STF não merece Barbosa na presidência




Por Luis Nassif em seu blog:

Este tema é de decisão estrita do Supremo Tribunal Federal, é óbvio. E não vai, de forma alguma, influir no resultado final do julgamento do “mensalão”. E nem influirá porque, a esta altura, provavelmente todos os Ministros já firmaram sua convicção em relação aos acusados.

Mas, inegavelmente, Joaquim Barbosa não está apto a assumir a presidência do STF. De forma alguma. É uma pessoa emocionalmente desequilibrada, incapaz de entender regras mínimas de convivência com seus pares. Sua truculência é tamanha que, nas sessões do Supremo, um presidente vacilante, como Ayres Brito, mal consegue contê-la. Foi necessário que Marco Aurélio de Mello se manifestasse duramente para Joaquim Barbosa sair do surto que o acometeu.

Como presidente, o que ocorreria? Uma desmoralização completa da corte.

Barbosa é o tipo de pessoa que faz questão de exercer seus poderes ultrapassando seus próprios limites. Não lhe basta a plenitude de poderes de que goza um Ministro da Suprema Corte. Ele quer mais e mais, calar dissidentes, proibir o contraditório, indignar-se com quem tem a petulância de pretender divergir.

Ontem, comportou-se como um valentão de bar disputando a menina (a opinião pública). A ponto de invocar suposta inveja do revisor Ricardo Lewandowski, acusando-o de copiar até seu tempo de exposição. Como se a exposição do revisor pretendesse atrapalhar seu grande momento. Como se o momento solene de um julgamento fosse um palco iluminado com apenas um ator.

O Supremo não pode correr esse risco de desmoralização alçando-o à presidência.

A exploração da imagem de Joaquim Barbosa é veneno na veia do Supremo. Ele é enaltecido por jornalistas e populares que sempre trataram a questão da Justiça como vingança, acerto de contas, linchamento, efeito manada.

Seus seguidores e os exploradores da sua imagem são os mesmos que aplaudiram o linchamento da Escola de Base, do Bar Bodega, os mesmos que exploraram a religiosidade mais obtusa, o preconceito mais escancarado, o ódio mais acendrado, o esgoto mais fétido que já jorrou da mídia.

Se o Supremo quiser atropelar garantias, é prerrogativa dele. Que pelo menos seja através da imagem de um Celso de Melo, Marco Aurélio, até Rosa Weber, não desse protótipo de lutador da UFC togado.

Postado no blog Terra Brasilis em 28/09/2012
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Crimes na classe média !


























Deixem Monteiro Lobato em paz




Marco Antonio Araújo

O pessoal da patrulha ideológica do politicamente correto está merecendo umas palmadas. Ou a sociedade civil organizada dá um basta nessa gente ou, em breve, vão querer monitorar até pensamento.
Um tal de Instituto da Advocacia Racial (Iara) cismou de implicar com Monteiro Lobato. O respeitável escritor, ícone da literatura infanto-juvenil brasileira, está sendo vítima de uma perseguição implacável.
Primeiro, implicaram com o livro Caçadas de Pedrinho. Agora, insaciáveis, os advogados paladinos querem censurar uma das melhoras obras do autor, a coletânea de contos Negrinha.

negrinha1 Deixem Monteiro Lobato em paz

Esses livros fazem parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do MEC. São distribuídos gratuitamente para todo o país. Mas os patrulheiros acham isso ruim. O argumento é sempre o mesmo: os livros possuem elementos racistas.
"Não se pode financiar com dinheiro público um livro didático que contenha estereótipos e preconceito", alega Humberto Adami, advogado e diretor do Iara, que se acha porta-voz da negritude nacional.
Como exemplo de incorreção, o douto representante da afro-descendência cita a passagem: "Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados".
Ver racismo em Monteiro Lobato é praticar bullying contra a inteligência. Seria apenas ridículo, se não fosse perigoso e assustador.
Essa equivocada linha de raciocínio, se prosperar, em breve nos levaria a bolinar Shakespeare, que muitas vezes deixou escapar sua antipatia por judeus. Ou o poeta grego Eurípides, que não escondia certo desprezo pelas mulheres.  O que fazer então com Aristóteles, ilustre defensor da escravidão?
Haja fogueira para dar conta de tamanha intolerância. O que não podemos é deixar essa patota passear por aí sem nenhuma advertência.
Se há uma coisa de que não precisamos, é de guardiões de estantes. Basta. O silêncio, nessas horas, é cúmplice da ignorância.


Postado no blog O Provocador em 27/09/2012
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Nota

É necessário lembrar que as obras artísticas refletem o contexto e a época em que viveram seus criadores, sejam elas na literatura, escultura, artes plásticas, arquitetura, etc.

Obras impregnadas, necessariamente, com os conceitos e preconceitos do momento em que foram criadas.

Devemos cuidar para que, hoje, estes preconceitos de outrora não mais constem na nossa vida cotidiana e nem em nossas obras artísticas.

