O jornal que incomoda fardas e batinas




Na manhã seguinte ao anúncio de um Papa argentino, o jornal ‘Página 12’ sacudiu Buenos Aires com a manchete: ‘!Dios, Mio!’


Na 6ª feira, dois dias depois, como relata o correspondente de Carta Maior, Eduardo Febbro, direto do Vaticano, o porta-voz da Santa Sé reclamou do que classificaria como ‘acusações caluniosas e difamatórias’ envolvendo o passado do Sumo Pontífice.

Em seguida atribui-as a ‘elementos da esquerda anticlerical’.

Alvo: o ‘Página 12’ .

Com ele, seu diretor, o jornalista Horácio Verbitsky, autor de um livro sobre o as suspeitas que ensombrecem a trajetória do cardeal Jorge Mário Bergoglio, durante a ditadura argentina.

A cúpula da Igreja acerta ao qualificar o ‘Página 12’ como ‘de esquerda’ – algo que ostenta e do qual se orgulha praticando um jornalismo analítico, crítico, ancorado em fatos.

Mas erra esfericamente ao espetá-lo como ‘anticlerical’. 

O destaque que o jornal dispensa ao tema dos direitos humanos não se restringe ao caso Bergoglio.

Fundado ao final da ditadura, em maio de 1987, o ‘Página 12’ é reconhecido como o grande ponto de encontro da luta pelo direito à memória na Argentina.

Não foi algo premeditado.

No crepúsculo da ditadura militar, um grupo de jornalistas de esquerda vislumbrou a oportunidade de criar um veículo enxuto, no máximo 12 páginas (daí o nome), mas dotado de densa capacidade analítica.

E, sobretudo, radicalmente comprometido com a redemocratização e com os seus desafios.

A receita das 12 páginas baseava-se num cálculo curioso.

Era o máximo que se conseguiria produzir com qualidade naquele momento; e o suficiente para a sociedade reaprender a refletir sobre ela mesma.

A fidelidade a essa diretriz (hoje o total de páginas cresceu e a edição digital tem mais de 500 mil acessos/dia) levou-o, naturalmente, a investigar os crimes da ditadura.

Seu jornalismo tornou-se um acelerador da transição que os interesses favorecidos pelo regime militar gostariam de maquiar.

Não apenas interesses econômicos. 

Lá, como cá, existe um núcleo de poderosas empresas de comunicação, alvo agora da ‘Ley de Medios’, no caso da Argentina, que, por interesse financeiro, identidade ideológica ou simples covardia integrou-se ao aparato repressivo. 

Usufruiu e desfruta vantagens dessa intimidade. Até hoje. O quase monopólio das comunicações é uma delas – combatida agora pelo governo de lá.

Naturalmente, a pauta dos direitos humanos dispunha de um espaço acanhado e ambíguo nessa engrenagem.

Não por falta de familiaridade com o assunto.

Mais de uma centena de jornalistas foram presos e muitos desapareceram na ditadura argentina. 

A principal fábrica de papel de imprensa do país foi praticamente expropriada de seus donos.

Eles estavam presos, foram torturados. E então a transferência de propriedade se deu. 

A sociedade compradora tinha como participantes o próprio governo militar e os principais jornais apoiadores do regime. Entre eles o ‘El Clarín’, de oposição frontal ao governo Cristina, atualmente.

O ‘Página 12’ não se deteve diante das conveniências. E vasculhou esses impérios sombrios.

Fez o equivalente em relação aos direitos humanos em outros países. Não raro, com a mesma mordacidade que incomoda agora o Vaticano.

Quando Pinochet morreu em 2006, a manchete indagava: ‘Que terá feito o inferno para merecer isso?’ 

A condenação do ditador Videla à prisão perpétua, em 2010, mereceu letras garrafais: ‘Deus existe!’

Foi com essa ironia, debochada, às vezes, mas sempre intransigente em defesa dos direitos humano, que o ‘Página 12’ tornou-se um espaço apropriado pelos familiares dos desaparecidos políticos.

Por solicitação de Estela Carlotto, atual dirigente das Abuelas de Plaza de Mayo, passou a publicar, desde 1988, pequenas atualizações da trajetória familiar de vítimas da ditadura.

Os anúncios sugerem uma espécie de prosseguimento da vida dos que foram precoce e violentamente apartados dela.

