E a história se repete...
Por Lili Abreu
Em 1º de dezembro de 2005, José Dirceu de Oliveira Silva foi julgado, condenado e cassado pela Câmara dos Deputados, foi um julgamento político que envolvia a sobrevivência política de muita gente, foi um julgamento de cartas marcadas, com o objetivo claro de culpá-lo por qualquer desvio de percurso causado por alguém, era preciso dar uma satisfação à sociedade e ele foi imolado em nome de um projeto político maior.
Naquela ocasião o Brasil estava conturbado, havia uma crise política que pretendia devolver o PT para São Bernardo do Campo, pretendia-se um golpe de Estado, as forças antidemocráticas se uniram em torno do objetivo comum de liquidar o Governo do PT e voltar ao neoliberalismo que empobreceu e endividou o Brasil.
Naquela época não foi produzida uma única prova contra Dirceu, mas isso era só um detalhe, o veredicto estava forjado pela direita raivosa que precisava inventar um “herói” e assim foram criados os mosqueteiros da ética, promovidos pela mídia golpista, com direito a páginas amarelas e “louros” de vencedores. Não havia provas e mesmo assim Dirceu foi acusado e condenado, num típico tribunal de exceção, daquele tipo que havia nos tempos da ditadura.
Os “carrascos” de José Dirceu, depois se revelaram corruptos, dissimulados, mentirosos e alguns foram pilhados em associação com jogos ilegais, maracutaias de todo tamanho e desmoralizados nacionalmente. A história não perdoa os traidores, quanto maior o destaque do “herói”, maior será o tombo.
Nada foi provado contra Dirceu, mesmo assim, a mídia golpista continuou atacando a biografia do homem que levou Lula e o PT à vitória nas eleições de 2002, este é o grande e imperdoável “pecado” de José Dirceu.
Julgamento por tribunal de exceção, onde garantias constitucionais não existem, condenação sem provas, perseguição da mídia golpista que elege, de acordo com sua conveniência, o “herói” do momento que pode ser um mosquiteiro, um cachorro, ou um morcego, intimidações de toda ordem, testemunhos e defesas jurídicas desconsideradas, pressão de uns poucos em nome de interesses nada republicanos e instintos primitivos falaram mais alto e condenaram, politicamente, um réu sobre o qual não houve qualquer prova que justificasse sua condenação.
O pior de tudo isso é que a Suprema Corte do país reedita a mesma cena, sem tirar nem pôr. O que muda são os “mocinhos” e os novos “heróis”. Nada como o tempo, severo juiz e senhor da razão, para trazer à luz as razões, os interesses, os acertos e as cartas que ditam as regras no atual julgamento. “O tempo falará por mim”.
Postado no blog A Justiceira de Esquerda em 08/10/2012
Quando é que acontece a magia?
Créditos
Curta “Onde nascem os sonhos”
Direção, e diçãoe roteiro: L.S. Alves
Mãe, Maquiagem e edição: Edy Comerlatto
Filha: Liz Comerlatto Alves
Argumento: Roberta Fraga
Músicas: Matthew Tyas – Des notes balches e Cristian Moresi – Celtic Night.
Nos mês das crianças o curta de 1 minuto Onde nascem os sonhos é uma homenagem às crianças que são leitoras e um estímulo aos pais que leem para seus filhos.
Há algum mistério no momento em que um leitor se encanta por uma história. Mas eu não me refiro à qualidade da obra, se bem escrita, se tem suspense, se tem apelo. O que falo é a magia que acontece quando o leitor encontra a história, porque um livro, fechado ou aberto sem contato com o leitor, uma história que não entrou pelos olhos do leitor e atingiu sua mente ou seu coração, é apenas um punhado de tinta e celulose ou de pixels, conforme o caso.
E como é bonita essa magia! Essa força que realmente transforma. Ao lermos um livro, no momento em que fechamos a capa final e nos damos o direito de exibir aquele sorriso bobo (quem nem mesmo percebemos que fazemos), já não somos mais a mesma pessoa do momento anterior à leitura. Somos mais, somos melhores, somos maiores.
Recorri à observação da criação, onde o tema a que me refiro parece ser mais claramente vivo: a imaginação, a fantasia, a ilusão.