E, com certeza, nossas obras e expressões culturais, também podem conter formas ou ideias, que hoje não são preconceituosas, mas no futuro assim poderão ser consideradas, uma vez que a sociedade e as leis sociais mudam e evoluem, constantemente.



Enquanto isso... professores, médicos, policiais, entre outros, lutam por valorização...

Joanna Tuczynska Não tenha vergonha de ser maria chuteira: o mundo mudou
A modelo Joanna Tuczynska mostrou todo seu amor pelo ex-jogador Lothar Matthaus engatinhando até ele após um banho de mar


Marco Antonio Araújo
O que antes era considerado apelação, falta de perspectiva ou oportunismo barato passou a ser quase um estilo de vido a ser admirado. As marias-chuteiras que o digam: a vergonha mudou de lugar.
Não faz muito tempo, uma mulher estabelecer como objetivo de vida seduzir um jogador de futebol, se aproveitar dos instintos mais primitivos dessa categoria de homens e engravidar, convenhamos, era um atestado de que a moça optou por viver na mais baixa escala da cadeia alimentar.
Já perceberam como isso mudou e se tornou um negócio muito lucrativo? Movimenta jornais, revistas, sites, paparazzi e uma legião de profissionais. Entrou para a economia formal.
Não que seja um fenômeno brasileiro. Longe disso, é uma tendência internacional, uma epidemia que tomou conta até da Europa. Na verdade, as principais carreiristas da bola hoje atuam no Velho Mundo. E ganham muito bem, apesar da crise que ronda o continente.
Houve um tempo que uma pop-star, uma atriz renomada ou uma simples universitária teriam constrangimento de ser fotografada ao lado de um atleta que não fosse enxadrista. Não estou fazendo nenhum julgamento de valor, acreditem. Era assim.
Claro que tivemos Marylin Monroe. A diva se casou com uma lenda do beisebol, Joe Di Maggio. Mas depois se divorciou e contraiu matrimônio com o maior dramaturgo da época, Arthur Miller. E, dizem, foi amante do presidente dos EUA. Não por acaso, logo em seguida se matou, coitada. Tempos difíceis.
Modestamente, tivemos Xuxa e Pelé. Não dá pra comparar, mas foram nossos pioneiros, com todo o respeito a Elza Soares e Garrincha. Ok. Avante.
O fato é que, hoje, vermos Nívea Stelmann, Sthefany Brito ou Deborah Secco batendo uma bola por aí não causa nenhum impacto moral. São boas meninas.
O que mudou? Meu palpite é que, além de jogadores serem extravagantes milionários em potencial, esses rapazes ganharam um status que não tinham. Tornaram-se uma espécie de heróis, mesmo que só façam se divertir num gramado e ganhar muito, muito dinheiro — o que nada tem de heroico, em minha opinião. Mas quem sou eu pra julgar?
Shakira e Piqué, David e Victoria Beckham, Alexandre Pato e Barbara Berlusconi, escolham.  Esses simpáticos casais são apenas a ponta glamourosa de um fenômeno social. Abaixo deles, um monumental iceberg dá sustentação a uma estranha dança do acasalamento moderno.
Aniversários de jogadores de futebol costumam lotar as boates mais caras com dezenas de moças lindas que disputaram um ingresso VIP a tapa. Todas se vestem de maneira igual, se é que me entendem. Mas nada mais justo: eles também usam uniformes. Vai ver, é isso.

Postado no blog O Provocador em 24/09/2012

O veredicto da História



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Mauro Santayana

Cabe aos tribunais julgar os atos humanos admitidos previamente como criminosos. Cabe aos cidadãos, nos regimes republicanos e democráticos, julgar os homens públicos, mediante o voto. Não é fácil separar os dois juízos, quando sabemos que os julgadores são seres humanos e também cidadãos, e, assim, podem ser contaminados pelas paixões ideológicas ou partidárias – isso, sem falar na inevitável posição de classe. Dessa forma, por mais empenhados sejam em buscar a verdade, os juízes estão sujeitos ao erro. O magistrado perfeito, se existisse, teria que encabrestar a própria consciência, impondo-lhe sujeitar-se à ditadura das provas.

Mesmo assim, como a literatura jurídica registra, as provas circunstanciais costumam ser tão frágeis quanto as testemunhais, e erros judiciários terríveis se cometem, muitos deles levando inocentes à fogueira, à forca, à cadeira elétrica. 

Estamos assistindo a uma confusão perigosa no caso da Ação 470, que deveria ser vista como qualquer outra.

Há o deliberado interesse de transformar o julgamento de alguns réus, cada um deles responsável pelo seu próprio delito – se delito houve – no julgamento de um partido, de um governo e de um homem público.

Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso país. O caso mais clamoroso foi o de Vargas em 1954 – e a analogia procede, apesar da reação de muitos, que não viveram aqueles dias dramáticos, como este colunista viveu. Ainda que as versões sobre o atentado contra Lacerda capenguem no charco da dúvida, a orquestração dos meios de comunicação conservadores, alimentada por recursos forâneos – como documentos posteriores demonstraram – se concentrou em culpar o presidente Vargas.

