindo, bacana. 

Você tem alguma dica para a retirada da maquiagem?

MG – Bom, como já falei, gosto de usar demaquilante para a pele e outro para a região dos olhos. Depois recomendo a lavagem com água e sabão e em seguida, usar um tônico.

Meus cílios são para baixo. Há alguma máscara de cílios ou uma maneira de deixá-los para cima e bonitos?

MG – Não há nada que substitua o bom e velho curvex. Ele é a melhor coisa para deixar os cílios maravilhosos. Quem tem medo de usar o tradicional, deve optar pelo modelo elétrico. Acho fundamental dizer que o curvex é tão importante quanto a base.

Tenho dúvidas na cor de blush que devo passar?

MG – Tudo vai depender do seu tom de pele. Nessa estação, as mulheres de pele clara ficam bem de blush marrom, pêssego. As morenas e negras devem investir em um blush em tom avermelhado, para realçar mais o tom da pele.

Como faço para afinar o rosto?

MG – É preciso desenhar o rosto. Depois de passar o blush, passe o pincel abaixo do maxilar. Isso afina e deixa o rosto mais anguloso.

Não tenho muita maquiagem. Como fazer um look bacana com poucos produtos?

MG – Priorize corretivo, rímel e gloss.

Há problema de passar um produto indicado para uma região em outra? Posso usar o blush como sombra?

MG – Alguns produtos são ótimos para isso. Na época da vovó era comum usar produtos 3 em 1. De vez em quando eu uso um batom mais puxado para o rosa e vermelho como blush. Você também pode aproveitar o que sobrou no pincel depois de aplicar o blush e usar como sombra. Isso garante um ar saudável, fica um make natural.

Que dica daria para quem não sabe se maquiar sozinha?

MG – A maquiagem caracteriza muito a mulher. Ela identifica quem é aquela pessoa, entrega sua personalidade. E hoje em dia, a maquiagem se tornou um acessório. Você pode fazer o que quiser, dependendo do seu estado de espírito. Mas para quem não quer errar, daria o conselho de que menos é mais. Comece com uma maquiagem básica e depois vá aprimorando.

Como faço para disfarçar linhas de expressão?

MG – Uma boa base e corretivo já podem ajudar. Prefira os produtos líquidos e conte com a ajuda de um pincel para não marcar a pele. Dica: Espalhe a base com pincel grande em movimentos circulares, de dentro para fora. Finalize dando leves batidinhas com esponja porosa para absorver excessos.


Postado no blog Mulheres Antenadas


Deixe estar...




"Sabe, para mim a vida é um punhado
de lantejoulas e purpurina que o vento
sopra.

Daqui a pouco tudo vai ser 
passado mesmo - deixa o vento soprar, 
fique pelo menos com o gostinho 
de ter brilhado um pouco... "

Caio Fernando Abreu








Mobilização Nacional Indígena: um assunto nosso







Vanessa Rodrigues

Quando os navegadores portugueses chegaram às terras que viriam a formar o Brasil e se deram conta de que já tinham dono (pertenciam a alguém?), teve início quase que de imediato o mito da “descoberta”. Aqueles seres humanos com suas cores, línguas e costumes diferentes faziam parte de um cenário virgem, e logo foram vistos como algo a ser subjugado e explorado.

Ao longo do tempo, esta visão pouco mudou por parte dos detentores de poder político e econômico, a ponto de as populações indígenas estarem hoje reduzidas a uma fração do que eram em 1.500 (segundo estimativas, na época da “descoberta” eram uns 5 milhões. Este é um dado de senso comum. não encontrei informação que sustente, só na Wikipedia). O IBGE de 2010 contou cerca de 900 mil. O extermínio físico perpetrado ao longo dos últimos 500 anos foi complementado pelo equivalente extermínio cultural.

Ainda assim, as lideranças e povos indígenas sempre lutaram para manter suas identidades e o direito às suas culturas, tradições e territórios. 

A Constituição de 1988 trouxe uma série de dispositivos pensados para proteger esse direito e importantes vitórias foram alcançadas, como a demarcação do território da Raposa Serra do Sol com seus quase 1,8 milhão de hectares, em 2005. 

Curiosamente, foi essa vitória e a consequente guerra jurídica, envolvendo inclusive o STF — além, é claro, da construção da usina de Belo Monte — que parece ter marcado uma inflexão na luta dos diversos setores contrários à causa indígena.

Esta verdadeira guerra encontra eco em setores dos governos Federal e alguns estaduais, que passaram a ver na causa indígena um entrave importante aos seus projetos desenvolvimentistas, ancorados na maior parte das vezes em uma visão retrógrada e insustentável típica dos anos 70 do século passado. 