Filhos que perderam os pais ainda crianças, mencionam os netos que esses avós jamais viram; avós falam dos bisnetos.

O efeito é tocante. Ao se deparar com a foto de um jovem desaparecido, sabe-se que hoje ele poderia estar brincando com os netinhos, filhos dos filho que agora tem a idade com a qual ele morreu.

Em 2007, o ‘Página 12’ recebeu na Espanha o prêmio da Liberdade de Imprensa, instituído pela Casa da América, junto com a Chancelaria espanhola e o governo da Catalunha.

Motivo: a seriedade na defesa dos direitos humanos e o compromisso com o rigor da informação, requisito da liberdade de expressão.

No momento em que pairam sombras sobre o Vaticano, o que deve fazer essa cepa de jornalismo? 

O ‘Página 12’ faz o que, em geral, desagrada aos poderes terrenos e celestiais: investiga, pergunta, rememora.

Ao contrário do que sugere o porta-voz da Santa Sé, não se trata de um cacoete anticlerical. 

O assunto extravasa o campo religioso e envolve uma questão de interesse político de toda a sociedade.

Trata-se de uma responsabilidade ecumênica e universal, da qual o ‘Página 12’ não abre mão: o dever de todos, sobretudo das autoridades, de zelar e fazer respeitar os direitos humanos e democráticos dos cidadãos. 

Sob quaisquer circunstancias; mas principalmente quando são ameaçados. Como na ditadura dos anos 70/80. 

Há dúvidas se o passado do cardeal Mario Jorge Bergoglio nesse campo honra o manto santo que agora envolve Francisco, o desenvolto sucessor do atormentado Bento XVI.

As dúvidas estão marmorizadas em um lusco-fusco de pejo, silêncios e versões contrastantes. 

É preciso esclarecer.

Há nomes, testemunhos, relatos, datas e um cenário dantesco: os anos de chumbo vividos pela sociedade argentina, entre 1976 e 1983.

O país do então líder dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, vivia o inferno na terra, sob a ação genocida de uma ditadura cujos atos confirmam a indiferença aterrorizante dos aparatos clandestinos em relação à vida e à dor.

O que se ouve ainda arrepia.

A mesma sensação inspira o rosto endurecido e gasto dos líderes militares, julgados e condenados. Um a um; em grande parte, graças a pressão inquebrantável das denúncias e investigações ecoadas nas edições do 'Página 12'

Em sete anos, o aparato militar montou e azeitou uma máquina de torturar, matar e eclipsar corpos que operou de forma infatigável.

Nessa moenda 30 mil pessoas foram liquidadas ou desapareceram. 

Mais de 4 mil e duzentos corpos por ano. 

Filhos de militantes de esquerda foram sequestrados, entregues a famílias simpáticas ao regime. 

Muitos permanecem nesse limbo.

No dia em que a ‘fumata bianca’ do Vaticano anunciou o ‘habemus papam’ e em seguida emergiu a figura do cardeal argentino, no balcão do Vaticano, Graciela Yorio esmurrou as paredes de seu apartamento, a 11.200 quilômetros de distancia, em Buenos Aires. 

O relato está nos jornais argentinos e também na Folha de São Paulo.

A revolta deve-se a uma certeza guardada há 36 anos na memória dessa sexagenária.

Em maio de 1976, seu irmão, padre Orlando Yorio, foi delatado à ditadura sedenta e recém-instalada.

Juntamente com o sacerdote Francisco Jalics, este vivo, na Alemanha— Yorio ficou cinco meses nas mãos dos militares.

Incomunicáveis, na temível Escola Mecânica da Marinha, adaptada para ser a máquina de moer ossos do regime.

O delator dos dois religiosos teria sido o cardeal Bergoglio -- o Papa, então com cerca de 40 anos, líder conservador dos jesuítas argentinos.

Essa é a convicção de Graciela, baseada no que ouviu do irmão, falecido em 2000, militante da Teologia da Libertação, como Jalics. 

Jalics não se pronunciou. Alegando viagem, emitiu uma nota na Alemanha em que se diz em paz e reconciliado com Bergoglio.

A nota compassiva não nega a dor que leva Graciela ainda a esmurrar paredes.

A estupefação tampouco é apenas dela.

Ainda que setores progressistas argentinos optem por uma certa moderação em público, muitas vozes não se calam.

Estela Carlotto, a dirigente das Abuelas de Mayo, em entrevista ao ‘Página 12’ deste sábado, procura manter a objetividade num relato que adiciona mais nuvens às sombras.

