O porteiro, os miseráveis e meu plano de saúde


Dia do Porteiro Novembro



Marco Antonio Araújo

Não está fácil para ninguém. Até Danuza Leão percebeu isso, no infeliz artigo em que declarou que ir a Nova York já teve seu encanto, “mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?”. Fico sem palavras glamourosas diante dessa constatação.

Uma figura bem menos elegante, que responde pelo nome de Luiz Carlos Prates e se diz jornalista, já havia percebido as desgraças da ascensão social ao dizer que hoje, no Brasil, “qualquer miserável” compra um carro zero. Um problemão, né?

Eu pretendo aqui dar minha singela colaboração a esse debate. Estou muito preocupado com meu plano de saúde. Afinal, nos últimos seis anos, mais de 11 milhões de pessoas entraram para esse antigamente seleto grupo de cidadãos.

Graças à (tímida) distribuição de renda a que assistimos, milhões de “pessoas diferenciadas” advindas das classes C e D, e que antes só iam ao médico em caso de urgência e usando a rede pública, agora adquiriram o direito de frequentar a rede privada.

Já consigo imaginar hospitais particulares superlotados como saguão de aeroporto. Fazer uma ultrassonografia se tornou tão banal quanto comprar ingressos para os musicais da Broadway.

Levantamento sobre planos de saúde, feito por uma consultoria, mostra que entre 2006 e 2012 o número de consultas aumentou 8,3%, o de internações, 7,4%, e o de exames, 29%. O que nunca foi uma maravilha, tudo indica, em breve vai se tornar um gargalo tão sofrido como o SUS.

Hospitais outrora relativamente tranquilos lidam com espera de duas horas em seus prontos-socorros. Já se tornou comum faltar vagas para internação.

Isso, claro, causou uma primeira (e por enquanto, única) providência: o aumento do preço dos serviços de saúde. O valor médio gasto em uma internação subiu 47,3% nos últimos seis anos.

Como as agências reguladoras deste país são notoriamente inúteis e omissas, um pesadelo bate à porta dos laboratórios, hospitais e enfermarias.

Se resolvesse, vendia meu carro zero e me mandava pra Nova Iorque. Mas, pelo visto, não ia adiantar nada. Este mundo está ficando muito sem graça. Né?


Postado no blog O Provocador em 03/12/2012

Toda história tem sempre três lados...




Maria Isabel Carapinha 


Ah, que saudade eu NÃO tenho da época que achava que a minha verdade era absoluta!

Estar cego em um ponto de vista levará você a perder grandes oportunidades, grandes amigos e até mesmo a oportunidade de aprender e evoluir. 

Somos seres em segunda época que somente com o aprendizado em cada situação vivida e a evolução passaremos à outra dimensão.

Tenho, sim, a humildade de reconhecer que um dia já fui muito diferente do que sou hoje. Possuía enormes defeitos como, por exemplo, não enxergar o outro para atingir um objetivo. Pessoas eram apenas participantes da minha história de vida e nos vai-e-vens me transformei e, hoje, posso dizer que vivo muito mais feliz e em harmonia com o todo.

Aprendi que cada história ou conflito compartilhado tem sempre três lados, o da pessoa que lhe conta a sua versão, a versão do outro e finalmente a verdade, que é justamente a parte da história sem nenhuma potência associada. Como potência associada, posso incluir a raiva que sinto naquele momento, o medo, o peso de histórias passadas, o momento atual em que vivemos, sim!

Tudo isso reflete para que você enxergue somente o seu lado e as perdas podem ser irreparáveis e enormes. 

Ceder e ter a humildade de escutar o outro lado da história, sentir o que o outro sente e se colocar no lugar do outro é, sim, um aprendizado de vida, é um treinamento que requer constância. E no dia em que você conseguir ouvir uma história ou dela ser participante e conseguir se tornar um observador, tenha absoluta certeza que você deu mais um passo na sua trajetória de evolução pessoal.

O termo "ser político" se depreciou ao longo do tempo, mas na melhor das intenções, vou dizer que em muitas situações que vivemos, temos que ser políticos, ou seja, agradar a todos e depois, então, com a cabeça fria e em paz poder interagir com a história do outro e, assim, encontrar o caminho do meio que é realmente o da verdade.

