Reeleição de Chávez sustentará modelo político sul-americano



Por Eduardo Guimarães 
A espetacularização da política brasileira está impedindo a sociedade de perceber a evolução de um contexto político no qual está inserida e que deve afetar profundamente a sua vida, podendo vir a ditar-lhe o rumo no futuro próximo. Com mensalão, CPI do Cachoeira e eleições, estamos deixando passar batido um dos fatos políticos mais importantes da atualidade.
Praticamente todas as sondagens do processo eleitoral venezuelano dão conta de que o presidente Hugo Chávez deve ser reeleito com certa facilidade. Sua vantagem é reconhecida até mesmo pelo “oposicionista” Datanálisis, o Datafolha venezuelano, onde tem 16% de dianteira sobre o segundo colocado, o conservador Henrique Capriles.
Detalhe: em institutos tidos como menos parciais em favor da oposição, a vantagem de Chávez sobre o principal adversário se aproxima dos 30%.
O cenário político venezuelano revela uma realidade que se espalha pela América do Sul mais do que por qualquer outra parte do mundo: projetos político-administrativos de centro-esquerda – ou, como preferem alguns, social-democratas – parecem cada vez mais longe do “esgotamento de modelo” que a mídia conservadora das Américas já ensaia decretar.
Ainda que no Brasil o modelo político que impera na América do Sul encontre maior dificuldade para funcionar devido a peculiaridades político-institucionais do país e a uma maior dificuldade em politizar o povo como fizeram os governos Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales e José Mujica, aqui também vige o modelo de inclusão social desenvolvimentista análogo ao modelo “revolucionário” venezuelano.
Chávez prega a própria reeleição com o objetivo alegado de tornar o seu modelo político-econômico-institucional “irreversível”. O que seja, obrigar a todos os atores políticos do país a adotarem o caminho da inclusão social em projetos regionais, inclusive nos governos de províncias controlados pela oposição ao governo central.
O modelo chavista é o que deu origem a outros projetos sul-americanos que vão se mostrando cada vez mais sólidos. E o que fez esse modelo se espalhar foram seus impressionantes resultados sociais obtidos ao longo da mais de uma década de duração da revolução bolivariana.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Gini – que medem, respectivamente, a qualidade de vida e a concentração de renda de um país em relação aos outros – da Venezuela lideram o ranking de melhora nas três Américas e inspiraram processos análogos na Argentina, na Bolívia, no Equador, no Uruguai e no próprio Brasil.
A única diferença em nosso país é que, por aqui, ainda não se está obtendo avanços institucionais como a implantação de legislação concreta para regular a comunicação, legislação que, nos países vizinhos, é inspirada nas legislações dos países mais desenvolvidos, tais como Estados Unidos, França, Inglaterra e outros.
O quadro político-eleitoral venezuelano, enfim, contrasta com o opinionismo político das mídias brasileira e internacional, que decretara não só o “esgotamento” do modelo venezuelano, mas a morte de Chávez antes das eleições por conta de problemas de saúde que disse “terminais”, mas que o vigor com que ele conduz a própria campanha desmente.
O modelo político e institucional original de Chávez se espalhou por todos os países supracitados da América do Sul, menos no Brasil. Isso significa que impérios midiáticos que durante o século XX pintaram e bordaram na região, em seus países mais importantes estão com os dias contados.
Ao menos na Argentina, na Bolívia, no Equador e na Venezuela, os impérios de comunicação vão perder o poder de falarem sozinhos àquelas sociedades e não permanecerão do tamanho paquidérmico a que chegaram, pois as leis de redistribuição de propriedade de meios de comunicação inspirada nas leis de países desenvolvidos farão a comunicação, nesses países, chegar ao século XXI.
O modelo de republiqueta midiática conservadora ainda deve permanecer por um bom tempo no Brasil por falta de condições políticas internas furtadas pelo poderio muito maior que as elites adquiriram por aqui, com a institucionalização da comunicação como poder direcionador de políticas públicas e da opinião da sociedade, o que impede, inclusive, dissonâncias.
Todavia, o caráter promissor do modelo oriundo da Revolução Bolivariana da Venezuela que, em maior ou menor grau, espalhou-se pelo continente, reside em uma relação de troca entre esse modelo e as massas empobrecidas da região. Tanto no Brasil quanto em seus vizinhos progressistas estabeleceu-se a troca de bem-estar social por votos.
Em países com tanta desigualdade social e pobreza como nos países latino-americanos, a possibilidade de manter o poder pela via democrática é imensa. Eis, porém, que se levanta o velho fantasma do golpismo que marcou a região no século XX, ou seja, na ruptura institucional aplicada pelas elites sem votos com uso de forças armadas submissas.
Em países com avançada politização social como na Venezuela, o recurso às forças armadas praticamente desapareceu sobretudo porque estas, na base, são compostas pelo povo, por soldados que viveram na pobreza e que, também na era Chávez, viram suas vidas melhorarem como a dos compatriotas civis.
O fenômeno venezuelano de conversão das Forças Armadas aos cânones democráticos e legalistas se repete da Argentina até o Equador, com exceção do Brasil, onde a consciência social (muito) menor ainda faz com que não se possa contar com o espírito legalista e democrático das tropas, que ainda, em tese, poderiam se prestar ao golpismo.
Todavia, mesmo no Brasil há dúvidas da viabilidade de um golpe militar. Não são poucos os relatos que este blog já recebeu de militares que não querem aparecer nem anonimamente, mas que garantem que delírios golpistas de chefes militares de pijama não seriam seguidos pela base das Forças Armadas.
Em um momento em que a mídia brasileira pinta e borda, manipulando desde o Judiciário até o Legislativo, passando pelo Executivo (em alguma medida), vale refletir sobre a situação política sul-americana. O Brasil pode ser grande o suficiente para contrariar o resto da América do Sul, mas a sua centro-esquerda tem instrumentos para evitar. Se quiser.