Carlotto afirma que o Cardeal Bergoglio nunca fez um gesto de solidariedade para ajudar a luta mundialmente reconhecida das mães e avós de desaparecidos políticos argentinos. 

Poderia, mas não facilitou a reunião do grupo com o Papa. Ao contrário.

O primeiro encontro, em 1980, no Brasil, só aconteceu por interferência de religiosos brasileiros. 

As abuelas só seriam recebidas em Roma três anos mais tarde; de novo, graças a contatos alheios ao cardeal Bergoglio.

Prossegue Estela Carlotto.

O cardeal teria sido conivente com o sequestro de pelo menos uma criança nascida na prisão. 

Procurado por familiares da desaparecida política, Elena de la Quadra, teria aconselhado: ‘Não busquem mais por essa criança que está em boas mãos’. 

E desfechou sentença equivalente em relação às demais.

O ‘Jornal Página 12’ tem sido o principal eco desses relatos e dessa revolta, que muitos relativizam e gostariam de esquecer. 

O que o jornal faz ao investigar as dúvidas que pairam sobre Francisco é coerente com o 'manual de redação' sedimentado na prática da democracia argentina nesses 25 anos de existência: não sacrificar a memória ao conforto das conveniências.

Pode soar anticlerical a setores da Igreja que gostariam de esquecer o que já se cometeu neste mundo, em nome de Deus.

Mas é um reducionismo improcedente, que se dissolve na trajetória reconhecidamente qualificada do 'Página 12'.

Na Argentina, graças à persistência de vozes como a de seus jornalistas, a memória deixou de ser o espaço da formalidade.

Hoje ela é vista como um pedaço do futuro. Um mirante poderoso para se entender o presente e superar as forças, e a lógica, que esmagaram a sociedade no passado.

Carta Maior orgulha-se de ser parceira do jornalismo criterioso e corajoso de ‘Página 12’ no Brasil.



Postado no site Carta Maior em 16/03/2013


Revista de noivas despreza negras




Vevila vai casar agora no meio do ano. Parabéns, Vevila!Só tem um probleminha: ela é negra e não alisa o cabelo. Pelo jeito, não há penteados possíveis para quem está fora do padrão de beleza. Ela me enviou este caso inacreditável sobre sua busca por um penteado pro dia de seu casamento. Sério mesmo, é ler para crer.


Como já vi outras vezes no seu blog, hoje quero falar sobre racismo e trazer um fato que aconteceu comigo recentemente, mas que já nasceu com cheiro de velho.
Eu vou me casar no meio do ano e estou preocupada com minha produção de noiva no esperado dia. Em fevereiro, fui até a banca de jornais e comprei uma revista de "Penteados para Noivas", da Editora Alto Astral. Tudo certo até aí, exceto pelo fato de eu ter me esquecido, momentaneamente, de uma coisa fundamental: eu sou negra e tenho o cabelo crespo.

Demorei muito tempo pra assumir meus cabelos, mas essa luta me rendeu frutos incríveis. Hoje eles são saudáveis, não estão mais sofrendo os efeitos das químicas super agressivas, e eu me sinto muito mais confiante, bonita, tranquila com a minha aparência. Em momento algum me considerei melhor ou mais esclarecida que outras mulheres que preferem os cabelos alisados ou relaxados; no entanto, entendo que cheguei ao esclarecimento de que isso precisa ser uma escolha consciente e não uma imposição. 


Com este pensamento, achei um absurdo o posicionamento de alguns cabeleireiros que afirmaram ser necessário "fazer uma boa escova e depois aplicar produtos fixadores para só então fazer lindos cachos com babyliss" para que eu ficasse bonita no dia do meu casamento. Que afronta, meus cabelos já têm cachos! Qual o sentido disso? Eu amo meu cabelo como ele é! E então, fui atrás de alternativas e acabei comprando essa revista. Só que eu não contava com uma coisa: eu havia esquecido, por um instante, que essas publicações não são pra mim. É muito raro ver negras nas revistas femininas, e raríssimo ver cabelos crespos em publicações e editoriais de moda. Eu não sou representada por eles.


Abri a revista, e em 67 páginas eu não encontrei sequer um penteado feito em cabelos crespos. Ao longo dessas 67 páginas, encontrei quatro fotos de modelos negras, todas em tamanhos minúsculos (pouco maiores que uma foto 3 x 4), onde não havia nada de novo e, mesmo que houvesse, era impossível observar os detalhes. 