O desafio hoje em dia não é acumular informação e, sim, saber discernir a informação.

Conceitos, temos aos montes, mas o verdadeiro aprendizado evolutivo está em aplicar tais conhecimentos adquiridos. 

A informação é importante quando agregada à prática. O discernimento é igual à proporção entre informação e conhecimento, o resto é desperdiçado.

As experiências negativas são tesouros que alimentam o discernimento. É necessário estudá-las para entendê-las a fim de adquirir informação. 

Aquele aspecto vivenciado e entendido dará frutos, pois a vivência já existiu, devemos, então, aproveitar os frutos. Só enxergo e percebo no outro aquilo que enxergo e percebo em mim mesmo. A clareza da decisão depende de como você vê o fato.

Então, para que perder tempo com coisas que lhe fazem mal, para que perder tempo com pensamentos e emoções negativas se a qualidade de sua vida está associada à qualidade que você dá a seu tempo?

Se o seu ponto de vista for absolutista em qualquer situação que não seja espiritual o levará ao fracasso e a decepção. Neste caso, cada falha é uma decepção e não uma dificuldade.

No exercício do amor, do dar e receber é que damos oportunidade de desenvolver quatro princípios fundamentais: o amor, o respeito, a dignidade e a simplicidade.

Quem consegue ter esses princípios bem estabelecidos se adequa a qualquer meio. 

Para desenvolver o princípio do amor é preciso conviver com alguém que tenha esse princípio, para que haja a troca necessária.

O princípio do respeito se concretiza quando você reconhece o espaço do outro e o seu em sua mente.

O princípio da dignidade é que dá sustentação à pressão, tão comum nos dias de hoje. O princípio da dignidade reconhece que você é tão digno quanto o outro. Quando eu me sinto digno, eu me posiciono com firmeza. Eu não sou mais pessoa que você, e você não é mais pessoa do que eu.

O princípio da simplicidade é a capacidade de expressar o seu conteúdo na medida da compreensão do outro. Quem tem boa dignidade e simplicidade tem boa estratégia.

Querer ser justo em excesso, na maioria das vezes, leva você a uma exposição desnecessária e muitas vezes à decepção, pois, ser justo é entender que há medidas diferentes do que quer que seja para você e para o outro. Um exemplo característico é o tamanho de cada luva, nem todas as pessoas usam o mesmo tamanho de luva.

Aí, então, caímos na vaidade que é justamente quando não entendemos que todas as histórias têm sempre três lados e enxergamos somente o nosso. 

A vaidade dá rasteira na justiça, o poder subiu à cabeça e a justiça se perdeu. Somente quando este princípio está bem consolidado é que entendemos que as coisas são relativas e que existe o desigual.

Este desigual consiste no momento de vida em que a pessoa se encontra, no seu grau de evolução, nas histórias e bloqueios que já viveu, nas suas mágoas atuais e no contexto de vida que ela criou como seu mundo de verdades.

Normalmente, julgamos os outros porque temos preguiça de analisar e identificar suas crenças e aprender a gerenciá-las.

Tudo, então, só começa a melhorar quando tomamos consciência de nós mesmos. Enquanto não percebermos que não somos donos da verdade absoluta, ficaremos escravos dela.

Inúmeras são as histórias em meu consultório que ao concluirmos o equilíbrio das frequências energéticas e eliminarmos todos os bloqueios, através da Mesa Radiônica e a pessoa passa a viver harmoniosamente, ela por si só percebe que cada história que viveu e que lhe fez muito mal e a fez conviver com sentimentos negativos, tinha sim, mais dois lados que nunca haviam sido avaliados.

E, então, quando a energia do equilíbrio se estabelece e os bloqueios se desfazem, o perdão se concretiza e atingimos outro patamar de realidade, onde não há mais espaço para coisas ruins e a sua qualidade de vida se modifica completamente, pois você passa a atrair somente pessoas e situações que estão na sua mesma sintonia energética, ou seja, de acordo com o seu momento atual.


