Nós merecemos estar ouvindo "Eu quero tchu, eu quero tcha"?




Os quereres do povo

Rodolpho Motta Lima

Muitos desses quereres refletiram , lá pela metade do século passado, uma realidade em que esteve presente o preconceito, ainda que não fosse esse , intrinsecamente, o objetivo das mensagens. O nosso cancioneiro registra frases de compositores notáveis resvalando pelo politicamente incorreto:“Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar“ dizia o verso de Wilson Batista em “Emília”, enquanto Lamartine Babo afirmava para a mulata “Eu quero o seu amor” e justificava com o fato de que a cor não pega...

Antes disso, uma das pioneiras da nossa canção popular, Chiquinha Gonzaga, imortalizou um carnavalesco refrão de afirmação pessoal : ”O abre alas, que eu quero passar”, que, em uma versão mais moderna e provocadora, nos anos 70, Sérgio Sampaio transformou em “Eu quero é botar meu bloco na rua”. Uma euforia que seguramente Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito não mostravam, em versos que traduziam o amor mal resolvido, na antológica “A flor e o espinho”: “Tira o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”.

Na vida, porém, e felizmente, nem tudo são espinhos e o amor se afirma como um querer perpétuo nos versos da “Andança” de Paulinho Tapajós, Danilo Caimmy e Edmundo Souto (“Por onde for, quero ser seu par”) ou de “Corcovado”, do Tom Jobim (”Quero a vida sempre assim com você perto de mim até o apagar da velha chama”). O desejo de enriquecer o amor está presente na deliciosa “Noite do meu bem”de Dolores Duran ( “Hoje eu quero a rosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier para enfeitar a noite do meu bem”) , ou na tão surpreendente como bela metáfora de Martinho da Vila em “Disritmia”: “Eu quero ser exorcizado pela água benta desse olhar infindo”rivalizando com a “Tatuagem” do Chico Buarque (“Quero ficar no seu corpo feito tatuagem , que é pra te dar coragem de seguir viagem quando a noite vem”. Amor e humor se vinculam nos versos da “Irene” de Caetano (“Quero ver Irene rir”) ou na “Vitoriosa”, de Ivan Lins (“Quero sua risada mais gostosa”). E o sentimento amoroso segue assim, tema recorrente em nossas canções, no desejo simples de quem afirma, como Dominguinhos, “Eu só quero um xodó”, ou na tentativa de moldar o outro, nas palavras que Leoni fazia Paula Toller entoar:“Eu quero você como eu quero”...

O bucolismo resultante da integração do homem com a natureza nos deu “Casa no Campo”, em que Zé Rodrix e Tavito, na voz imortal de Elis ( Veja o vídeo ) imaginaram “carneiros pastando solenes no jardim”, ao lado de “um filho de cuca legal”, certamente um “filho” bem diferente daquele moleque , irreverente, malicioso e nada infantil que a marchinha de carnaval de Jararaca e Vicente Paiva, lá nos anos 30, imortalizou no verso “Mamãe eu quero mamar”....

A natureza tem estado muito presente em nossa música, em construção romântica da cumplicidade com as venturas ou desventuras do homem. Cartola implora em “Preciso me encontrar” : “Quero assistir ao sol nascer/ Ver as águas dos rios correr /Ouvir os pássaros cantar”, enquanto Edu lobo constrói sua Pasárgada com o nome de “Candeias”, desejando: “Quero ver a lua vindo por detrás da samambaia / Rede de palha se abrindo em cada palmo de praia”.