Aliam-se os personagens de sempre, latifundiários e pecuaristas de diversas estirpes e arcos de poder, parcelas importantes da “grande imprensa”, militares conservadores e a miríade de “lumpem-conservadores”, que usam as mídias sociais para espalhar seus discursos de ódio e rancor contra os indígenas, seus líderes e aliados.

Os indígenas, que são os maiores defensores da diversidade biológica e do trato sustentável dos recursos naturais, são em geral apresentados como inimigos do progresso, quando não “agentes úteis de interesses estrangeiros”.

Ou, como brilhantemente disse Eliane Brum, em seu artigo “Índios, os estrangeiros de sempre”:

"Os indígenas parecem ser, para uma parcela das elites, da população e do governo, algo que poderíamos chamar de “estrangeiros nativos’. É um curioso caso de xenofobia, no qual aqueles que aqui estavam são vistos como os de fora. Como ‘os outros’, a quem se dedica enorme desconfiança. (…) Estes “estrangeiros nativo” ameaçariam um suposto progresso, já que seu conhecimento não é decodificado como um valor, mas como um ‘atraso; sua enorme diversidade cultural e de visões de mundo não são interpretadas como riqueza e possibilidades, mas como inutilidades".

Este é, portanto, um momento de paroxismo na história do Brasil. A causa indígena não mais é uma causa PURAMENTE indígena. Ela REPRESENTA TAMBÉM UMA APOSTA NO PAIS QUE QUEREMOS CONSTRUIR. 

A derrota dos indígenas, se ocorrer, será também a derrota da possibilidade de um país mais sustentável, que reconhece o legado de seus povos originários e que aponta para um futuro em que natureza não seja tratada como inimiga a ser vencida e subjugada, mas sim como fonte essencial de riqueza de “bem viver” para toda a gente.

Neste sentido, a causa indígena é mesmo uma causa nossa, e não é preciso ser de uma comunidade em plena Amazônia para expressar isso. A questão indígena é a questão de todas as pessoas que lutam por um mundo justo. É a questão do Brasil que desejamos.

A semana de Mobilização Nacional Indígena começa hoje e pode ser decisiva. Participe, apoie, informe-se! Há atos confirmados em várias cidades. Há evento no Facebook e você pode divulgar a mobilização colocando usando um twibbon em suas redes sociais. São 25 anos de uma Constituição que até agora não foi, de fato, posta em prática.


Postado no site Blogueiras Feministas em 30/09/2013  






Como a Constituição de Ulisses salvou o Brasil do Tea Party




Luis Nassif

Periodicamente, o processo civilizatório sofre soluços de insensatez, tempos bicudos em que falham as ferramentas institucionais de mediação, os avanços são esquecidos, a radicalização campeia e o jogo político se torna selvagem.

O que ocorre hoje nos Estados Unidos é ilustrativo de como se formam essas ondas e os riscos que trazem quando não são moderadas pelo sistema político institucional. Antes de ontem, o presidente Barack Obama deu entrevista angustiada, acusando parlamentares republicanos de terem perdido o controle do Tea Party.

É pedagógico analisar o fenômeno norte-americano, sua reprodução no Brasil e entender como, em alguns momentos - como foi na Europa dos anos 20 e 30 – as circunstâncias podem levar a sistemas autoritários. E como, em um país de tradição golpista como o Brasil - como prova a história no século 20 - impediu-se que o vezo autoritário se impusesse sobre o sistema democrático.

Os grandes momentos de inclusão

O ponto inicial desses terremotos são os grandes momentos de inclusão da história.

Especialmente nos regimes democráticos, a civilização se forma a partir de processos gradativos de inclusão social e política. Foi assim na abolição da escravatura, nas lutas feministas e nos grandes movimentos migratórios, do campo para as cidades ou entre países.

Cada luta é um parto. Depois dela, o renascimento do país em um nível superior. Durante, criam-se momentos propícios para o exercício da intolerância, influenciando especialmente a classe média estabelecida, o chamado cidadão-massa, alienado em relação à política e às próprias organizações do seu meio.

É ele que se sente ameaçado no seu emprego ou no seu status, nas suas convicções, em um quadro em que o ritmo das mudanças torna a vida imprevisível.

Nas últimas décadas aceleraram-se os grandes fluxos migratórios mundiais, de latinos e orientais em direção aos países centrais, houve a ascensão das massas miseráveis nos países-baleia e uma crise sistêmica que corroeu as bases ideológicas do neoliberalismo.

Na Europa e Estados Unidos aumentou a intolerância em relação aos imigrantes, especialmente depois que a desindustrialização interna e a bolha imobiliária empobreceram a classe média. No Brasil, a resistência em relação à chamada nova classe C.

Esses movimentos são potencializados pelas novas formas de comunicação, pelas redes sociais, permitindo pela primeira vez, em muitos países, manifestações políticas que geraram inúmeras “primaveras”. Mas também a difusão de preconceitos e intolerância.