Maria Isabel Carapinha é colaboradora do site, radiestesista e trabalha também com Feng Shui. Ministra cursos e faz atendimentos em residências e empresas. Trabalha também com a mesa radiônica fazendo atendimentos em seu consultório ou à distância. Visite meu Site e acompanhe Maria Isabel Carapinha no Facebook   Email: isabelc@uol.com.br

Postado no blog Somos Todos Um


Falácias contemporâneas



http://guiadicas.net/fotos/2009/04/super-jogos-para-celular-sony-ericsson.jpg

Notícias dão conta de um levantamento estatístico que apurou a existência, em nosso país, de cerca de 270 milhões de celulares. Dependendo da ótica sob a qual se analisem esses dados, há o que festejar ou o que lamentar. 

Em princípio, essa seria uma marca do progresso a que atingiram os brasileiros, um índice da inclusão gradativa dos segmentos menos favorecidos, um retrato da ascensão da chamada “nova classe média”. 

Mas, será mesmo? Para respondermos de forma efetiva a essa indagação, teríamos que analisar detidamente o que tais números significam na realidade. Sabemos, por exemplo, que a maioria das empresas de médio e grande porte disponibiliza aparelhos celulares para uso profissional por parte de seus empregados. Uma forma sutil de encontrá-los fora dos horários ”oficiais” de trabalho e ocupar o seu tempo a serviço “oficioso” da empresa. 

Assim, muitos dos nossos 200 milhòes de cidadãos possuem dois aparelhos celulares, justificando em parte o número total apurado. 

Outra circunstância que tem que ser levada em consideração é a absurda e permanente renovação de aparelhos por parte dos ”consumidores” que, nesse caso, fazem jus por inteiro a esse título, já que – induzidos por uma saraivada de exortações publicitárias - “consomem”o celular como um bem absolutamente descartável, ao menor indício de uma novidade na área... É claro que algum peso deve ter esse comportamento na apuração dos tais 270 milhões. 

Uma outra abordagem sobre o efetivo caráter “progressista” dos números apresentados corre por conta não apenas da eficaz utilização positiva dos aparelhos por parte de seus proprietários como instrumentos da comunicação ágil e da informação tempestiva, pelo acesso à Internet , mas também, na contramão disso tudo, pelo registro evidente de seu emprego em atividades absolutamente supérfluas – para não dizer dispensáveis - dos aparelhos em funções que a propaganda faz alavancar, mas que, na realidade, são apenas dinheiro jogado fora, ou melhor, jogado dentro dos cofres das empresas de telecomunicações, talvez em prejuízo de outras necessidades básicas de muitos dos usuários. 

Aqui entramos no lado perverso da sociedade contemporânea, na sua atual versão do capitalismo. Interesses econômicos de setores empresariais, da mídia e de órgãos governamentais se unem para conduzir o cidadão ao consumo supérfluo e depois o deixam à própria sorte, entregue às feras do mercado. 

Uma vez no rol dos felizes proprietários de celular, cujos serviços entre nós são dos mais caros do mundo, ai dele se precisar de apoio para os inúmeros problemas com que se defronta – responsáveis por um recorde de reclamações. Enfrentará por horas (dias?) um impessoal “diálogo” nos “call-centers” da vida, excrecências que desrespeitam a cidadania e que, na busca de enxugar custos e fugir do confronto direto com os reclamantes, pousam como marca de uma modernidade que deveríamos todos rejeitar. 

O celular é apenas uma metonímia para esse jogo de sedução/desprezo que marca os tempos que correm. Se pensarmos nos automóveis, por exemplo, chegaremos a um quadro que seria extremamente cômico, se não fosse tão perverso. 

A indústria automotiva quer faturar o máximo, a mídia se beneficia de polpudas verbas de propaganda e os governos arrecadam com impostos excessivos. E lá se vão os recursos dos poupadores, agora orgulhosos detentores do veículo do ano. Quando atingem a condição de proprietários, porém, passam a ser acusados de contribuírem para a poluição planetária, para os engarrafamentos monumentais (que, aliás, os impedem de desfrutar do carro plenamente), para a violência no trânsito. 

E então, em nome da cidadania, tenta-se convencê-los a deixar o carro em casa... Uma parte deles passa também a ser execrada como componentes do índice de inadimplência no país. Mas a indústria continua a produzir crescentemente os instrumentos da poluição (cada vez mais descartáveis), a propaganda continua seduzindo com promessas mirabolantes de sucesso pessoal, os governos continuam arrecadando. 