Postado no Blog da Cidadania em 21/08/2012

Abutres da mídia visam Dirceu




Por Leandro Fortes, no blog da Maria Frô:

O único e verdadeiro drama do julgamento do “mensalão” diz respeito a uma coisa que todo mundo já sabe: não há uma única prova contra o ex-ministro José Dirceu na denúncia apresentada ao STF pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel. Nada. Nem uma única linha. Nem um boletim de ocorrência de música alta depois das 22 horas. Nadica de nada.


Mas, sob pressão da mídia, o STF tem que condenar José Dirceu.

Pode até condenar os outros 36 acusados. Pode até mandar enforcá-los na Praça dos Três Poderes. Mas se não condenar José Dirceu, de nada terá valido o julgamento. A absolvição de José Dirceu, único caminho possível a ser tomado pelos ministros do STF com base na denúncia de Gurgel, irá condenar seus acusadores de forma brutal e humilhante. Quilômetros de reportagens, matérias, notas e colunas irão, de imediato, descer pelo ralo por onde também irá escoar um sem número de teses do jornalismo de esgoto.

A absolvição de José Dirceu irá jogar a mídia sobre o STF como abutres sobre carne podre com uma violência ainda difícil de ser dimensionada. Algo que, tenho certeza, ainda não se viu nesse país. Vai fazer a campanha contra José Dirceu parecer brincadeira de ciranda.

Por isso, eu não duvido nem um pouco que José Dirceu seja condenado sem provas, com base apenas nesse conceito cafajeste do “julgamento político” – coisa a que nem o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi submetido.

Para quem não se lembra, ou prefere não se lembrar, apesar de afastado da Presidência da República por um processo de impeachment, Collor foi absolvido pelo STF, em 1992. O foi, justamente, porque a denúncia do então procurador-geral da República, Aristides Junqueira, era uma peça pífia e carente de provas. Como a de Roberto Gurgel.


Postado no Blog do Miro em 20/08/2012


Só o "mensalão do PT" acabou na Justiça!






Postado no Blog do Miro em 21/08/2012


"Avenida Brasil": um caminho duvidoso




Por Rodolpho Motta

Desde que o mundo é mundo, o domínio de uns poucos sobre muitos – ou, se quiserem, das elites sobre o povo -, ou se dá na base da repressão, com violência explícita que sufoca o corpo e a alma dos cidadãos – ou se constrói com dissimulações que pretendem contagiar, com o subliminar, os corações e as mentes.

