Por Leticia Perez (*)
Há três semanas o Brasil vive um turbilhão de manifestações civis, organizadas por cidadãos que decidiram tomar para si a validade democrática de livre expressão. O fato que mobilizou esse número enorme de pessoas foi a eleição do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Como já amplamente publicado em toda a imprensa, o parlamentar declarou-se em seu perfil no Twitter adepto do racismo, da misoginia e da homofobia. Segundo ele, a Africa é amaldiçoada, as mulheres não deveriam ser livres e trabalhar porque isso “ameaça” a família.
Dentre tantas pérolas e idiotices deste senhor, a última da semana foi dizer que até a sua chegada na CDHM a mesma comissão era administrada pelo Satanás. Isso a despeito do decoro parlamentar e do suposto respeito pela sua vice, que está há três anos lá.
Mas o Feliciano não nos representa apenas por isso (como se fosse pouco!).
Ele não nos representa porque ele incita a discórdia, fomenta o preconceito, alimenta o machismo e dissemina um pensamento que é a antítese do mundo em que vivemos.
Ele também não nos representa, porque é parte de um pensamento que é perigoso e pode levar o Brasil à revisitar tempos recentes e obscuros que desejamos esquecer.
A democracia é feita de contrastes, de pensamentos divergentes e de ideias que se discutidas em alto nível, elevam o pensamento político e trazem benefícios ao país.
A sociedade civil está conectada e tem um poder de articulação gigante que tende a crescer. As pessoas se reúnem por ideias e juntas vão para as ruas exigir do Estado que as ouça e faça o seu trabalho como deve ser feito. Não é fácil entender isso.
O discurso de alguns é sempre pela desqualificação da legitimidade destes movimentos, mas isso não é mais uma ameaça.
O povo na rua em uníssono propalando palavras de ordem e exigindo do poder público as respostas sobre os seus temas é mais forte e, certamente, vai produzir efeito na administração pública.
Sejam 2, 5, 10 ou milhares o valor é o mesmo. E, se caso a polícia militar e seu contingente resolver “interferir” com repressão e tropas de choque, então teremos governantes coniventes com o que se está dizendo, incompetentes, inaptos para a democracia, inescrupulosos e covardes. É assim no caso Feliciano e sua polícia legislativa e é assim no caso Fortunati.
(*) Cidadã brasileira
Foto: Câmara dos Deputados
Postado no blog RS Urgente em 04/04/2013
Nota:
Fortunati é o atual prefeito de Porto Alegre que está enfrentando muitos protestos e passeatas do povo, a cada semana surge mais um motivo para estes protestos.
Cito alguns motivos: ceder espaços públicos para a Coca-Cola fazer sua publicidade; retirar, apressadamente, pessoas de suas casas para dar lugar às obras da Copa; cortar árvores para aumentar espaço para carros; ceder benesses para o Grupo de Empresas da RBS ( filial da Tv Globo ).
Os protestos, nesta semana, são por causa do aumento abusivo da passagem de ônibus que passou para R$ 3,05.