Quinoa a proteína em grão


A quinoa é considerada um pseudo cereal


Ela traz benefícios para os músculos e para a saúde cardiovascular


Amplamente consumida na região dos Andes, a quinoa é considerada um pseudo cereal. Isto é, ela possui os mesmos nutrientes que os cereais propriamente ditos, como arroz e trigo, mas suas características de plantio e crescimento são diferentes.

Principais nutrientes

Composição da quinoa para cada 100 gramas
Calorias (Kcal)336
Carboidratos (g)68,3
Proteínas (g)12,1
Lipídios (g)6,1
Água (g)10,8
Fósforo (mg)302
Cálcio (mg)107
Fibras (g)6,8
Ferro (mg)5,2
Tiamina (mg)1,5
Niacina (mg)1,2
Riboflavina (mg)0,3
Ácido Ascórbico (mg)1,1

A quinoa é um alimento de alto valor biólogo, ou seja, possui todos os aminoácidos essenciais que o nosso corpo precisa para funcionar corretamente.

Ela também é fonte de cálcio, ferro e ácidos graxos ômega 3 e 6. Como qualquer cereal, é muito rica em fibras, sendo portanto uma ótima fonte de carboidratos para a alimentação. Além disso, a quinoa possui quantidades importantes de vitaminas do complexo B.

Benefícios da quinoa

Quinoa pode ser consumida acompanhando a salada
Por ser rica em proteínas, a quinoa ajuda no fortalecimento muscular, principalmente para quem pratica atividades físicas. Suas quantidades significativas de ômega 3 e 6 são importantes aliados na prevenção de doenças cardiovasculares e redução do colesterol. Ela também ajuda no fortalecimento dos ossos e prevenção de doenças como osteoporose e hipertensão, devido a suas quantidades de cálcio.

As vitaminas do complexo B presentes na quinoa são parte essencial para o bom funcionamento do sistema nervoso, manutenção muscular e síntese de hormônios. Além disso, as fibras presentes no grão dão a sensação de saciedade, podendo favorecer o emagrecimento. Ela também é rica em zinco, um nutriente que atua no fortalecimento do sistema imunológico e nos processos de cicatrização. Por fim, também é um grão recomendado para pessoas que possuem doença celíaca, já que não contém glúten.  
   

Como consumir

Sopa de quinoa é rica em nutrientes e uma refeição leve
A quinoa geralmente é vendida na sua versão em pó, ficando parecida com a aveia moída, mas também pode ser encontrada como grão inteiro. Em ambos os casos a quinoa tem todos os seus nutrientes conservados e o consumo diário não deve ser feito em quantidades elevadas.

De acordo com o nutrólogo Roberto Navarro, da Associação Brasileira de Nutrologia, não existe uma recomendação certa para o consumo diário de quinoa. "Pensando em uma dieta de 2 mil calorias, podemos dizer que duas colheres de sopa por dia são suficientes", afirma.




É possível acrescentar a quinoa à alimentação de diversas formas


Saladas: a quinoa pode ser usada para temperar a salada tanto a semente propriamente dita como também na forma de farinha.

Com leite ou iogurte: os grãos inteiros da quinoa podem ser consumidos como um cereal matinal, acompanhando leite ou iogurtes, por exemplo. Isso ajuda a acrescentar mais fibras ao preparo, melhorando o fluxo intestinal e garantindo a saciedade.

Substituindo a farinha de trigo: a farinha de quinoa pode ser usada no preparo de diversas receitas, como massa de bolos, tortas, pães e biscoitos. A proporção para substituir nas receitas é de um para um, ou seja, para cada xícara de farinha de trigo, use uma xícara de quinoa no lugar.

Misturado em sucos ou vitaminas: colocar uma colher de farinha de quinoa em sucos ou vitaminas acrescenta boas doses de cálcio, proteínas, ferro e zinco a essas bebidas, fora todos os nutrientes que as frutas já oferecem. Pelo fato de estarem em forma de suco, as frutas perdem muito das suas fibras, e a quinoa pode ajudar a equilibrar essas quantidades.

Com frutas: consumir uma salada de frutas acompanhada da quinoa pode ser uma ótima opção de lanche após os exercícios, uma vez que as frutas são fontes de carboidratos e a quinoa, de proteínas - dois nutrientes indispensáveis para quem está praticando atividade física.