Esse segundo papel é desempenhado pelas grandes mídias de todos os países e, entre nós, tem seu maior representante nas empresas “globais”, que aqui trago como exemplo não porque não goste delas – o que, confesso, é verdade – mas porque ainda ocupam posição hegemônica junto ao “povão”, o que é bem claro no caso da TV aberta. E é óbvio que não estou falando de sustentação governamental, mas de um poder de classe, que transcende governos, porque encarna uma ideologia que a história mostra que jamais esteve a serviço do nosso povo.

Se tivermos paciência de, ao menos um dia, assumirmos o sacrifício de nos colocarmos como expectadores da “Vênus platinada”, perceberemos claramente que ela – porque vem perdendo seu público das classes “A” e “B” para a internet – assumiu a postura de pegar carona na ascensão da chamada “nova classe média” que, ironicamente, lhe foi oferecida pelo projeto social dos últimos governos, que os globais detestam... Até aí nada demais. Faz parte de um mundo onde lucro, mercado, oportunidade (ou oportunismo, como queiram) são palavras recorrentes. Essa é apenas mais uma corporação a querer a sua fatia desse bolo que envolve o poder e o que dele decorre.

O problema é que, a partir da constatação desse “nicho de mercado”, a impressão é de que se tenta reproduzir uma ideologia de componente preconceituoso a respeito do novo “público-alvo”, que parece ser visto como um conjunto de pessoas suscetíveis apenas de dar e receber o rasteiro, o vulgar, a baixaria. Pessoas a quem somente interessaria o superficial, o trivial, presas fáceis de modas e modismos, vírus que o quartel-general midiático sabe muito bem inocular. Misturando-se “caldeirões” e “faustões” em uma “zorra total” em que não falta lugar para “instrutivos e fascinantes” temas para “Encontros/Na Moral”, como a histeria pela “mulher-melão”, a discussão sobre troca de casais e coisas do gênero, parece haver aí uma intencionalidade, cujo carro-chefe está nas novelas pretensamente ambientadas nos redutos “populares”, entre elas a “Avenida Brasil”, que hoje mobiliza o público noveleiro do país. E, no caso, importa pouco saber que milhões de brasileiros “se divertem” com a trama. Há uma grande discussão, não resolvida, sobre se a mídia “faz o que o povo quer” ou “faz o povo querer”...

Nunca houve uma enxurrada tão grande de novelas com personagens “do povo”: empregadas domésticas, balconistas, serventes, bombeiros, jogadores de futebol etc. Isso seria digno de aplausos se não colocasse o “povão” como ator e receptor de um permanente espetáculo circense, encobrindo-se suas justas revoltas e a procura de seus legítimos interesses. Porque esses personagens são mostrados ora como caricaturas risíveis, ora como individualidades predestinadas à fortuna pelos deuses da loteria ou da fama repentina que o sistema propiciaria, mas quase nunca como seres sufocados pelos verdadeiros embates diários que caracterizam uma sociedade desigual e perversa como a nossa.

Na ambiência de um falso lixão “glamourizado” ou no reduto do subúrbio carioca, a uma vilã irreal de incomensurável grau de mesquinhez e falsidade corresponde uma “mocinha” cuja vingança beira o sadismo, com dois heróis permanentemente enganados, cuja fraqueza não enxerga o óbvio. Um homem rico que desfruta e é desfrutável por três esposas condescendentes, um outro que tipifica o rufião cujo único valor é o dinheiro, uma jovem que encarna o chamado “objeto sexual”, empaticamente apresentada como alguém que goza de “liberdade”, homens e mulheres que trocam de amores como de roupa, jovens que não estudam (jogam bola), crianças que são “salvas” em um lixão, todos esses personagens – e outros que é cansativo enumerar - compõem uma dramaturgia duvidosa, um enredo de soluções fáceis, que desenrola (ou enrola) a história, sempre com o auxílio de alguém que, nos momentos complicados, escuta através das paredes ou atrás das portas...

