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Uso e abuso




O uso é o bom-senso da vida e o metro da caridade.

Vida sem abuso, consciência tranquila.

Uso é moderação em tudo.
Abuso é desequilíbrio.

O uso exprime alegria.
Do abuso nasce a dor.

Existem abusos de tempo, conhecimento e emoção.
Por isso, muitas vezes, o uso chama-se “abstenção”

O uso cria a reminiscência confortadora.
O abuso forja a lembrança infeliz.

Saber fazer significa saber usar. Todos os objetos ou aparelhos, atitudes ou circunstâncias exigem uso adequado, sem o que surge o erro.

Doença – abuso da saúde.

Vício – abuso do hábito.

Supérfluo – abuso do necessário

Egoísmo – abuso do direito

Todos os aspectos menos bons da existência constituem abusos.

O uso é a lei que constrói.
O abuso é a exorbitância que desgasta.
Eis por que progredir é usar bem os empréstimos de Deus.


ANDRÉ LUIZ
(Do livro "Estude e Viva", Francisco Cândido Xavier)



Encontro com a vida


Encontro com a Vida - parte II

Enildes Corrêa

Você deveria transmitir sua alegria, seu silêncio e seu riso a qualquer um com quem tenha contato. Você não pode dar um presente melhor a seus amigos, a seus conhecidos, a seus amados, às suas crianças. Osho 

Este texto nasce de uma forte, difícil e intensa vivência que tive ao acompanhar um amigo que veio a falecer, inesperadamente, há algum tempo, que se tornou uma das maiores escolas da vida pelas quais já passei. 

Constatei e vivenciei estas palavras dos sábios: "A vida é curta para ser pequena". Acordei para o fato de que ficamos fora dela por coisas tão banais, pequenas e insignificantes; apegos a tantas coisas supérfluas, que servem simplesmente de estorvos e impedimentos para vivermos com alegria, bem como para uma partida silenciosa e em paz.

A única coisa que fica com alguém ao morrer é o conhecimento experiencial de si mesmo, que abre espaço para a compreensão de si, do outro e da vida como um todo. O entendimento é eterno. Esse fica. Nada, nem ninguém, o arranca de nós. É o que vai ajudar na hora do grande parto da forma para a não-forma: a morte.

Ao me dispor a dar o meu apoio incondicional àquele amigo que não tinha nenhuma pessoa de laços sanguíneos ao seu lado e a quem, fiquei sabendo através do diagnóstico médico, restava pouquíssimo tempo de vida, vi o imenso e sagrado valor dos pequenos gestos de cuidado, amizade e humanidade, independente de quaisquer ligações familiares.

Entretanto, confesso que acompanhá-lo naqueles momentos cruciais não foi uma tarefa fácil. A princípio, senti o peso dessa responsabilidade nos meus ombros. Depois, tranquilizei-me ao recordar das palavras de Kiran Kanakia, durante satsang na Índia: "Quando confiamos na Vida, Ela toma conta". "Quando você coopera com a Vida, a Vida coopera com você". "Diga sim à Vida, aceitando-A como Ela é".

Vi a verdade dessas palavras aparecer na forma de verdadeiros milagres naquele quarto de hospital, lado a lado com cada dificuldade enfrentada, como também destas outras: "Amor é o remédio". Vivenciei que o amor é a força mais poderosa do Universo, neutraliza e vence qualquer tipo de reação, por mais intensa e danosa que seja.

Procurava transmitir ao meu amigo um afeto fraterno, através do meu olhar, do meu toque, da minha presença. Segurar suas mãos nos momentos em que ele sentia medo e sofria do mal-estar dos efeitos colaterais da forte medicação a que estava sendo submetido, tocar sua testa, seus pés ou outras partes do corpo onde eu percebia que precisava de mais vitalidade acalmavam seu sistema nervoso, deixando-o mais tranquilo, lúcido e consciente.

Seu corpo respondia de forma surpreendente ao toque que recebia das mãos, carregadas da mensagem de aceitação e acolhida da sua pessoa do jeito que era, com seu lado positivo, fácil de lidar e com seu lado reativo e mais difícil de aceitar. Essa qualidade, impressa no toque e no olhar, tem uma força de vida que às vezes nem mesmo os melhores medicamentos conseguem proporcionar.

Uma grande integração na minha profissão de terapeuta corporal se deu naquele ambiente de hospital. Foi uma das mais valiosas aulas que a Existência me deu sobre a importância, a profundidade e a amplitude de um simples toque humano. 

