Sinal de perigo
Médium: Chico Xavier Autor: André Luiz
Habitue-se a considerar o ressentimento por sinal de perigo que se deve claramente evitar.
Se a razão para queixa é algum problema doméstico, anote em silêncio a maneira pela qual poderá você cooperar, na harmonização do grupo familiar e auxilie para que o ponto nevrálgico seja extinto.
Ante uma criatura de quem recebeu ou esteja recebendo ofensa ou dificuldade, medite no valor de que essa mesma pessoa se reveste para os outros e esqueça qualquer motivo de mágoa que lhe tenha chegado ao coração.
Nos desajustes de opinião ou comportamento, admita nos outros a mesma liberdade de pensar que a vida lhe implantou na cabeça.
Aquilo que muitas vezes tomamos por indiferença ou desconsideração naqueles que nos cercam é cansaço ou doença neles e não hostilidade contra nós.
Fracassos, de qualquer modo, são sempre convites a que partamos para tarefas novas e melhores, compelindo-nos a sair da insegurança.
Dedicações incompreendidas são cursos de burilamento íntimo em que podemos aprendei a amar sem o culto do egoísmo no qual "sermos amados" costuma ser a nossa preocupação.
Perdoe quaisquer golpes com que a vida lhe esteja ministrando aulas de experiência e recorde que você está no rio de bênçãos em que Deus lhe situou a bênção da vida.
O trabalho, especialmente quando se expresse por serviço aos outros, é o preservativo que nunca falha contra qualquer perigo no campo do espírito.
Ressentimento é sempre indução à enfermidade e desequilíbrio; diante de problemas e obstáculos com que sejamos defrontados, nos caminhos do tempo, recorramos à prece e a oração nos renovará por dentro, transfigurando a sombra com presença de luz.
Postado no blog Mensagem Espírita
Caio Fernando Abreu: o cara do Face
Caio Fernando Abreu
Maykon Souza
No Shopping, puxei o livro da mochila e percebi que estava sendo observado. Mal virei a primeira página e ela se aproximou. Devia ter uns 20 anos. Ficou se contorcendo, tentando ler o nome que estava na capa. Conseguiu:
– Ai, que legal...
– O quê?
– Ele tem livro?
– Como assim?
– O Caio tem livro...
– Que Caio?
– Esse que você tá lendo...
– Tem... vários... um dos maiores escritores do Brasil...
Ela não acreditou muito.
– Caramba... achei que ele era só o cara do Face.
– Cara do...?
– Face... Facebook... internet... cê tem, né?!
– Tenho, tenho...
– Ele também.
– Quem?
– O Caio... tem um perfil todo fofo... Ele escreve cada coisa bonita.
– O Caio?
– Claro, pô. Não é dele que a gente está falando?!
– É que é impossível ele ter perfil.
– Por quê?
– Ele morreu...
– Impossível ele ter morrido!
Chegamos num impasse. Ela virou para o outro lado, como que digerindo a informação. Depois de um tempo, indignada:
– E quem atualiza o perfil dele, então?
– Ele é que não é.
– Cê ta brincando... não deve ser o mesmo... morreu de quê?
– Aids.
– Aids??? Então, ele era velhão?
– Velhão?
– É, ué! Aids não é aquele negócio que dava nos anos 80?
Novamente, um impasse. Dessa vez, eu é que virei para o outro lado para digerir a informação.
– Lê um pedaço aí pra mim.
– Qualquer um?
– É.
– Lá vai: “Aquele negrão, sabe aquele negrão de cabelo rastafári que fica sempre ali no Quênia’s Bar? Aquele que vende fumo, diz que tem vinte e cinco centímetros, já pensou? Isso não é uma jeba, é uma jiboia. Até vinte aguento numa boa, até o cabo. Vinte e cinco não sei, tenho até medo. Pode rasgar a gente por dentro, sei lá”*.
– Ele escreveu isso?
– Sim.
– O Caio?
– Claro, pô. Não é dele que a gente está falando?!
Ela se levantou, indignada:
– Ele escreve coisas fofas, não isso aí. Ele fala de amor, esperança, sorriso. Coisas pra valorizar a gente. Ele tem frases que se encaixam em todos os momentos da vida da gente.
– Isso é Minutos de Sabedoria, não Caio Fernando Abreu.
– Minutos de quê?
Reparei que outra garota tinha se aproximado. Resolveu entrar na conversa:
– Que foi?
– O cara aí tá dizendo que conhece o Caio.
– Que Caio?
– O do Face!
– Ah, tá... prefiro a Clarissa...
– Que Clarissa?
– Ah, sei lá. Acho que é Espectro.
– Não é Clarissa, é Clarice, sua burra!
Começaram a tirar sarro uma da outra e se foram sem dar tchau.
Da próxima vez que estiver em público, puxo um Dostoiévski. Duvido que ele também tenha perfil fofo no Face.
Maykon Souza é autor do blog Amenidades Crônicas.
Postado no Blog Brasil de Fato em 01/03/2012
Nota
Este blog está fazendo 1 ano desde a sua criação. Para comemorar estou republicando algumas postagens antigas entre as 942 postagens já publicadas.
Unidade Nacional
Nikelen Witter
Basta falar em unidade nacional e logo o povo pensa em futebol. Pensa certo, claro. Mas não chega a ser uma unanimidade. Pasme você, amante do futebol, mas há quem não goste! Um horror! Mas é verdade.