Os quereres do homem transcendem o mundo afetivo circundante de pessoas a quem ele ama ou do lugar que habita, quando ele se percebe um ser gregário, com responsabilidades sociais. A nossa música popular mostrou isso em momentos importantes e cruciais de nossa história recente, Milton Nascimento, com “Coração de Estudante”, gritava o desejo da liberdade : “Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar“. Lulu Santos popularizou um querer coletivo ao afirmar que queria “crer no amor numa boa / e que isso valha pra qualquer pessoa”, e mesmo o questionado comprometimento social de Roberto Carlos cunhou versos como “Quero levar o meu canto amigo a qualquer amigo que precisar”, enquanto Elis , nas palavras dos irmãos Valle (“Black is beautiful”), cutucava o preconceito e afirmava a etnia negra: “Eu quero um homem de cor, um deus negro do Congo ou daqui”. Preconizavam um ambíguo fim da tristeza os versos de Niltinho e Haroldo Lobo, nos fins dos anos 60 : “Quero voltar aquela vida de alegria/ quero de novo cantar”. Muitos anos depois, quando o povo já podia cantar, Cidinho e Doca foram fundo , no “Rap da Felicidade”, definindo-a com receita tão simples de entender quanto complicada de ver realizada: “Eu só quero é ser feliz, Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, E poder me orgulhar, E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.”. Cazuza tinha ido, um pouco antes, mais longe na complexidade do seu apelo: “Ideologia, eu quero uma pra viver”.

Com todos esses quereres, marcados ora pela simplicidade que a pureza abona, ora pela palavra criativa dos grandes poetas, e: mesmo sabendo que o passado já produziu desejos como o “mocotó” (de grande Jorge Bem Jor) ou o “ovo de codorna pra comer” (do ícone Luiz Gonzaga), a verdade é que não merecíamos estar ouvindo agora “Eu quero tchu, eu quero tcha”, do Shylton Fernandes. É ou não é?



Rodolpho Motta LimaAdvogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.

Postado no blog Direto da Redação em 09/09/2012



Desenvolvimento aliado à sustentabilidade


De fato, não poderemos pensar em desenvolvimento, sem pensar na sustentabilidade. Não podemos colocar lucro acima de tudo, passando por cima de qualquer coisa.

Fábio Valentim


Desde o princípio, a partir do dia em que o homem deixou de viver nas cavernas, para se tornar um homem social, ele tinha uma questão de evoluir. Ele passou a usar a sua inteligência para superar as dificuldades da natureza, e até mesmo para facilitar o seu dia a dia, como caçar, se alimentar e até mesmo construir sua moradia, longe das cavernas. Ele passou a visar o seu conforto, e foi a partir daí que ele passou a se desenvolver. O homem deixou de ser uma criatura dominado pela natureza, deixou de ser uma criatura dependente da natureza, e passou a ser dominador da natureza. Hoje somos praticamente responsáveis por todo o clima e a biomassa do planeta, causando benefícios e malefícios para a humanidade e para o planeta em si.

Não podemos negar que os dois últimos séculos anteriores, além do atual, foram os tempos em que o ser humano mais evoluiu tecnologicamente, e até mesmo moralmente, mas com objeções. É nesta época que vivemos, que se tornou mais acentuada, a ganância e o consumismo. Deixamos de dar importância para o ser, dando mais importância para o ser. Passamos a ser uma máquina de consumo, e por consequência disso, acabamos a causar danos ao nosso planeta, seja através dos desmatamentos das florestas, seja através de poluição do ar, da água, do solo. Acabamos afetando drasticamente a nossa biomassa, correndo a pôr em extinção várias especiarias importantes para a nossa alimentação, para a nossa sobrevivência. Como resultado disso, acabamos gerando fome e miséria também em toda a humanidade.

E se continuarmos como consumidores vorazes, chegará o dia em que não sobrará nada para consumirmos e chegará à nossa fatídica extinção. Não será preciso cometas, meteoros saraivadas. Quem vai destruir o nosso planeta, vai ser nós mesmos, com essa ganância toda, pois estamos agindo exatamente como vírus causadores de doenças. Mas ainda há como reverter o quadro e eliminar essa possibilidade. Pode parecer impossível, para muitos, mas com o trabalho constante, é possível mudar as mentes poderosas. É preciso portanto promover um consumo com qualidade e aliado a sustentabilidade, para garantir a estabilidade da biomassa, que já é instável naturalmente, se tornando ainda mais instável, com as ações do homem.