Chame do que quiser. O fato é que acontece uma mágica e não é culpa inteiramente do escritor (bom ou mal, fácil ou difícil). A leitura, já comentei aqui é um processo extremamente ativo. Você, leitor, compactua com o autor, você se permite, você se posiciona, você vive os personagens e se identifica (ou não), você torce pelos tipos, sugere finais. Tudo isso porque, no momento em que você abre o livro e o lê, a história já passa a ser sua.
Foto: Crianças vendo um teatro de bonecos, Paris, França, 1963, Alfred Eisenstaedt (1898 – 1995)
Com as crianças é assim ainda mais físico, que o conteúdo psicológico. Eles arregalam olhos, suspiram, cantam, torcem (às vezes aos gritos), preocupam-se diante do infortúnio do herói, pegam o leitor, sobem em cima do leitor, parecendo não acreditar que tanta coisa fantástica saia dali, daquele papel. Um boa leitura faz isso e muito mais.
E é curioso como isso acontece. Pensando numa resposta mais concreta, eu me vi às voltas com o livro O Brincar e a Realidade de D. W. Winnicott. E supus que iria encontrar lá uma resposta acadêmica para a indagação a respeito da fantasia, da ilusão e da importância delas. E vi muito mais: vi que o sonho (ele difere clinicamente sonho e fantasia, posto que o livro se trata na verdade de tese, com estudos clínicos sobre o comportamento dos pacientes e a importância do brincar) e a bricadeira são o momento em que o ser, o eu (que ele chama de self) ao brincar, compactua a realidade e vivencia a própria criatividade. É o momento em que a ilusão entra em contato com o real, sem deixar de lado o mundo interno do ser, o que está em volta dele e o que ele almeja, sonha, projeta-se.
Mas o que isso tem a ver com o livro? Compare: no momento da leitura isso também ocorre? Uma brincadeira entre o eu, o real e o que gostaríamos que fosse. Esse processo todo acontece, nem que seja até o suspiro da leitura final, quando fechamos a quarta capa.
Não sou formada em Psicologia, mas suspeito que ler seja, no fundo (ou desde a superfície), uma grande brincadeira.
Sobre o autor
Roberta Fraga
Crio seres imaginários, escrevo contos, costuro histórias.
Postado no blog Livros e Afins em 05/10/2012
Imagem inserida por mim
Urnas mostram que povo não culpa PT pelo mensalão
Eduardo Guimarães
Há dois meses que a direita midiática brasileira divulga uma realidade paralela na qual todos os seus sonhos se materializariam. O primeiro desses sonhos se refere a Lula, que teria perdido influência junto ao povo. O segundo sonho envolve o PT, que estaria em vias de extinção política. E tudo isso estaria ocorrendo devido ao julgamento do mensalão.
As pesquisas de intenção de voto também vinham sendo cruéis com os petistas por terem mostrado uma realidade paralela que, ao fim do processo eleitoral em primeiro turno, deixou de ser “realidade” e voltou a ser a fantasia que sempre foi.
Temos, porém, que nos deter nesse capítulo: umas duas dezenas de horas antes de fecharem-se as urnas o instituto Datafolha divulgou quadro sobre a disputa eleitoral em São Paulo que não corroborava a teoria sobre a “morte” do PT que os donos desse instituto, entre outros, vinham alardeando, e idealizava o segundo turno dos sonhos da mídia e do PSDB.
No sábado, horas antes da eleição, o Datafolha afirmava que José Serra e Celso Russomano eram os mais cotados para ir ao segundo turno. Todavia, fechadas as urnas, todos descobriram o que este blog vinha dizendo ser a verdade: o instituto de pesquisas do jornal Folha de São Paulo havia produzido uma realidade em vez de se limitar ao dever de relatá-la.
No Datafolha, durante toda a campanha do primeiro turno, Fernando Haddad nunca ficou em segundo lugar, numericamente. Mas ficou nas urnas, que é o que importa.