Fiquei pensando: será que eu sou a única mulher negra que vai se casar no Brasil esse ano? Poxa, então meu casamento deveria sair no jornal (e olha que eu nem estou considerando esdrúxulo o fato de estar casando com um homem branco -- talvez devesse)!

E não parou por aí. Havia incontáveis modelos loiras e ruivas, em fotos imensas, detalhadas. Muitos cabelos esvoaçantes, lisos ou alisados. Nas páginas dedicadas às crianças, não havia sequer uma negra. Crianças brancas são mais bonitas, talvez? Não, não são. Mas era nisso que essa revista queria me fazer acreditar.

Fiquei, por alguns instantes, pensando que estava neurótica. "Será que não estou exagerando?"; "Será que não é assim mesmo?"; "Será que eu preciso alisar meu cabelo?" Não, eu não estou neurótica. Eu estou ofendida e, sinceramente, tenho razão. Com este sentimento de revolta, raiva, tristeza, mandei uma reclamação (contando exatamente o que vi na revista e descrevi aqui) para o e-mail e o perfil da editora no Facebook. Uma semana depois, chegou na minha caixa esta resposta: 


"Encaminhamos a sua reclamação para a equipe que produziu a revista, segue os esclarecimentos da sua reclamação.'Como a leitora não especificou a edição da revista, presumimos que seja a 06, que lançou em janeiro. Analisamos nosso conteúdo e não encontramos nada de errado. Pelo o que entendemos, o questionamento da leitora referiu-se à cor de pele das modelos e não aos penteados em si, que é o tema da revista. A nossa equipe, desde o momento de elaborar a revista até a escolha as fotos, certifica-se de que todos os tipos e estilos de cabelo estejam na edição, desde os lisos aos crespos, independente da cor da pele das modelos. Na revista, como você poderá ver, tem opções para fios lisos, ondulados, cacheados, crespos, curtos, médios e longos. Ou seja, nenhuma noiva corre o risco de ficar sem opção. Em relação às loiras e às ruivas, esses tons acabam aparecendo mais na revista para deixar o resultado final do penteado mais evidente para a leitora, uma vez que o cabelo escuro, depois que tira a foto, acaba perdendo um pouco os detalhes do penteado, ficando difícil a visualização. Além disso, os bancos de imagens que trabalhamos não oferecem muitas opções de modelos negras, principalmente com penteados de noivas. As que eles oferecem, não são bonitas.'
Atenciosamente, ..."

Foi exatamente esta a resposta da empresa. Sem mais nem menos, do jeito que chegou à minha caixa. NÃO SÃO BONITAS. NÃO ENCONTRAMOS NADA DE ERRADO. Eu fiquei tão chocada e tão enojada que perdi a fome. Sinceramente, uma resposta padrão mentirosa, daquelas em que a empresa promete que levará a reclamação em consideração para as próximas edições, seria mais fácil de engolir. Mas esta não foi. Sabe por quê? 

É que esta mensagem é uma das declarações mais evidentes do racismo no Brasil. Eu até consigo visualizar... ela foi escrita por uma pessoa que nem sequer entendeu minha reclamação, que deve ter até pensado que eu estava exagerando e não conseguiu ver a menor relação entre a cor da pele das modelos ("o que não é o foco da revista") e o problema da representação de uma parcela significativa da sociedade brasileira. 

Essa pessoa não vê nenhuma estranheza em colocar somente modelos loiras e ruivas numa revista sobre cabelos e, pra completar, não coloca negras e outras mulheres de cabelo crespo por achar que "não há mercado para elas" e que elas "não são bonitas" -- já que o negro corresponde ao pobre no nosso país. Como se pode esperar que eles vejam algo de errado numa publicação que foi criada e desenvolvida sobre esta crença tão arraigada? E o que mais dói e choca é a incapacidade de se perceber onde está o erro.

É preciso ter clareza de que isso não é só burrice, não é só superficialidade, não é só preconceito bobo e nem é só um sinal de que a moda está ultrapassada. Antes de ser fútil ou superficial, a moda é um instrumento eficaz de produção e reprodução de relações sociais, porque ela lida com um elemento muito forte do pensamento e das relações humanas: a  estética, o belo. Quando um editorial de moda diz que a mulher negra não é bonita, que um cabelo crespo não é "fácil" ou esteticamente aceitável, este editorial está reproduzindo para o mundo um discurso que vai se fortalecendo e cimentando e se tornando combustível para que o racismo permaneça naturalizado na nossa sociedade.