Mas, principalmente, pela exacerbação da velha mídia, do velho conceito de mass midia, vivendo seus estertores.

O mercado das ideias

O conceito de “opinião pública” é central nas modernas democracias. São os ventos da opinião pública que elegem políticos e consagram meios de comunicação de massa, movimentam o mercado de consumo e o show bizz, vendem eletroeletrônicos e sonhos. E esse jogo é exercitado no chamado "mercado das ideias", com características comuns a outros mercados e algumas características próprias essenciais - como o fato de intervir nas relações psicossociais e políticas de um país.

É um mecanismo complexo. Na parte superior, há os grandes intelectuais, humanistas, políticos, lideranças sociais construtores da civilização, tentando consolidar princípios de justiça social, de mediação política, permitindo os avanços sem a perda de controle.

No meio, um conjunto de instituições fazendo a mediação: os três poderes, os partidos políticos, sindicatos, associações etc.

Na base, setores organizados, como grupos, ONGs, associações em geral. Mas também o homem-massa em estado bruto, movendo-se por instintos primários da generosidade ao ódio, da solidariedade à intolerância, sempre procurando cavalgar as ondas para não se abater pela solidão atávica das democracias e do mercado. As ondas podem levar tanto a uma campanha beneficente mas, muito mais, a linchamentos públicos.

O desafio surge nos grandes curtos circuitos históricos, nos momentos de crise que torna o mercado de ideias tão instável que rompe os liames entre a massa e os organismos de mediação. Cria-se o ambiente propício ao estouro de manadas, do qual se aproveitam os agentes oportunistas.

Foi o que vem ocorrendo nos últimos anos ao redor do mundo.

A crise de 2008 e o período que a precedeu transformaram em pó não apenas ativos financeiros mas bandeiras partidárias globais. Apresentou-se a desregulamentação total como panaceia para todos os problemas. Desde que o Estado saísse de todas as áreas, inclusive das redes de apoio social aos menos favorecidos e de garantias básicas aos cidadãos, haveria uma era de ouro de aumento generalizado do bem estar.

A crise de 2008 mostrou uma pesada conta paga e uma nova conta apresentada – nova dose de sacrifício para permitir aos países sair da crise.

É nesse quadro que aparecem os agentes oportunistas, dentre dois protagonistas relevantes do mercado de ideias: os políticos e a mídia de massa.

Agente oportunista 1 – o político

Nos Estados Unidos, a reação da massa foi o Tea Party e o discurso anti-árabes e anti-imigrantes. No Brasil, movimentos difusos de radicalização, fundados no anti-petismo, no anti-nordestinos, no anti-pobres em geral. Em ambos os casos, essa intolerância inicial não era organizada, mas disseminada por pequenos grupos que refletiam sentimentos comuns à classe média.

No início, a radicalização das ideias fica fora do arco de propostas dos partidos – mesmo dos mais conservadores. As propostas radicais ocupam espaço no vácuo das ideias dos partidos.

Nos Estados Unidos resultou no fenômeno Sandra Pallin – a ignorante governadora do Alaska que se tornou candidata a vice-presidente. No Brasil, na transmutação de José Serra, tido até então como um intelectual na política.

Serra nunca foi grande intelectual nem grande político. Mas era um dos melhores intelectuais dentre os políticos; e um dos melhores políticos dentre os intelectuais. E exemplo acabado de como as circunstâncias moldam as lideranças políticas.

Nos anos 90 apresentava-se como “desenvolvimentista” e liberal, embora não comprovasse com ações concretas. Nos anos 2000 mostrou-se como o gerente, embora nunca tenha sido grande gestor. No final da década, como o profeta dos velhos tempos, ameaçando com o fogo do inferno os ímpios e os imorais, embora nunca tenha sido probo nem conservador. Quando precisou, posou de intelectual; quando foi necessário, envergou o anti-intelectualismo mais atroz

Superou suas limitações políticas e intelectuais com duas características próprias: um feeling superior para captar os grandes movimentos de manada; a uma ambição ampla o suficiente para se adaptar a qualquer tempo, sem se balizar por coerência, princípios, ideias.

Em um país sem tradição de Tea Party ocupou o espaço vago a ponto de se tornar candidato a presidente em duas eleições.

Mas, para isso, foi essencial a aliança com outros agentes oportunistas no campo da velha mídia, especialmente com Roberto Civita, como se verá a seguir, que talvez tenha sido o verdadeiro criador do “novo-velho Serra”. Desse casamento emerge um exemplo extraordinário – e assustador – das estratégias midiáticas em tempos de instabilidade.