O toque que traz uma presença amiga, permitindo a alguém se sentir acompanhado e sair do estado de solidão e desamparo. O toque que vivifica a força interna, que nos faz sentir que nem tudo está perdido: é possível confiar e esperar pelo melhor, seja lá como for e onde for. O toque que transforma ansiedade, medo e angústia, em tranquilidade e confiança. O toque que ajuda a reorganizar o caos emocional e possibilita-nos ver com mais clareza e caminhar com mais segurança. O toque que nos ajuda a abrirmos o coração e a comungarmos uns com os outros. 

Desejei, ardentemente, que todos os contatos entre os seres humanos, em qualquer âmbito, fossem permeados por essa qualidade do vivo, da aceitação, da acolhida e do respeito recíproco de uns pelos outros. Oxalá, todos ao nascer pudessem ser recebidos neste mundo por uma infinidade de mãos amigas! E que, ao partir, levassem consigo a lembrança e o calor de um adeus dado nem que seja por uma única mão amiga.

Infelizmente, não é essa a realidade, principalmente a dos hospitais. Vi consternada vários médicos jovens, ainda em início de carreira, gabando-se de sua indiferença diante da morte. Observando tais atitudes, refleti sobre que tipo de formação as escolas de Medicina do Ocidente oferecem aos seus alunos. 

Se a morte for banalizada, que dirá o cuidado com a vida! Vida esta que os "humanos" estão quase conseguindo dizimar. E, diante da insensibilidade e indiferença de muitos, quantos partem sem sequer uma pessoa do seu lado para dizer: "Vá em paz, que Deus o acompanhe". E quantos nascem sem alguém que os bendiga e diga: "Seja bem-vindo, viva em paz, seja feliz e que Deus o abençoe por toda a sua existência!".

Naqueles dias, vivenciando a rotina de um hospital, acompanhando alguém gravemente enfermo, dei extremo valor aos ensinamentos recebidos de Kiran Kanakia, bem como à experiência adquirida em vários anos de trabalho com diferentes técnicas terapêuticas de abordagem corporal, em especial as de cura pelas mãos. 

Compreendi, de forma muito profunda, o que significa para uma pessoa que está morrendo, sobretudo para quem se sente sozinha, poder segurar com confiança as mãos de alguém. O encontro com pessoas amigas e afetuosas vivifica o ser humano em qualquer tempo, inclusive na hora da morte, ajudando sobremaneira no momento da passagem.

Essa passagem se torna mais fácil às pessoas que abriram o coração para o fluxo do amor. Quem aprendeu a amar e a se entregar à Vida com total confiança não vai temer a morte, ainda que por um motivo ou outro esteja só. Todavia, será bem mais árdua para os que não se empenharam em adquirir um mínimo de compreensão sobre a vida, que congelaram seus sentimentos e fecharam-se como conchas em seu pequeno mundo.

Quanto ao meu amigo, contrariando as expectativas médicas, resistiu bravamente àquela doença fulminante, inclusive a duas intervenções cirúrgicas, às quais dificilmente sobreviveria, segundo os prognósticos médicos. No fim de sua curta existência de 56 anos, ele abraçou e valorizou a vida, assumiu o risco de viver, tomou essa responsabilidade em suas mãos, apesar da dor e do sofrimento pelo qual estava passando, e prolongou um pouco mais seu tempo nesta dimensão. Deu-nos ainda o presente de vê-lo brincar e sorrir.

Esse foi um dos mais preciosos aprendizados que o amigo Roberto nos deixou: é possível brincar e sorrir, mesmo na dor, mesmo no leito de morte. Mais que isso, é fundamental às pessoas enfermas estarem cercadas de gente alegre, de fato vivas, que lhes transmitam vitalidade, carinho e confiança. A contradição é muitos daqueles a serviço médico parecerem mais mortos do que seus pacientes que estão morrendo. A medicina ocidental avançou largamente em tecnologia, entretanto, parece que se esqueceu de estimular algo fundamental em qualquer tratamento de saúde: o amor e o calor humano.

Ao meu amigo, fica o meu eterno agradecimento por tudo o que, através dele, a Existência me mostrou e me revelou, como o milagre da rendição à Vida, com o que quer que Ela nos faça vivenciar. Constatei que a morte pode trazer consigo também um renascer para a vida. Antes da sua partida, deixei-o saber que estar com ele como irmã e assistir-lhe em sua enfermidade, ao invés de peso, transformou-se numa bênção. As lições aprendidas tornaram-se incontáveis e de imensurável valor.

