Segundo a Bíblia e as profecias do santo católico São Malaquias o próximo Papa será o último desta igreja que conhecemos ! Será ?









Porto Alegre para o mundo ver !




Um dos poucos vídeos em Inglês que de uma maneira extraordinária consegue captar a eclética personalidade de Porto Alegre. Sim, é para o mundo nos conhecer.





Bento 16 e a exaustão conservadora


 


As ilustrações provam que alguma coisa está muito errada ! 


Saul Leblon

Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.

A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.

Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o 'habemus papam' refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica. 

Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta segunda-feira.

A verdade é que a direita formada pelos grupos 'Opus Dei' (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), 'Legionários' e 'Comunhão e Libertação' (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.

Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha. 

Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições.

Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano. 

Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.

Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.

Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação.

O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas.

Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa. 

Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger 'entregou o serviço' cobrado pelo conservadorismo. 

Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros. 

Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.

Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo. 

As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda 'profana'. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.

Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

Durou pouco.

Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).

Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer.

Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora. 

O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas  a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.


Postado no site Carta Maior em 11/02/2013
Ilustrações inseridas por mim

O homem que plantava árvores






Marco Aurélio Weissheimer

“As pessoas não utilizam estas árvores no Gasômetro”. A frase saiu da boca do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), no dia 6 de fevereiro, ao defender o corte de árvores em uma praça situada ao lado da Usina do Gasômetro, um ponto tradicional da capital gaúcha.

O corte promovido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente provocou um protesto quase imediato. Na tarde do próprio dia 6, algumas das árvores ainda não cortadas foram “ocupadas” por jovens que subiram em seus galhos para evitar a destruição. Conseguiram temporariamente. Diante dos protestos e da repercussão provocada pela frase de Fortunati sobre a “utilização das árvores”, a Prefeitura foi obrigada a recuar e suspender a operação. O próprio prefeito admitiu no dia seguinte que houve um “problema de comunicação”.

Trata-se, aparentemente, de um problema de comunicação antigo, a julgar pela facilidade com que árvores são derrubadas pelos mais variados motivos. 

No caso em questão, a justificativa é a duplicação de uma avenida de Porto Alegre, que integra o pacote das chamadas “obras da Copa”. 

A desastrada tentativa de recorrer ao argumento do “uso” das árvores serve ao menos para atualizar uma questão tão óbvia quanto desprezada por uma parcela significativa dos administradores das nossas cidades: para que é mesmo que “serve” uma árvore?

A pergunta em si mesma já é atravessada, podendo se questionar em que medida as árvores precisam “servir” para alguma coisa ou para alguém como condição de sobrevivência. Apesar desse questionamento, as árvores servem mesmo para muitas coisas, provavelmente bem distintas daquelas que o prefeito de Porto Alegre estava pensando ao proferir a curiosa frase.



A história de Elzéard Bouffier

Há várias possibilidades de respostas à pergunta: para que serve uma árvore? 

Uma delas pode ser encontrada no desenho animado “L’homme qui plantait des arbres” (O homem que plantava árvores, de 1987), vencedor do Oscar de Melhor Animação de 1988. 

Baseado em um conto do romancista francês Jean Giono, de 1953 (há tradução em português disponível), e dirigido por Fréderic Back, o desenho conta a história de Elzéard Bouffier, um pastor de ovelhas silencioso e persistente, que dedicou sua vida ao plantio de milhões de árvores, durante mais de 30 anos, em uma grande área dos Alpes franceses, na região de Provença (não por acaso terra natal do autor). 

O trabalho silencioso de Bouffier não só deu origem a matas e florestas onde havia um deserto, como modificou toda a paisagem humana da região, trazendo paz e alegria onde antes havia dor, rancor e sofrimento.

                   

A história de Elzéard Bouffier é narrada por um jovem viajante (na voz de Philippe Noiret) e atravessa as duas grandes guerras que devastaram a Europa sem conseguir perturbar, porém, o trabalho diário do pastor. 

Escrito na década de 50, o conto guarda extraordinária atualidade neste momento onde a crise ambiental assumiu proporções planetárias. E um de seus elementos mais atuais consiste justamente em mostrar os efeitos multiplicadores em uma comunidade humana de um gesto tão simples como plantar uma árvore. 

Não há nenhuma retórica, nenhum discurso ambientalista explícito no filme que, aliás, é repleto de silêncio. Bouffier trabalha e vive em silêncio. Sabe o que tem que fazer e faz, sem aguardar recompensa, sem nenhuma publicidade. O seu público é unicamente o testemunho do viajante narrador que, mesmo assim, troca apenas umas poucas palavras com ele durante suas visitas.