Conheço poucas situações tão surreais quanto essa. Registre-se que esse é um panorama internacional, transcende a realidade brasileira onde, pelo menos, os impostos, nos últimos anos, têm sido carreados para programas sociais. De qualquer forma, não estamos imunes a esses procedimentos. 

São as contradições do sinistro sistema que elege uma fictícia entidade “mercado”como a instituição mais importante no mundo de hoje.

De minha parte, prefiriria que, ao invés da explosão de celulares dispensáveis e de carros nem sempre necessários, os povos do planeta estivessem todos plenamente alimentados, integralmente assistidos no plano da saúde, com educação de qualidade e moradias condignas. Até porque, se tudo fosse assim, com comunidades bem formadas e informadas, essa turma do lucro não deitava e rolava como o faz... 

Para terminar e mudando de assunto (se é que não é possível vinculá-los) , é nítido que a direita catastrófica e demonizadora anda assanhada com os resultados conseguidos no STF, à custa de princípios jurídico-políticos pouco claros e, para muitos, casuísticos. 

Vamos esperar para ver se os heróis de hoje manterão essa postura em outros casos que estão aí para ser julgados. 

Se não o fizerem, restará claro que o objetivo desse “combate à impunidade” é o de obstruir e minar as conquistas populares dos últimos anos, na tentativa de fazer retornar ao comando do país os que servem a interesses que não os do nosso povo. 


Rodolpho Motta Lima Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.


Postado no blog Direto da Redação em 02/11/2012


O fim da internet




Nota

Neste vídeo há "nomes feios" mas, como traz informações sobre os projetos para a internet no Brasil, achei interessante publicá-lo. 
O depoimento é um desabafo e quando desabafamos tudo pode ser dito não é? Então está desculpado ...



Porto "menos" Alegre ! O silêncio dos inocentes



Criança pedindo silêncio? É possível?


O silêncio dos inocentes


“(…) aos réus que se abstenham de realizar qualquer atividade no pátio da escola, sob pena de multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por cada vez que esta decisão for descumprida. (…)”

Andrea da Costa Braga e Fernando Falcão*

A recente decisão judicial, cujo trecho citamos acima, determinou que as crianças da Escola União Criança do Grêmio Náutico União (GNU), em Porto Alegre, não possam mais usar o pátio da escola. Assim, as crianças de uma faixa etária entre os dezoito meses e seis anos não podem mais brincar, praticar esportes ou tomar sol no terreno da escola. 

A alegação foi de que o barulho das brincadeiras atrapalhavam as atividades da vizinha, escritora gaúcha, autora da ação. Não conhecemos todos os detalhes da ação judicial e de sua sentença, com força de jurisprudência e, como todos sabem, decisões da justiça são para serem cumpridas. 

Mas, como não poderia deixar de ser, fomos surpreendidos, afinal, não é todo dia que alguém tem sua filha de quatro anos envolvida na perturbação do sossego e da tranquilidade alheios, assim, nós, como pais de uma das infratoras gostaríamos de tecer algumas considerações.

Não há dúvidas de que barulhos, ruídos e música indesejada são perturbadores. Em cidades como a nossa, de praticamente dois milhões de habitantes, todo tipo de ruído é produzido, muitos deles certamente mais perturbadores que a algazarra infantil: canteiros de obras, volume de trânsito de veículos, a transformação dos parques urbanos em auditórios ao ar livre para todo tipo de evento, bares que ocupam as calçadas, carros de som, e o volume cada vez mais alto das conversas nos aparelhos celulares, inclusive dentro de elevadores.

O cotidiano das cidades, como todos sabem, pressupõe a conciliação de interesses e a ponderação das vantagens e desvantagens da convivência comunal e da urbanidade. É ter que lidar com as adversidades diárias, do descaso com os espaços públicos à crise de mobilidade.

Mas também abre a possibilidade dos passeios à pé, à fruição da vida de bairro, à atualização da informação e dos repertórios através do movimento das pessoas e da copresença diversificada. 

A urbanidade compensa os caminhões betoneira e de entregas circulando às cinco da manhã na sua porta porque isso significa que você tem um supermercado próximo à sua casa, está perto do seu local de trabalho, há escolas onde seus filhos estarão, dentre outras coisas, expandindo e aprimorando sua socialização enquanto você trabalha.