E, ao mesmo tempo em que a morte batia à sua porta, para nosso pesar e tristeza, um fenômeno especial acontecia entre aquelas paredes: eu estava sendo acordada para a vida!

Quando eu saía do hospital e ia embora para casa, andando e respirando livremente, com olhos que enxergavam a beleza do amanhecer, do entardecer, das árvores, das flores, sentia-me tomada pelo sentimento de gratidão. Agradeci a Deus por tantas coisas, que nem daria para citá-las aqui. Os meus problemas ficaram tão diminutos!

Refleti que reclamamos por tão pouca coisa... Exigimos muito e agradecemos pouco. Quase nunca estamos satisfeitos. Ficamos correndo de um desejo a outro e, raramente, agradecemos à Vida pelas dádivas que recebemos, a começar pela nossa própria existência. Com a mente cheia de desejos, fechamos as portas para um modo de viver mais natural, simples e harmônico. E assim, a vida vai passando e a maioria das pessoas fica fora dela, vivendo em plena contramão...

As palavras de Kiran reverberam em todo o meu ser:

Acordem e voltem para a vida. Por que vocês não acordam? É tão simples!

Comecem por se aceitar do jeito que vocês são. Então, a primavera chega e a grama cresce por si mesma...


por Enildes Corrêa   Administradora e Terapeuta Corporal Ayurveda. Formação e especialização na Índia. Ministra palestras e seminários vivenciais a organizações governamentais e privadas. Autora do livro "Vida em Palavras" - coletânea de crônicas. 
Visite o Site do autor

Postado no site Somos Todos Um



Desmond Tutu : Com este Homem como Papa a Igreja Católica seria mais humana para a Humanidade !






Desmond Mpilo Tutu (nascido em Klerksdorp, no Transvaal, em 7 de outubro de 1931) é um bispo sul-africano, pertencente à Igreja Anglicana, que se tornou conhecido na década de 1980 graças à sua oposição ferrenha ao apartheid.

Ao lado de Nelson Mandela, Desmond Tutu foi uma das figuras centrais do movimento contra o Apartheid. Tutu iniciou centenas de protestos em locais públicos contra o governo sul-africano, mesmo assumindo posições altas no clero africano, Tutu continuou a lutar contra a segregação racial em seu país. Tutu acabou por despertar a fúria dos governantes sul-africanos quando os comparou aos nazistas e comunistas. 

Como resultado de seus esforços para promover a igualdade na África do Sul, Desmond Tutu recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984.

Algumas frases:

"Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados."

"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor." 

"Quando os missionários chegaram à África, eles tinham a Bíblia e nós, a terra. Disseram-nos: "Vamos rezar". Fechamos nossos olhos. Quando os abrimos, nós é que estávamos com a Bíblia e eles com a terra." 

"Seja gentil com o homem branco, ele precisa de você para redescobrir sua humanidade." 

"Sem perdão não há futuro para o relacionamento entre indivíduos nem entre nações." 

"Você não escolhe a sua família. Ela é um presente de Deus para você, assim como você o é para ela." 

"Uma pessoa é uma pessoa porque ela reconhece os outros como pessoas." 

"Se Deus é homofóbico, como dizem, eu não veneraria a Ele." 

"Estávamos esperando por alguém mais aberto às recentes mudanças no mundo, à questão da ordenação de mulheres e com uma posição mais razoável quanto aos preservativos e a epidemia de HIV/AIDS." ( Declaração feita a BBC em 20 de abril de 2005 quanto à escolha de Joseph Ratzinger como o novo papa ) 

"Deus tem tão profunda reverência pela nossa liberdade que prefere deixar-nos livres para irmos pro Inferno do que nos obrigar a ir para o Céu." 

"Dou graças a Deus por ele criar o Dalai Lama. Você realmente pensa que, como alguns defendem, Deus irá dizer: 'Você conhece aquele cara, o Dalai Lama, ele não é mau. Que pena que ele não é cristão'? Eu não acho que este seja o caso, veja você, Deus não é cristão." 

"Eu não prego o evangelho social, eu prego o Evangelho, período. O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo se preocupa com a pessoa como um todo. Quando as pessoas estavam com fome, Jesus não disse 'Agora isto é político ou social?' Ele disse: 'Eu alimento você'. Por que uma boa notícia para a pessoa com fome é o pão."