Promover um desenvolvimento aliado à sustentabilidade é a melhor forma para o desenvolvimento de um planeta como todo. Claro que continuaríamos da mesma forma, influenciando na biomassa e no clima do planeta, mas deixaremos de ser vírus causadores de doenças, em vírus essenciais para o organismo vivo. Uma das melhores formas é a tecnologia de reuso de recursos renováveis, como água, plástico, alumínio, reaproveitando tudo, sem causar impactos ao meio ambiente, sem poluir os rios e o ar, tendo mais recursos naturais a nossa disposição por longos séculos. A sociedade precisa se reorganizar para que a distribuição do alimento seja mais justa e que a natureza seja beneficiada como todo, não somente o ser humano em si.

Postado no blog Baú do Valentim em 19/09/2012

5 lições de Thor Batista sobre como não gastar dinheiro



Nomeado nesta semana para o cargo de diretor da EBX Brasil, Thor Batista não é nenhum exemplo de como administrar bem o próprio dinheiro. Filho do homem mais rico do Brasil, o rapaz despreza os estudos e já declarou que nunca leu um livro inteiro. Ele não esconde que adora brinquedos de luxo e já atropelou e matou um ciclista ao volante de sua Mercedes. Quando quer se divertir ou consumir, gasta dinheiro como se fosse infinito.

O InfoMoney conversou com dois educadores financeiros, Laerte de Oliveira (Nota 10 Consultoria) e o professor Elisson de Andrade, que listaram algumas atitudes do rapaz que não deveriam ser imitadas por ninguém que quer construir um patrimônio pessoal sólido:

1. Desprezar os estudos: Thor Batista já afirmou jamais ter lido um livro completo, terminou o ensino médio por meio de supletivo e trancou o curso universitário de administração no Ibmec ainda no primeiro ano por considerá-lo pesado demais. Mas além de ser um rito imposto pela sociedade, o estudo é uma das formas mais seguras de progredir profissional e financeiramente. “O que não podemos esquecer é que o estudo é a busca do conhecimento com base nas experiências de outras pessoas, fazendo com que tenhamos um crescimento intelectual e a ampliação de horizontes na busca de novos objetivos”, explica Oliveira.

2. Realizar gastos exorbitantes: Nos últimos anos, Thor Batista tem dado seguidas mostras de não ter noção do valor do dinheiro. Em entrevista a VEJA RIO concedida no ano passado, o jovem chegou a se gabar por “só” gastar no máximo R$ 6 mil por balada enquanto alguns de seus conhecidos torrariam R$ 60 mil em uma única noitada. Extremamente vaidoso, Thor também costuma comprar roupas de grife no exterior ou adquirir peças da Armani em um shopping do Rio. Em cada visita à loja, o rapaz gasta entre R$ 12 mil e R$ 15 mil.

Segundo educadores financeiros, ele ainda não aprendeu que é sempre importante buscar tirar o máximo proveito do dinheiro, não importa a quantidade de recursos que hoje esteja disponível na conta bancário. O dinheiro também pode ser usado para o bem dos outros. Somente dessa maneira será possível garantir um futuro promissor e ser admirado pela sociedade.

3. Consumir desenfreadamente: Quando quer pegar uma balada em São Paulo, Thor costuma usar um dos jatinhos do pai. Já para chegar a Angra dos Reis, geralmente costuma usar um helicóptero. O rapaz ainda é dono de um Aston Martin de R$ 1,3 milhão. Não há mal nenhum em nascer rico e em ter dinheiro. Mas, para Elisson de Andrade, gastos extravagantes são mais comuns entre pessoas que não precisaram trabalhar para ganhar dinheiro nem sabem como pode ser difícil acumular patrimônio. Começar a trabalhar na empresa do pai como trainee ou mesmo em algum cargo apenas gerencial poderia ajudar a ensinar ao rapaz o valor do dinheiro.

4. Agir como se estivesse acima da lei: No começo deste ano, o filho de Eike Batista atropelou e matou um ciclista em uma rodovia do Rio de Janeiro. Segundo o laudo pericial, o jovem dirigia a Mercedes-Benz SLR a 135 km/h em um trecho com velocidade máxima permitida de 110 km/h. O rapaz responde a processo por homicídio culposo em liberdade. Mas já que tem um padrão de vida dos sonhos de milhões de brasileiros, Thor não deveria correr o risco de colocar tudo a perder.