Não tive estômago para responder, e nem acho que ganharei alguma coisa me mantendo nessa discussão com a empresa. Espero qualquer coisa de uma empresa que teve coragem de me dar uma resposta tão truculenta. O que pretendo com esta denúncia é trazer à tona o tema e causar desconforto, para que a gente seja capaz de perceber, conscientemente, como estas ideias são cimentadas no nosso meio, dia após dia. E o quanto não falar sobre elas é capaz de tornar isso uma coisa natural, e este é um perigo imenso.

Continuo procurando penteados para noivas negras, porque sou bonita e quero estar deslumbrante no dia do meu casamento. Não vejo nada de errado nisso. Sou uma noiva como as outras, e tenho os mesmos desejos que as outras -- negras, brancas, mestiças -- que estão neste caminho. Mas agora sei que não vai ser fácil entender e explicar aos outros os motivos pelos quais minha busca terá que acontecer em outros meios e em outros termos. Esse motivo é o grande tabu, aquele que não se pode nomear, aquilo cuja existência que negamos diariamente, o tema que mais nos causa desconforto: o RACISMO.

E ter que me encontrar fora do mainstream porque não sou aceita, sinceramente, é uma tristeza muito grande.




Enquanto isso, a revista francesa Numéro decidiu fazer uma homenagem à África... e, para tanto, escureceu uma modelo branca e loira. Definitivamente, a mídia tem que parar de ser racista e abrir espaço para todos os tipos de beleza. Que são muitos.

Postado no blog Escreva Lola Escreva em 07/03/2013


Algumas sugestões:




Penteados para noivas negras






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Em homenagem a um querido amigo e meu protesto contra os Felicianos e Bolsonaros


EX-GAY É CURADO AO TER UMA REVELAÇÃO E TORNA-SE HOMEM DE VERDADE. É O MILAGRE DO PASTOR FELICIANO COM PEDRO CARDOSO





Postado no blog Educação Política em 15/03/2013

O novo Francisco e os passarinhos pelos olhos de Aroeira







Postado no blog Maria Fro em 15/03/2013

Encanto




Pelos que nunca foram, e sonharam ser,
abro espaço no livro do querer,
bendito os que tentam e não desistem.

Ainda que não alcancem, 
ainda que não seja o momento,
terão contentamento.

Pelas árvores que hoje se agigantam,
meus olhos se encantam,
quero abraça-las como criança,
pois sua sombra, pra mim é lembrança,
de dias de pique-esconde, brincadeiras sem fim,
desse eterno menino, que se revela em mim.

Pela natureza que me encanta, eu canto,
deixo de lado o que a maltrata, me encanto:
com o mar que se agiganta, e se acalma,
com as flores que se abrem, e perfumam,
com a terra que molhada, se torna fecunda,
e no ar da tarde, deixa seu perfume,
"cheiro de esperança molhada",
certeza do florescer das sementes,
é a vida em movimento,
é o renascer.

Por isso, quando perguntam, onde está Deus,
mostro a noite atapetada de estrelas,
a lua formosa em seu eixo,
as pedras coloridas, os seixos,
a simplicidade do complexo mundo, vasto mundo...

Os passarinhos cantando nas árvores,
os rios seguindo seu curso, sem lamentação,
a vida segue seu curso...

E quando perguntam onde encontra-lo,
mando colocar a mão no peito, ouvir seu coração,
é Deus em constante oração,
é o Deus que habita em mim, que tudo vê,
saudando o Deus que habita em você.

Deus está sempre presente,
e quando achar que Ele está ausente,
não foi Ele quem se afastou,
é a sua relutância, o seu descrédito,
Deus está apenas aguardando seu chamado,
com quem quer regar uma flor,
pois Deus é mais do que Tudo,
Deus é amor.

Paulo Roberto Gaefke

Postado no blog Só Palavras


A Igreja Católica Apostólica Romana mudou o "santo padre" para que tudo fique como sempre foi !