Nas últimas semanas, a Globo vem colocando seu foco em dois assuntos: um óbvio – o julgamento do STF – e outro, mais sutil, que é a “preocupação” com os rumos da Educação no país, promovendo levantamentos e buscando mostrar mais derrotas que vitórias. Na minha opinião, isso é parte da estratégia dos neoliberais contra o ex-ministro da Educação, candidato em São Paulo. Mas, admitindo-se que é sério o interesse global, não custa contribuir, lembrando que a Educação tem várias faces e não se faz só dentro das escolas: ela é mais ampla, passando, inclusive, pela família e pelos órgãos midiáticos, com suas responsabilidades sociais. A grade programática das emissoras abertas no Brasil – todas concessões do poder público - seguramente não ajuda em nada no processo de educação do povo. É, pelo contrário, instrumento que estimula a perpetuação do embrutecimento geral.

Ah! Ia esquecendo de mencionar – e seria falha imperdoável – o “eu quero tchu, eu quero tcha” e o kuduro “oi oi oi”, pérolas do nosso cancioneiro, que vêm embalando as noites dos brasileiros.

Postado no blog Terra Brasilis em 19/08/2012



Mais uma daquelas tristes charges do Marco Aurélio


Eu nem queria escrever sobre a Zero Hora de novo, mas aí me deparo com isto e fico sem opção:


Se a crítica fosse ao governo, poderia até ser válida, dependendo de como fosse construída (embora eu não acredite muito que o Marco Aurélio consiga fazer uma crítica decente e ainda engraçada), mas desse jeito, tentando frustradamente ironizar a péssima colocação do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) tendo como alvo os alunos, ela é só agressiva e descabida.
A história do humor crítico no Brasil é riquíssima, cheia de exemplos de como ser engraçado e contribuir para o fortalecimento da democracia a partir da provocação, do escárnio. É lindo quando esse espírito existe, em qualquer governo, em qualquer jornal, e a crítica pode ser bem contundente. Mas tem que saber fazer. Não dá pra basear a piada em preconceito e humilhação, coisa que só faz quem não sabe fazer. Não é a primeira vez que digo e repito: o principal chargista da RBS não serve pro metiê.

Postado no blog Somos Andando em 16/08/2012
Obs.: Metiê palavra da língua francesa que significa trabalho, ofício, profissão, prática, técnica.



A saga do escritor maldito sempre se confirma



Publiquei este livro faz duas semanas.
Mil exemplares em papel.
Preço: R$ 19 (www.editorasulina.com.br)
Contei meus seguidores no twitter.
Contei meus seguidores no facebook.
Descontei as sobreposições.
Calculei que o livro se esgotaria em meia hora.
Estabeleci que viraria cult, um novo Guy Debord, em uma semana.
Botei espumante no gelo para comemorar a maldição.
Sentei-me para esperar.
Crio um conceito, um neologismo: midíocre.
Livreiros e distribuidores ligam para avisar que tem um erro na capa.
As redes sociais ignoram-me.
Saboreio o silêncio da maldição.
Reli um trecho, a minha “tese” 170:
“A civilização em rede é um apocalipse cujos arautos se expressam por imagens sem hecatombes. O ocaso do papiro e do pergaminho anunciaram novos tempos de progresso e de redenção terrena. O ocaso do papel anuncia um salto histórico sem precedentes. Um avanço quântico para as origens, a emancipação como coletivo inteligente, o nascimento de uma nova categoria, o individualismo coletivo, o homem como parte de um todo articulado, mas sem vinculação mecânica ou dependência sequencial. Nenhuma inteligência artificial, porém, como sabia Jean Baudrillard, salvará o homem da sua estupidez natural, cuja principal característica é a impossibilidade do avanço do imaginário – ruptura com o irracional e com o não-racional – sem uma perda letal de subjetividade. O paradoxo do imaginário consiste nessa necessidade de uma aparente pobreza para ser rico. Um mundo totalmente científico seria árido. A razão jamais dá conta da desrazão da existência”.
A consagração atrasou um pouco.
Ainda sobram 998 livros.
Creio que em mais meio século tudo estará resolvido.
Comemoro.
Postado no blog Juremir Machado da Silva em 17/08/2012