Juremir Machado da Silva
Fui no bar Odessa, no Bom Fim, com o Alex Primo (UFRGS) e o Henrique Antoun (UFRJ).
Eles são feras.
O Alex me provou que twitter já é coisa de velho.
Muito conteúdo: 140 caracteres.
A galera gosta é de imagem.
Jovem é facebook.
Que mundo! Disquete, CD, fax, orkut e twitter fazem parte de velharias vertiginosas.
Emendo com meu texto de hoje no Correio do Povo.
Atenção! É uma ameaça: durante a Feira do Livro de Porto Alegre, escreverei, sempre que puder, sobre livros.
Comigo é assim: feira de livros, falo sobre livros. Sem mole. Ainda mais que estou em crise: não sei onde estou nem para onde vou. Melhor, estava em crise.
A leitura de “Futuros possíveis – mídia, cultura, sociedade, direitos”, de Ronaldo Lemos (Sulina) me tirou do aperto. Ronaldo Lemos criou o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas.
Formado em Direito por Harvard, é professor visitante em Princeton. Está achando pouco, leitor?
Aqui vai uma informação definitiva: ele dirige no Brasil o “creative commons”. Dirige o quê? Isso daí. É.
Ronaldo Lemos explica didaticamente: “Creative Commons é um projeto de licenciamento baseado integralmente na legislação vigente sobre os direitos autorais”.
Ainda não está claro: é uma nova maneira de definir direitos autorais. Os donos das obras, os autores, podem, em contrato, definir o que será gratuito e o que deverá ser pago em suas criações.
Nada de entregar tudo para editoras ou para representantes como o Ecad, que se encarrega dos direitos autorais de músicos. É disso que trata o livro de Ronaldo Lemos? Não, não é só disso.
Ele nos mostra em que mundo tecnológico estamos. Discute como ganhar dinheiro na internet. Analisa como a internet afeta os nossos cérebros. Detalha os principais aspectos desse cibermundinho virtual. Fecha com uma entrevista sua, a Pedro Rocha, no jornal “O Povo”, sobre o “direito humano à internet”. Nada escapa das telinhas.
Entusiasmo não falta a Ronaldo Lemos. Nem conhecimento. Os seus textos variam entre crônicas, artigos, pequenos ensaios e entrevistas. Tem comentários deliciosos.
Por exemplo, um que começa assim: “Um colega da Universidade de Princeton chamado Tim Lee resolveu ir ao dentista. Antes de entrar no consultório, estranhou o fato de pedirem para assinar um longo documento. Era um contrato em que se comprometia a não falar mal do dentista na internet se tivesse algum problema”.
Que loucura! Eu já fico indignado quando preciso preencher um cadastro para cortar o cabelo. Nome da mãe? Para que o cabeleireiro precisa saber o nome da minha mãe? Esses americanos não batem bem da bola. Podem ser geniais e inventar a internet. Podem ser idiotas e não poder usá-la para criticar dentistas incompetentes. Exagero. Claro.
Enfim, se o leitor quer saber em que mato está metido, se com ou sem cachorro, embora seja quase impossível isso neste universo pet, deve ler Ronaldo Lemos.
Há títulos no livro que nos fazem estacar: “Software livre é punk”. Isso é bom ou ruim? O último punk que encontrei, há 30 anos, pegou meus óculos e entortou.
Ele me achava um anarquista burguês. Li com medo. Fiquei mais calmo depois de algumas linhas: “Muita gente usa software livre mesmo sem saber. O navegador Firefox é um exemplo”. Software livre é punk. Firefox é software livre. Firefox é punk. Eu uso Firefox. Eu sou punk. Acho que vou entrar em crise novamente. Ou sair do armário. Assumir minha condição de ciberpunk. No sofá.
Sou um velho.
Vez ou outra, tenho algo para dizer em 140 caracteres.
Postado no blog Juremir Machado da Silva em 02/11/2012