Todavia, não foi por outra razão que este blogueiro e o doutor Antonio Donizeti da Costa, diretor-jurídico do Movimento dos Sem Mídia, varamos dias a fio elaborando uma denúncia contra fraudes em pesquisas que envolvia o Datafolha e o instituto que é considerado sua antítese, o Vox Populi. Sabíamos que havia algo errado com as pesquisas de um deles. Agora, todos sabem qual é.
Sobre a realidade paralela que a mídia tucana criou, sobre a pseudo débâcle do PT e de Lula, os fatos falam por si. Sobre “efeitos políticos” que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o ministro do Supremo Marco Aurélio de Mello e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso torciam para que resultassem do julgamento do mensalão, não se materializaram.
Talvez a melhor tradução do recado do povo à direita midiático-judiciária seja a eleição em primeiro turno do candidato do PT a prefeito de Osasco, Jorge Lapas. Para quem não sabe, ele substituiu o deputado João Paulo Cunha, recentemente condenado (sem provas) pelo Supremo Tribunal Federal.
Pois bem, o STF impediu a candidatura de um petista e o povo, então, elegeu outro petista. O recado do povo de Osasco foi claríssimo: não acreditamos no julgamento que condenou João Paulo e, então, vamos votar no candidato que ficou em seu lugar. Ponto.
Por todo o país, o PT teve um desempenho tão além do que a mídia previa que até (pasmem) Merval Pereira reconheceu, na Globo News, que “o julgamento do mensalão não teve o efeito esperado”. Ora, Merval, se você lesse a blogosfera – ou ao menos este blog – teria descoberto isso antes.
Claro que o PT ainda pode não vencer em cidades-chave como São Paulo, mas isso, se ocorresse, não mudaria a vitória imensa que o partido obteve no primeiro turno. Nas maiores cidades, o PT certamente é o partido que mais recebeu votos a vereadores e prefeitos em primeiro turno. Em breve os números estarão aí para quem quiser comprovar.
Mas, para não dizerem que não falei de flores, vamos ao que julgo que ocorrerá em São Paulo no segundo turno.
Gabriel Chalita já avisou que deve se compor com Haddad – até porque, é inimigo figadal de José Serra. Quanto a Celso Russomano, independentemente do que possa querer os eleitores que estavam consigo devem migrar, em expressiva maioria, para o candidato do PT.
Explico: o eleitorado que votou em Russomano é da periferia, do chamado “cinturão vermelho” de São Paulo, um eleitorado entre o qual o PT sempre vence em qualquer eleição para cargos majoritários, seja para prefeito, governador ou presidente. Esse eleitorado estava com Russomano porque julgava que era ele quem tinha mais chance de derrotar Serra.
Sobre o tucano, sua enorme rejeição reside, em grande parte, sabe entre que eleitorado, leitor? Entre o de Haddad e o de Russomano. Não que não exista quem rejeite Serra entre o eleitorado de Gabriel Chalita, mas a periferia paulistana é que dava base a Russomano porque apostava nele para impedir que o atual modelo de gestão de São Paulo prosseguisse.
Claro que, para Haddad, será muito mais duro enfrentar Serra do que o frágil Russomano, que tinha votos emprestados do petista. Afinal, a mídia cairá matando em cima de Haddad para tentar salvar a carreira política do seu aliado tucano. Todavia, Serra não terá mais a ajudinha do Datafolha, que sai desmoralizado do primeiro turno.
O Datafolha pode até praticar suas bruxarias, mas, desta vez, o eleitorado já saberá que não deve lhe dar muita bola.
Claro que mídia e Serra vão tentar, mais uma vez, oferecer mensalão aos paulistanos em vez de propostas para melhorar a cidade. Contudo, mais uma vez o prognóstico deste blog é o de que colherão o mesmo resultado que colheram em todas as eleições nas quais apostaram nessa “bala de prata”.
Quem enxerga o que a direita midiática tenta fazer no Brasil e percebe quão antidemocrático é, portanto, tem motivos de sobra para comemorar. Como foi dito incontáveis vezes nesta página, a maioria esmagadora do povo não está nem aí para o mensalão. A direita pode ter a mídia e o STF, mas não tem povo – que, ao fim, é quem manda.
Postado no Blog da Cidadania em 08/10/2012
Trechos grifados por mim
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