O papa Francisco e seus pecados de Jorge Bergoglio


Enquanto muitos católicos “comemoram” a nomeação de um Papa latino americano, surgem informações sobre o papel de Jorge Bergoglio durante a ditadura argentina. Artigos de fontes variadas: um jornalista da mídia tradicional e um ex-preso político.
Será verdade o que se conta sobre o “Santo Padre”?


Novo Papa é da estirpe de Pio XII

Por Celso Lungaretti

Radicado há décadas no Brasil, Carlos Lungarzo, incansável defensor dos direitos humanos, é argentino de nascimento e conhecedor profundo da trajetória do jesuíta Jorge Bergoglio, agora Francisco, outro papa conservador de uma Igreja que, qual avestruz, enterra cada vez mais a cabeça na areia para alhear-se dos desafios da atualidade.

Os segredos do santo padre é um artigo obrigatório. Nele, Lungarzo traça o perfil de um religioso que, por identificação ideológica com a ditadura argentina, oportunismo ou pusilaminidade, recusou ajuda a um membro da sua Ordem, permitindo que ele caísse nas garras dos esquadrões da morte militares; e não moveu uma palha para encontrar uma criança recém-nascida sequestrada pela repressão, indiferente às súplicas da família.

O que ele tem em comum com Pedro é já haver negado Cristo… e muito mais do que três vezes!

O paralelo mais apropriado, contudo, é com o papa Pio XII, aquele que ficou em cima do muro enquanto grassava a barbárie nazista.

Destaco os trechos principais:

“A Argentina voltou à normalidade democrática em 1983 quando o então padre Bergoglio estava com 47 anos. Nessa época, o atual papa era reitor do (…) maior seminário de formação de sacerdotes da Argentina (…), após ter sido, entre 1973 e 1979, o principal chefe (…) da poderosa e influente ordem dos jesuítas…

Em 1983, Jorge Bergoglio, uma figura austera, silenciosa, alheia a chamar a atenção, não tinha nenhuma influ’ncia política evidente, mas acumulava muita influência invisível. Ele utilizou essa influência para tentar mostrar um rosto ‘moderno’ da Igreja, modificando a imagem desta como cúmplice qualificada e ativa dos genocídios e torturas generalizadas, que foram comuns na Argentina…

Como é bem conhecido, a Igreja Católica apoiou intensa e devotadamente os crimes da ditadura, não apenas encobrindo ou justificando-os, mas também dando apoio psicológico e propagandístico, colocando a seu serviço seu aparato internacional (incluída a máfia italiana e o grupo P2), abençoando as máquinas de choque e os instrumentos usados para mutilação, e até, em vários casos, aplicando tortura com suas próprias mãos.

Há pelo menos 40 livros em espanhol e pelo menos 15 em inglês, dedicados de maneira total ou parcial à cumplicidade da Igreja Católica com os crimes de Estado na Argentina nos anos 1976-1983, e milhares de páginas de Internet.

Como em muitos outros países, uma minoria de padres apoiou a causa dos direitos humanos e teve certa militância no que foi chamado ‘Teologia da Libertação’.

Dois deles foram os jesuítas Orlando Dorio e Francisco Jalic que propagavam uma visão social do cristianismo em favelas e bairros populares. Estes padres foram capturados pelos esquadrões da morte dos militares e submetidos a tortura, mas conseguiram sobreviver. Enquanto Jalic se fechou num mosteiro alemão e nunca mais falou de seu passado (e possivelmente, nunca voltou a Argentina), Dorio acusou explicitamente a Bergoglio, que era a máxima autoridade de jesuítas, de ter negado proteção e haver permitido que ele fosse capturado.

Bergoglio usou por duas vezes os privilégios de não acatar as decisões da justiça, privilégio que a Argentina concede aos bispos, que têm um fórum privilegiado equivalente ao dos deputados, senadores e presidentes. Em função disso, recusou dar depoimento aos tribunais que julgaram os crimes contra a humanidade na época da ditadura.

Bergoglio aceitou, porém, comparecer a uma terceira intimação, quando a pressão dos milhares de vítimas se tornou muito intensa.

Segundo a advogada Myriam Bregman que trabalha em direitos humanos, as afirmações de Bergoglio, quando aceitou ir aos tribunais, mostram que ele e outros padres eram coniventes com os atos praticados pela ditadura. Ele, porém, não foi indiciado, também com base na ‘falta’ de provas.

Em 1977, a família De la Cuadra (…) teve sequestrados cinco de seus membros, dos quais apenas um reapareceu muito depois.