Não há qualquer contraindicação para o consumo da quinoa, desde que seja consumida nas quantidades adequadas (até duas colheres de sopa por dia). Isso porque ela é um alimento calórico, que se consumido em excesso pode desequilibrar a dieta.

Comparação com outros alimentos

A quinoa é uma das melhores fontes de proteína do reino vegetal: cada 100g de quinoa possui 12g de proteínas, quantidade superior a encontrada na soja, no trigo, no arroz e na aveia, mas inferior a encontrada na chia.

O grão também ganha disparado quando o assunto é quantidade de gorduras: são 6,1g de lipídeos em 100g de quinoa contra 1,5g do trigo e 10,2g da aveia, por exemplo - e é importante lembrar que as gorduras presentes na quinoa são o ômega 3 e o ômega 6, ambas benéficas para o organismo, ajudando principalmente na prevenção de doenças cardiovasculares.

Ela também é um dos grãos que tem maior teor de ferro (10,9mg por 100g de quinoa), perdendo apenas para o amaranto (17,4mg por 100g). Essas quantidades de ferro são aproximadamente 550 vezes maiores que as encontradas no feijão.

Possui cerca de 66mg de cálcio por 100g do grão, quantidade superior a do arroz, trigo, centeio, feijão e cevada, mas inferior a da aveia, do milho, da soja, da linhaça, do amaranto e da chia, que entre todos os grãos é a mais rica em cálcio.

Confira essa tabela que compara a quinoa com o trigo e a aveia, dois grãos largamente consumidos pelos brasileiros:

Composição dos grãos de quinoa em relação a outros cereais (100g)

QuinoaTrigoAveia
Calorias (Kcal)336330405
Carboidratos (g)68,371,668,5
Proteínas (g)12,19,210,6
Lipídios (g)6,11,510,2
Água (g)10,816,59,3
Fósforo (mg)302224321
Cálcio (mg)10736100
Fibras (g)6,832,7
Ferro (mg)5,24,62,5
Tiamina (mg)1,50,20
Niacina (mg)1,22,80
Riboflavina (mg)0,30,80
Ácido Ascórbico (mg)1,100

Fontes consultadas:

Nutrólogo Roberto Navarro da Associação Brasileira de Nutrologia
Nutricionista Israel Adolfo especialista em fisiologia pela Unifesp

Postado no blog Minha Vida no Portal R7


América Latina na era da cyberguerra



Julian Assange no sítio Outras Palavras

O que começou como meio para preservar a liberdade individual pode agora ser usado por Estados menores, para frustrar as ambições dos maiores.

O cypherpunks [1] originais eram, na maioria, californianos libertaristas [2]. Eu vim de tradição diferente, onde todos nós buscávamos proteger a liberdade individual contra a tirania do Estado. Nossa arma secreta era a criptografia. Já se esqueceu o quanto isso foi subversivo.

A criptografia, então, era propriedade exclusiva dos Estados, para uso em suas muitas guerras.

Ao escrever nossos próprios programas e distribuí-los o mais amplamente possível, liberamos a criptografia, a democratizamos e a espalhamos pelas fronteiras da nova internet.

A reação contra, sob várias leis “de tráfico de armas”, falhou. A criptografia se difundiu nos browsers da rede e em outros programas que, hoje, as pessoas usam diariamente. 

Criptografia forte é ferramenta vital na luta contra a opressão pelo Estado. Essa é a mensagem do meu livro Cypherpunks. Mas o movimento para disponibilizar universalmente uma criptografia forte tem de trabalhar para obter mais do que isso. Nosso futuro não está apenas na liberdade para os indivíduos.

Nosso trabalho em WikiLeaks implica compreensão semelhante da dinâmica da ordem internacional e da lógica do império.

Durante o período de formação de WikiLeaks, encontramos evidências de pequenos países abusados e dominados por países maiores, ou infiltrados por empresas de fora, forçados agir contra eles próprios. Vimos o desejo popular ao qual não se dava voz e expressão, eleições compradas e vendidas, e países ricos, como o Quênia, assaltados e leiloados por plutocratas em Londres e em New York.