Prêmio Nobel Desmond Tutu não acredita que Deus odeie os homossexuais

Johanesburgo, 26 jul (EFE).- O arcebispo emérito da Cidade do Cabo na África do Sul e prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu disse nesta sexta-feira que não acredita que Deus odeie os homossexuais, e comparou a homofobia com o racismo.

"A muitos de nós causa angústia imaginar que Deus pode criar alguém e dizer: 'Te odeio. Te odeio como te fiz", disse o líder religioso anglicano na Cidade do Cabo, durante a apresentação de uma campanha da ONU pela igualdade das minorias sexuais. 


 






Informações retiradas da Internet

"Eu adoro livro velho"




O mal do século



Montserrat Martins 

Na área emocional, o mal do século XXI é a depressão, como a histeria foi o mal do século XIX. Sabe-se que a histeria era comum na era vitoriana, de repressão sexual, mas depois das mudanças culturais do século XX se tornou rara na Europa.

Mas quais as causas da depressão, agora, como um fenômeno social? Qualquer transtorno tem causas biológicas, psicológicas e sociais. Entre os múltiplos fatores, no caso da depressão como o ‘mal do século’, destacam-se os sociológicos.

Como todos os transtornos, são mais frequentes na população de baixa renda, mas no caso da depressão não é só o estresse das dificuldades financeiras, são também as humilhações que as pessoas sofrem na vida cotidiana, no trabalho e no próprio convívio social. 

Faltam pesquisas sobre algumas questões específicas, mas é previsível por exemplo o efeito das propagandas de automóveis de último tipo e produtos de luxo na televisão sobre pessoas que jamais poderão adquirir esses bens. Muitos adolescentes internados na FASE praticaram algum roubo de carro não para revender, mas para dirigir e passar com ele na frente de garotas, como demonstração de status, de poder, para se sentirem ‘importantes’, validados por elas.

Outros fatores sociológicos vão além da condição econômica, atingem a todos os grupos. 

Estamos no século da sociedade de massas, das multidões, da anomia, da falta de identidade, diante da necessidade de adaptação às tendências mutantes dos grupos sociais. 

A própria difusão de drogas como o crack e a cocaína, de efeito euforizante, é um dos sintomas dessa era. O culto ao ‘celebritismo’ também, bater fotos com celebridades é uma forma de ser “alguém” – não importando que tipo de fama a pessoa tenha, porque o ‘celebritismo’ não requer valor intrínseco. Sendo que o mais almejado modo de atingir os “15 minutos de fama” é aparecer na TV, vem daí o sonho de milhões em ir para os BBBs da vida.

Nesse mundo massificado em que as pessoas medem o próprio valor por consumo e status, em detrimento das próprias qualidades humanas, aqueles cujo trabalho é atender aos outros passam a ser cada vez mais atingidos por estresse. 

É o caso da chamada “síndrome de burnout”, um tipo de depressão desenvolvida em decorrência da atividade profissional. São descritos em artigos sobre ‘burnout’ os modos como o estresse dos professores e dos enfermeiros se transforma em depressão, convivendo com frustrações e sofrimentos das populações que atendem.

Em escolas e hospitais é cada vez mais difícil trabalhar e o mesmo vale para o trabalho na rua, na área da segurança. Todos queremos “ter segurança”, não sermos roubados na rua, ao mesmo tempo em que reclamamos do despreparo dos policiais nos casos de abuso de poder. Também queremos que os adolescentes infratores quando saiam da FASE não ‘recaiam’ no mundo do crime e a expectativa para isso fica nos ombros da instituição. 

Nossos problemas sociais são grandes, graves e complexos, mas algumas categorias profissionais vem carregando nos ombros o peso das expectativas de resolver problemas de muito difícil solução – que não dependem só deles, mas em que eles são vistos como responsáveis.

Num mundo em que multidões se sentem amassadas pelo peso dos problemas, a alegria que alguns proporcionam com sua arte (jogadores de futebol, atores) fazem deles ídolos. 

Mas o século XXI também é o da diversidade e do respeito às diferenças – em que cada um e cada grupo tem próprios ídolos. 

Meus heróis são os que atendem às pessoas nas ruas, na FASE, no SUS e nas escolas, lutando contra o ‘mal do século’.


Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


Postado no site Sul21 em 23/07/2013