Agente oportunista 2 – a mídia de massa

Na mídia de massa, o processo é o mesmo dos políticos. Ela estará sempre ligada nas grandes ondas. Pode ser uma Copa do Mundo, um linchamento de suspeito, uma campanha pelo impeachment, uma guerra do Iraque, uma Escola Base. O veículo que consegue manobrar essas ondas, ganha um poder adicional.

Nos Estados Unidos, a onda conservadora foi cavalgada pela FoxNews, de Rupert Murdoch, empenhado em enfrentar as gigantes que surgiam no bojo das inovações tecnológicas, ameaçando o reinado dos grupos tradicionais de mídia.

Incorporou a linguagem do Tea Party e abriu mercado para o colunismo de esgoto, de uma agressividade quase pornográfica. Foi um estilo vitorioso, que chegou a ameaçar a eleição de Obama.

No Brasil, esse movimento foi importado pela Veja. E aí entra o fator Roberto Civita.

Desde a histórica revista Realidade, Civita tornou-se um grande especialista em entender os movimentos da mídia norte-americana e transportá-los para o Brasil. No final dos anos 60 percebeu o estilo do jornalismo-produto das revistas semanais, concebeu a revista Veja e a entregou ao grande nome que surgia na época, Mino Carta.

Mais tarde, esse padrão do “jornalismo produto” (em que as notícias são quase como "roteirizadas" antecipadamente) serviu de inspiração para a revolução da Folha nos anos 80.

Nos anos 70, Octávio Frias foi buscar o diferencial na imprensa alternativa da época, especialmente no Pasquim. Dos anos 80 em diante, a inspiração jornalística (não necessariamente política) veio da Veja.

Civita foi o primeiro a perceber a essência do movimento de radicalização de Murdoch e sua nova linguagem. E transportá-las para o Brasil.

O primeiro colunista a exprimir esse novo estilo, radical, agressivo, foi o finado Tales Alvarenga – que, na época, tinha coluna na Veja e o cargo de diretor responsável. Da noite para o dia nasceu um Tales de linguagem agressiva, que nunca havia se manifestado ao longo de sua carreira.

O primeiro grande teste foi a campanha contra o desarmamento, pesada, conservadora, mas que encontrou um eco extraordinário em segmentos da classe média.

Ali foi o ponto de partida. Pela primeira vez, desde a redemocratização, emergia das trevas o pensamento mais conservador e anacrônico e tinha uma enorme aceitação junto ao cidadão-massa.

Depois de Tales, a mão previsível do mercado criou uma legião de gladiadores. Em determinado momento, foi um estilo tão forte que contaminou o próprio noticiário. Desde os anos 50 não se teve um noticiário tão editorializado como nesses últimos anos.

E foi nessa emulação do modelo norte-americano, que Civita imaginou-se Murdock e pensou em Serra como Sara Pallin, a mídia como partido político e, sendo bem sucedidos, Serra, presidente, preservando a sobrevivência dos grupos de mídia nacionais contra a invasão dos novos gigantes da mídia 0 Facebook e Google.

É esse o modelo esquemático que norteou a ação da mídia de 2005 para cá e explica a parceria Veja-Serra.

Os anticorpos institucionais

Caso essa parceria tivesse sido bem sucedida, teria mergulhado o país em uma noite de São Bartolomeu porque, do mesmo lado, os dois maiores poderes da República: a Presidência da República e mídia, em um pacto de guerra de extermínio a toda forma de pensamento dissidente, de desarme do sistema de freios e contrapesos.

Em 2010 escrevi no fragor da batalha, e repito agora: as eleições de 2010 ainda serão tratadas pela historiografia como um marco, que impediu a invasão persa sobre a recém criada democracia brasileira. 

Aos poucos, o organismo institucional vai recobrando a racionalidade, seja no STF (Supremo Tribunal Federal), na Pocuradoria Geral da República, seja nos partidos políticos de ambos os lados, com a adesão cada vez maior de personalidades de princípios democráticos sabendo que a política – não os coliseus – é o campo para o debate de ideias e de divewrgências.

A estabilidade política, não só agora, como ao longo desses 25 anos, deve-se à Constituição Federal, que permitiu o feito extraordinário de um país historicamente sujeito a golpes de Estado consolidar os princípios democráticos, em meio a tormentas e terremotos ocasionais.

Não fosse a Constituição, no final do ano passado um grupo de alucinados do STF teria invadido o Congresso e empalmado o poder. Ao detalhar de modo claro a independência entre os poderes, a Constituição reduziu a margem de arbítrio na interpretação do texto constitucional, permitindo a reafirmação da legalidade.

O país deve gratidão eterna aos homens que, 25 anos, desenharam nossa Constituição. Especialmente ao grande comandante Ulisses Guimarães.


Postado no blog Luis Nassif Online em 04/10/2013