A luta pela autodeterminação latino-americana é importante para muito mais gente do que os que vivem na América Latina, porque mostra ao resto do mundo o que pode ser feito. Mas a independência da América Latina ainda engatinha. Tentativas para subverter a democracia latino-americana ainda acontecem, inclusive recentemente, em Honduras, Haiti, Equador e Venezuela.

Por isso a mensagem dos cypherpunks tem importância especial para os públicos latino-americanos. 

A vigilância em massa não é só problema para a governança e a democracia – é uma questão geopolítica. Se a população de um país inteiro é vigiada por país estrangeiro, há ameaça contra a soberania. 

Intervenção após intervenção nos assuntos da democracia na América Latina ensinaram-nos a ser realistas. Sabemos que os velhos poderes ainda explorarão, para benefício deles, qualquer possibilidade de retardar ou suprimir a eclosão da independência latino-americana.

Considere-se a simples geografia. Todos sabem que os recursos em petróleo regem a geopolítica global. O fluxo do petróleo determina quem é dominante, quem é invadido, quem é posto em ostracismo fora da comunidade global. 

O controle físico sobre um segmento de oleoduto define maior poder geopolítico. Governos que se ponham nessa posição podem obter concessões gigantescas. Num golpe, o Kremlin pode condenar a Europa Oriental e a Alemanha a um inverno sem calefação. E até a possibilidade de Teerã controlar um oleoduto para o leste, até Índia e China, é pretexto para a lógica belicosa de Washington.

Mas o novo grande jogo não é a guerra por oleodutos. É a guerra pelos dutos pelos quais viaja a informação: o controle sobre as vias de cabos de fibras óticas que se espalham pela terra e pelo fundo dos mares. 

O novo tesouro global é o controle do fluxo gigante de dados que conecta todos os continentes e civilizações, conectando as comunicações de bilhões de pessoas e empresas.

Não é segredo que, na Internet e no telefone, todas as rotas que entram e saem da América Latina passam pelos EUA. A infraestrutura da Internet dirige 99% do tráfego que entra e que sai da América do Sul por linhas de fibras óticas que atravessam fisicamente fronteiras dos EUA.

O governo dos EUA não mostrou qualquer escrúpulo quanto a quebrar sua própria lei e plantar escutas clandestinas nessas linhas e espionar os seus próprios cidadãos. Todos os dias, centenas de milhões de mensagens de todo o continente latino-americano são devoradas por agências de espionagem dos EUA, e armazenadas para sempre em armazéns do tamanho de pequenas cidades. Os fatos geográficos sobre a infraestrutura da Internet, portanto, têm consequências sobre a independência e a soberania da América Latina.

O problema também transcende a geografia. Muitos governos e militares latino-americanos protegem seus segredos com maquinário de criptografia. São caixas e programas que “desmontam” as mensagens na origem e as “remontam” no destino. Os governos compram essas máquinas e programas para proteger seus segredos – quase sempre o próprio povo paga (caro) –, porque temem, corretamente, que suas comunicações sejam interceptadas.

Mas as empresas que vendem esses equipamentos e programas caros mantêm laços estreitos com a comunidade de inteligência dos EUA. Seus presidentes e altos executivos são quase sempre matemáticos e engenheiros da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) capitalizando as invenções que eles mesmos criaram para o Estado de Vigilância. Não raras vezes, as máquinas que vendem são quebradas: quebradas propositalmente, por uma razão. Não importa quem as use ou como as usem – as agências dos EUA conseguem “remontar” os sinais e leem as mensagens.

Esse equipamento é vendido para a América Latina e outros países como útil para proteger os segredos do comprador, mas são, de fato, máquinas para roubar aqueles segredos.

Enquanto isso, os EUA aceleram a próxima grande corrida armamentista. A descoberta do vírus Stuxnet vírus – e depois dos vírus Duqu e Flame – marca o início de uma nova era de programas complexos usados como arma, que estados poderosos fabricam para atacar estados mais fracos. A primeira ação agressiva contra o Irã visou a minar os esforços daquele país com vistas a defender sua soberania – ideia que é anátema para os interesses de EUA e de Israel na região.

Longe vai o tempo em que usar vírus de computador como arma de ataque era peripécia de romance de ficção científica. Agora, é realidade global, que se espalha graças ao comportamento leviano do governo de Barack Obama, em violação da lei internacional. Outros estados agora por-se-ão na mesma trilha, aumentando a própria capacidade de ataque.