Quando recordamos os fatos – que se repetiram em 1964, contra Jango – e vamos um pouco além das aparências, comprova-se que não era a cabeça de Vargas que os conspiradores estrangeiros e seus sequazes nacionais queriam. Eles queriam, como antes e depois, cortar as pernas do Brasil. 

Em 1954, era-lhes crucial impedir a concretização do projeto nacional do político missioneiro – que um de seus contemporâneos, conforme registra o mais recente biógrafo de Vargas, Lira Neto, considerava o mais mineiro dos gaúchos. Vargas, que sempre pensou com argúcia, e teve a razão nacional como o próprio sentido de viver, só encontrou uma forma de vencer os adversários, a de denunciar, com o suicídio, o complô contra o Brasil.

Os golpistas, que se instalaram no Catete com a figura minúscula de Café Filho, continuaram insistindo, mas foram outra vez derrotados em 11 de novembro de 1955. Hábil articulação entre Jango, Oswaldo Aranha e Tancredo, ainda nas ruas de São Borja, depois do sepultamento de Vargas, levara ao lançamento imediato da candidatura de Juscelino, preenchendo assim o vácuo de expectativa de poder que os conspiradores pró-ianques pretendiam ocupar. 

Juscelino não era Vargas, e mesmo que tivesse a mesma alma, não era assistido pelas mesmas circunstâncias e teve, como todos sabemos, que negociar. E deu outro passo efetivo na construção nacional do Brasil.

Os anos sessenta foram desastrosos para toda a América Latina. Em nosso caso, além do cerco norte-americano ao continente, agravado pelo espantalho da Revolução Cubana (que não seria ameaça alguma, se os ianques não houvessem sido tão açodados), tivemos um presidente paranoico, com ímpetos bonapartistas, mas sem a espada nem a inteligência de Napoleão, Jânio Quadros. 

Hoje está claro que seu gesto de 25 de agosto de 1961, por mais pensado tenha sido, não passou de delírio psicótico. A paranoia (razão lateral, segundo a etimologia), de acordo com os grandes psiquiatras, é a lucidez apodrecida. 

Admitamos que Jango não teve o pulso que a ocasião reclamava. Ele poderia ter governado com o estado de sítio, como fizera Bernardes. Jango, no entanto, não contava – como contava o presidente de então – com a aquiescência de maioria parlamentar, nem com a feroz vigilância de seu conterrâneo, o Procurador Criminal da República, que se tornaria, depois, o exemplo do grande advogado e defensor dos direitos do fraco, o jurista Heráclito Sobral Pinto. 

Jango era um homem bom, acossado à direita pelos golpistas de sempre, e à esquerda pelo radicalismo infantil de alguns, estimulado pelos agentes provocadores. Tal como Vargas, ele temia que uma guerra civil levasse à intervenção militar estrangeira e ao esquartejamento do país. 

Vozes sensatas do Brasil começam a levantar-se contra a nova orquestração da direita, e na advertência necessária aos ministros do STF. Com todo o respeito à independência e ao saber dos membros do mais alto tribunal da República, é preciso que o braço da justiça não vá alem do perímetro de suas atribuições.

É um risco terrível admitir a velha doutrina (que pode ser encontrada já em Dante em seu ensaio sobre a monarquia) do domínio do fato. É claro que, ao admitir-se que José Dirceu tinha o domínio do fato, como chefe da Casa Civil, o próximo passo é encontrar quem, sobre ele, exercia domínio maior. Mas, nesse caso, e com o apelo surrado ao data venia, teremos que chamar o povo ao banco dos réus: ao eleger Lula por duas vezes, os brasileiros assumiram o domínio do fato. 

Os meios de comunicação sofrem dois desvios à sua missão histórica de informar e formar opinião. Uma delas é a de seus acionistas, sobretudo depois que os jornais se tornaram empresas modernas e competitivas, e outra a dos próprios jornalistas. 

A profissão tem o seu charme, e muitos de nossos colegas se deixam seduzir pelo convívio com os poderosos e, naturalmente, pelos seus interesses. 

O poder executivo, o parlamento e o poder judiciário estão sujeitos aos erros, à vaidade de seus titulares, aos preconceitos de classe e, em alguns casos, raros, mas inevitáveis, ao insistente, embora dissimulado, racismo residual da sociedade brasileira.

Lula, ao impor-se à vida política nacional, despertou a reação de classe dos abastados e o preconceito intelectual de alguns acadêmicos sôfregos em busca do poder.

Ele cometeu erros, mas muito menos graves e danosos ao país do que os de seu antecessor. 

Os saldos de seu governo estão à vista de todos, com a diminuição da desigualdade secular, a presença brasileira no mundo e o retorno do sentimento de auto-estima do brasileiro, registrado nos governos de Vargas e de Juscelino.

É isso que ficará na História. O resto não passará de uma nota de pé de página, se merecer tanto.

Postado no blog Conversa Afiada em 27/09/2012
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