10 mil carvalhos: uma gota no oceano

O viajante compartilha conosco as poucas informações que obteve sobre a vida do pastor: Tinha 55 anos e se chamava Elzéard Bouffier. 

Outrora, possuía uma fazenda na planície onde vivia com a esposa e um filho. Mas uma tragédia se abate sobre sua vida. Perdeu o filho único e, depois, a esposa. Ele se retira então para as montanhas e para uma vida silenciosa na companhia de seu cão e de um rebanho de ovelhas.

Em um determinado momento, Bouffier constata que a região estava morrendo por falta de árvores. E a morte aparecia não apenas na paisagem desértica e desolada da natureza, mas também no ambiente de brutalidade que passou a marcar as comunidades humanas da área.

Ele começou seu novo trabalho selecionando e plantando sementes de carvalho. Quando o viajante o encontrou pela primeira vez, já havia plantado dez mil carvalhos. Em uma de suas poucas falas, o pastor diz ao viajante que se Deus lhe permitisse viver, dentro de trinta anos “já teria plantado tantas outras que estas dez mil não seria mais do que uma gota de água no oceano”. Além disso, naquele momento, já planejava o início do plantio de faias, bétulas e outras espécies, o que acabou efetivamente fazendo nos anos seguintes.

Dez anos depois do primeiro encontro e após ter sobrevivido à Primeira Guerra Mundial, o narrador volta à região na esperança de reencontrar Bouffier. E fica espantado com o que vê:

“O espetáculo era impressionante. Eu estava literalmente privado de palavras e como ele não falava, passamos todo o dia em silêncio a passear na floresta. Ela tinha, em três seções, onze quilômetros de comprimento e três quilômetros na maior largura. Se tudo tinha saído das mãos deste homem – sem meios técnicos – compreende-se que os homens possam ser tão eficazes quanto Deus em domínios que não a destruição”.

“A criação parecia operar em cadeia”

O viajante constata que o surgimento dessa floresta havia repercutido em outras áreas também. 

“A criação parecia operar em cadeia”, observa. “Vi correr água nos regatos que estavam secos desde que havia memória (…) O vento também dispersava algumas sementes. Ao mesmo tempo em que a água reaparecia, reapareciam os salgueiros, os choupos, os prados, os jardins e as flores e uma certa razão de viver”. E o mais incrível, acrescenta, é que toda essa transformação ocorria “tão lentamente que entrava no hábito, sem provocar espanto”.

A última vez que o viajante viu Bouffier foi em 1945, quando este contava já com 87 anos. Ele relata um novo espanto que teve com a transformação radical da paisagem humana e natural da região:

“Precisei de um nome de uma aldeia para concluir que estava mesmo nesta região outrora tão arruinada e desolada. Em 1913, essa área tinha dez ou doze habitações. Eram selvagens, detestavam-se, viviam da caça com armadilhas. As urtigas cresciam em volta das casas abandonadas. A sua condição era desespero. 

Tudo estava mudado. O próprio ar. Em lugar do vento seco e brutal que me tinha acolhido nesse tempo, soprava uma brisa suave carregada de aromas (…)”.

“Um ruído semelhante ao da água descia das alturas: era o do vento na floresta. Enfim, a coisa mais espantosa, foi ouvir o verdadeiro barulho da água correndo para uma bacia. Tinham feito uma fonte, e ela era abundante e, aquilo que mais me tocou, tinham plantado ao pé dela uma tília que devia ter quatro anos, já crescida, símbolo incontestável de uma ressurreição.

A esperança tinha renascido. Tinham-se limpo as ruínas, deitado abaixo os muros quebrados e reconstruído cinco casas. As casas novas, rebocadas de fresco, eram rodeadas de hortas e jardins, misturados mas alinhados, os legumes e as flores, as couves e as roseiras, as pereiras e as bocas-de-lobo, a salsa e as anêmonas. Era um lugar onde apetecia morar”.

Bem, não é preciso nenhum discurso normativo sobre como as coisas devem ser em relação às arvores.

A história de Elzéard Bouffier é autoexplicativa e mostra que, no caso de Porto Alegre, quem parece que não está “utilizando” as árvores, na verdade, é o prefeito da cidade. 