Os EUA não são os únicos culpados. Em anos recentes, a infraestrutura de Internet de países como Uganda tem recebido grandes investimentos chineses. Gordos empréstimos chegam, em troca de contratos africanos para que empresas chinesas construam a espinha dorsal da infraestrutura de Internet ligando escolas, ministérios do governo e comunidades ao sistema global de fibra ótica.

A África vai-se conectando online, mas com máquinas vendidas por potência estrangeira aspirante ao status de superpotência. A Internet africana será o meio pelo qual o continente continuará subjugado no século 21?

Esses são algumas das importantes vias pelas quais a mensagem dos cypherpunks vai além da luta pela liberdade individual. A criptografia pode proteger não só as liberdades civis e os direitos individuais, mas a soberania e a independência de países inteiros, a solidariedade entre grupos que lutem por causa comum, e o projeto da emancipação global. Pode ser usada para enfrentar não só a tirania do estado contra o indivíduo, mas a tirania do império contra estados menores.

O grande trabalho dos cypherpunks ainda está por fazer. Junte-se a nós.

Notas


[2] Orig. “libertarian”. Nos EUA, são liberais conservadores, que combatem, sobretudo o Estado, sem qualquer associação ou conotação com comunistas anarquistas. O movimento Tea Party, por exemplo, é dito libertarian. Dadas as conotações comunistas anarquistas do adjetivo (port.) “libertário”, que aqui absolutamente NÃO CABEM, optamos pela neologia “libertarista”. É solução tentativa, há outras possibilidades, e todos os comentários e correções são bem-vindos [NTs].

* Tradução: Vila Vudu


Postado no Blog do Miro em 14/07/2013


O peso da idade


foto: reprodução
Nanda Bouças

Os brasileiros tendem a manter relações, a ligação com a família e os idosos sempre estão presentes nestes contextos, diferente de alguns países onde o destino certo de um idoso é a solidão.

Lógico que também não chegamos nem perto dos países asiáticos, onde os mais velhos tem quase o que posso chamar de “criador e criatura”, possuindo papel de destaque e respeito pelos seus antecessores. 

Talvez seja esta relação de respeito que falta do lado de cá, com mais compreensão, mais paciência e mais afeto aos idosos, mas nem tudo é como deveria ser, não é mesmo?

O que quero trazer a respeito é esse lado ainda errôneo da relação com os idosos. Repassando mentalmente algumas famílias que conheço, observei que minha realidade é um tanto diferente da maioria dos meus amigos por exemplo.

Falo isso, pois moro com meus pais e a minha mãe trouxe minha avó para poder morar conosco, uma vez que ela não havia mais condições de morar só (minha avó hoje sofre de demência e problemas respiratórios sérios). Nossa vida hoje é literalmente invadida por essa realidade: um idoso que necessita de cuidados, e quando digo cuidados é no sentido mais amplo que vocês possam dar a palavra, desde o banho a alimentação. Tudo precisa ser devidamente monitorado, além de precisarmos oferecer companhia diária e ininterrupta, missão que posso dizer que é sim cansativa. Mas gratificante.

Minha avó foi, em sua fase de lucidez e saúde, uma das figuras mais presentes e dominantes em toda a minha infância e parte da minha adolescência. Sempre ativa e destemida, contagiava a todos com sua vitalidade. Quando ela começou a apresentar os primeiros sintomas da sua nova condição, não pensamos duas vezes em poder está mais presentes nesta transição, pois não poderíamos fechar as portas e nos redimir das responsabilidades (e dos sentimentos).

A questão que quero trazer é que, infelizmente, muita gente não consegue encarar desta forma. Muita gente por aí acha que “gente velha” é um fardo (mesmo quando saudáveis), e que se não houver compensações financeiras depois, não merece se quer preocupação…E quando vejo isso só consigo lamentar.

Idosos são sim mais lentos, são mais teimosos, são mais tinhosos, mas também são os mais amorosos, os mais vividos e mais sábios. Suas experiências nos levam a passar horas escutando suas histórias e imaginando aquela realidade da qual estamos tão distantes.

Pobres são aqueles que não conseguem absorver a vitalidade que vai embora a cada dia, a cada gesto e a cada sorriso singelo que nos dão. 

