Ainda as paraolimpíadas
Cláudio Moreno
É de amargar! Como num passe de mágica, a maior parte da imprensa brasileira perdeu o seu tradicional espírito crítico (juntamente com o bom-senso) e aderiu cegamente a esta malparida PARALIMPÍADA.
Confesso que não entendi essa aceitação pacífica — quase ovina, eu diria — com que a maior parte da imprensa brasileira engoliu uma aberração do calibre de "paralimpíada".
Os meios de comunicação, sempre tão sensíveis (e críticos) a qualquer inovação vocabular — lembro, por exemplo, de quanta tinta se gastou para comentar o imexível do ministro Magri ou o sugerimento de Dunga, palavras, aliás, formadas dentro dos mais legítimos princípios do idioma —, desta vez aderiram imediatamente a esta malparida "paralimpíada" e ao não menos lamentável adjetivo "paralímpico".
"Foi exigência do Comitê Nacional", dizem uns; "do Comitê Internacional", emendam outros — como se alguma instituição desportiva, política, religiosa, financeira, jurídica ou o que seja, desta ou de qualquer outra galáxia, tivesse o poder de determinar a forma das palavras que nossa língua produz ou deixa ingressar em seu léxico!
Se, com muita boa vontade, equipararmos o nome de um comitê esportivo a uma marca registrada, podemos até admitir que ele seja grafado de acordo com a vontade ou fantasia do dono (ou dos dirigentes).
No entanto, assim como as corporações que produzem a Gillette e o Band-Aid nada podem fazer se resolvemos criar, a partir de seus nomes, os substantivos gilete e bandeide, os referidos comitês não vão influir, com suas decisões privadas, na grafia de palavras como paraolimpíada e paraolímpico, já de uso comum e assim registradas em todos os nossos bons dicionários.
Os meios de comunicação, sempre tão sensíveis (e críticos) a qualquer inovação vocabular — lembro, por exemplo, de quanta tinta se gastou para comentar o imexível do ministro Magri ou o sugerimento de Dunga, palavras, aliás, formadas dentro dos mais legítimos princípios do idioma —, desta vez aderiram imediatamente a esta malparida "paralimpíada" e ao não menos lamentável adjetivo "paralímpico".
"Foi exigência do Comitê Nacional", dizem uns; "do Comitê Internacional", emendam outros — como se alguma instituição desportiva, política, religiosa, financeira, jurídica ou o que seja, desta ou de qualquer outra galáxia, tivesse o poder de determinar a forma das palavras que nossa língua produz ou deixa ingressar em seu léxico!
Se, com muita boa vontade, equipararmos o nome de um comitê esportivo a uma marca registrada, podemos até admitir que ele seja grafado de acordo com a vontade ou fantasia do dono (ou dos dirigentes).
No entanto, assim como as corporações que produzem a Gillette e o Band-Aid nada podem fazer se resolvemos criar, a partir de seus nomes, os substantivos gilete e bandeide, os referidos comitês não vão influir, com suas decisões privadas, na grafia de palavras como paraolimpíada e paraolímpico, já de uso comum e assim registradas em todos os nossos bons dicionários.
A língua inglesa, de onde veio a novidade, tem lá suas desculpas por ter produzido essa aberração: segundo o Oxford English Dictionary — o incomparável OED —, o termo paralympic foi cunhado nos anos 50 a partir da união de pedaços dos vocábulos paraplegic e olympic, já que, em sua primeira edição, o evento era dirigido exclusivamente para quem sofria algum tipo de paralisia.
Este tipo de fusão lexical (chamada tecnicamente de amálgama, mesclagem, palavras-valise, etc.), que junta o segmento inicial de uma palavra ao final de outra para formar uma terceira, é bastante produtivo no Inglês: smog (smoke+fog), bit(binary+digit), brunch (breakfast+lunch), fanzine (fan+magazine),freeware (free+software), entre dezenas de outras. Duas delas, inclusive, passaram a fazer parte de nosso vocabulário técnico:mecatrônica (mechanics+electronics) e estagflação(stagnation+inflation).
Este tipo de fusão lexical (chamada tecnicamente de amálgama, mesclagem, palavras-valise, etc.), que junta o segmento inicial de uma palavra ao final de outra para formar uma terceira, é bastante produtivo no Inglês: smog (smoke+fog), bit(binary+digit), brunch (breakfast+lunch), fanzine (fan+magazine),freeware (free+software), entre dezenas de outras. Duas delas, inclusive, passaram a fazer parte de nosso vocabulário técnico:mecatrônica (mechanics+electronics) e estagflação(stagnation+inflation).
Em nossa língua, no entanto, esse é um processo exótico, usado principalmente por quem busca o efeito crítico ou jocoso que as palavras amalgamadas despertam: showmício, portunhol, brasiguaio,bebemorar, chafé (café muito diluído), namorido (é mais que um namorado, mas menos que um marido — vocábulo que, misteriosamente, ainda não tem o seu equivalente feminino...), onguessugas (usada para ONGs não muito honestas), chocólatra, etc.
Os humoristas de primeira linha (no meu dicionário, aqueles que descobrem, para alegria geral, as pepitas de humor que se escondem no idioma) exploram bastante este veio. É o caso de barcilo, "bactéria encontrada num bar"; boicejo, "o tédio do marido da vaca"; cartomente, "adivinha que nunca diz a verdade" (todas do Millôr Fernandes); ou de marmúrio, "barulho longínquo do mar"; zerossímil, "que não se parece com nada"; e triglodita, "muito, muito primitivo", do nosso Luís Fernando Verissimo.