É justamente para tentar regrar a vida numa sociedade complexa que existem as leis e as normas e, por competência constitucional, cabe ao município a sua elaboração e a sua fiscalização. Pois bem, a Escola União Criança, para funcionar, necessitou cumprir uma série de procedimentos junto à Prefeitura de Porto Alegre, que, com sua autoridade³, concedeu o alvará de funcionamento à instituição, ou seja, do ponto de vista das regras estabelecidas, não há impedimento para que a Escola e todas as atividades a ela inerentes funcionassem plenamente no local onde está instalada. 

É disto emergem algumas das considerações que gostaríamos de tecer:

1. A decisão judicial traz, para utilizarmos uma expressão em voga, insegurança jurídica, uma vez que, mesmo havendo cumprido com todos os quesitos previstos em Lei para a instalação e funcionamento, escolas correm o risco de não poderem usar seus pátios e quadras esportivas para qualquer atividade que produza ruído, sob pena de punição;

2. O zelo judiciário ao sossego e ao descanso individuais também será aplicado se solicitado pelos vizinhos do Aeroporto Salgado Filho, por exemplo? E aos vizinhos dos estádios de futebol?

3. Somos vizinhos do Hospital Moinhos de Vento e diariamente caminhões transitam por nossa rua para retirar resíduos do hospital e realizar entregas. O ruído dos fluxos no hospital perturbam, sobretudo em horários noturnos. No entanto seria razoável impedir o funcionamento do hospital ou a coleta de resíduos? De acordo com a decisão judicial em relação à escola, nos parece que sim. O bem estar pessoal estaria acima de qualquer serviço de utilidade pública prestado à comunidade?

4. Ao privilegiar o direito de um, o Juiz tolheu o direito de muitos, nesse caso, crianças, impedidas de brincar ao ar livre na escola, contrariando, salvo engano, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei 8.069, de 13/07/1990 em seus Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis e Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – brincar, praticar esportes e divertirse; V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

5. Se as crianças são impedidas de transitar pelos os espaços externos das escolas só existem duas soluções: transformar todos os espaços abertos em fechados e criar isolamento acústico, o que as impede de contato mínimo com ambientes abertos ou segregar espacialmente as escolas, situando-as em quarteirões ou setores exclusivos. Ambas soluções inadequadas do ponto de vista social, ecológico, urbanístico e pedagógico;

6. Salvo engano, a sentença desautoriza a Prefeitura de Porto Alegre como instância responsável pelo planejamento urbano da cidade e pela concessão de autorizações e alvarás de funcionamento e localização.

Curiosamente, do outro lado da capital, no Bairro Cidade Baixa, conhecido por seus inúmeros bares, café, etc., os moradores, cansados dos excessos de ruído, só que neste caso, durante o horário de silêncio, lograram um acordo com estabelecimentos comerciais, muitos deles funcionando em desacordo com os seus alvarás.

A assimetria das soluções é gritante: num caso, temos vários moradores reclamando do descumprimento do horário de silêncio por estabelecimentos comerciais em desacordo com as normas. 

No outro, uma moradora, com alguma notoriedade, reclamando da algazarra de crianças menores de seis anos, brincando no pátio de uma escola, que cumpriu todas as exigências legais.

Que sociedade é esta que aceita a poluição, que transforma até as praias em ambientes artificiais, impedindo a fruição contemplativa da natureza, que só circula em ambientes fechados dos quais se sai tonto de tanto barulho, que naturaliza a discriminação e a violência a ponto de subverter as noções de bem estar público e privado?

Como a justiça pode naturalizar o encarceramento da infância e a intolerância, contribuindo para amplificar e não solucionar conflitos comunitários, uma briga de vizinhos? Tolera-se a destruição do meio ambiente, da paisagem da cidade, naturaliza-se a segregação social e espacial em prol do desenvolvimento, mas não crianças brincando?

O símbolo da justiça é a divindade romana Iustitia, representada por figura feminina vendada com uma balança nas mãos. Como todos sabem é uma alegoria ao fato de que, independente de quem sejam as partes, a justiça, ao pesar os fatos tomaria uma decisão equilibrada. Não parece ser o caso.

(*) Arquitetos e pais de uma das “infratoras”.



Postado no blog RS Urgente em 30/11/2012


Refletindo...