Para isso, é preciso saber para que, de fato, elas servem. O nosso viajante narrador resume assim a “cura” que presenciou:

Não foram precisos mais de oito anos para que toda a região resplandecesse de saúde. Sobre as ruínas que eu tinha visto em 1913, elevam-se agora limpas fazendas, que denotam uma vida feliz e confortável. As velhas nascentes, alimentadas pela chuva e pela neve que a floresta retinha, puseram-se de novo a correr.

É para isso que servem as árvores. Elas servem à vida.


Postado no blog RS Urgente em 09/02/2013
Trecho do texto grifado por mim


Nota


Para ilustrar e salientar o ridículo e absurdo comentário do Sr. Prefeito coloco algumas ilustrações do Facebook.



  



Protestos dos moradores de Porto Alegre





É com muito orgulho que lembro que meu querido pai, que infelizmente partiu antes do combinado, plantou muitas árvores em todos os lugares por onde passou. 

Posso citar que plantou árvores em Porto Alegre, em Gravataí (RS), em Mostardas (RS), em Barra do Garças (Mato Grosso) e em muitos outros lugares que não estou lembrando.

Seu nome é Moacir Muniz Feijó, homem simples, sem muito estudo e com grande sabedoria, que proporcionou-me a rara felicidade de comer frutas tiradas direto do pé, como se diz aqui no Rio Grande do Sul, e sem agrotóxicos.




Criatividade e humor do povo brasileiro



Por que só atuar politicamente em benefício da sociedade depois de uma grande e lancinante dor ?




Glauco Cortez 

A história tem nos ensinado, pelo menos a história dos últimos séculos, que é na tragédia que o homem evolui. Essa é uma dialética cruel para nós humanos, mas parece ser esse o desafio da emancipação da razão. Depois da tragédia, a sociedade reage.

Parece muito fácil e raso culpar os músicos, os donos da boate e os bombeiros pela tragédia na boate Kiss em Santa Maria (RS), assim como fazem os programas policiais sensacionalistas da televisão brasileira ou a revista semanal Veja, que se limita a análises de dois neurônios, o do bem e o do mal, sempre que acontece algum grande drama social.

A culpabilidade serve para ver o passado, não o presente. É preciso pensar os sentidos humanos do problema para que se possa entendê-lo antecipadamente e talvez evitá-lo.

Existem inúmeras outras mortes traumáticas que acontecem constantemente por esse Brasil e que, após a tragédia, as pessoas agem da mesma forma que a sociedade age agora, com fiscalizações por todo o Brasil, tentando dar um resposta política.

Depois da tragédia, há a atuação politica na mobilização dos empresários de casa noturna, na imprensa, nos poderes públicos etc. 

Todos buscam na política e na solidariedade uma solução. Possivelmente emerge o sentimento de não querer passar por isso e nem que outras pessoas passem pelo que os parentes das vítimas passam. Mas por que buscamos essa solidariedade e essa política somente depois da tragédia se somos suficientemente racionais para buscá-la preventivamente?

A tragédia, como a da boate Kiss, é exposta mundialmente porque é coletiva, mas fica esquecida quando são vítimas individuais, uma tragédia familiar. Vale a pena recordar casos e histórias individuais. 

A primeira que me vem à cabeça é o Instituto Ives Ota, criado pelo pai do garoto de 8 anos do mesmo nome, após seu assassinato. Também há o caso dos pais de uma garota que criaram uma ong sobre segurança de esportes radicais após filmar a morte da filha em um bang jump, também assisti a um vídeo sobre uma mãe que criou uma ong para segurança de turismo de aventura, após perder a filha em uma queda de cavalo em um resort e tantos outros.

Todos parecem fatalidades e é certo que essas coisas podem acontecer, mas é nesse momento de tragédia pessoal que atuação política surge e deixa a esfera do privado (prover e pensar somente na sua família) e passa a consciência dialética de que o bem estar da sua família precisa do bem estar também da sociedade.

Nesse momento, país e mães com a dor da perda criam ongs, entidades e associações para que outras pessoas não sintam ou não passem pelo que passaram. Diante dessa dor impensável parece eclodir o gene social adormecido pelo capitalismo.

Por que não criar essas entidades antes da morte dos filhos? Por que só atuar politicamente e em benefício da sociedade depois de uma grande e lancinante dor? Por que não somos capazes de usar a razão e percebermos que é necessário que todos atuem de alguma forma socialmente, coletivamente e politicamente?

Parece triste reconhecer que no capitalismo a tragédia tornou-se a origem da ação política, seja na esfera pública ou privada. 


Publicado no blog Educação Política em 04/02/2013
Trecho do texto grifado por mim