O padre Bergoglio se recusou a indagar onde eles estavam e até a ajudar a procurar uma criança recém nascida, filha de uma das mulheres desaparecidas.

Em algumas ocasiões, o Santo Padre não pôde refutar que a ditadura argentina tinha cometido numerosas atrocidades, mas argumentou que isso foi uma resposta provocada pela esquerda, que, segundo ele, também teria usado o terror. Este infame argumento, como todos sabem, foi fortemente repudiado em todos os países que tiveram ditaduras recentemente.

Durante o governo de Néstor Kirchner e, após, o de sua esposa, Cristina Fernández, o atual papa, mantendo seu estilo ‘sutil’ aproveitou para criticar muitas vezes o governo (…), acusando-o de ditatorial, de gerar o caos, de defender pessoas de vida sexual ‘abominável’, etc.

Com seu estilo aparentemente moderado, Bergoglio teve certo sucesso onde outros padres, que pregaram abertamente a tortura e o genocídio dos ateus e marxistas, fracassaram. Com efeito, apesar de ser unanimemente repudiado pelos defensores de direitos humanos, inclusive os católicos, ele nunca foi processado, como aconteceu com o padre Wernich, e até conseguiu forjar uma máscara de tolerância”.


O papa e o pecado da omissão

Por Clóvis Rossi, na Folha.com

Jorge Mario Bergoglio leva ao Vaticano um pecado imperdoável: foi no mínimo omisso durante o genocídio que a ditadura militar argentina praticou entre 1976 e 1983.

Nem é possível alegar que não era, então, uma figura destacada na hierarquia eclesiástica: foi provincial dos jesuítas entre 1973 e 1979. A parte mais selvagem da repressão se deu precisamente entre o golpe de 1976 e 1978, quando, a rigor, a esquerda armada já havia sido esmagada, junto com milhares de civis desarmados.

Há na Argentina quem acuse Bergoglio de ter sido pior do que omisso: o jornalista Horácio Verbitsky, autor de um punhado de livros sobre a ditadura, acusa o agora papa de ter sido cúmplice da repressão ao denunciar aos militares, como subversivos, sacerdotes que desempenhavam forte ação social.

Verbitsky diz possuir documentos obtidos na Chancelaria argentina que demonstram a veracidade de sua acusação.

Antes do conclave anterior (2005), um advogado da área de direitos humanos chegou a propor uma ação contra Bergoglio, acusando-o de ter sido cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas em 1976.

Bergoglio sempre negou as acusações. Disse que, ao contrário, tentou proteger os jesuítas perseguidos.

O que não dá para negar é que Bergoglio passou em silêncio por um período negro da história argentina, em que o comportamento de sua igreja foi obsceno.

Não é, portanto, um cartão de visitas auspicioso para um papa condenado a enfrentar uma evidente crise de credibilidade, se não da igreja, pelo menos de sua cúpula.

A igreja argentina também perdeu credibilidade por sua pusilanimidade, para dizer o mínimo, durante a ditadura militar. Como correspondente da Folha em Buenos Aires de 1980 a 1983, fui testemunha ocular das intoleráveis omissões da hierarquia ante a violência do Estado.

Conto apenas um episódio menor para mostrar a covardia.

Um dado dia, as Madres de Plaza de Mayo pediram uma audiência aos bispos. Um grupo delas, todas senhoras de idade, rostos vincados pelo tempo e pela dor, foi até a sede da Conferência Episcopal Argentina para entregar uma petição, obviamente relacionada à violação dos direitos humanos.

Chovia, fazia frio, o vento era cortante. Pois os responsáveis pela igreja argentina não tiveram nem sequer a piedade de permitir que as senhoras esperassem no interior do imóvel. Ficaram mesmo ao relento, como a sociedade argentina ficou desprotegida pelos seus pastores durante toda a ditadura.

É dessa igreja que vem Bergoglio. Uma igreja que jamais pediu perdão por esse insuportável comportamento.

É possível que, tendo a Argentina da democracia passado a limpo o período do terror, a questão dos direitos humanos no passado seja deixada de lado ou vá para um pé de página no perfil do novo papa.

Entendo. Os homens passam a ser santos, ou quando morrem ou quando assumem o papado.

A ver se o papa Francisco corrigirá no Vaticano o pecado de omissão de Bergoglio.


Postado no blog O Escrevinhador em 14/03/2013