Posso chegar a ficar horas calada, olhando minha avó dormir ou tremer aquela mão calejada e penso que hoje é difícil cuidar dela, mas o que seria de mim se ela não estivesse aqui, se não tivesse presença em toda minha vida até então? Mesmo com suas condições delicadas, não sei nem se estou preparada para suportar o dia em que ela partir, pois sua presença embebeda meus dias. A cada banho em que dou, a cada comida que corto miudinha porque ela não consegue mais mastigar com aquela presteza de antes, a cada “chatice”, “encheção de saco” ou seja lá o nome que dão para os cuidados com os velhos, sinceramente me sinto um pouco mais competente e completa como ser humano.

Sei que existem famílias que simplesmente esquecem e isolam o idoso, ou colocam todo aquele cuidado em cima de um só familiar, ou pagam simplesmente uma casa de repouso ou enfermeiros (para aqueles que tem uma boa condição financeira) e com isso esquecem ou fazem de conta que esqueceram quem eles são.

Sei que tem gente que finge que não sabe que o dia a dia deles é delicado, e que nossa presença é importante. Mas sinceramente não acredito que algo pague a alegria deles quando você resolve fazer aquela visitinha despretensiosa. Ou quando você mostra um sorriso ao cuidar deles.

Eu sou só um pequeno exemplo do que sei que muitas famílias fazem pelos seus entes mais velhos, mas o que dizer daqueles que se aproveitam da aposentadoria, que se aproveitam do teto em que eles moram, daqueles que abandonam e não procuram nem saber como estão? Ou que torcem pela sua partida esperando as migalhas da “herança”? E o que dizer dos filhos que se consideram órfãos de pais vivos, só porque são velhos demais e dão trabalho? E isso não é só em casos especiais. 

Você aí que tem um avô ou uma avó vivos… Já ligou pra eles essa semana? Já os visitou esse mês? Eles querem pouco e muita gente, nem isso dá. Todo mundo se contenta apenas em respeitar um estatuto do idoso, em não bater ou maltratar (como se isso fosse um grande feito) e mais nada.

Mas um dia você aí do outro lado vai envelhecer, assim como eu aqui, e eu tenho fé que possamos viver para tanto. E se você se encaixa nessa lista de “abandonadores”, eu só espero que você tenha um destino melhor do que o “cuidado tão especial” que você tem com aquele que hoje despreza. 

Velhice meus caros, não é doença, e sim condição. Eu, você, nossos amigos… Todos vamos envelhecer, e talvez estejamos em condições ainda piores, e tudo aquilo que passamos a vida plantando é o que colhemos. 

Não faço e não quero que façam nada por esperar algo em troca, mas indico que façam por si. Respeitar os direitos que estão redigidos no estatuto do idoso não é absolutamente nada quando se tem respeito e amor pelo próximo. E é uma pena saber que muita gente precisa de meio mundo de artigos e disposições legais para poder entender isso.

Postado no blog Pipoca Pimenta e Poesia em 05/06/2013






Cinco maiores arrependimentos antes de morrer





Como Arrependimento tem a ver com Escolhas e Lembranças coloco aqui duas músicas maravilhosas...

My Way e Memory   






Ir sendo feliz




Todo meu coração é gratidão.

E não é porque tudo vai bem, e tenha cessado as intempéries da vida.

Mas porque tem uma hora que você percebe que mesmo diante de todas as dificuldades, se consegue no seu íntimo um reduto de paz.

Que mesmo sozinho, no fechar dos olhos, se sente o abraço de Deus e daqueles que você ama.

E se vier a alegria, eu jubilarei. Vou compartilhá-la.

E se vier a dor, eu aprenderei algo. Vou resignar-me.

Felicidade é bem mais que um estado de espírito.

Aliás, nada tem a ver com estado, pois não é estática.

É a capacidade de crescer com tudo na vida e isso é dinâmico.

É perceber-se crescendo. É ir sendo feliz. 

Davi Marcelo Galdino


Postado no blog Passarinhos no Telhado


A erosão do sentido da vida e as manifestações de rua



Leonardo Boff


Está lentamente ficando claro que as massivas manifestações de rua ocorridas nos últimos tempos no Brasil, e também pelo mundo afora, expressam mais que reivindicações pontuais, como uma melhor qualidade do transporte urbano, melhor saúde, educação, saneamento, trabalho, segurança e uma repulsa à corrupção e à democracia das alianças sustentada por negociatas. 