5. Tratar dinheiro como algo infinito: Mesmo a pessoa mais rica do mundo deve entender que o dinheiro um dia acaba. As empresas de Eike Batista já chegaram a valer o dobro das atuais cotações em bolsa. Não que a herança de Thor esteja em jogo. Mas verdadeiros homens de negócios precisam entender que a economia é cíclica. Os preços de commodities como petróleo e minério de ferro têm variado muito nas últimas décadas e continuarão oscilando – o que sempre terá impactos em companhias como a MMX e a OGX. Não é porque sua empresa ou sua carreira estão deslanchando que não é preciso ser prudente e reservar um pouco dinheiro para tempos de vacas magras. Quem quer formar um patrimônio financeiro que garanta tranquilidade deve sempre gastar menos do que ganha, ensina Andrade.

Postado no blog Terra Brasilis em 21/09/2012

As lições de O Palhaço



André Giusti

Duas coisas me chamam a atenção na indicação do filme O Palhaço como o representante brasileiro na disputa pelo Oscar.

A primeira é a convicção de que cinema bom não precisa ser, necessariamente, apenas aquele que denuncia mazelas, pobreza e injustiça, e que tantas vezes trata isso de forma muito mais sensacionalista do que como missão social. Não precisa ser só aquele cinema que, pretensamente, pretende discutir a condição humana, deixando-nos, ao cabo do filme, sem esperança na vida e no mundo.

Esse cinema é necessário, mas não é o único que pode ser bom e ser premiado.

Também pode ser bom aquele que nos deixa leve, que faz rir e chorar de alegria alternadamente, quando não ao mesmo tempo. Pode ser aquele cinema que nos dê vontade de amar e viver, e que desse modo vá até além: inocule em nós a vontade de mudar a própria vida.

Num segundo momento, O Palhaço parece nos aconselhar a seguir na contra mão do pensamento de hoje. Por isso é programa obrigatório para quem trabalha com recursos humanos, formação de líderes, orientação vocacional e atividades afins.

Usando a magia do circo como ferramenta, estala os dedos em frente aos nossos olhos nos mostrando que estamos nos matando mais e mais a cada dia ao buscarmos ser não o que somos e o que queremos, mas o que a sociedade e sua exigência por imagem e posição determina que sejamos.

Quem entender o filme, certamente ainda poderá ser salvo.

Que venha o Oscar! Será merecido.

Postado no blog Brasil 247 em 21/09/2012
Imagem inserida por mim

É preciso gritar...



Lili Abreu

Por falta de um grito, perde-se a boiada. É um ditado popular que se aplica perfeitamente aos fatos que temos vivenciado desde que começou o julgamento da Ação Penal 470, o chamado “mensalão”, alguém precisa gritar e nós não nos calaremos.

É um festival de horrores constitucionais, de fazer arrepiar até o mais careca dos operadores do direito, o que temos assistido. Fica no ar uma questão primordial para a segurança das instituições democráticas: um ministro relator pode pautar seu relatório ao sabor das questões partidárias? É o que está acontecendo com o ministro Joaquim Barbosa, que resolveu e disse à imprensa, que vai julgar o José Dirceu somente na semana das eleições municipais.

Onde estamos? Num tribunal de exceção? O ministro relator é um rei totalitário? Alguém precisa avisar o “nobre” ministro que não estamos mais na idade média e nem vivemos na monarquia, estamos num país que tem por preciosa  a democracia conquista a duras penas, inclusive pelo “réu” José Dirceu.

Respeito é bom e eu gosto, outro dito popular valiosíssimo a ser aplicado aos destemperos, trejeitos, caras e bocas do relator-rei.

Ministro, não faça do plenário do Supremo uma linha auxiliar de seus instintos mais primitivos, respeite quem tem história neste país e jamais se curvou a totalitários como Vossa Excelência.


Postado no blog Justiceira de Esquerda em 21/09/2012

Estressar pra que ?!