E, também, há quem não goste de carnaval. Eu sei o que o leitor que não é ruim da cabeça nem doente do pé está pensando: “gente sem noção” (deve também estar balançando a cabeça em negativas assombradas).
Pois é. Contudo, de fato, é tanta gente, que atualmente já não se pode citar o carnaval como elemento de unidade nacional de forma alguma.
Então, voltamos a velha busca do que faz do Brasil, Brasil e de nós os brasileiros.
Alguns buscam no esporte, outros na música, outros em algum tipo de comportamento, como o “jeitinho”, por exemplo. De minha parte, cada vez mais tenho achado que nossa unidade nacional se constitui na mesa.
Estudando a História da Alimentação no Brasil fica difícil não acreditar e aceitar que somos, antes de tudo, o país do arroz com feijão. Se um dia superarmos todas as fomes que nosso povo passa, será isso que emergirá: essa cultura de uma comida básica, que serve a todos e se aprende na infância.
Outro ponto de unidade e que tem se revelado a mim em estudos, em viagens, no contato com amigos e no contato com não brasileiros é a gula.
Brasileiro come falando em comida, planejando a próxima refeição e trocando receitas. Somos gulosos por excelência e definição. Os viajantes já apontavam isso em seus escritos desde a aurora, ou, pelo menos, desde o século XVIII. Comida nos preocupa, nos toca, nos chama.
É, acredite, nossa principal herança portuguesa. Isso é tão forte que tomou de assalto nossos imigrantes, muitos deles, vindos a este país fugindo da fome em suas terras de origem. Podiam simplesmente ter chegado aqui e se saciado. Mas, não. Foram além. Aprenderam com os já aclimatados que mesas devem ter imensa fartura e mais, que comida é feita para sobrar.
Ah, vergonha das vergonhas quando fica só um tantinho no fundo da panela que mal serve uma pessoa. Ah, supremo fiasco se os convidados, filhos e netos não saírem da mesa estrebuchando, implorando por um chazinho digestivo ou um anti-acido. Não há festa se ninguém for da mesa para a farmácia, em busca de alívio para o excesso.
Aí está! Essa é nossa característica, se não fundamental, uma das mais importantes.
Nossas festas são para o excesso, para muita comida, para comer-se o dia inteiro. Gostamos de rodadas. Somos os maiores apreciadores de sequências. Morremos por um espeto corrido. Temos a felicidade suprema quando abre um novo rodízio da cidade. Se for de sushi, comida chinesa, mexicana, indicana, não importa. Podemos ser cosmopolitas. Só não nos peçam para ser comedidos, para ser nouvelle cuisine (a não ser que seja numa sequência longa, é claro).
Tenho aprendido essas coisas nas minhas aulas – sim, eu aprendo nas minhas aulas porque tenho muitos professores trabalhando comigo, mesmo quando os chamo de alunos.
Sobre comida, tenho aprendido demais. De hoje, posso dizer que muito pouca coisa é típica deste ou daquele grupo quando se trata das formas de comer.
Comemos como brasileiros: rápido durante a semana, muito nos finais de semana, festas, feriados e dias santos. A comida e a bebida pautam nossas festividades. Tudo acaba em pizza, em xis, em revirado, em sanduba, em pão de queijo com café, em chá com bolo.
Lorenzo um fofo de 6 meses filho de amigos
Além do arroz com feijão e da gula, acho que caminhamos atualmente (se já não chegamos lá) para um terceiro ponto de unidade, montando a base do tripé que sustenta o que somos. Claro, este último ainda é algo próprio do Brasil urbano, porém, vejo um crescimento cada vez maior de sua influência nos gostos nacionais. Revelarei o dito cujo numa história que me parece exemplar para o caso.
Durante o período de meu doutorado, fiz quatro meses de estudo na França (doutorado sanduíche, e lá vamos nós a outra referência culinária). Meu orientador de lá, um glutão por definição própria, costumava encerrar o semestre de suas aulas com uma festa em que pedia para cada aluno levar algum prato que lembrasse sua região.
Naquela época, ele tinha duas orientandas brasileiras, uma baiana e eu. Ele falou das dimensões continentais de nosso país e de como deveriam ser diferentes nossas cozinhas, o que ambas confirmamos.
No entanto, nos vimos, cada uma de seu lado, numa saia justa. Eu me viro bem na cozinha, mas a Casa do Brasil – local em que estava morando – não nos permite ter muitos utensílios e tampouco os fornece. Minha conterrânea, descobri mais tarde, tinha vários utensílios à sua disposição, mas mal sabia cozinhar.
Cada uma resolveu, então, sem comentar com a outra, levar o melhor que nossas limitações permitiam. Resultado: irrompemos à festa com grandes pratos de brigadeiros em nossos maiores esforços.
Ao longo da festa, rimos muito dessa nossa “unidade nacional”, e, quando a sobremesas foram liberadas, percebemos que o diálogo interno é mais fácil do que aquele travado com o externo.
Nossas petit truffes brésiliennes fora rechaçadas pelos franceses por serem trop sucré.
Como responder se não lembrando Gilberto Freyre: é o açúcar que, antes de tudo, faz de nós o que somos como civilização. E, acredito, em especial, o açúcar do brigadeiro, esse “negrinho” com gosto de Brasil.
Nikelen Witter : Escritora, historiadora e professora. O ativismo pela leitura é para não dizer que: não fiz nada de útil.
Postado no blog Sul 21 em 15/11/2012
Nota: A foto do fofinho Lorenzo foi acrescentada ao texto por mim.
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