Fermenta algo mais profundo, diria quase inconsciente, mas não menos real: o sentimento de uma ruptura generalizada, de frustração, de decepção, de erosão do sentido da vida, de angústia e medo face a uma tragédia ecológico-social que se anuncia por toda a parte e que pode pôr em risco o futuro comum da humanidade. Podemos ser uma das últimas gerações a habitar este planeta.

Primeiro, é um mal-estar face ao mundo globalizado. O que vemos nos envergonha, porque significa a racionalização do irracional: o império norte-americano, decadente, para se manter precisa vigiar grande parte da humanidade, usar da violência direta contra quem se opõe, mentir descaradamente como na motivação da guerra contra o Iraque, desrespeitar acintosamente qualquer direito e norma internacional como o sequestro do presidente Evo Morales, da Bolívia, feita pelos europeus mas forçados pelos corpos de segurança norte-americanos.

Negam os valores humanitários e democráticos de sua história e que inspiravam outros países.

Segundo, a situação de nosso Brasil. Não obstante as políticas sociais do governo do PT que aliviaram a vida de milhões de pobres, há um oceano de sofrimento, produzido pela favelização das cidades, pelos baixos salários e pela ganância da máquina produtivista de cariz capitalista que, devido à crise sistêmica e à concorrência cada vez mais feroz, superexplora a força de trabalho.

Só para dar um exemplo: pesquisa feita na Universidade de Brasília apurou que entre 1996 e 2005 a cada 20 dias um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, ex-cesso de tarefas e pavor do desemprego.

Nem falemos da farsa que representa nossa democracia. Valho-me das palavras do cientista social Pedro Demo, professor da UNB, em sua ‘Introdução à sociologia’ (2002): ”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis bonitas mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que sirva a ela do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniguados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima… Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação” (págs. 330-333).

Agora, entendemos por que a rua pede uma reforma política profunda e outro tipo de democracia em que o povo quer codecidir os caminhos do país.

Terceiro, a degradação das instâncias do sagrado. A Igreja Católica ofereceu-nos os principais escândalos que desafiaram a fé dos cristãos: pedofilia de padres, de bispos e até de cardeais. Escândalos sexuais dentro da própria Cúria romana, o órgão de confiança do papa.

Manipulação de milhões de euros dentro do Banco do Vaticano (IOR), onde altos eclesiásticos se aliaram a mafiosos e a corruptos milionários italianos para lavar dinheiro. Igrejas neopentecostais atraem em seus pro-gramas televisivos milhares de fiéis, usando a lógica do mercado e transformando a religiosidade popular num negócio infame. Deus e a Bíblia são colocados a serviço da disputa mercadológica para ver quem atrai mais telespectadores. Setores da Igreja Católica não escapam desta lógica com a espetacularização de showmissas e dos padres-cantores com sua autoajuda fácil e canções melífluas.

Por fim, não escapa ao mal-estar generalizado a situação dramática do planeta Terra.

Todos estão se dando conta de que o projeto de crescimento material está destruindo as bases que sustentam a vida, devastando as florestas, dizimando a biodiversidade e provocando eventos cada vez mais extremos.

A reação da Mãe Terra se dá pelo aquecimento global, que não para de subir; se chegar nos próximos decênios a 46 graus Celsius pelo aquecimento abrupto, este pode dizimar a vida que conhecemos e impossibilitar a sobrevivência de nossa espécie, com o desaparecimento de nossa civilização.

Não dá mais para nos iludirmos, cobrindo a feridas da Terra com esparadrapo. Ou mudamos de curso, preservando as condições de vitalidade da Terra, ou o abismo já nos espera.

Como insiste a Carta da Terra: ”Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados”; é esta interligação real mas, em parte inconsciente, que leva milhares às ruas querendo outro mundo possível e agora necessário.

Ou aproveitamos a chance para as mudanças ou não haverá futuro para ninguém. O inconsciente coletivo pressente este drama e daí o clamor das ruas por mudanças. 

Sem atender às demandas, poderemos protelar a tragédia mas não a evitaremos. Agora é ouvir e agir.


Postado no site Carta Maior em 08/07/2013