Como se vê, esse curioso processo de criação produz vocábulos efêmeros, apropriados para situações especiais, lúdicas ou literárias, mas não faz parte daquela "máquina de fazer palavras" que todos os falantes do Português usam desde pequeninos.
Os humoristas de primeira linha (no meu dicionário, aqueles que descobrem, para alegria geral, as pepitas de humor que se escondem no idioma) exploram bastante este veio. É o caso de barcilo, "bactéria encontrada num bar"; boicejo, "o tédio do marido da vaca"; cartomente, "adivinha que nunca diz a verdade" (todas do Millôr Fernandes); ou de marmúrio, "barulho longínquo do mar"; zerossímil, "que não se parece com nada"; e triglodita, "muito, muito primitivo", do nosso Luís Fernando Verissimo.
Como se vê, esse curioso processo de criação produz vocábulos efêmeros, apropriados para situações especiais, lúdicas ou literárias, mas não faz parte daquela "máquina de fazer palavras" que todos os falantes do Português usam desde pequeninos.
O interessante é que paralympics tornou-se discutível mesmo no Inglês, sua língua de origem: como os jogos passaram a incluir portadores de outras deficiências, a ideia primitiva de paraplegics desapareceu, e o vocábulo passou a ser reanalisado como para+olympics, onde o primeiro elemento é o prefixo de origem grega "para", que significa, entre outras coisas, "semelhante, paralelo" — o mesmo que encontramos em paramilitar, paradidático e paramédico, ideia também presente na paraolimpíada, que passou a ser um evento regular, paralelo e estreitamente relacionado à olimpíada.
Não me cabe criticar os ingleses por persistirem no uso da forma primitiva; afinal, eles têm uma rainha, dirigem do lado errado da estrada e devem ter lá os seus motivos para se conformar com paralympics — mas asseguro que aqui é diferente: não há como justificar, no Português, esta forma esquisita, que causa estranheza a todos os que entram em contato com ela.
Cláudio Moreno nasceu em Rio Grande, o único porto marítimo do estado, e veio para Porto Alegre quando ainda usava calças curtas. No final dos anos 60, concluiu o curso de Letras da UFRGS, com habilitação em Português e Grego. Em 1972 ingressou como docente no Instituto de Letras da mesma universidade, tendo sido responsável por várias disciplinas nos cursos de Letras e de Jornalismo, assim como pela disciplina de Redação para os cursos de Pós-Graduação de Medicina. Em 1977, concluiu o mestrado em Língua Portuguesa com a dissertação Os Diminutivos em -inho e -zinho e a Delimitação do Vocábulo Nominal no Português; em 1997, obteve o título de Doutor em Letras com a tese Morfologia Nominal do Português.
Postado no blog Sua Língua
Manter viva a causa do PT: para além do “mensalão”
Leonardo Boff
Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.
De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis. Muitos sentimo-nos traídos, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em que este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático.
Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.
Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto apenas duas decisivas.
A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo.
Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”. Ora, o PT e Lula vem desta periferia.
Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula Presidente representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam.
Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas, amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.
A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos, ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração.
Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico.
Querem um Brasil menor do que eles para terem vantagens.
Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada. Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados de causa. Querem produzir autonomamente para o mercado interno, atendendo aos milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência.
Essa utopia mínima é factível. O PT se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.
Postado no blog Carta Maior em 17/09/2012
Trecho grifado por mim
Imagem inserida por mim
Nota:
Nosso país precisa resolver problemas sérios e de muitas melhorias, mas tenho certeza que elas não virão com partidos ou regimes sustentados pela elite.
Precisamos de governos do povo e pelo povo.
Erros são e sempre serão cometidos por alguns, mas não devemos desanimar e entregar o destino do país, de volta, àqueles que há 500 anos exploram as riquezas naturais e nossa mão de obra, servindo aos interesses internacionais e aumentando, em muitas vezes, as distâncias sociais entre os pobres e os ricos.
Mascote da Copa de 2014
“Meu sonho é daqui a 20 anos olhar para trás e ver que 2014 foi a Copa que salvou o tatu-bola da
extinção”, diz biólogo Rodrigo Castro, que coordenou a campanha de candidatura da espécie
http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noticias/o-que-nao-sabemos-sobre-o-tatu-bola-mascote-da-copa
Postado no blog Luis Nassif Online em 15/09/2012
Lewandowski é o orgulho de brasileiros justos !
" Quero que me ensinem também o valor sagrado da justiça — da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática.
A justiça nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos seus próprios olhos.
Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que temos de ser justos sem buscar recompensa.
Mais ainda: cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal.
Não há que pensar qual virá a ser o prêmio de um ato justo; o maior prêmio está no fato de ele ser praticado.
Mete também na tua ideia aquilo que há pouco te dizia: não interessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça.
Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si. Não queres ser justo sem gozares da fama de o ser ?
Pois fica sabendo: muitas vezes não poderás ser justo sem que façam mau juízo de ti!
Em tal circunstância, se te comportares como sábio, até sentirás prazer em ser mal julgado por uma causa nobre! "
Sêneca ( 4 A.C. - ca. 65 D.C.) in 'Cartas a Lucílio'
" Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar com cortesia, responder sabiamente, ponderar com prudência e decidir imparcialmente. "
Sócrates ( 470 - 399 A.C.)
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